domingo, 29 de abril de 2007

Voltamos à escravidão/Cortadores de cana em SP têm vida útil menor que a de escravos

Cortadores de cana, fotografia de Vicente Sampaio
Combustível verde manchado
Ontem, Lourenço Paulino de Souza foi encontrado morto. Segundo informações do Ministério Público do Trabalho, Souza estava caído ao lado do ônibus que transportava cortadores de cana. Eles estavam em uma usina de álcool em Barretos, São Paulo. Sua morte é a segunda no ano entre os cortadores de cana-de-açúcar. A causa dessas mortes é a exaustão, que acontece após o cortador não suportar o ritmo quase escravo das lavouras e morrer de tanto trabalhar. Lourenço tinha 20 anos e era migrante da pequena cidade de Axixá, no Tocantins. Um lugar onde a falta de perspectivas de trabalho empurra os jovens para a incerteza das lavouras de cana-de-açúcar de São Paulo. Muitos desses voltam com bens de consumo que nunca poderiam ter adquirido em Axixá, como televisão, rádios e colchões. Mas alguns não suportam e morrem de exaustão. Talvez sonhando com um colchão novo ou uma televisão de 29 polegadas. Parece absurdo, mas a morte por excesso de trabalho entre os cortadores de cana é mais comum do que podemos imaginar. Foram 19 trabalhadores mortos nos últimos dois anos. Algo como 10 mortes por ano, ou seis por mês durante o período da colheita. Todas essas pessoas que morreram de tanto trabalhar colhiam cana-de-açúcar. A matéria prima do etanol. Uma das esperanças para controlar o problema do aquecimento global. Mas, enquanto governos mundiais se empolgam com a possível substituição do petróleo pelo etanol. E a frota mundial de 1 bilhão de carros cresce todos os dias. Muitos Lourenço perdem a juventude cortando cana-de-açúcar. Sem perspectivas de romper com a linha da pobreza ou de sequer sentar em um banco de faculdade. Quando não morrem de tanto trabalhar, claro. E apesar de toda empolgação dos governos mundiais sobre o etanol, poucos têm aceitado discutir forma de mudar as condições de semi-escarvidão que estão sujeitos grande parte dos trabalhadores da colheita da cana. (Juliana Arini)
Combustível verde manchado
http://www.blogdoplaneta.globolog.com.br/

Cortadores de cana em SP têm vida útil menor que a de escravos
SÃO PAULO - O aumento de importância do álcool na economia brasileira é citado pelo jornal A Folha de São Paulo como um dos causadores da rotina extenuante dos cortadores de cana, que, por causa do extremo esforço físico, já têm a vida útil menor do que a de alguns escravos no século 19.Segundo a reportagem publicada na edição deste domingo, 19 mortes já ocorreram entre cortadores de cana desde 2004. Ainda segundo o jornal, algumas empresas obrigam os trabalhadores a colher até 15 toneladas de cana por dia. Esse esforço pode causar "problemas seríssimos de coluna, nos pés, câimbras e tendinites" e diminui o tempo de vida útil dos cortadores para cerca de 12 anos. Um historiador ouvido pelo jornal afirmou que até 1850, quando o tráfico de escravos era livre e a oferta de mão-de-obra negra era abundante, a vida útil desses trabalhadores era de 10 a 12 anos. A partir da proibição começou um melhor tratamento aos escravos, que conseguiam trabalhar por 15 a 20 anos.
Folha de São Paulo. 29/04 - 06:23 - Redação

sexta-feira, 27 de abril de 2007

A visão do Inferno

Hoje encontrei um e-mail que a minha filha Ana Paula escreveu para os seus amigos quando voltei da Marcha Nacional que fiz, à pé, junto com o MST, de Goiânia até Brasília. Foram, com certeza, os 17 dias mais felizes de minha vida.
A descrição da Ana está muito engraçada, minha filha tem um senso de humor incrível, mas apesar da graça, fiquei um pouco triste, me bateu uma saudade sem tamanho daqueles dias.
Espero encontrar todo mundo de novo, num novo acampamento, no Encontro Nacional que vai ser em julho em Brasília.
Nédier
Bom dia Pessoas,

Foi a visão do inferno, sem exageros.
Ontem minha mãe peregrina chegou de viagem. Pensei que sabia de cada quilômetro percorrido (via Embratel), mas os detalhes visuais foram muito mal descritos por ela. As confissões de sujeira, de que a roupa havia se tornado algo irrecuperável foi muito, muito suave. A verdade foi mais cruel e chocante.
Saí do trabalho e fui correndo à casa de mamãe, mais ou menos ao som de Lulu Santos no tal “Estou voltando pra casa”. Como tenho o controle remoto do portão e cópia da chave (a mãe tem o péssimo hábito de não nos abrir a porta), fui entrando e encontrei aquela senhora brasileira deitada no lugar da minha mãe, naquele respeitado sofá da sala (ouse sentar no seu lugar, ouse!).
Enfim o choque: aquela mulher de cabelos de samambaia, detidos em um rabo de cavalo, queimada (bronzeado é chique), com uns trapos medonhos cobrindo o corpo, sorriu para mim. Era mamãe, D. Nédier...
Não deu para disfarçar. A chamei de “colorida” (com um L só, de cores mesmo). O cabelo em vários tons, a cútis também, os trapos em tons cinza e bege, a manta azul e vermelha. Comecei o inquérito, a cada descrição da sua rotina durante a Marcha eu ia agradecendo não ser pobre...
O início: desjejum de rapadura e pão com mortadela... Minha mãe diz mortandela!
Daí em diante a tortura continua: defecar perto de outras pessoas (no meio da rodovia, por exemplo), dormir SEMPRE com alguma pedra em baixo do colchonete, urinar num potinho de lenços higiênicos.
HIGIENE... Este capítulo é longo, porém semi-inexistente. Ela jura na cara dura que se lavava diariamente. Vi seu sabonete. Um compacto de plantas da região (tinha mais mato e barro grudados que não se imagina a cor que ele saiu da fábrica). Foi dando um nojo, um nojo!!!
Chegando à roupa não contive o escândalo. Emprestei (eternamente) algumas pecinhas para ela levar em sua jornada... Foram limpas e cheirosas. Retornaram completamente irrecuperáveis. O branco se converteu na gama completa de tons de bege (parecia mostruário da Avon para tons de base). Um fedor imundo tomou conta da imensa casa onde moram meus pais. A cada peça que ela retirava da mochila eu não conseguia acreditar que conseguia superar a anterior em imundice. (O tênis Nike que lhe presenteei em seu aniversário estava pior que o de qualquer carregador de carrinho de papelão...).
Corri juntar as suas coisas que foram brancas e lançar na máquina de lavar roupas. Coloquei água e comecei a rir... Parecia que tínhamos cozinhado carne naquele caldo, com direito a shoyu e tudo...
Neste ínterim ela começou a se queixar de dor no braço. Tentei providenciar uma pedra para que fosse estrategicamente colocada em seu sofá (puxa, ela estava estranhando o local fofo). Continuou se queixando apenas do mau trato que tiveram em Brasília (aquela muvuca que apareceu em rede nacional, dos policiais atacando o MST).
Ela jura que só por isso a viagem não foi perfeita.
Um grande beijo...
Ana Paula, a filha da porca

quinta-feira, 26 de abril de 2007

O dia do Fico

Foto de Sebastião Salgado

O Dia do Fico
1963.
Grupo Escolar Aline Picheth. 4ª. série primária. Aula de História do Brasil. O cheiro de suor de 42 adolescentes pós-recreio inundava a sala de aula.
Eu era professora primária, fazia Direito na Federal e estava noiva de um estudante de engenharia.
Meu pai se opusera na ocasião do vestibular:
- Já não chega ser professora? Advogado é coisa pra homem.
No Ahú, bairro operário de italianos, nós as mulheres se não fôssemos salvas pelo casamento, tínhamos que trabalhar no comércio, na Fábrica de Velas Estearina ou na Lucinda, onde se faziam as melhores bolachas.
Ser professora já era muito bom...

Na faculdade eram tempos de política.
A maioria dos meus colegas de turma era bem-nascida. Não trabalhavam e muitos deles faziam parte do grupo conhecido mais tarde como “esquerda festiva”. Reuniam-se para confabular, “subverter” a ordem e tomar uísque. E, enquanto teorizavam sobre a miséria e a injustiça, eu, numa inversão bíblica, tinha que ganhar a vida com o suor do meu rosto.
Além da escola, eu trabalhava junto à ação social da igreja numa favela que existia atrás da Penitenciária Provisória do Ahu e na própria penitenciária.
Quando Jânio “renunciou” por causa de “forças ocultas”, fiquei com medo que as forças oficiais impedissem Jango assumir a Presidência da República.
Tentava explicar para os meus pequenos alunos a importância das leis, da Constituição, da Democracia.
Nós acreditávamos no Brasil, cantávamos hinos patrióticos na hora da entrada das aulas.
Na sexta feira a Bandeira era hasteada, balançando no vento o verde das nossas florestas, o amarelo do nosso ouro e o azul límpido do nosso céu.
Tremulava também em nosso peito, o qual segurávamos reverentes, mão direita sobre o coração, enquanto cantávamos o Hino Nacional.
Nós tínhamos um grande país que nos enchia de um orgulho imenso e indefinido.

Jango assumiu a Presidência.
Nossas instituições estavam sólidas, mas alguma coisa no ar me oprimia.
Nada muito claro, como se nuvens escuras se acumulassem pouco a pouco no horizonte.
- Golpe?
- Ditadura?
Bobagem minha. Tudo parecia normal...demais.
Eu estava era imaginando coisas enquanto sonhava com o ano mágico de 1966, quando iria me formar.
As “minhas crianças” alheias ao meu desconforto, brincavam alegremente nos recreios e me faziam concluir:
- Afinal de contas ninguém chegou a ponto de assustar as criancinhas!
Estariam alheias?

Voltemos à aula de História do Brasil:
- Acir, me fale sobre o “Dia do Fico”.
- Então, Dona (ainda não era Tia), o Dom João vendo que o Brasil ia se libertar de Portugal, disse pro seu filho:
- Meu filho, ponha a coroa do Brasil sobre a tua cabeça, antes que algum “COMUNISTA” lance mão dela!!!

quarta-feira, 25 de abril de 2007

D. Helder Câmara - Os poemas do Dom


FELIZ DE QUEM ENTENDE
que é preciso mudar muito
para ser sempre o mesmo...



SE A GRAÇA NÃO ME ARRANCASSE PELOS CABELOS
o epitáfio seria ridículo:
afogado em copo d' água
que nem mesmo estava cheio


MODELO INATINGÍVEL

Quem me dera
ser leal, discreto e silencioso
como a minha sombra



ESPECIALIZA-TE
em tentar descobrir
em toda e qualquer criatura
o lado bom que ela possui
- ninguém é maldade concentrada.
Especializa-te
em tentar descobrir
em toda e qualquer ideologia
a alma de verdade
que ela carrega no seio
- a inteligência é incapaz
de aderir ao erro total...


LIÇÕES QUE NÃO NOS DEVEM ESCAPAR

Diante do colar
- belo como um sonho -
admirei, sobretudo,
o fio que unia as pedras
e se imolava anônimo
para que todos fossem um...

segunda-feira, 23 de abril de 2007

"...nada a fazer senão esquecer o medo."

Caçador de Mim

Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim
Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu caçador de mim
Nada a temer
Senão o correr da luta
Nada a fazer
Senão esquecer o medo
Abrir o peito a força numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura
Longe se vai sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir o que me faz sentir
Eu caçador de mim
Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir a peito à força numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura
Longe se vai sonhando demais
Mas onde se chega assim?
Vou descobrir o que me faz sentir
Eu, caçador de mim

(Sérgio Magrão/Luiz Carlos de Sá)

domingo, 22 de abril de 2007

Você já ouviu falar em Menotti del Picchia??

O Vôo

Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti .
Não indagues se nessas estradas, tempo e vento
desabam no abismo .
Que sabes tu do fim ?
Se temes que seu mistério seja uma noite ,
enche-o de estrelas .
Conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre
para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo ,
esgota como um pássaro as canções
que tens na garganta .
Canta .
Canta para conservar uma ilusão de festa
e de vitória .
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro .
Desde que nasceste
não és mais que um vôo no tempo .
Rumo ao céu ?
Que importa a rota ?
Voa e canta enquanto lhe resistirem as asas .
Recebi este texto do Menotti del Picchia da Marisa Giglio, que faz pps.emocionantes.
Menotti del Picchia
Biografia
São Paulo, SP, Brasil 1892 (*) - 1961 (+)

Paulo Menotti del Picchia nasceu em São Paulo, em 1892. Fez seus estudos secundários em Pouso Alegre, Minhas Gerais, onde aos 13 anos de idade, editou o jornalzinho "Mandu", nele inserindo suas primeiras produções literárias. Viveu em Itapira, cidade do interior paulista, e aí editou "Juca Mulato", sua obra de maior repercussão, que já teve dezenas de edições.
É autor de romances, contos e crônicas, de novelas e ensaios, de peças de teatro, de estudos políticos e de obras da literatura infantil. Fundou jornais e revistas, foi fazendeiro, procurador geral do Estado de São Paulo, editor, diretor de banco e industrial. Fez pintura e escultura. Foi deputado estadual e federal. É tabelião e ocupou diversos e altos cargos administrativos. Pertence às Academias Paulistas e Brasileira de Letras.
Menotti del Picchia teve destacada atuação no movimento modernista. Preparou, com Oswald de Andrade, o advento da nova tendência literária e artística, sustentando a polêmica com os passadistas, antes e depois da Semana de Arte Moderna.
Em seguida, foi aguerrido defensor da doutrinação "Verde e Amarelo", opondo-se ao Oswald de Andrade de "Pau Brasil" e "Antropofagia". Defendeu também os ideais do "Grupo da Anta", que superavam os propósitos verdeamarelistas. Participou da Semana de Arte Moderna, sendo mesmo o seu orador oficial, apresentando, na festividade, os poetas e prosadores que exibiam, então, as produções da literatura nova. Suas crônicas no "Correio Paulistano", de 1920 até 1930, como que constituem um "diário do modernismo", registando, quase que quotidianamente, os entusiasmos, as raivas, as lutas e as desavenças da sua geração.
A poesia da fase modernista de Menotti del Picchia é colorida e engenhosa, padecendo do excesso das imagens. Abusa dos elementos plásticos, dos efeitos pitorescos e verbais. Mas, como todos os seus defeitos, que decorrem da atitude polêmica assumida, fecundou de idéias o período histórico que viveu, e que ajudou a desenvolver, sacrificando até a realização de obra poética de maior ressonância que podia dar. Poetando agora de raro em raro, controla os seus modismos e as invenções audaciosas, do que resulta uma poesia comunicativa e emocionada. "Nenhum dos seus livros modernistas" – escreve Manuel Bandeira – "superou o êxito de "Juca Mulato", onde o poeta se apresenta em sua feição mais genuína"

sábado, 21 de abril de 2007

Coisas Boas 2007


Projeto Coisas Boas 2007


Eu me sinto muito orgulhosa em participar, mesmo que pouco e virtualmente, da vida do Professor José Carlos Antonio um dos elaboradores do projeto “Coisas Boas...” que, no ano passado, ganhou o Prêmio Mário Covas na categoria de projetos voltados ao uso pedagógico da Internet e das novas tecnologias.

No "Coisas Boas" centenas de escolas desenvolvem projetos locais sob a “orientação" de uma equipe - a deste ano foi formada pelos professores José Carlos e Sonia – que coordena o desenvolvimento conjunto dos projetos por meio de uma Comunidade Virtual na Internet, videoconferências, bate-papos pela Internet e
outros relacionados às TICs
(tecnologias de informação ecomunicação).
Resumindo: eles conseguem fazer com que centenas de escolas públicas e milhares de alunos participem de projetos que valorizam a cultura local. Propiciam o protagonismo juvenil e promovem ações de intervenção em suas localidades.
Os alunos (e pelo que sei até os professores!!!) adoram participar. Trabalham sem ganhar nada e aprendem a ser felizes com
o sucesso que obtém.
A minha alegria em:
- saber que existem projetos como este, compensa os pesares
e as más notícias com os quais a mídia nos sufoca o tempo todo.
- saber que existem idealistas que se dedicam a causas
aparentemente inglórias como a educação
me faz acreditar que nem tudo está perdido neste nosso mundão de Deus.

Professor José Carlos, muito obrigada, por ser como você é,
por fazer o que você faz.
Muito obrigada pelas perspectivas e esperanças que pessoas como você trazem ao futuro das crianças brasileiras.
Que as forças da Vida abençoem os professores brasileiros e lhes dê coragem para prosseguir.
Nédier
Começa o projeto Coisas Boas 2007
O lançamento do projeto Coisas Boas 2007, uma parceria entre o EducaRede e a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, foi nesta sexta-feira (20/04). A partir das 11h, houve transmissão ao vivo pelo Portal que pode ser acompanhada por qualquer internauta.
O evento é voltado principalmente para as 6 mil escolas estaduais de São Paulo que, por adesão, podem se inscrever no projeto. Na ocasião, foi apresentada a
Comunidade Virtual Coisas Boas 2007, onde as atividades se desenvolvem ao longo do ano.
No lançamento, foram apresentados os quatro Livros Virtuais produzidos com relatos de experiências de alunos e professores que participaram do projeto em 2006. Os temas dos livros são: Cidadania, Cultura, Meio Ambiente e Saúde, trabalhados ao longo do projeto.
O evento oficial foi realizado na Escola Estadual Maestro Fabiano Lozano, no bairro da Vila Mariana, com a presença do Presidente do Grupo Telefônica, Antonio Carlos Valente, e da Secretária da Educação do Estado de São Paulo, Maria Lúcia Vasconcelos, além do presidente da Fundação Telefônica Brasil, Sérgio Mindlin.
Inscrições
As inscrições continuam abertas para alunos e educadores dos Ensinos Fundamental e Médio de escolas da rede pública estadual paulista. Para se inscrever no projeto, é preciso ser
cadastrado no Portal EducaRede. Depois, ir até a Comunidade Virtual Coisas Boas 2007 e clicar no botão "Quero me inscrever".
Histórico do projeto
O projeto "As Coisas Boas da Minha Terra" começou no final de 2004, como um piloto. Até dezembro de 2005, alunos e professores de mais de 800 escolas públicas estaduais de São Paulo realizaram atividades para resgatar a história e a cultura das cidades paulistas.
Em 2006, após conhecerem melhor o lugar onde vivem, os participantes desenvolveram ações de intervenção para melhoria da realidade da escola e/ou do entorno. Por isso, o projeto mudou de nome e passou a ser chamado "Coisas Boas para Minha Terra".
A idéia para 2007 é trabalhar com as duas vertentes simultaneamente. Os participantes poderão escolher entre "Coisas Boas Da Minha Terra", através da valorização e recuperação dos aspectos culturais e históricos das cidades; e/ou Coisas Boas Para Minha Terra, com elaboração e execução de projetos de intervenção cidadã visando melhoria da escola/comunidade. Outra novidade do Projeto Coisas Boas 2007 é a possibilidade de uma parceria com escolas da Argentina que mantêm projetos semelhantes.

http://www.cenpec.org.br/modules/xt_conteudo/index.php?id=465


Infância Infame / Rosane Coelho















INFÂNCIA INFAME

sem escola,
sem bola,
sem coca-cola.
só esmola,
só coca
e cola.


Rosane Coelho


Publicado no Recanto das Letras em 28/09/2006
http://recantodasletras.uol.com.br/visualizar.php?idt=251240

Depois de ter postado o poema/canção do Chico Buarque sobre as crianças que se alimentam de luz, descobri esta síntese perfeita do que eu queria dizer e não achei palavras.

Só poderia ser da Rosane.

Nédier

sexta-feira, 20 de abril de 2007

...eram crianças e comiam luz/para o Beto






















Brejo da Cruz



A novidade
Que tem no Brejo da Cruz
É a criançada
Se alimentar de luz


Alucinados
Meninos ficando azuis
E desencarnando
Lá no Brejo da Cruz


Eletrizados
Cruzam os céus do Brasil
Na rodoviária
Assumem formas mil

Uns vendem fumo
Tem uns que viram Jesus
Muito sanfoneiro
Cego tocando blues

Uns têm saudade
E dançam maracatus
Uns atiram pedra
Outros passeiam nus


Mas há milhões desses seres
Que se disfarçam tão bem
Que ninguém pergunta
De onde essa gente vem


São jardineiros
Guardas noturnos,casais
São passageiros
Bombeiros e babás

Já nem se lembram
Que existe um Brejo da Cruz
Que eram crianças
E que comiam luz


São faxineiros
Balançam nas construções
São bilheteiras
Baleiros e garçons

Já nem se lembram
Que existe um Brejo da Cruz
Que eram crianças
E que comiam luz

(Chico Buarque/1984)


Hoje, andando pelas ruas desta minha triste Curitiba - mistificada e maquiada pela mídia como cidade do Primeiro Mundo - vi – e esta cena é habitual - crianças sentadas no meio-fio cheirando cola com a mesma naturalidade que eu, quando criança, saboreava um sorvete.
Não sei o que escrever sobre esta realidade.
O meu querido amigo Professor José Alberto Costa escreve sobre as crianças de rua de Recife com uma ternura ímpar.


("...uns têm saudade e dançam maracatus" - me faz lembrar o Beto).

Vou pedir a ele a permissão para colocar aqui neste blog alguns dos seus textos. E, enquanto me faltam palavras para me expressar sobre esta infância que escoa pelo ralo, uso as palavras do Chico Buarque em “Brejo da Cruz” - "lá , onde a novidade é a criançada se alimentar de luz”.
Nédier

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Grave Denúncia de Fernanda Giannasi -Coordenadora da Rede Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto para a América Latina


(por favor circular esta mensagem, especialmente para os companheiros e companheiras paranaenses)

A FALÁCIA DO USO CONTROLADO DO AMIANTO NO PARANÁ
Fernanda Giannasi
Coordenadora da Rede Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto para a América Latina
Prezados amigos e amigas,
Quem puder fazer a gentileza de retransmitir esta mensagem ao Dr. Geraldo Seratiuk , Delegado Regional do Trabalho do Paraná, agradecemos.
Prova de que o tal "uso controlado do amianto" é uma falácia está na foto anexa, colhida nos escombros do que foi a imensa antiga unidade da coligada da Eternit, a empresa Wagner*, hoje funcionando em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, onde telhas quebradas de amianto estão por toda parte, sendo que este resíduo é considerado perigoso pelo Conama (Resolução 348) e deve ser disposto em aterro industrial para lixo perigoso.
O dinheiro que eles não empregam para reabilitação de suas áreas degradadas e seu passivo de vítimas vem sendo desviado para financiar o milionário lobby de, entre eles advogados (ex-Presidente do STF), sindicalistas, técnicos das universidades públicas e institutos de pesquisas etc. - ver mensagem abaixo.
Fernanda Giannasi
Coordenadora da Rede Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto para a América Latina


* Segundo dados constantes em relatório da CVM-Comissão de Valores Mobiliários em http://www.eternit.com.br/userfiles/IAN_2004v2.pdf é dito claramente que
"A partir de 2002 a Eternit iniciou a produção de Painéis Wall, na fabrica instalada em Colombo – PR, antes fabricados pela controlada Wagner Ltda, instalada em Ponta Grossa – PR, a qual foi desativada." Outros detalhes podem ser obtidos em
http://www.eternit.com.br/produtos/painelwall/historia/index.php?acao3_cod0=0b5228e05ca042d8f2774c40fcabbec5
CNTI quer suspender lei que proíbe amianto na construção (ver matéria em Consultor Jurídico abaixo e no link
http://conjur.estadao.com.br/static/text/54606,1 )

Pergunta que não quer calar:


- De onde vem tanto dinheiro para a CNTI pagar o escritório do ex-Ministro do STF, Mauricio Correia, considerando estarem os sindicatos praticamente quebrados em nosso país?


Esperamos que a Prefeitura de São Paulo reaja a isto seriamente e use de seu prestígio político e agende reunião urgente com Ministra Ellen Gracie para pôr fim a esta palhaçada!

Até quando a Justiça brasileira vai acolher este tipo de ação que a transforma num balcão de negócios de indústrias poluentes, sujas, perigosas, desacreditadas e banidas na maioria das sociedades industriais modernas e desenvolvidas sócio-ambientalmente?
Se houvesse decisões exemplares da maioria dos ministros do STF como o sempre coerente Sepúlveda Pertence, que recentemente condenou a Eternit a pagar indenização de 300 mil reais à vítima de asbestose da antiga unidade fabril de Osasco e rejeitou uma destas tantas queixas recheadas de tecnicalidades e questiúnculas, que têm enchido o protocolo do STF, isto fecharia definitivamente as portas para este tipo de ação predatória que atravanca nosso sistema judicial e que tem caráter apenas procrastinatório, pois a indústria do amianto sabe que está com os dias contados, tanto é que todas elas, em especial a Eternit, têm já desenvolvida a nova tecnologia sem amianto (asbestos-free).É uma questão de tempo...só a Justiça brasileira não se apercebe disto!

Fernanda Giannasi
Coordenadora da Rede Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto para a América Latina

Matéria da obra
CNTI quer suspender lei que proíbe amianto na construção
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI) ajuizou no Supremo Tribunal Federal, Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental, com pedido liminar, contra a Lei 13113/01, do município de São Paulo, e o Decreto municipal 41788/02, que regulamenta esta lei. O dispositivo proíbe o uso de elementos construtivos e equipamentos constituídos por amianto na construção civil.
A CNTI explica nos autos as diferenças entre o amianto crisotila (branco) e o anfibólico (marrom ou azul), defendendo que a primeira espécie é “infinitamente menos agressiva e admite o estabelecimento seguro de índices de tolerância, razão pela qual seu uso é legalmente permitido no Brasil”.
Para a confederação, a lei paulistana proíbe o uso da substância “sem uma razão sustentável do ponto de vista científico, tanto que manteve o consumo do mineral nos demais ramos industriais, tais como têxtil e automotivo”. Esse fato demonstraria a violação ao princípio da livre iniciativa, previsto no artigo 170, parágrafo único, da Constituição Federal, defendeu a CNTI.
A confederação diz ainda que a Lei 9.055/95 disciplina o tema da utilização do amianto. Dessa forma, havendo norma geral em vigor, de âmbito federal, a disciplinar a matéria, “resta aos municípios, na hipótese, a possibilidade de suplementar a legislação federal no que couber, sem, no entanto, opor-se à sua eficácia — na prática, derrogar a norma federal”.

ADPF 109
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Gerenciamento e Marketing: Escritórios de Advocacia e Departamentos Jurídicos, promovido pela ConJur.
Revista Consultor Jurídico, 13 de abril de 2007
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EUA: indenização por exposição ao amianto é de US$ 10,3 milhões
Supremo adia julgamento de lei que proíbe uso do amianto
Propaganda do amianto está proibida, decide juíza.
Entra em vigor lei que proíbe indústrias do RS de usar amianto
Exposição ao amianto ainda vitima milhares de trabalhadores no Brasil
Marta Suplicy regulamenta proibição de amianto em construção
Total: 1 Comentários
FERNANDA (Auditor Fiscal - - ) 13/04/2007 - 07:38
CNTI quer suspender lei que proíbe amianto na construção.

Até quando a Justiça brasileira vai acolher este tipo de ação que a transforma num balcão de negócios de indústrias poluentes, sujas, perigosas, desacreditadas e banidas na maioria das sociedades industriais modernas e desenvolvidas sócio-ambientalmente?
Se houvesse decisões exemplares da maioria dos ministros do STF como o sempre coerente Sepúlveda Pertence, que recentemente condenou a Eternit a pagar indenização de 300 mil reais à vítima de asbestose da antiga unidade fabril de Osasco e rejeitou uma destas tantas queixas recheadas de tecnicalidades e questiúnculas, que têm enchido o protocolo do STF, isto fecharia definitivamente as portas para este tipo de ação predatória que atravanca nosso sistema judicial e que tem caráter apenas procrastinatório, pois a indústria do amianto sabe que está com os dias contados, tanto é que todas elas, em especial a Eternit, tem já desenvolvida a nova tecnologia sem amianto (asbestos-free).
É uma questão de tempo...só a Justiça brasileira não se apercebe disto!

Fernanda Giannasi

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Pai Nosso do Brasil

17 de abril de 2007
11ª Celebração dos Mártires da Terra
Catedral de São José dos Pinhais
PAI NOSSO DO BRASIL
Pai dos 19 mortos do Eldorado de Carajás,metralhados pelos
guardiões da ordem;
Pai dos 13 mortos de Corumbiara, de seus órfãos e de suas viúvas;
Pai dos Mortos de Rio Bonito do Iguaçu, de suas mães que choram;
Pai da Irmã Dorothy e dos pobres todos vítimas
da violência no campo;
Pai presos;
Pai dos desempregados e injustiçados da sociedade;
Pai das mulheres que ficaram sozinhas;
Pai dos órfãos que choram em silêncio à espera de Justiça;
Pai de todos os torturados, de todos os angustiados, dos que andam escondendo-se, dos que não podem mais voltar por causa da repressão;
Pai dos Agricultores e agricultoras familiares que estão endividados e sem condição de vida digna;
Pai dos trabalhadores sem emprego; dos desaparecidos e dos mortos pela ditadura; dos encarcerados, dos exilados;
Pai dos milhões de indigentes e famintos do Brasil;
Pai nosso que estais na Vida dos que buscam Justiça porque amam a seus próximos e porque te servem, servindo e lutando com os que não tem teto, alimentação roupa e remédio.

PAI NOSSO QUE ESTÁS NO MEIO DO TEU POVO

E PERDOA-NOS Senhor, por não sabermos repartir o pão que nos tem dado; perdoa-nos quando por medo, não dizemos o que queremos dizer, o que tu queres que digamos; perdoa e destrói os reinos pequeninos, as panelinhas, os corporativismos; as oposições inúteis entre nós mesmos, as quais retardam e impedem a marcha vitoriosa da Nova Alvorada...Dá-nos força, a solidariedade que rompe as barreiras do egoísmo e do comodismo
PERDOA-NOS SENHOR POR NÃO SABERMOS REPARTIR

Não nos deixeis cair em tentação de nos conformar com os donos deste mundo e de perder a visão que tu queres que tenhamos; de nos isolar, de pensar que já não se pode fazer mais nada ou buscar exclusivamente o nosso próprio bem-estar. Não nos deixeis cair na tentação de pensar que poderemos servir a ti e ao dinheiro.
NÃO NOS DEIXEIS CAIR NA TENTAÇÃO DO CONFORMISMO



Mas livra-nos do Mal que nos espreita nos carros da polícia, das milícias encapuzadas e armadas, dos esquadrões da morte, dos bancos, dos agrotóxicos e das grandes empresas.
Livra-nos do mal vestido de civil; livra-nos do mal que viaja com passaporte diplomático, que acumula terra e riquezas, que condena os pobres e assoberba os ricos. Livra-nos Senhor do Mal da fome, da violência, e da guerra, da falta de terra, do abandono e da miséria.
LIVRA-NOS DO MAL QUE PRIVILEGIA OS GRANDES E MATA OS PEQUENOS, PORQUE TEU É O REINO, O PODER E A GLÓRIA...


terça-feira, 17 de abril de 2007

As lentes de Sebastião Salgado registram 17 de abril

Os corpos dos assassinados sendo velados pelos familiares e pela comiunidade dos camponeses sem-terra em Curionópolis.
Pará, 1996.
PARA NUNCA MAIS ESQUECER O 17 DE ABRIL DE 1996!


No dia 17 de abril de 1996, 1500 camponeses ocuparam
a rodovia PA-150, na altura do vilarejo de Eldorado dos Carajás em protesto contra a demora do governo federal em assentar suas famílias nas terras da Fazenda Macaxeira,
onde já se encontravam já fazia vários meses.
No final da tarde, o comando da polícia militar do Pará enviou tropas de dois quartéis diferentes, com fuzis e metralhadoras, que cercaram os manifestantes dos dois lados da estrada e em seguida abriram fogo, matando 19 camponeses e deixando 57 feridos.
O legista Nelson Massini, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, enviado ao Instituto Médico Legal de Marabá pela Comissão de Direitos Humanos do Senado,
constatou que dez das vítimas, pelo menos, foram executadas sumariamente com tiros na cabeça e na nuca.
As marcas de pólvora indicam que as armas foram disparadas
a curtíssima distância.
Outros sete sem-terra tiveram seus corpos retalhados
a golpes de foice ou facão.
Pará, 1996.
segue abaixo

Viva Oziel!! As lentes de Sebastião Salgado registram 17 de abril

As lentes de Sebastião Salgado registram a dor da mãe do jovem Oziel Pereira

Oziel Pereira, um dos líderes camponeses assassinados no dia 17 de abril de 1996, tinha apenas 17 anos quando foi assassinado
em Eldorados do Carajás.
Foi retirado com vida do local do tiroteio.
Depois de ser algemado e surrado por um grupo de policiais,
foi eliminado com um tiro na cabeça,
após ser obrigado a gritar "Viva o MST!"
Durante a cerimônia fúnebre em Paraupebas no dia 20 de abril,
as lentes de Sebastião Salgado,
registraram a dor da mãe do jovem Oziel Pereira.

A foto encontra-se em Imagens e as Vozes da Despossessão: A Luta pela Terra e a Cultura Emergente do MST -
www.landless-voices.org/
Oziel Pereira hoje é nome de assentamentos, acampamentos, brigadas e escolas em todo o Brasil. Foi a forma que os seus companheiros do MST encontraram para lhe homenagear.



O compositor, poeta e músico do MST, Zé Pinto é autor da poesia
que segue em homenagem a Oziel Alves Pereira:

Oziel está presente

Aquele menino era filho do vento
Por isso voava como as andorinhas
Aquele menino trilhou horizontes
Que nem um corisco talvez ousaria
Levava no rosto semblante de paz
E um riso de flores pro amanhecer
sol da estrada brilhou sua guerra
Mirou o seu povo com olhar de justiça
Pois tinha na alma um cheiro de terra
Tantas primaveras tinha pra viver
Pois tão poucas eras te viram nascer
Beijou a serpente da fome e do medo
Mas fez da coragem seu grande segredo,
Ergueu a bandeira vermelha encarnada
Riscou na reforma um "a" de agrária
E assim prosseguiu.
Seguiu cada passo com uma fé ardente
A voz ecoando na linha de frente
Em tom de magia numa melodia de estar presente
E a marcha seguia, seguiam os homens,
Mulheres seguiam, crianças também caminhavam
Mas lá onde a curva fazia um "S"
Que não se soletra com sonho ou com sorte
Pras bandas do norte o velho demônio
Mostrou seu poder.
Ali o dragão urrou, o pelotão apontou,
As armas cuspiram fogo, e dezenove
Sem terra, a morte fria abraçou.
Mas tremeu o inimigo com a dignidade do menino
Inda quase adolescente, pele morena, franzino
Sob coices de coturno, de carabina e fuzil
Gritou amor ao Brasil, num viva ao seu
movimento,
E morreu!
Morreu pra quem não percebe
Tanto broto renascendo
Debaixo das lonas pretas, nos cursos
de formação
Ou já nos assentamentos,
quando se canta uma canção,
ou num instante de silêncio
Oziel está presente,
Porque a gente até sente,
Pulsar o seu coração.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Elogios a generais e torturadores...

Novembro de 1969: o delegado Fleury visita colega ferido
por fogo-amigo no cerco a Marighella


O então ministro da Guerra, Arthur da Costa e Silva, em 1966,
pouco antes de assumir a Presidência da República
Arquivo/O Cruzeiro/EM


Elogios a generais e torturadores...


Dois dos mais célebres torturadores que reinaram nos porões da ditadura militar (1964-85) — Sérgio Paranhos Fleury e Octávio Gonçalves Moreira Júnior — receberam tratamento de herói no livro secreto do Exército. Ambos são chamados de “doutores”. Ao referir-se a Fleury, delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo, o livro afirma que ele era um “incansável lutador contra o terrorismo no Brasil”. Na década de 1960, ele se destacou como um dos líderes do Esquadrão da Morte no estado. Por sua capacidade de investigação e aplicação de métodos brutais de tortura, que incluíam pau-de-arara, choques e afogamento, Fleury foi requisitado para trabalhar no Destacamento de Operações de Informações (DOI), órgão criado no governo do general Emílio Garrastazu Médici cuja missão era investigar e aniquilar os grupos de oposição ao regime, sobretudo aqueles envolvidos com a luta armada. Durante mais de uma década, o delegado se tornou um dos símbolos da repressão, sendo protegido pelo serviço secreto da Marinha, o Cenimar. Colega de Fleury no Dops e um torturador temido nos porões da repressão, o delegado Octávio Gonçalves Moreira Júnior, conhecido como Otavinho, foi tratado como mártir no livro secreto do Exército. Numa tarde de fevereiro de 1973, quando voltava da praia, no Rio, Otavinho foi fuzilado por guerrilheiros da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), Aliança Libertadora Nacional (ALN) e Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Depois de descrever o episódio, o livro secreto se derrama em elogios ao delegado. “Na luta contra a subversão comunista, Otavinho havia demonstrado sua inabalável profissão de fé no regime de liberdade. Além disso, pela sua educação e afabilidade, (…) era muito estimado nos órgãos de segurança, constituindo-se, por tudo isso, num alvo compensador para o terror.” Ditadores O livro também não poupa elogios aos generais Arthur da Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici. Pela dureza no combate aos opositores do regime militar, o período em que ambos estiveram à frente da Presidência da Republica (1967-74) é conhecido como “os anos de chumbo”. A posse de Costa e Silva é descrita no livro do Exército como um “reencontro (do país) com a ordem constitucional e o estado de direito”. Com seu “tom franco”, sua “mensagem de renovação” e a “clareza com que encarnava a realidade vivida pelo país”, o general “abriu esperanças” no Brasil, afirma a obra. “Iniciava-se a volta à normalidade”, diz o livro. Um mês depois de empossado, Costa e Silva criou o Centro de Informações do Exército, o serviço secreto da Força. Na ditadura, o CIE se destacou como vanguarda da repressão. Em 1986, um ano depois do término do regime militar, o órgão foi incumbido pelo então ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, de tocar o Projeto Orvil (orvil é a palavra livro ao contrário), que produziu o Livro negro do terrorismo no Brasil. Ao narrar os seqüestros de diplomatas estrangeiros na década de 1970 e a decisão do governo Médici de aceitar trocá-los por presos políticos, conforme exigiam os seqüestradores, o livro afirma que a postura do general representa o “respeito aos direitos humanos sem aspas”, que “se ajustava aos sentimentos humanitários da população”. Especialista em questões militares, o cientista político Jorge Zaverucha, da Universidade Federal de Pernambuco, contesta a afirmação. “O livro não traz evidências sobre esta afirmação (‘respeito aos direitos humanos, sem aspas’). O que havia eram violações aos direitos humanos.” (LF)

segue.