segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Chega de massacrar o povo Guarani!"


"Chega de massacrar o povo Guarani!"
por Junior Bittencourt
Dourados Informa 31/08/2009 - 08:10 h
A criação da reserva indígena pelo Estado Brasileiro, condicionando os guaranis a viverem confinados num território inventado, cercado de um lado pela cidade moderna de Dourados e de outra pela lavoura latifundiária tecnificada, colocou o povo indígena a viver num pequeno espaço, sendo sua morada e simultaneamente sua prisão (SANTOS, 2000). Dentro deste território prisão, cercado por muralhas invisíveis que sufoca-os, o povo guarani tenta resistir, buscando meios de se libertar do confinamento e encontrar a liberdade de criar e recriar seus próprio território de forma a deixar de ser submisso e ignorado pelo território moderno civilizado.
O território prisão condiciona os índios a sobreviver como se estivessem trancafiados numa cela de penitenciaria, onde são desterritorializados de seus territórios originais, recebendo apenas água e comida racionada para que continuem respirando. Nesta relação prisional alguns se suicidam, outros enlouquecem, alguns se tornam ainda mais violentos, assimilando bem os horrores da prisão, mas tem aqueles que lutam pela liberdade apelando para garantir o seu direito a fugir que a constituição lhe garante se conseguir, sem correr o risco de aumento da pena. Sendo assim passam anos cavando túneis a unha feito animais que se refugiam em tocas buscando garantir sua existencial reprodução, outros estão anos à serrar as grades que os enjaulam condenando-os a irracionalidade animalesca. Assim estão os guaranis, cercados por uma muralha invisível que os aprisionam e também lhes convidam a resistir para existir, dentro da cela que é a reserva, o conflito é permanente, e a criação de alternativas transcorrem o lugar do cotidiano onde alguns reafirmam sua existência por meio do suicídio (BAUMAN, 2005), outros enlouquecem embebedados de angústia debruçados sobre a muralha invisível que o separa de sua existência original, outros tentam fazer valer os seus direitos de continuar existindo assegurado pela constituição federal do Estado Brasileiro, buscam fugir para outro lugar cavando buracos para enterrar seus mortos e também para continuar semeando sua cultura mesmo na condição extraterritorial original, serra-se as grades da prisão para não aceitar ser desterritorializado (HAESBAERT, 2004). Atravessa a fronteira que os condenou, e dentro do território moderno ele ocupa a Fundação Nacional do Índio, o aparelho do Estado Moderno Brasileiro que organizou a prisão do povo indígena, e então reclama a liberdade de não apenas respirar, mas o reconhecimento de seu território e da terra como parte inegociável, inalienável da vida (BRAND,1993).
Uma das contradições do Estado de Direito é a garantia de tratamento igual a todos bem como seus direitos, sendo a terra antes de mais nada, tendo por obrigação garantir primeiro o interesse social coletivo para depois satisfazer o interesse individual privado, e que o racismo é crime, defrontando com o pó da fronteira que se levanta como uma nuvem de ilegalidade sócio-cultural, nas escolas da cidade os jovens indígenas tem se cansado não apenas pela longa distância percorrida, mas sim das atitudes racistas reacionárias de colegas e professores não-indigenas, ocorrendo em alguns casos profunda tristezas e revoltas levando os jovens índios tirarem a própria vida por meio dos cotidianos suicídios sobre a fronteira. O número de suicídios entre os Guaranis Kaiwá em Mato Grosso do Sul é entorno de 50 a 60 por ano de acordo com o (CIMI, 2007), entre uma população de 40 mil índios.
Com o vigoramento da Constituição de 1988 é criado mecanismos de legitimação aos territórios indígenas e quilombolas, garantindo que toda terra remanescente de terra indígena ou quilombola deve ter a partir de então seus títulos de posse automaticamente anulados. Mas tudo isso geram conflitos e se levantam fortes oposições entre os operadores do direito e a classe política que sempre estiveram a favor de grupos econômicos específicos. Desta feita a ideologia dominante, tenta plantar no ideário nacional que a luta por demarcação de terras vai barrar o progresso e a produção de alimentos, e afirma que são povos perigosos, e um grande problema para a sociedade. Estes discursos visam debater e logo abrirem suspeitas sobre demarcações de territórios. Suspeitas apresentadas como ameaças ao desenvolvimento. Isso cria uma crise institucional, e graves suspeitas sobre as identidades culturais nacionais. Para o mau ou para o bem do povo “civilizado” o território indígena continua existindo, perderam o controle de suas terras, mas sua cultura permanece acesa sobre o pó da fronteira na luta por seu território. Que a verdadeira justiça seja feita em breve.
*Junior Bittencourt - Geógrafo e acadêmico de Economia da UFGD.

Nos caminhos do genocídio e da esperança

Nos caminhos do genocídio e da esperança

Cone sul do Mato Grosso do Sul. Fronteira com o Paraguai. Território tradicional Guarani. Visita as comunidades Kaiowá Guarani.com a presença de Cooperadores internacionais.


Primeira estação
Iniciamos a viagem por Nhanderu Marangatu. São mais de 900 pessoas espremidas em 124 hectares. Um professor da comunidade assim se expressa “descrevemos isso porque denunciamos ameaças de morte, espancamento assassinato, abuso sexual, estupros, mas nunca fomos atendidos pela Funai e pelo Ministério Publico Federal”. Nesta comunidade foram assassinados na luta pela terra, Marçal Tupã’i e Dorvalina. Os assassinos não foram punidos. A terra de 9.300 hectares está homologada desde 2005. Logo depois uma ação dos fazendeiros foi liminarmente aceita pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, suspendendo os efeitos. Até hoje a ação não foi julgada. Sob permanente vigilância e ameaças, os indígenas vêem o pouco da mata que ainda existe sendo rapidamente destruída, e eles aí confinados, até muitas vezes sem lenha para fazer fogo e sem ter para onde ir. Mais de uma centena de crianças está sem documentos e por isso fora da escola. Dizem que os índios são do Paraguai, quando existe historicamente a terra desses grupos familiares num e outro lado da fronteira. Recentemente delegação da comunidade esteve com o Ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal, relator do processo, solicitando mais uma vez urgência no julgamento do processo. A resposta é de que vai providenciar isso.

Segunda estação
A comunidade com a marca mais profunda do genocídio e sofrimento na luta pela terra é Kurusu Ambá, no município mais violento do país – Coronel Sapucaia. Ali fomos recebidos pela comunidade mobilizada em ritual de indignação e esperança. O ritual de recepção foi um desses fenômenos raros de se acreditar. Parece impossível um grupo humano submetido a tamanha crueldade tenha tanta energia para saudar a vida e acreditar em dias melhores, lutando. Ter a certeza de que a terra de Kurusu Ambá, voltará a ser a sua terra sem males.
Dos aliados de outros países que os estavam visitando, apenas pediram que falassem ao mundo a verdade sobre o que se passa na comunidade de Kurusu Ambá. As ameaças continuam e a qualquer pode ter mais vítimas. Falam emocionados dos três líderes que foram assassinados, dos que foram presos, dos que foram baleados, das crianças que morreram de fome. Um cartaz de papelão de caixa dizia “ 22 ANO DE PACIENCIA E TRES VITIMA

Ao final das falas foi novamente proferida a palavra do líder assassinado Ortiz “A luta não vai parar enquanto tiver um Kaiowá Guarani em pé”.
São aproximadamente 200 pessoas sob as lonas pretas à beira da estrada e fim da paciência.

Terceira estação
Amabai é uma das primeiras terras Kaiowá Guarani reservadas a eles no início do século passado. A pequena porção de terra foi sendo expropriada pela expansão das fazendas e da cidade ao redor. Hoje são quase 8 mil pessoas em menos de 2 mil hectares. Não fica difícil entender porque é uma das áreas de maior índice de violência na região e no país. Além das graves conseqüências do confinamento, a região é marcada e precionada pelo narcotráfico, alcoolismo, prostituição, trabalho escravo...e outros males sistêmicos.
Ali fomos visitar o acampamento do Nisio, do tekoha Guaiviry. Recentemente Perderam sua grande mãe e líder religiosa Odulia. Logo antes de morrer disse para registrarem sua fala “Quero tekoha Guaiviry para os meus filhos ocupem o tekoha em meu lugar. Depois do Aty Guasu espero que essa terra seja demarcada para meus filhos e comadre...A minha filha fica em meu lugar para não terminar o meu broto. Não quero que a cultura não indígena entre no tekoha Guaiviry. Depois quero que meus filhos me levem para onde está meu irmão” (Odulia Mendes, texto manuscrito)

Quarta estação

Final de dia, nas trilhas do sofrimento e da esperança Kaiowá Guarani. O vereador Otoniel e o capitão da aldeia de Caarapó – Te Ykue, nos introduzem em outros campos não menos minados e difíceis. A participação na política partidária e o trabalho de plantio e corte de cana de açúcar. Apesar de todos os problemas enfrentados na função de representante da comunidade na câmara municipal, essa tem sido uma experiência construída com muito debate e consciência pela comunidade. Ele é um dos oito vereadores indígenas Kaiowá Guarani da região.
Também procura refletir sobre esse sobre o século passado, quando praticamente se iniciou o processo de forte impacto, muitas mortes, num processo genocida que continua até hoje. Procurou refletir o processo desde a escravidão livre da extração da erva-mate até o trabalho escravo hoje nas usinas de cana de açúcar. Só da aldeia de Tei Ykue saem em torno de dez ônibus de trabalhadores Kaiowá Guarani para as usinas. São em torno de 700 trabalhadores indígenas só desta aldeia. No total, conforme o Ministério do Trabalho, são mais de 13 mil indígenas trabalhando no plantio e corte da cana, na região. Procuram mostrar o forte impacto desestruturador dos laços sociais, familiares, que traz esse trabalho de meses fora da aldeia. É praticamente o único trabalho que lhes resta. E mesmo assim com os dias contados, pois está em curso um rápido processo de mecanização de todo o processo da cana. Daí a urgência do reconhecimento das terras para que não se agrave ainda mais a situação de dependência, mendicância, violência e fome.

Quinta estação
Próximo a Dourados, uma das situações mais cruéis a que está submetida uma comunidade Kaiowá Guarani hoje, no Mato Grosso do Sul. A terra de Passo Piraju foi retomada há um quasee 10 anos. Foi um tempo de conflitos e ameaças constantes por parte dos fazendeiros da região, que a todo custo querem ver os índios longe daí. Eles estão confinados a 40 hectares por um Termo de Ajustamento de Conduta. Porém nos últimos três anos, após um conflito em que morreram dois policiais, eles estão submetidos a um permanente bombardeio de prisões,pressões, armações e ameaças inimagináveis. Em conseqüência disso hoje se encontram reduzidos a menos da metade das famílias que havia anos passados. Alguns se encontram no presídio de segurança máxima de Dourados. Outros cumprem prisão na aldeia. A intenção clara é de vingança dos policiais e a retirada dos índios por parte dos fazendeiros. Heroicamente as famílias que ali sobrevivem resistem a toda essa onda agressões. Uma das lideranças desabafa “Pensávamos que a escravidão tivesse acabado. Agora aqui no Passo Piraju ela está começando”. Denunciam o clima de terror a que estão submetidos, constantes tiros, cerca elétrica até a beira do rio, cana até a parta da aldeia. “Aqui polícia é insegurança pública”. Falam do medo com que se locomovem “levando a morte na mão!”. Na prisão foram torturados e dona Plácida voltou recentemente do presídio gravemente doente.

Sexta estação
Dourados tem se notabilizado nacional e internacionalmente por ser a Terra Indígena de maior população do país, em torno de 13 mil pessoas, onde tem ocorrido o maior número de mortes de crianças por desnutrição e um dos maios altos índices de suicídios e homicídios do país.
Alguns chegam a afirma que se trata de um processo acelerado de favelização. As casinhas, umas próximas às outras, não dão mais condições de sequer fazer uma pequena roça familiar. Para complicar a situação o SPI trouxe, já no século passado, várias famílias Terena, com o intuito de ensinar os Kaiowá Guarani na produção nas lavouras. O rápido aumento das violências em conseqüência do aumento de drogas, formação de gangues, trabalho escravo nas usinas, tem contribuído para que a violência tomasse um nível assustador. Em função disso estão sendo discutidas políticas de segurança na aldeia, que vão desde a preparação de contingentes policiais para atuar na área, até o toque de recolher a partir das dez horas da noite.

Sétima estação
As ameaças de despejo de sido uma constante para a comunidade de Laranjeira Nhanderu, no município de Rio Brilhante. Quando estivemos visitando a comunidade, era o dia em que expirava mais um prazo.
Falaram de tudo que tem passado nesses quase dois anos em que retornaram a seu Tekohá, terra tradicional. Duas crianças morreram em decorrência da falta de permissão da assistência à saúde, três jovens se suicidaram, sob as pressões da reintegração de posse...

Resistência e esperança, acima de tudo
Ao concluirmos a maratona de contato com as realidades de comunidades Kaiowá Guarani, fica a imagem forte dos “condenados da terra”, dos “restos”, dos quais brotará uma nova sociedade, mais justa e solidária. Povos semente de sonhos e utopias, povos da resistência, da transformação e da esperança


Egon Heck
Cimi MS
Campo Grande, 31 de agosto de 2009

domingo, 30 de agosto de 2009

NÃO VÁ!!

Roberto Carlos em Curitiba dias 2 e 3 de outubro, 21 horas – Teatro Positivo.

- NÃO VÁ!

Se eu tivesse a força e a determinação do MST que protesta, algumas vezes, liberando os pedágios particulares - colocados em estradas públicas - construídas com o dinheiro de nossos impostos - eu liberaria, com a ajuda de outros cidadãos conscientes, a entrada do Teatro Positivo para os milhões de amigos do cantor que não tem condições de pagar o ingresso.
Impediria, com a maior satisfação, a entrada dos que desembolsaram de 400 a 1.200 reais numa ridícula exibição da futilidade de quem possui o poder econômico. Seria até um favor pois eles não iriam querer se misturar com o povo.
Se eu tivesse o poder de persuasão, eu convenceria a platéia curitibana que boicotasse as duas apresentações do cantor, deixando-o em frente a uma platéia vazia.
Não me importa de quem seja a culpa.
O Teatro Positivo diz que não tem nada com isso.
Os promotores do evento alegam a falta de espaço para grandes shows em Curitiba
- Que grande mentira!!
Curitiba, para citar alguns espaços para um espetáculo deste tipo, tem pelo menos uns cinco locais:
- O campo do Atlético Paranaense, por exemplo, (tudo bem, eu sou atleticana, mas a Arena da Baixada é belíssima e confortável).
- O Estádio Couto Pereira, campo do Coritiba FC, (para demonstrar que sou futebolisticamente imparcial quando se trata de shows MUSICAIS)
Mas gente da MINHA cidade!?
- E o Guairão?
- E o Ginásio Tarumã?
- A linda Pedreira Paulo Leminski?

Preços em Curitiba:
Setor vermelho (?!): R$ 400
Setor branco: R$ 700
Setor verde: R$ 800
Setor amarelo: R$ 1 mil
Setor azul: R$ 1,200 mil.

Preços do ingresso para o show do Roberto Carlos em algumas cidades onde ele já se apresentou:
Florianópolis: gratuito.
Cachoeiro do Itapemerim, de R$ 50 a R$ 100
Natal, RN: R$ 60
Rio de Janeiro: R$ 20 a R$180
São Paulo: R$ 60 a R$ 280
Barretos: R$ 50

Já que nada posso fazer a não ser exercer o meu direito de protestar, só me resta solicitar ao cantor:
- NÃO VENHA, ROBERTO CARLOS! VAI PEGAR MAL!!

Nédier

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Uma canção para me (ame)ninar.



CANÇÃO PARA ME (AME)NINAR
(para nédier)

fio de contas
cose-me à fé.
ave, pai!
marias nossas
resgato reinos,
salvo rainhas.

em glória,
a
dor
meço...
.
.
Nédier do meu coração
Li sua carta ao pai.
Até hoje não consigo escrever ao meu.
Durante a sua doença, embalei-me com um terço.
Ontem, ao me deitar, liguei meu terço ao seu. Acalanto...
Rosane, TVF
A Rosane vai colocar esta canção em seu site, endereço acima, me antecipei, afinal foi um presente.
..
..
Desculpe Rosane e todos os meus muito obrigada pelo seu afeto e pela linda poesia.
"A dor meço" é um maravilhoso jogo poético de palavras.
Em minha diária recitação do terço, "a dor meço" com as contas entre os dedos. Presto contas.
Nédier
...
Foto: Carol Castro posando para a revista Play Boy que foi censurada pelo uso do terço em algumas fotos

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Lina X Dilma ou Mercadante, o grosso.

Dilma e Lina

Hoje acordei muito indisposta e resolvi ficar na cama.
Acabei assintindo o depoimento de Lina Vieira , ex-secretária da Receita Federal, uma funcionária pública concursada que possui um curriculo invejável.
Ela é discreta, segura e teve um comportamento inabalável quando solta às feras da Comissão de Constituição e Justiça.
É uma mulher, segundo ela mesma, que "não precisa de agenda pra falar a verdade."
Dilma, a ausente.
Nega o que Lina afirma.
Diz não ter encontrado com Lina, enquanto secretária da Receita Federal, para pedir a agilização dos processos contra um dos filhos do Sarney.
Tipo assim: - Vamos acabar logo com isso, o pai dele deverá ser eleito presidente do Senado. (interpretação minha).
Dilma mente com cara dura, já mentiu e foi desmentida algumas vezes neste governo.
Autoritária, com ares de superioridade (deve ser por conta do mestrado e doutorado que ela diz ter e não tem). Vai cair dos saltos altos - logo. Espero.

Resumo do baile: não deu em nada, ambas continuarão em suas posições, uma afirmando e outra negando. Mas Lina não tem um histórico, ou melhor,
"um dossiê " de mentiras como Dilma possui.
Se Lina, por não ser conhecida, não tinha muita credibilidade, a partir de hoje passou a ter.

Mercadante, o grosso
Mercadante foi grosseiro, brusco e raivoso ao se dirigir à tranquila depoente.
Tudo diante da comissão, das câmaras, do Brasil inteiro.
Eu mesmo cheguei a ficar intimidada com a mercadante expressão boçal que já vi em alguns delegados ignorantes que conheci em cidades do interior do Paraná.
Se ele tivesse vivido em outras eras, como Louis XIV se autoproclamaria o Rei Sol e criaria a famosa frase: "Le loi c'est moi"

Foi mal Mercadante! A lei não é você, você representa o Estado de São Paulo graças a milhões de eleitores incautos que vêm em você o homem que deu certo.
Cheguei a jurar sobre a "bandeira do Brasil" que você era ético. que lástima. Sua ética a "lá Renan Calheiros" deve considerar as mulheres lixo descartável, com martas suplicy como exceção, é claro.
Mas enfim toda aquela sua máscara de mauricinho da Avenida Paulista caiu.
A prepotência natural que você tenta esconder e lhe rende uma úlcera no estômago veio à tona.
É isso ai, assuma a sua grossura que você logo sara.
A autenticidade é um sentimento saudável.

Nédier

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Marina Silva, Presidente da República, pensou?

Marina Silva
Nasceu em uma "colocação" (casas de seringueiros, geralmente construídas sobre palafitas) chamada Breu Velho, no seringal Bagaço, a 70 km do centro de Rio Branco, capital do estado do Acre. Seus pais, Pedro Augusto e Maria Augusta da Silva, tiveram onze filhos, dos quais oito sobreviveram.
Aos 15 anos foi levada para a capital, com uma hepatite confundida com malária. Teve a proteção do então bispo do Acre, Dom Moacyr Grechi, que a acolheu na casa das irmãs Servas de Maria. Queria ser freira. Analfabeta, foi matriculada no Mobral - o ambicioso projeto de alfabetização do regime militar.
Trajetória Política
Levada à atividade política e social pela
Igreja Católica, Marina acabou por ter contato com obras marxistas quando entrou na universidade. Ali, entrou para o Partido Revolucionário Comunista (PRC), que se abrigava no Partido dos Trabalhadores, sob o comando do deputado José Genoíno.
Formou-se em História pela Universidade Federal do Acre.
Foi professora na rede de ensino de
segundo grau e engajou-se no movimento sindical. Foi companheira de luta de Chico Mendes e com ele fundou a Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Acre em 1985, da qual foi vice-coordenadora até 1986. Nesse ano, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e candidatou-se a deputada federal, porém não foi eleita.
Em
1988, foi a vereadora mais votada do município de Rio Branco, conquistando a única vaga da esquerda na câmara municipal. Como vereadora, causou polêmica por combater os privilégios dos vereadores e devolver benefícios financeiros que os demais vereadores também recebiam. Com isso passou a ter muitos adversários políticos, mas a admiração popular também cresceu.
Exerceu seu mandato de vereadora até
1990. Nesse ano candidatou-se a deputada estadual e obteve novamente a maior votação. Logo no primeiro ano do novo mandato descobriu-se doente: havia sido contaminada por metais pesados quando ainda vivia no seringal.
Em
1994 foi eleita senadora da República, pelo estado do Acre, com a maior votação, enfrentando uma tradição de vitória exclusiva de ex-governadores e grandes empresários do estado.
Foi Secretária Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores, de
1995 a 1997.
Pode-se dizer que se tornou uma das principais vozes da
Amazônia, tendo sido responsável por vários projetos, entre eles o de regulamentação do acesso aos recursos da biodiversidade.
Em
2003, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República, foi nomeada ministra do Meio Ambiente. Desde então, enfrentou conflitos constantes com outros ministros do governo, quando os interesses econômicos se contrapunham aos objetivos de preservação ambiental.
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Fonte: Wiquipédia

domingo, 16 de agosto de 2009

Marina Silva para Presidente...pense.


Uma Silva sucessora de um Silva?


Não estou ligado a nenhum partido, pois para mim partido é parte. Eu como intelectual me interesso pelo todo embora, concretamente, saiba que o todo passa pela parte. Tal posição me confere a liberdade de emitir opiniões pessoais e descompromissadas com os partidos.
De forma antecipada se lançou a disputa: Quem será o sucessor do carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva?
De antemão afirmo que a eleição de Lula é uma conquista do povo brasileiro, principalmente daqueles que foram sempre colocados à margem do poder. Ele introduziu uma ruptura histórica como novo sujeito político e isso parece ser sem retorno. Não conseguiu escapar da lógica macro-econômica que privilegia o capital e mantém as bases que permitem a acumulação das classes opulentas. Mas introduziu uma transição de um estado privatista e neoliberal para um governo republicano e social que confere centralidade à coisa pública (res publica), o que tem beneficiado vários milhões de pessoas. Tarefa primeira de um governante é cuidar da vida de seu povo e isso Lula o fez sem nunca trair suas origens de sobrevivente da grande tribulação brasileira.
Depois de oito anos de governo se lança a questão que seguramente interessa à cidadania e não só ao PT: quem será seu sucessor? Para responder a esta questão precisamos ganhar altura e dar-nos conta das mudanças ocorridas no Brasil e no mundo. Em oito anos muita coisa mudou. O PT foi submetido a duras provas e importa reconhecer que nem sempre esteve à altura do momento e às bases que o sustentam. Estamos ainda esperando uma vigorosa autocrítica interna a propósito de presumido “mensalação”. Nós cidadãos não perdoamos esta falta de transparência e de coragem cívica e ética.
Em grande parte, o PT virou um partido eleitoreiro, interessado em ganhar eleições em todos os níveis. Para isso se obrigou a fazer coligações muito questionáveis, em alguns casos, com a parte mais podre dos partidos, em nome da governabilidade que, não raro, se colocou acima da ética e dos propósitos fundadores do PT.
Há uma ilusão que o PT deve romper: imaginar-se a realização do sonho e da utopia do povo brasileiro. Seria rebaixar o povo, pois este não se contenta com pequenos sonhos e utopias de horizonte tacanho. Eu que circulo, em função de meu trabalho, pelas bases da sociedade vejo que se esvaziou a discussão sobre “que Brasil queremos”, discussão que animou por decênios o imaginário popular. Houve uma inegável despolitização em razão de o PT ter ocupado o poder. Fez o que pôde quando podia ter feito mais, especialmente com referência à reforma agrária e à inclusão estratégica (e não meramente pontual) da ecologia.
Quer dizer, o sucessor não pode se contentar de fazer mais do mesmo. Importa introduzir mudanças. E a grande mudança na realidade e na consciência da humanidade é o fato de que a Terra já mudou. A roda do aquecimento global não pode mais ser parada, apenas retardada em sua velocidade. A partir de 23 de setembro de 2008 sabemos que a Terra como conjunto de ecosissitemas com seus recursos e serviços já se tornou insustentável porque o consumo humano, especialmente dos ricos que esbanjam, já psssou em 40% de sua capacidade de reposição.
Esta conjuntura que, se não for tomada a sério, pode levar nos próximos decênios a uma tragédia ecológicohumanitária de proporções inimagináveis e, até pelo final do século, ao desaparecimento da espécie humana. Cabe reconhecer que o PT não incorporou a dimensão ecológica no cerne de seu projeto político. E o Brasil será decisivo para o equilíbrio do planeta e para o futuro da vida.
Qual é a pessoa com carisma, com base popular, ligada aos fundamentos do PT e que se fez ícone da causa ecológica?
É uma mulher, seringueira, da Igreja da libertação e amazônica.
Ela também é uma Silva, como Lula.
Seu nome é Marina Osmarina Silva.

Leonardo Boff, teólogo é autor do livro "Que Brasil queremos?" Vozes 2000.



Petropolis, 15 de agosto de 2009.

CÂNTICOS - CECÍLIA MEIRELES

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CÂNTICOS

CECÍLIA MEIRELES

XIII
“ Renova-te .
Renasce em ti mesmo .
Multiplica os teus olhos , para verem mais .
Multiplica os teus braços para semeares tudo .

Destrói os olhos que tiverem visto .
Cria outros , para visões novas .
Destrói os braços que tiverem semeado ,
Para se esquecerem de colher .

Sê sempre o mesmo .
Sempre outro .
Mas sempre alto .
Sempre longe .
E dentro de tudo .”
Meus amigos,
Quando eu estou, como agora, um pouco desorientada, sem inspiração pra nada a não ser pra nada fazer, a minha querida Marisa Giglio me manda um dos seus lindos pps. Como não existem coincidências, as lindas palavras, deste trecho de poesia da Cecília Meireles parecem que foram feitas para mim. Obrigada, querida.
Nédier

domingo, 9 de agosto de 2009

Carta a meu pai.


Pai,
Há 21 anos não convivemos, porém muito antes deste tempo, a doença, que já tinha nos privado das palavras e palavrões que você distribuia de forma tão gentil e democrática, colocara também nuvens de não reconhecimento em seu olhar.
Poucos minutos antes de você partir estávamos bem próximos. O meu braço enlaçava o seu travesseiro e percebi de repente que você recuperara a lucidez. Os seus traços e a sua expressão se refizeram como por um milagre. Você me olhou, ergueu as sobrancelhas e me perguntou em silêncio:
- O que que é isso, “porco cane” ?
Em silêncio respondi que você estava indo para um lugar melhor onde iria reencontrar seus pais, alguns irmãos e amigos. Pedi que você não insistisse em ficar, e abandonasse aquela roupa tão surrada do seu corpo que impedia você andar, falar e imprecar contra o mundo com humor.
Depois desta troca de palavras, feita em silêncio, você parou de respirar. A enfermeira retirou o soro e o oxigênio já inúteis para a tua nova vida e como ela faz parte da minha vida, respiro por você.
Quando o médico chegou e soube que você não o esperara, me afirmou, com olhos úmidos de tristeza:
- O seu Berto é a prova de que a bondade não está no corpo físico, mas em um lugar qualquer que eu não sei onde fica.

A neuro-lues de uma sífilis adquirida na adolescência e a meningite que apagou um dos seus olhos, muito azuis, deveriam tê-lo embrutecido. A lesão cerebral que ele ganhou atropelando um fusca e que o deixou por uns dias em coma, não alterou o seu comportamento.
Quando ele voltou do coma disse:
- Vamos pra casa. E continuou o mesmo.
Tivemos que consolar a jovenzinha que dirigia o fusca que ele quase destruiu, pois era um homem alto e forte que se recusava andar pela calçada e ela não sabia.

Vejo-o em mim, na expressão dos olhos, nos gestos, na integridade de ser sempre a mesma e de não me deslumbrar e nem me intimidar com nada e com ninguém.
Não sei se aprendi com você ou herdei de seus genes esta falta absoluta de respeito pelas “autoridades constituídas” e este pavor de aglomeramentos que hoje chamam de síndrome do pânico.
Você mal sabia ler e escrever e além de me ensinar a dançar, você me ensinou - com seu modo de ser, que a bondade supera todos os obstáculos.
Pai, hoje escrevo esta carta pra mim mesma, uma vez que você vive em mim, gostaria que ela substituisse o presente que você pedia e eu lhe dava todos os anos: uma camisa preta, vermelha ou de cor berrante, com indispensáveis bolsinhos que, segundo você, serviam para guardar a conta da luz.

Pai, hoje é o nosso dia, desculpe se escrevi tanto e muito obrigada por continuar sendo meu pai.
Nédier
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Imagem: Antonio Ramos