quarta-feira, 23 de junho de 2010

Bayer recua e desiste do pedido de liberação do arroz transgênico

Arrozal
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Quando evapora o suor do peão,
ao céu levanta...
Nuvem de chuva,
o suor do peão volta pro rio...
vai ser mais peixe, ser mais pão e vai ser planta...
o suor do peão, várzeas de arroz, água do rio...
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”Trecho de “Canção dos arrozais”, de José Hilário Retamozzo
Arroio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil
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Transgênicos: veja na YouTube
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Bayer recua e desiste do pedido de liberação do arroz transgênico

A empresa Bayer Cropscience acaba de informar em sua página da internet que solicitou à CTNbio a retirada temporária do processo de liberação comercial do arroz Liberty Link (LL 62) da pauta de decisões técnicas. O pedido de liberação causou uma série de reações contrárias, por parte de vários grupos, desde produtores, comunidade científica e diversas organizações ambientalistas, de consumidores e movimentos sociais.
Segundo a empresa essa ação "proativa" decorre da necessidade de ampliar o diálogo com setores da cadeia produtiva do arroz no Brasil. Os rizicultores manifestaram-se publicamente contrários à liberação, que pode significar perda de mercados consumidores na África e União Européia, como já ocorrido nos Estados Unidos onde houve contaminação nas culturas de arroz , o que fez o país perder milhões de dólares.
O principal interesse da Bayer é liberar o arroz no Brasil para influenciar outros países produtores do grão, ao mesmo tempo em que os produtores brasileiros só aceitarão a variedade transgênica quando houver a comercialização em outros países, além de ampla aceitação do mercado externo. É possível que a empresa se comprometa junto aos produtores de arroz que, mesmo quando for liberado pela CTNBio, ela não colocará o Libert Link a venda enquanto não for amplamente aceito pelos mercados mundiais. De qualquer forma, caso o Brasil libere a variedade, a empresa terá mais subsídios para influenciar a decisão em outros países, ao mesmo tempo em que trabalha para transparecer maior segurança aos produtores.
A retirada do pedido de liberação é temporária e, provavelmente, muito em breve, a empresa pleiteará nova aprovação de seu arroz transgênico. Tudo depende da Bayer convencer os produtores, mesmo que isso exclua o povo brasileiro da importante decisão em consumir ou não produtos transgênicos e seus potenciais impactos ao meio ambiente e à saúde.
De toda forma, a retirada do pedido impõe uma derrota à gigante biotecnológica, assim como freia o acelerado quadro de liberações comerciais de OGMs no Brasil, feitos pela CTNBio. Os graves problemas que envolvem o arroz transgênico levantados em audiência pública e as mobilizações das organizações da sociedade civil e da comunidade científica fazem com que a empresa recue no pedido. É uma pena que a CTNBio não se mostre acuada para continuar a agir pela aprovação irrestrita dos eventos requeridos pelas empresas.
Após 10 anos de liberação comercial da soja RR da Monsanto, os agricultores sentem os efeitos nefastos intrínsecos aos transgênicos, como a concentração dos mercados (85 % da soja no país está nas mãos da Monsanto, sobrando apenas 15% para variedades convencionais), e o aumento do uso do glifosato e de outros agrotóxicos por conta da resistência adquirida por pragas. Para que os agricultores não sejam iludidos novamente, a sociedade precisa se organizar e exigir que o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), presidido até o seu licenciamento, pela Ministra Dilma Rousseff, cumpra seu dever legal e pare de se omitir como tem feito, desde sua criação em 2005, ao delegar decisões de extrema relevância pública e social ú ;nica e exclusivamente a uma comissão técnica composta de 27 pessoas, como é a CTNbio.
O tempo ganho com o recuo da Bayer tem que servir à sociedade para ampliar a discussão e exigir que o governo Lula se posicione a favor da saúde, do meio ambiente, dos agricultores e consumidores.

Leia a nota publicada pela Bayer (link)

Leia a carta da sociedade civil para o CNBS (link)
Leia o documento produzido pelas organizações contrárias à liberação (link)

Mais informações:Terra de Direitos
– Larissa Packer: 41 9934-6660/ 41 3232-4660AS-PTA
– Gabriel Fernandes: 21 8124-0095IDEC
– Andrea Lazzarini: 11 8298-3322
Quarta-feira, 23 de junho de 2010.

As eleições não são batalha final

A campanha eleitoral deste ano à Presidência da República agora está oficializada. Ou seja, com as convenções nacionais realizadas nas últimas semanas, os principais partidos políticos formalizaram suas candidaturas.
É verdade que, nos últimos dias, a mídia corporativa tem se “preocupado” mais com a Copa do Mundo e a seleção brasileira. Mas o fato é que o tema eleitoral já era tema de pauta desde o ano passado, como “cortina de fumaça” para a crise econômica mundial e muito longe de qualquer debate sobre projeto estratégico para o país. Esta, aliás, deverá ser novamente a marca da campanha presidencial. Isto é , ausência total de verdadeiro debate de projeto político que encare os graves problemas estruturais do país.
O PT e o PSDB insistem em tratar a campanha como “plebiscitária” – deve-se escolher entre a continuidade do governo Lula ou o retorno ao período do governo FHC. No entanto, nos programas de governo de ambos os candidatos, não há nada que indique que a economia deixará de ser hegemonizada pelo capital financeiro. Isso se torna evidente nas semelhanças entre as propostas para a agricultura, que privilegiam o agronegócio, braço do capital internacional e especulativo no campo.
Mesmo a ideia de que se trata de um embate entre os governos Lula e FHC é sintomática desta despolitização. Por um lado, o PSDB, herdeiro de oito anos de governo FHC e há 16 anos no governo de São Paulo – o Estado mais rico do país e com vergonhosos índices sociais –, significa retomar as privatizações e retroceder nas relações internacionais com o hemisfério sul, realinhando o país subordinadamente aos Estados Unidos. Por outro, o atual governo abandonou bandeiras históricas do seu próprio partido e optou por não enfrentar o capital financeiro internacional. Ao contrário, estimulou setores poderosos da economia, como os próprios bancos e empreiteiras, e blindou-se com um apoio popular, misto de clientelismo com assistencialismo. Portanto, está longe de atender às bandeiras históricas da classe trabalhadora.
E, nesse cenário, nos setores de oposição, à esquerda ao governo Lula, vigora a fragmentação e o divisionismo característico dos período de descenso social. O período eleitoral é visto apenas como espaço de agitação política e, consequentemente, há dificuldade de se construir um projeto alternativo, capaz de aglutinar outros setores da sociedade. E, novamente, não se trata de nomes, mas sim de se atacar os problemas concretos e estruturais da sociedade brasileira.
No entanto, no conjunto dos movimentos sociais, há um esforço em construir plataformas políticas unitárias que tentam flexionar o debate eleitoral para as questões sociais e econômicas. É neste sentido que resultaram as propostas apresentadas pela Coordenação dos Movimentos Sociais, pelas conferências realizadas pelas diversas centrais sindicais, seja no polo da CUT-CTB ou no da Conlutas-Intersindical, e entre os movimentos da Via Campesina.
Há evidentemente uma compreensão deste conjunto de organizações de que aliança do PSDB com o DEM, representada pela candidatura de José Serra, significa a retomada do projeto privativista, a restituição da política de relações exteriores submissa ao império e a criminalização dos movimentos sociais.
Entretanto, os movimentos sociais também vêm insistindo que as eleições não são a batalha final. As conquistas da classe trabalhadora sempre se originaram nas ruas, nas lutas populares, sindicais e estudantis. É ali que a classe trabalhadora é forte e pode, realmente, se fazer ouvir.
As eleições – espaço político que poderia ser importante para apresentar projetos para o país e de elevar a consciência política da população brasileira – estão cada vez mais despolitizadas e mais dependentes do poderio econômico. São vergonhosas e imorais as milionárias cifras gastas para eleger os integrantes dos poderes Executivo e Legislativo em nosso país. Montantes que afastam os setores populares das disputas eleitorais e tornam candidatos reféns dos financiadores milionários. É crescente a sensação, em cada eleição, de que as doações às campanhas eleitorais se constituem em verdadeiros investimentos, feitos pelos grandes grupos econômicos, para os quatro anos seguintes. O que o país precisa é de um projeto de desenvolvimento econômico e social, que promova justiça social e a distribuição da renda e da riqueza produzidas em nosso país. Um projeto desses contraria os interesses dos grandes doadores das campanhas eleitorais. É por isso que, com a conivência dos partidos políticos, o parlamento se torna cada vez mais o espaço da pequena política.
Infelizmente, no Brasil, ainda penamos com o longo descenso das lutas de massas e com o rebaixamento da discussão política. Mas as contradições desse modelo econômico – que mesmo em período de crescimento econômico promove a desigualdade social – certamente exigiram uma participação popular na política que vá além do calendário eleitoral. As lutas sociais, a organização e a politização da classe trabalhadora e a implementação de um projeto popular para o país devem alicerçar as politicas que realmente promovam mudanças estruturais que assegurem condições dignas de vida ao povo brasileiro.


Editorial do Brasil de Fato ed. 381



domingo, 20 de junho de 2010

Prefácio do livro "Terra" escrito por José Saramago

João Pedro Stedile, José Saramago, Sebastião Salgado e Chico Buarque no lançamento do livro Terra

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É difícil defender
só com palavras a vida
(ainda mais quando ela é
esta que vê, severina).

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João Cabral de Melo Neto


Oxalá não venha nunca à sublime cabeça de Deus a idéia de viajar um dia a estas paragens para certificar-se de que as pessoas que por aqui mal vivem, e pior vão morrendo, estão a cumprir de modo satisfatório o castigo que por ele foi aplicado, no começo do mundo, ao nosso primeiro pai e à nossa primeira mãe, os quais, pela simples e honesta curiosidade de quererem saber a razão por que tinham sido feitos, foram sentenciados, ela, a parir com esforço e dor, ele, a ganhar o pão da família com o suor do seu rosto, tendo como destino final a mesma terra donde, por um capricho divino, haviam sido tirados, pó que foi pó, e pó tornará a ser. Dos dois criminosos, digamo-lo já, quem veio a suportar a carga pior foi ela e as que depois dela vieram, pois tendo de sofrer e suar tanto para parir, conforme havia sido determinado pela sempre misericordiosa vontade de Deus, tiveram também de suar e sofrer trabalhando ao lado dos seus homens, tiveram também de esforçar-se o mesmo ou mais do que eles, que a vida, durante muitos milénios, não estava para a senhora ficar em casa, de perna estendida, qual rainha das abelhas, sem outra obrigação que a de desovar de tempos a tempos, não fosse ficar o mundo deserto e depois não ter Deus em quem mandar.

Se, porém, o dito Deus, não fazendo caso de recomendações e conselhos, persistisse no propósito de vir até aqui, sem dúvida acabaria por reconhecer como, afinal, é tão pouca coisa ser-se um Deus, quando, apesar dos famosos atributos de omnisciência e omnipotência, mil vezes exaltados em todas as línguas e dialectos, foram cometidos, no projecto da criação da humanidade, tantos e tão grosseiros erros de previsão, como foi aquele, a todas as luzes imperdoável, de apetrechar as pessoas com glândulas sudoríparas, para depois lhes recusar o trabalho que as faria funcionar - as glândulas e as pessoas. Ao pé disto, cabe perguntar se não teria merecido mais prémio que castigo a puríssima inocência que levou a nossa primeira mãe e o nosso primeiro pai a provarem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A verdade, digam o que disserem autoridades, tanto as teológicas como as outras, civis e militares, é que, propriamente falando, não o chegaram a comer, só o morderam, por isso estamos nós como estamos, sabendo tanto do mal, e do bem tão pouco.

Envergonhar-se e arrepender-se dos erros cometidos é o que se espera de qualquer pessoa bem nascida e de sólida formação moral, e Deus, tendo indiscutivelmente nascido de Si mesmo, está claro que nasceu do melhor que havia no seu tempo. Por estas razões, as de origem e as adquiridas, após ter visto e percebido o que aqui se passa, não teve mais remédio que clamar mea culpa, mea maxima culpa, e reconhecer a excessiva dimensão dos enganos em que tinha caído. É certo que, a seu crédito, e para que isto não seja só um contínuo dizer mal do Criador, subsiste o facto irrespondível de que, quando Deus se decidiu a expulsar do paraíso terreal, por desobediência, o nosso primeiro pai e a nossa primeira mãe, eles, apesar da imprudente falta, iriam ter ao seu dispor a terra toda, para nela suarem e trabalharem à vontade. Contudo, e por desgraça, um outro erro nas previsões divinas não demoraria a manifestar-se, e esse muito mais grave do que tudo quanto até aí havia acontecido.

Foi o caso que estando já a terra assaz povoada de filhos, filhos de filhos e filhos de netos da nossa primeira mãe e do nosso primeiro pai, uns quantos desses, esquecidos de que sendo a morte de todos, a vida também o deveria ser, puseram-se a traçar uns riscos no chão, a espetar umas estacas, a levantar uns muros de pedra, depois do que anunciaram que, a partir desse momento, estava proibida (palavra nova) a entrada nos terrenos que assim ficavam delimitados, sob pena de um castigo, que segundo os tempos e os costumes, poderia vir a ser de morte, ou de prisão, ou de multa, ou novamente de morte. Sem que até hoje se tivesse sabido porquê, e não falta quem afirme que disto não poderão ser atiradas as responsabilidades para as costas de Deus, aqueles nossos antigos parentes que por ali andavam, tendo presenciado a espoliação e escutado o inaudito aviso, não só não protestaram contra o abuso com que fora tornado particular o que até então havia sido de todos, como acreditaram que era essa a irrefragável ordem natural das coisas de que se tinha começado a falar por aquelas alturas. Diziam eles que se o cordeiro veio ao mundo para ser comido pelo lobo, conforme se podia concluir da simples verificação dos factos da vida pastoril, então é porque a natureza quer que haja servos e haja senhores, que estes mandem e aqueles obedeçam, e que tudo quanto assim não for será chamado subversão.

Posto diante de todos estes homens reunidos, de todas estas mulheres, de todas estas crianças (sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra, assim lhes fora mandado), cujo suor não nascia do trabalho que não tinham, mas da agonia insuportável de não o ter, Deus arrependeu-se dos males que havia feito e permitido, a um ponto tal que, num arrebato de contrição, quis mudar o seu nome para um outro mais humano. Falando à multidão, anunciou: “A partir de hoje chamar-me-eis Justiça.” E a multidão respondeu-lhe: “Justiça, já nós a temos, e não nos atende. Disse Deus: “Sendo assim, tomarei o nome de Direito.” E a multidão tornou a responder-lhe: “Direito, já nós o temos, e não nos conhece." E Deus: "Nesse caso, ficarei com o nome de Caridade, que é um nome bonito.” Disse a multidão: “Não necessitamos caridade, o que queremos é uma Justiça que se cumpra e um Direito que nos respeite.” Então, Deus compreendeu que nunca tivera, verdadeiramente, no mundo que julgara ser seu, o lugar de majestade que havia imaginado, que tudo fora, afinal, uma ilusão, que também ele tinha sido vítima de enganos, como aqueles de que se estavam queixando as mulheres, os homens e as crianças, e, humilhado, retirou-se para a eternidade. A penúltima imagem que ainda viu foi a de espingardas apontadas à multidão, o penúltimo som que ainda ouviu foi o dos disparos, mas na última imagem já havia corpos caídos sangrando, e o último som estava cheio de gritos e de lágrimas.

No dia 17 de Abril de 1996, no estado brasileiro do Pará, perto de uma povoação chamada Eldorado dos Carajás (Eldorado: como pode ser sarcástico o destino de certas palavras...), 155 soldados da polícia militarizada, armados de espingardas e metralhadoras, abriram fogo contra uma manifestação de camponeses que bloqueavam a estrada em acção de protesto pelo atraso dos procedimentos legais de expropriação de terras, como parte do esboço ou simulacro de uma suposta reforma agrária na qual, entre avanços mínimos e dramáticos recuos, se gastaram já cinqüenta anos, sem que alguma vez tivesse sido dada suficiente satisfação aos gravíssimos problemas de subsistência (seria mais rigoroso dizer sobrevivência) dos trabalhadores do campo. Naquele dia, no chão de Eldorado dos Carajás ficaram 19 mortos, além de umas quantas dezenas de pessoas feridas. Passados três meses sobre este sangrento acontecimento, a polícia do estado do Pará, arvorando-se a si mesma em juiz numa causa em que, obviamente, só poderia ser a parte acusada, veio a público declarar inocentes de qualquer culpa os seus 155 soldados, alegando que tinham agido em legítima defesa, e, como se isto lhe parecesse pouco, reclamou processamento judicial contra três dos camponeses, por desacato, lesões e detenção ilegal de armas. O arsenal bélico dos manifestantes era constituído por três pistolas, pedras e instrumentos de lavoura mais ou menos manejáveis. Demasiado sabemos que, muito antes da invenção das primeiras armas de fogo, já as pedras, as foices e os chuços haviam sido considerados ilegais nas mãos daqueles que, obrigados pela necessidade a reclamar pão para comer e terra para trabalhar, encontraram pela frente a polícia militarizada do tempo, armada de espadas, lanças e alabardas. Ao contrário do que geralmente se pretende fazer acreditar, não há nada mais fácil de compreender que a história do mundo, que muita gente ilustrada ainda teima em afirmar ser complicada demais para o entendimento rude do povo.

Pelas três horas da madrugada do dia 9 de Agosto de 1995, em Corumbiara, no estado de Rondônia, 600 famílias de camponeses sem terra, que se encontravam acampadas na Fazenda Santa Elina, foram atacadas por tropas da polícia militarizada. Durante o cerco, que durou todo o resto da noite, os camponeses resistiram com espingardas de caça. Quando amanheceu, a polícia, fardada e encapuçada, de cara pintada de preto, e com o apoio de grupos de assassinos profissionais a soldo de um latifundiário da região, invadiu o acampamento. varrendo-o a tiro, derrubando e incendiando as barracas onde os sem-terra viviam. Foram mortos 10 camponeses, entre eles uma menina de 7 anos, atingida pelas costas quando fugia. Dois polícias morreram também na luta.
A superfície do Brasil, incluindo lagos, rios e montanhas, é de 850 milhões de hectares. Mais ou menos metade desta superfície, uns 400 milhões de hectares, é geralmente considerada apropriada ao uso e ao desenvolvimento agrícolas. Ora, actualmente, apenas 60 milhões desses hectares estão a ser utilizados na cultura regular de grãos. O restante, salvo as áreas que têm vindo a ser ocupadas por explorações de pecuária extensiva (que, ao contrário do que um primeiro e apressado exame possa levar a pensar, significam, na realidade, um aproveitamento insuficiente da terra), encontra-se em estado de improdutividade, de abandono. sem fruto.

Povoando dramaticamente esta paisagem e esta realidade social e económica, vagando entre o sonho e o desespero, existem 4 800 000 famílias de rurais sem terras. A terra está ali, diante dos olhos e dos braços, uma imensa metade de um país imenso, mas aquela gente (quantas pessoas ao todo? 15 milhões? mais ainda?) não pode lá entrar para trabalhar, para viver com a dignidade simples que só o trabalho pode conferir, porque os voracíssimos descendentes daqueles homens que primeiro haviam dito: “Esta terra é minha”, e encontraram semelhantes seus bastante ingénuos para acreditar que era suficiente tê-lo dito, esses rodearam a terra de leis que os protegem, de polícias que os guardam, de governos que os representam e defendem, de pistoleiros pagos para matar. Os 19 mortos de Eldorado dos Carajás e os 10 de Corumbiara foram apenas a última gota de sangue do longo calvário que tem sido a perseguição sofrida pelos trabalhadores do campo, uma perseguição contínua, sistemática, desapiedada, que, só entre 1964 e 1995, causou 1 635 vítimas mortais, cobrindo de luto a miséria dos camponeses de todos os estados do Brasil. com mais evidência para Bahia, Maranhão. Mato Grosso, Pará e Pernambuco, que contam, só eles, mais de mil assassinados.


E a Reforma Agrária, a reforma da terra brasileira aproveitável, em laboriosa e acidentada gestação, alternando as esperanças e os desânimos, desde que a Constituição de 1946, na seqüência do movimento de redemocratização que varreu o Brasil depois da Segunda Guerra Mundial, acolheu o preceito do interesse social como fundamento para a desapropriação de terras? Em que ponto se encontra hoje essa maravilha humanitária que haveria de assombrar o mundo, essa obra de taumaturgos tantas vezes prometida, essa bandeira de eleições, essa negaça de votos, esse engano de desesperados? Sem ir mais longe que as quatro últimas presidências da República, será suficiente relembrar que o presidente José Sarney prometeu assentar 1.400.000 famílias de trabalhadores rurais e que, decorridos os cinco anos do seu mandato, nem sequer 140.000 tinham sido instaladas; será suficiente recordar que o presidente Fernando Collor de Mello fez a promessa de assentar 500.000 famílias, e nem uma só o foi; será suficiente lembrar que o presidente Itamar Franco garantiu que faria assentar 100.000 famílias, e só ficou por 20.000; será suficiente dizer, enfim, que o actual presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, estabeleceu que a Reforma Agrária irá contemplar 280.000 famílias em quatro anos, o que significará, se tão modesto objectivo for cumprido e o mesmo programa se repetir no futuro, que irão ser necessários, segundo uma operação aritmética elementar, setenta anos para assentar os quase 5.000.000 de famílias de trabalhadores rurais que precisam de terra e não a têm, terra que para eles é condição de vida, vida que já não poderá esperar mais. Entretanto, a polícia absolve-se a si mesma e condena aqueles a quem assassinou.


O Cristo do Corcovado desapareceu, levou-o Deus quando se retirou para a eternidade, porque não tinha servido de nada pô-lo ali. Agora, no lugar dele, fala-se em colocar quatro enormes painéis virados às quatro direcções do Brasil e do mundo, e todos, em grandes letras, dizendo o mesmo:
UM DIREITO QUE RESPEITE, UMA JUSTIÇA QUE CUMPRA.

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JOSÉ SARAMAGO


1997

Saramago, um camarada de todas as horas dos Sem Terra do Brasil


João Pedro Stedile, José Saramago, Sebastião Salgado e Chico Buarque no lançamento do livro Terra

Saramago, um camarada de todas as horas dos Sem Terra do Brasil

Por todo o mundo, se lamenta a morte do grande escritor comunista português José Saramago.
A literatura universal perde um de seus maiores mestres.


De origens camponesas, apesar de ter trabalhado em diversos ofícios antes de se dedicar à escrita, Saramago nos propõe, a partir de seus romances, que reflitamos sobre alguns dos principais dilemas humanos.
Logo naquele que é considerado seu primeiro grande livro, chamado “Levantado do Chão”, nos descreve tão bem a tragédia do camponês do sul de Portugal na luta para ver a terra dividida.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sente profundamente a perda desse grande intelectual. Mas, acima de tudo, sentimos a perda de um amigo e camarada.
Amigo que sempre tivemos por perto na defesa das mesmas bandeiras de Reforma Agrária, igualdade e justiça social, sem nunca esconder a sua posição política.
Amigo do qual recebemos sempre solidariedade. Seja na forma de palavras, seja com ações concretas, como a que teve para conosco quando se somou à exposição e livro de fotografias Terra, juntamente com Sebastião Salgado e Chico Buarque, em 1997. Graças a essa iniciativa, pudemos iniciar a construção de nossa escola nacional.
Ou quando recusou, em agosto de 1999, receber o título de doutor “honoris causa” no Pará, em sinal de protesto contra o andamento do julgamento do massacre de 19 Sem Terra em Eldorado dos Carajás, em 17 de abril de 1996.
Nós, Sem Terra do Brasil, seremos sempre gratos à sua solidariedade. E nossa maior homenagem lhe prestamos por meio da nossa luta por uma vida digna para os trabalhadores rurais do Brasil e do mundo.
E assim como ele seguiremos solidários com todos os povos oprimidos, como do Haiti e da Palestina.
Suas palavras e seu exemplo continuarão sempre a incitar a nossa reflexão e luta, como essas:
O mal é não estarmos organizados, devia haver uma organização em cada prédio, em cada rua, em cada bairro, Um governo, disse a mulher, Uma organização, o corpo também é um sistema organizado, está vivo enquanto se mantém organizado, e a morte não é mais do que o efeito de uma desorganização,… (José Saramago, em "Ensaio Sobre a Cegueira")
Secretaria Nacional do MST



Suspiros lusitanos
Por Ademar Bogo
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Se um suspiro, leve e lusitano
Zumbir nas almas das nações imensas
É o comunista que para além das crenças
Silenciosamente da vida física se dispensa.
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Vai pessoalmente viver a eternidade
E olhar de perto na tez do criador
Que pelas criaturas foi subjugado
E obrigado a justificar o horror.
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Irá verificar que as guerras entre os deuses não existem
Pois são apenas conflitos da existência
Que os homens criam e põe-se a conflitar
Pedindo a Deus que tome providências.
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E faça sempre o mais forte vitorioso
Abençoado pelas cruéis vitórias
Para deixar nos livros registrados
Os escritos que reflitam a superior memória.
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Tudo o que disse são sobre os seus dilemas
Ficam como dizeres formulados
Se não dava nem acreditava em conselhos
É porque queria vê-los por conta experimentados.
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Os próprios passos seriam os conselheiros
E os conselheiros caminhantes e aprendizes;
Se os erros deveriam ser experiênciados
Com os acertos formariam matrizes.
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Era a crença de um apaixonado
Que a si mesmo o saber se concedeu
Porque acima de todas as verdades
Acreditava que não existe o absoluto ateu.
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Por sobre as oliveiras e as corticeiras
Versos e letras irradiarão verdades
A qualquer tempo virarão consciências
E viverás nos povos em forma de saudades.
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Assim abrimos o tempo enlutado
Para purgar a dor do prejuízo humano
Se no passado choramos escravizados
Hoje, nossos suspiros também são lusitanos*.

* Os lusitanos (povos Lusis) constituíram um conjunto de povos ibéricos pré-romanos de origem indo-europeia que habitaram a parte Oeste da Península Ibérica Em 29 a.C., tendo à frente o líder Viriato, resistiram a invasão, através de guerrilhas e emboscadas. Mais tarde foi criada a província romana da Lusitânia nos territórios, que atualmente é Portugal. Por esta razão, os povos que falam línguas que tem como tronco a língua indo-europeia, como português e espanhol, principalmente, somos todos descendentes do povo guerreiro, lusitano. Por isso, choramos a morte do irmão e companheiro José Saramago, falecido em 18 de junho de 2010



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Leia prefácio do livro "Terra" escrito por José Saramago, em outra postagem
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19 de junho de 2010
O massacre de Eldorado dos Carajás completava um ano. Dezenove integrantes do MST haviam sido brutalmente assassinados pela polícia. Em abril de 1997, o fotógrafo Sebastião Salgado, o escritor português José Saramago e o compositor Chico Buarque lançam um livro/cd para relembrar o fato e marcar a importância da luta pelo chão: Terra (Companhia das Letras, 1999).
As fotos de Salgado retratam de forma realista os assentamentos e a vida dos trabalhadores rurais. A introdução, a cargo de Saramago, é dura. Lembra das promessas não-cumpridas do governo brasileiro pela reforma agrária.
Entre as canções de Chico, duas exclusivas: Levantados do Chão (com Milton Nascimento) e Assentamento, que narra o sentimento de um migrante ao perceber que a cidade grande “não mora” mais nele. (informações de Brasil Almanaque da Cultura Popular)

http://www.mst.org.br/saramago-camarada-sem-terra

sábado, 19 de junho de 2010

José Saramago


"Adeus, portanto. Até outro dia? Sinceramente, não acho."
Saramago

José Saramago, autografando um livro - à pedido de Rosane Coelho
para ela me dar de presente
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José Saramago, morreu ontem.
Era ateu ("Deus não existe fora da cabeça dos que nele creem"), anticlerical, comunista, polêmico...
Era FANTÁSTICO!
Foi o único escritor da língua portuguesa a receber o Nobel de Literatura.
Estava escrevendo um livro sobre a indústria armamentista.
Afirmou em entrevista:

"Não será sobre o Alcorão, mas será tão importante quanto todos os alcorões do mundo: por que não há greves na indústria do armamento. Uma greve na qual os operários digam: "Não construímos mais armas"

"Todo o mundo tem armas, vivemos numa sociedade de violência, que é aceita e a televisão está nos dizendo todos os dias que a vida humana não tem nenhuma importância".

Saramago "manteve durante sua carreira um firme e sólido compromisso ético e moral"
Não usava pontuação ao escrever, mas quando superávamos este inesperado, suas palavras entravam em nosso coração e circulavam em nossas veias.

Nédier

PS.:

1. Não sou crítica literária, não vou comentar os livros de Saramago que li. Amei todos. Recomendo a quem não conhece o escritor que leia pelo menos um de seus livros.

2. O cineasta brasileiro Fernando Meirelles dirigiu um filme que é uma adaptação do premiado livro "Ensaio sobre a Cegueira" escrito por José Saramago .

3. Rosane Coelho é, na minha opinião, uma das melhores poetisas brasileiras da atualidade. É também psicanalista. Está inconsolável com a morte de Saramago. Escreveu me contando que soube da notícia pela filha Carol.

"Com os olhos marejados, me disse, curta: - Saramago morreu. Ficou me olhando, esperando minha reação. Engasguei. Não sabia o que dizer. Não disse. Chorei. Há muito tempo não chorava por alguém que tivesse morrido. Há exatos 15 anos, quando, no mesmo 18 de junho, meu pai se foi. Essa história parece melodrama latino, mas é isso. Tem momentos em que a vida da gente dá uma afundada."

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Acidente na construção sobe acima da média

Faleceu por volta das 16h30 Adriano Souza Pinheiro, que estava trabalhando numa obra localizada à Rua Edgard Pereira, no centro de Jacobina, feita pela Sobrado Construções Ltda.
Segundo boletim de ocorrência lavrado na delegacia de polícia de Jacobina, ele estava retirando um barrote numa escora de parede quando houve o acidente.
Ele foi socorrido às pressas para o Hospital Antônio Teixeira Sobrinho, onde já chegou sem vida.Adriano morava no Cocho de Fora e nasceu no dia 2 de setembro de 1976.

(Texto: Corino Urgente, foto: Jornal Tribuna Regional On line)

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(trechos)
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Por Samantha Maia, no jornal Valor Econômico

O aumento do ritmo de atividade na construção civil trouxe junto uma elevação no número de acidentes de trabalho.
Em 2008, foram 49 mil acidentes nesse setor, um número 70% maior que o total registrado em 2004, segundo a Previdência Social.
Os números de 2009 e 2010 ainda não estão disponíveis, mas a evolução das notificações de fiscalização e de acidentes do Ministério do Trabalho indica que os acidentes continuaram a aumentar em 2009 e 2010.
O crescimento de 70% dos acidentes na construção civil de 2004 a 2008 foi maior que o observado no total dos setores, onde a alta foi de 60% no mesmo período. E considerando apenas o crescimento de 2008 sobre 2007, os acidentes da construção civil saltaram 31,5%, diante de 13% no conjunto dos setores.
O aquecimento do setor sem respostas aos problemas da segurança no trabalho tem motivado ações específicas do Ministério Público e da Previdência Social.
Os acidentes na construção têm crescido em nível acima dos demais, praticamente acompanhando o aumento das contratações.
A entrada de novos trabalhadores no setor, sem experiência e com grau menor de instrução, surge como um desafio a mais para as empresas no desenvolvimento de seus programas de segurança. “Normalmente, a construção trabalha com funcionários com baixa escolaridade e o resultado dos investimentos em profissionalização iniciados agora vai aparecer no médio e longo prazo”, diz Todeschini.
Dessa forma, ele alerta que as empresas precisam tomar medidas urgentes para melhorar seus níveis de treinamento e gerenciamento de segurança, senão o cenário tende a piorar de maneira explosiva com os investimentos esperados para os próximos anos em infraestrutura. “As empresas precisam gerenciar a questão da segurança desde o início da obra”, afirma o diretor da Previdência.
A construção possui a maior taxa de mortalidade dentre os setores no país. Enquanto a taxa nacional de mortalidade no trabalho está em 8,46 por 100 mil vínculos, entre os trabalhadores em construção de edifícios ela é de 12,99, e em infraestrutura, de 99,16. A proporção de óbitos em relação aos acidentes, porém, diminui nos últimos anos, passando de 0,97% em 2006 para 0,72 em 2008.
Segundo Luiz Carlos Queiroz, secretário da Contcom-CUT, entidade que representa os trabalhadores da construção, é preciso aumentar o número de técnicos responsáveis pela segurança nas obras. “Nós reivindicamos que a exigência passe de um técnico a cada 70 trabalhadores para um a cada 30.”
Outra reivindicação é de que haja mais contratação de fiscais do Ministério do Trabalho.
Entre as principais irregularidades encontradas pelo Ministério Público na obra estão o excesso de jornada, que chegava a 14 horas diárias de serviço, desvio de funções de trabalhadores, e operação inadequada de maquinários como as gruas.
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- Recebi esta reportagem completa do Dr.Geraldo Serathiuk, ex- Delegado Regional do Trabalho entre outros trabalhos e títulos, homem a quem muito admiro. Podemos lê-la por inteiro clicando no título.

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Veja e ouça no endereço abaixo "Construção" de Chico Buarque. Emociona por ser uma realidade cruel. Maximize a tela.

Nédier

http://www.youtube.com/watch?v=0mxE5nepvaU&feature=related


quarta-feira, 16 de junho de 2010

Manobra do Senado deve livrar 24 deputados do PR que não poderiam ser candidatos diante do "Ficha Limpa"

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Matéria da repórter Janaina Garcia, publicada neste domingo (30) pela Folha de Londrina, traz a lista dos deputados paranaenses com processos na Justiça.

Diante do texto original do projeto "Ficha Limpa" eles não poderiam ser candidatos em 2010, mas com uma manobra do Senado - que poderá alterar a redação da proposta aprovada - devem ser beneficiados com a garantia dos registros de suas candidaturas.


DEPUTADOS PROCESSADOS

Fontes: Projeto Excelências (Transparência Brasil/site Congresso em Foco)

CÂMARA FEDERAL

Alfredo Kaefer (PSDB-PR)

Abelardo Lupion (DEM-PR)

Alceni Guerra (DEM-PR)

Cássio Taniguchi (DEM-PR)

Eduardo Sciarra (DEM-PR)

Giacobo (PR-PR)

Luciano Pizatto (DEM-PR)

Ricardo Barros (PP-PR)

Takayama (PSC-PR)

http://jefferson-lobo.blogspot.com/2010/05/manobra-do-senado-deve-livrar-24.html#comment-form

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO PARANÁ

- 24% dos Deputados

Ademir Bier (PMDB/PR)
Antonio Belinati (PP/PR)
Artagão de Matos Leão Jr (PMDB/PR)
Dobrandino da Silva (PMDB/PR)
Dr. Batista (PMN/PR)
Durval Amaral (DEM/PR)
Edson Praczyk (PRB/PR)
Jocelito Canto (PTB/PR)
Luiz Claudio Romanelli (PMDB/PR)
Nereu Moura (PMDB/PR)
Péricles de Mello (PT/PR)
Rafael Greca (PMDB/PR)
Teruo Kato (PMDB/PR

INQUÉRITOS

PARANÁ

Deputados:

Alfredo Kaefer (PSDB-PR)
Inquérito 2642 Crime eleitoral
Data de autuação: 18/10/2007
Inquérito 2589 Crime contra o sistema financeiro e formação de quadrilha
Data de autuação: 03/08/2007
Inquérito 2833 Crime eleitoral
Data de autuação: 04/08/2009

Cássio Taniguchi (DEM-PR)
Inquérito 2850 Crime contra Lei de Licitações
Data de autuação: 10/09/2009

Eduardo Sciarra (DEM-PR)
Inquérito 2610 Crime eleitoral, captação ilícita de votos e corrupção eleitoral
Data de autuação: 14/09/2007

Fernando Giacobo (PR-PR)
Inquérito 2712 Crime contra a ordem tributária
Data de autuação: 05/05/2008

Odílio Balbinotti (PMDB-PR)
Inquérito 2886 Crimes contra a Flora
Data de autuação: 27/11/2009

Ricardo Barros (PP-PR)
Inquérito 1164 Crimes contra a ordem tributária (o processo está suspenso, mas ainda tramita no STF)
Data de autuação: 06/03/1996

Takayama (PSC-PR)
Inquérito 2652 Peculato, estelionato e crimes contra a ordem tributária
Data de autuação: 05/11/2007
Inquérito 2771 Peculato
Data de autuação: 05/11/2008

http://jefferson-lobo.blogspot.com/2010/05/manobra-do-senado-deve-livrar-24.html#comment-form

Confira a pergunta e as respostas:

Você votaria em políticos com processos na Justiça?

Sim (2%)
Não (47%)
Depende do processo (39%)
Não sabia que era processado e votei, mas não voto mais (12%)

LEIA MAIS SOBRE ESSE TEMA:
Ficha limpa é sancionado pelo presidente Lula sem alterações

Ocorrências na Justiça e Tribunais de Contas

As informações sobre ocorrências nas Justiças estaduais e nos Tribunais de Contas dependem da disponibilidade de dados em cada Corte, havendo grande disparidade de estado a estado. Por isso, pode acontecer eventual ausência de menção a processo em que algum parlamentar é réu.
Processos que correm em primeira instância só são incluídos quando movidos pelo Ministério Público ou outros órgãos públicos.
Processos movidos por outras partes só são assinalados quando já existe decisão desfavorável ao parlamentar.
No caso de contas de campanha rejeitadas, todas as decisões são assinaladas aqui (desde que o político não tenha obtido a anulação da decisão), mesmo que o parlamentar tenha corrigido o problema (no caso de erros meramente formais, por exemplo).
São anotadas ocorrências relativas a homicídio, estupro e pedofilia, mas não são incluídos outros litígios de natureza privada (como disputas por pensão alimentícia), nem queixas relacionadas a crimes contra a honra (porque políticos são freqüentemente alvo desse tipo de processo). Por fim, assinala-se aqui a inscrição do parlamentar na dívida ativa previdenciária e na lista de autuados por exploração do trabalho escravo.


terça-feira, 15 de junho de 2010

Celebrar e torcer, mas sem sofrer

Foto: Paulo Liebert/AE

O nome "Jabulani" - a bola da copa - significa "celebrar" ou "celebração", em Zulu

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.Celebrar e torcer, mas sem sofrer

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Dias atrás, em entrevista à imprensa, o volante da seleção brasileira Felipe Melo disse o seguinte sobre a "Jabulani", nome dado à bola que está sendo usada na Copa do Mundo de futebol: "Digamos que a bola normal é como mulher de malandro: você chuta e ela está ali, legal. Essa bola da Copa é estilo patricinha: não que ser chutada".

Jogadores de futebol dos grandes times e da seleção do Brasil são ídolos de grande parte da população. Seus exemplos, atos e ideias podem ser seguidos e adotados, principalmente por crianças e adolescentes. Esses jogadores deveriam ter mais cuidado com suas declarações.

A violência contra a mulher está presente no cotidiano das ruas, casas e empresas. A comparação feita pelo jogador brasileiro parece ignorar esse tipo de violência. E ignorá-la equivale a encará-la como algo normal. Ou pior. Usar a violência como exemplo no trato com a bola não seria o mesmo que estimulá-la?

No mesmo dia da "inteligente" declaração de Felipe Melo, os jornais brasileiros traziam fotos do "Imperador" Adriano, ex-jogador do Flamengo, e de Ives, volante do Paraná Clube. As fotos mostram ambos fazendo, com as mãos, o símbolo de uma organização criminosa do Rio de Janeiro. Ambos empunham armas. Outro péssimo exemplo.

Já quanto aos espertalhões cartolas que dirigem o futebol, há suspeitas, investigações e provas de que sua atuação está relacionada com crime organizado. No futebol italiano (Inter de Milão) e no espanhol (Real Madrid) já foi provado esse envolvimento.

No Brasil, várias investigações feitas pela polícia, como no caso do Corinthians, e pelas CPIs da Câmara dos Deputados e do Senado, mostraram fortes indícios de participação de cartolas em organizações criminosas. Esses casos ainda permanecem sob investigação ou aguardam julgamento.

Há também provas de manipulação de resultados de jogos, como o chamado escândalo do apito, em 2005. Este escândalo teve como personagem o árbitro Edílson Pereira de Carvalho, que admitiu que arranjava resultados no Campeonato Brasileiro.

Um jornalista canadense, Declan Hill, lançou um livro com o título de "The Fix: Soccer and Organized Crime" ("A armação: futebol e crime organizado", em tradução livre).

Hill afirma que houve fraude em quatro jogos da Copa do Mundo de 2006. Afirma que os resultados teriam sido acertados para beneficiar apostadores, e que o acerto incluía dois jogos da seleção italiana, que acabou campeã, e um do Brasil, contra Gana.

Manipulação de resultados de jogos não é coisa nova. No passado, essa manipulação se dava, imagino, por coisas menores. Hoje, com o crime organizado tomando conta de inúmeras organizações - nem o Vaticano se livrou - , como acreditar em resultados de campeonatos ou mesmo de copas do mundo?

Lendo essas e tantas outras matérias sobre o futebol, é que concluí há algum tempo: não vale a pena sofrer pelo futebol. Nem mesmo pelas seleções nacionais.

Às vezes acho que devo me vestir de verde e amarelo e gritar pela seleção até ficar rouco. Mas quando caio na realidade me torno um simples torcedor. E decido: vou celebrar e torcer, mas sem sofrer.

Não conheço pessoalmente a bola da Copa. Sei apenas que possui onze cores diferentes. E que cada uma delas representa dialetos e etnias da África do Sul. O nome "Jabulani" (palavra da língua Bantu isiZulu) significa "celebrar" ou "celebração", em Zulu.
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Dr. Rosinha
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- Médico pediatra, deputado federal (PT-PR) e membro do Parlamento do
Mercosul.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Caleidoscópio

CALEIDOSCÓPIO
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no fundo
cacos.
de vida,
plásticos.
imagens
mutantes,
imprecisas,
ilusórias:
só instantes.
figuras frágeis.
formas de cacos
perfurantes,
penetrantes:
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r e v e l a _ d o r e s . . .
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Rosane Coelho

http://www.rosanecoelho.prosaeverso.net/index.php


A história volta a repetir-se mal
































domingo, 13 de junho de 2010

Copa iluminada pelo sol da Liberdade. Em africano Apartheid significa vidas separadas.

Mandela quando estava preso por lutar contra o apartheid na África do Sul

A bandeira de um país que venceu a escravidão

A alegria da festa de abertura da Copa 2019 na África do Sul

Quero compartilhar com vocês esta emoção de ver e ouvir o Hino da Copa do Mundo de Futebol de 2010. Assistam e, como eu, se emocionem.
Está no endereço no final do texto.
É lindo, colorido, vibrante e alegre como o continente africano.
Uma lição de vida e liberdade!


O regime de segregação racial na Africa do Sul foi de um absurdo incontestável.
Vamos relembrar:
Neste regime os brancos detinham o poder e os povos restantes eram obrigados a viver separados dos brancos, de acordo com regras que os impediam de ser verdadeiros cidadãos africanos.
Entre as principais leis do apartheid, podemos citar:
- Proibição de casamentos entre brancos e negros - 1949.
- Obrigação de declaração de registro de cor para todos sul-afriacanos (branco, negro ou mestiço) - 1950.
- Proibição de circulação de negros em determinadas áreas das cidades - 1950
- Determinação e criação dos bantustões (bairros só para negros) - 1951
- Proibição de negros no uso de determinadas instalações públicas (bebedouros, banheiros públicos) -
1953
- Criação de um sistema diferenciado de educação para as crianças dos bantustões - 1953
Dados retirados do link:
http://www.suapesquisa.com/o_que_e/apartheid.htm

Este sistema vigorou até o ano de 1990, e foi abolido por Frederik de Klerk, quando o então presidente sul-africano tomou várias medidas e colocou um final a este regime desumano.
Entre estas medidas estava a libertação de Nelson Mandela, preso desde 1964 por lutar com o regime de segregação.
Finalmente, em 1994 eleições livres foram realizadas.
Em 1994, Mandela assumiu a presidência da África do Sul, tornando-se o primeiro presidente negro do país.

- Eu sempre me pergunto como o mundo permitiu - como permitimos - este horror?

Os países se uniram contra Hitler, mais para defender o seu território do poderio nazista do que para defender o povo judeu. De qualquer forma o holocausto continua uma ferida aberta no coração da humanidade.

E o apartheid? Ele negava aos negros da África do Sul os direitos sociais, econômicos e políticos. O governo era controlado pelos brancos de origem européia (holandeses e ingleses), que criavam leis e governavam apenas para os interesses dos brancos.

Vamos vibrar com a África do Sul nesta Copa do Mundo, vamos aprender com eles a alegria da superação e a felicidade de uma liberdade duramente conquistada.

Esta é mais que uma Copa do Mundo, (acho até que o futebol ficou em segundo plano) é uma festa, uma comemoração, uma união entre povos.
É júbilo.
É o calor humano sob o sol da liberdade.
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Nédier


Assistam, vale a pena: