domingo, 11 de setembro de 2011

Você lembra o que fazia e o que sentiu há 10 anos?




Eu lembro.

Não deu pra esquecer.

Será sempre uma data lembrada pelas pessoas que em 11 de setembro de 2001 eram jovens, adultos ou de idade avançada, mas tinham saúde mental.
Lembrada com diversos sentimentos, com sentidos diversos.
Eu só posso lembrar a forma egoísta que senti aquela tragédia.
Hoje até me envergonho de ter ficado exultante.
Sem pessoalizar meus sentimentos de mãe, irmã, amiga só pensei nos mortos como um número emblemático.

Na ocasião eu estava à par do número de mortos que os EUA tinham “patrocinado” em países da América Latina financiando, dirigindo, promovendo ditaduras que fossem coniventes com seus interesses financeiros, com o “capitalismo selvagem” que a gente pronunciava como se estivesse escarrando. Eu nem estava preocupada com o que acontecia na Arábia Saudita.

Depois de uma noite insone e como não tinha compromissos no trabalho pela manhã me deixei ficar gostosamente na cama, ora cochilando, ora me espreguiçando como um bicho que distende sua musculatura antes de usá-la.

*(“Los ataques terroristas del 11 de septiembre de 2011 realizados por Al Qaeda tenían la intención de dañar a Estados Unidos, y lo consiguieron, pero en formas que Osama Bin Laden probablemente nunca se imaginó. La respuesta del presidente George W. Bush a los ataques puso en riesgo los principios básicos de Estados Unidos, socavando su economía y debilitando su seguridad.”)

O telefone soou estridente na cabeceira de minha cama, dentro da minha cabeça.
- Que preguiça – pensei.
A voz de minha irmã mais nova soou como uma espécie de alerta.
- Ligue a televisão. Já! Começou a Terceira Guerra Mundial!
Disse e desligou.
Liguei a televisão e assisti ao vivo o exato momento que a segunda Torre foi atingida.
Talvez se eu fosse uma vidente, portadora de poderes paranormais eu teria visto a guerra atingindo o Iraque e o Afeganistão e teria sofrido. Tantos jovens americanos e árabes mortos! Tantos dólares desviados por um chefe de Estado de expressão insana e inteligência limítrofe que se considerava o chefe do mundo e que levou seu país e parte do mundo à bancarrota para obter lucros financeiros e políticos.

Na televisão as imagens horríveis, inexplicáveis, as expressões de incredulidade dos passantes, os gritos, os comentários feitos pelos jornalistas me fizeram sentar na cama e tentar entender.
Entendi que aquela torre que eu vira sendo atingida era a segunda e, portanto, o que acontecia era um ataque ao coração do capitalismo.
Os deuses que me perdoem, mas fiquei feliz. Liguei para um amigo só para dizer:
- Agora eles estão sentindo o que é ser impotente, o que é ser agredido no fundo do coração da terra que amam, onde vivem...

À noite fui à uma reunião onde havia uma espécie de consenso com o que eu sentia e me senti confortável.

Um companheiro jovem me disse:
- De novo, no meu aniversário!
Não tinha como lhe dar parabéns. Seus pais perseguidos pela "nossa" ditadura militar tinham fugido para o Chile e sua festinha de aniversário, em terra estranha, fora interrompida, bruscamente, por uma nova fuga. Num ataque promovido pelos EUA, naquele 11 de setembro, o presidente Allende foi assassinado no palácio presidencial interrompendo o curso da democracia que ele estava tentando gerenciar.
Tenho visto tantos programas na televisão sobre os 10 anos do 11 de setembro e eles apelam tanto para o emocional que chego a me comover com o sofrimento daquele povo que mal sabia que sua desgraça, que sua derrocada estava apenas começando.

Nédier




* El Precio del 11 de Septiembre
Por Joseph E. Stiglitz