Por João Pedro Stedile
2. O governo brasileiro tem atendido a todas as demandas dos capitalistas.
Os banqueiros puderam reduzir a transferência ao Banco Central dos depósitos à vista, ou seja, um reforço de caixa de 180 bilhões de reais com os quais compraram títulos do governo, recebendo 11% de juros.
Os setores industriais terão um reforço de 100 bilhões de reais na caixa do BNDES, retirados do orçamento da União.
As vinte maiores agroindústrias, a Sadia, Perdigão, alguns frigoríficos estrangeiros, receberam 12 bilhões reais para capital de giro.
Os capitalistas do agronegócio, os mesmos que diziam sustentar o Brasil e retiravam dos bancos 70 bilhões de reais como crédito rural, exigiram 150 bilhões, e já botaram na rua 280 mil assalariados rurais. O governo tem acenado com “apenas” mais 98 bilhões.
A segunda preocupação do governo é não contaminar a disputa eleitoral e a terceira é evitar que o clima de crise gere um sentimento de desânimo, com conseqüências incontroláveis. Por tudo isso, está evitando o debate sobre a crise na sociedade.
3. Os partidos políticos já estão em plena campanha eleitoral. Nem querem ouvir falar em crise.
4. Diante desse quadro é urgente que as centrais sindicais, os movimentos sociais e as pastorais sociais, comecemos imediatamente um verdadeiro mutirão na sociedade, para debater a crise.
Essa crise não é cíclica, é estrutural do capitalismo e será prolongada e profunda. E coloca em xeque os padrões atuais de consumo e os recursos naturais, o equilíbrio do meio ambiente.
Nas crises anteriores cerca de 80% da humanidade viviam no meio rural, e tinham melhores condições de resistir à crise do capitalismo industrial.
Agora 80% da humanidade vivem nas cidades. Daí a necessidade de debater políticas publicas que garantam a manutenção das mínimas condições de vida do povo das cidades.
João Pedro Stedile é membro da coordenação nacional do MST e da Via Campesina Brasil