domingo, 21 de dezembro de 2008

Em Guantánamo - Uma última visita à prisão da guerra contra o terror




Uma última visita à prisão da guerra contra o terror

Matthias Gebauer
Em Guantánamo


As ervas daninhas já estão crescendo desenfreadamente no notório "Campo Raio X" e o presidente eleito Barack Obama planeja fechar todo o complexo de detenção de Guantánamo. Agora o Pentágono está convidando os jornalistas a visitar o campo uma última vez.

Alguém poderia imaginar que uma viagem à mais conhecida e notória prisão do mundo seria uma experiência desagradável. Todos conhecem as histórias de horror de Guantánamo: como os prisioneiros foram acorrentados no vôo para Cuba, como chegaram ao campo semicongelados, com olhos vendados e completamente desorientados. Eles não sabiam onde estavam na época, e muitos deles ainda estão lá, na prisão onde os Estados Unidos mantêm seus suspeitos de terror.

Um grupo especial embarcou recentemente em uma viagem para Guantánamo, que provaria ser significativamente mais confortável. O grupo se reuniu nas primeiras horas da madrugada na Base Andrews da Força Aérea, fora de Washington, onde um vôo fretado da American Airlines já estava esperando. O destino, com um código de aeroporto NBW e afastado da regra da lei constitucional americana, é conhecido apenas como GTMO no jargão militar. O cartão de embarque foi o primeiro dos muitos suvenires interessantes da viagem.

Seu propósito real era o julgamento do 11 de Setembro. Mas além de especialistas em terrorismo, desta vez o porta-voz do Pentágono, Jeffrey D. Gordon, também convidou um grupo de novatos internacionais em GTMO, que ainda não noticiaram do tribunal. Jornalistas do Brasil, Japão, Dubai, França, Espanha, Israel e Arábia Saudita aproveitavam o que Gordon chamava de "a última chance de ver o campo".

Viagens da imprensa para GTMO não são incomuns. A viagem, que ocorre apenas semanas após 4 de novembro -o dia em que Barack Obama, que prometeu fechar o campo, venceu a eleição presidencial americana- parecia um último esforço desesperado de relações públicas. Com um programa pleno, incluindo uma visita por famílias seletas das vítimas do 11 de Setembro, o Pentágono está lutando pela reputação do campo, uma reputação que perdeu há muito tempo.

A bordo do Boeing 757 para Guantánamo, era difícil não pensar nas abduções da CIA para o campo de detenção dali, apesar de nada na aeronave lembrar minimamente algo daqueles vôos. Em vez de pernas acorrentadas havia espaço para as pernas, em vez de sedativos havia um sanduíche de peru, e em vez de capuzes escuros, fones de ouvido foram distribuídos para que os passageiros pudessem assistir ao filme "Hancock", estrelado por Will Smith.

"Bem-vindos ao nosso vôo para Guantánamo", anunciou um tripulante, "espero que vocês apreciem o vôo".

Férias de sonho

Por que GTMO é tão popular entre os soldados fica rapidamente óbvio após a chegada. Em vez de arame farpado e torres de presídio, o visitante encontra uma típica cidade pequena americana, incluindo a única loja do McDonald's de propriedade do governo, que vende hambúrgueres subsidiados, um cinema ao ar livre, um campo de golfe e várias escolas de iatismo e mergulho.

Em GTMO, não há nada que impeça os soldados de transformar suas estadias de seis meses em férias dos sonhos. Em vez de sinalização exibindo os níveis de alerta de terror, onipresentes nos Estados Unidos, a sinalização em Guantánamo mostra a temperatura atual do ar e da água. É possível nadar, navegar e mergulhar o ano todo. Outro elemento popular entre os soldados é o fato de que até mesmo álcool é permitido na base.

Ao término de seu dia de trabalho, os soldados podem beber uma cerveja gelada no O'Kelly's, um pub irlandês, ou jogar bingo ao lado. O clube dos oficiais oferece um jantar um tanto mais refinado. O restaurante Jerk House serve pratos picantes, enquanto o Tikki Bar à beira-mar é o lugar ideal para agentes da CIA se encontrarem para um drinque após os interrogatórios. Mas nossa viagem não envolvia férias, apesar do comandante Gordon, geralmente trajando bermuda e camiseta, ter elogiado muito as visitas à praia. Os repórteres estavam mais interessados nas visitas ao campo, que, por motivo de espaço, eram limitadas a 10 pessoas por vez. Como colegiais em uma excursão escolar, jornalistas respeitáveis brigavam pelas chamadas "visitas além do arame farpado" -ao Campo Delta, o notório campo de detenção.

Algumas poucas assinaturas foram exigidas antes que as visitas pudessem começar. Uma lista de cinco páginas do que podia ou não ser fotografado ou escrito foi entregue. As torres de vigilância sem pessoal ou o oceano atrás do campo de detenção, por exemplo, são tabu. O formulário termina com uma nota de que os censores militares estão autorizados a apagar todas as imagens nas câmeras e, se necessário, todo o conteúdo do disco rígido de um laptop.

'Moderno e humano'

A visita começou pelo campo que tornou GTMO mundialmente famosa: o Campo Raio X, um símbolo do sistema injusto instalado nos Estados Unidos após o 11 de Setembro de 2001. Foi para lá que os primeiros suspeitos de terrorismo, que chegaram do Afeganistão no final de 2001, foram aprisionados, colocados em celas pequenas, com menos de dois metros quadrados, cobertas de arame farpado, sem toalete.

As imagens do Campo Raio X foram vistas ao redor do mundo, fotos de prisioneiros em macacão laranja, ajoelhados, vendados, no chão. Hoje o campo, que foi abandonado em 2002, parece um grande canil. O mato está na altura do joelho e as cercas cresceram demais. Nosso guia preferiu falar sobre as cobras locais em vez dos prisioneiros. O homem estava suando. Ainda estava insuportavelmente quente, mesmo no final do outono.

O Exército americano bem que gostaria de ter demolido o Campo Raio X o mais rapidamente possível, mas um juiz federal ordenou que fosse deixado intacto, caso seja necessário como evidência para algum futuro julgamento de abuso contra prisioneiros. As celas de interrogatório foram esfregadas até ficarem limpas, e até mesmo as tomadas e interruptores de luz foram removidos. Os únicos lembretes de 2002 são as pichações deixadas pelos soldados, incluindo caveiras e frases como "guerreiros da noite".

O Campo Delta, onde os detidos atualmente são mantidos, fica a apenas 10 minutos de carro do Campo Raio X, passando por um campo de golfe. Uma placa no portão avisava o "valor da semana". O valor da semana para os soldados estacionados ali era "respeito". Os guardas checaram nossos passes individualmente. O motorista nos instruiu a não tirar nenhuma foto dos guardas.

Obediente, cooperativo ou resistente

O comandante dos 2.200 soldados, o almirante David Thomas, chamou as novas instalações de "a prisão mais moderna e humana do mundo". O Campo Delta é dividido em seis seções. As seções I a III são reservadas aos obedientes e cooperativos, o "Campo IV" para os mais ou menos cooperativos e as duas seções restantes para os prisioneiros resistentes.

Também há vários campos especiais. "Detidos de alto valor" - líderes terroristas como Khalid Sheikh Mohammed - estão internados no "Campo VII" (até mesmo o nome é confidencial). A localização do campo é um segredo de segurança nacional. O "Campo Ecco", recentemente montado para visitas de advogados, e o "Campo Iguana", onde fica a maioria dos suspeitos inofensivos, são menos secretos.

O Campo IV, como apresentado pelo diretor da prisão, um comandante sorridente da Marinha, parece mais um reformatório do que uma prisão, completo com mesas de pebolim (totó), equipamento de ginástica e tabuleiros de xadrez. Fotos das montanhas do Afeganistão e da mesquita azul em Mazar-i-Sharif estão penduradas nas paredes nas pequenas salas de aula com ar condicionado. As correntes sob as mesas de metal são o único lembrete do verdadeiro propósito do lugar.

As aulas, oferecidas em várias línguas - inglês, dari e pashtu - são tratadas como "estímulo intelectual", para que os prisioneiros possam ter algo o que fazer e não se sintam inúteis, como disse o comandante.

Os uniformes da prisão são dobrados cuidadosamente sobre as seis camas de cada cela. Os uniformes apresentam um código de cor: laranja para os resistentes, bege para os cooperativos e branco para os presos obedientes.

A prisão, que a Anistia Internacional classificou como um gulag, já parece um museu. Há poucos prisioneiros a vista. Construída para mais de 600 suspeitos, o campo está semivazio com seus 255 presos restantes. As silhuetas de alguns poucos homens agachados no chão do lado de fora eram visíveis atrás das cercas. Não demorou muito para os oficiais deixarem claro que tirar fotos era absolutamente proibido.

O Campo V ofereceu um breve lembrete da realidade. Uma unidade da Força de Resposta Rápida (QRF, na sigla em inglês), vestindo uniformes pretos de combate e equipada com escudos de plástico, capacetes e joelheiras, entrou no prédio. Os prisioneiros se referem aos soldados como "ninjas", por causa de suas missões violentas. Mas hoje, como o oficial de imprensa nos explicou, eles estão aqui apenas para um treinamento.

Logo após a partida do grupo, "oficiais de segurança" civis apagaram todas as fotos tiradas dos "ninjas". A publicação das fotos, eles disseram, colocaria em risco a segurança nacional. Quando pressionado, o diretor reconheceu que a ação é empregada pelo menos duas vezes por semana, para lidar com os "prisioneiros que não cooperam". O percentual deles entre todos os presos, cerca de 20%, não diminuiu.

O prédio é de uma quietude fantasmagórica. Os Campos V e VI foram modelados segundo os presídios de segurança máxima dos Estados Unidos, um em Indiana e outro em Michigan. Apenas 40% das celas estão ocupadas, e tudo é reluzentemente limpo. O comandante mostrou as "salas comunitárias", mobiliadas com mesas e bancos. Por motivos de segurança, os prisioneiros também são acorrentados ao chão nessas salas.

A Convenção de Genebra em sete línguas

Nos corredores, o Exército americano demonstra sua postura cínica em relação às críticas internacionais a Guantánamo. A Convenção de Genebra - as regras básicas que regem o tratamento dos prisioneiros de guerra, que o governo do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, violou deliberadamente - está exibida em sete línguas. Até mesmo o endereço da Suprema Corte dos Estados Unidos, que não confirmou os direitos dos detidos até anos após a abertura do campo, está exibido.

A visita dos jornalistas a Guantánamo é uma visita militar padrão. Advogados, ativistas de direitos humanos, políticos - todos viram precisamente as mesmas instalações. Tudo o que vimos em Guantánamo já foi descrito por Jeffrey Toobin, na edição de abril de 2008 da revista "New Yorker". Apenas uma coisa mudou: o número de prisioneiros em greve de fome aumentou de 10, quando Toobin visitou, para 18.

Quando deixamos o Campo VI, as perguntas sobre o futuro do campo não podiam mais ser evitadas. A porta-voz mencionou várias vezes que os soldados "não desejam responder" essas perguntas políticas. Pelo menos o comandante se expressou, mesmo que indiretamente.

"Seria uma vergonha", ele disse, "se esta prisão, que atende as exigências mais rígidas e é completamente segura, fosse deixada vazia".

O repórter Matthias Gebauer, da "Spiegel Online", tem acompanhado os tribunais militares em Guantánamo desde que tiveram início e visitou o complexo de detenção na semana passada.

Tradução: George El Khouri Andolfato




sábado, 29 de novembro de 2008

Rosane / Saramago


Meus amigos,
Vou começar a ler o livro de José Saramago - “A viagem do Elefante” - que recebi ontem, por sedex, de minha amiga e poeta preferida - Rosane Coelho.
É um livro de valor inestimável. Está AUTOGRAFADO pelo autor.
Nem acreditei quando vi.
José Saramago escreveu com sua mão, sua caneta o seu nome no meu livro.
Pensei até em comprar outro para ler e guardar este como uma relíquia!

Confesso que li apenas dois livros de Saramago:

- "O evangelho segundo Jesus Cristo", seu livro mais poêmico e o fantástico e
- "Ensaio sobre a cegueira", que foi transformado no filme que abriu o Festival de Cannes 2008.

A leitura destes dois livros bastaram para que eu passasse a considerar José Saramago um dos maiores escritores de todos os tempos.
Embora a língua portuguesa não dê muita projeção aos que escrevem em português, José Saramago é uma unanimidade entre todos os críticos do mundo inteiro como um escritor fantástico. Sem precedentes.

Quero repartir com vocês a emoção de ter recebido este presente, colocando aqui tudo o que o acompanhou.
Um abraço,
Nédier

- No final desta página coloquei um texto sobre Saramago e sua obra.
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"Nédier do meu coração
Eis o momento do autógrafo!
A foto ficou bem ruinzinha, pois foi tirada por Carol com o celular.
Saramago está bastante abatido, provavelmente resultado da doença respiratória (...) que o acometeu.A cerimônia foi na ABL. Na entrada, a recepcionista avisava que, após os discursos (ele falou sobre a língua portuguesa) haveria uma sessão de autógrafos, até que ele se sentisse cansado.
Não sei se Saramago atendeu a todos os cerca de 1.000 que estavam na fila.
Fato é que só autografou um livro por pessoa e sem dedicatória.
Desde o anúncio decidi que o livro autografado para mim seria seu.
Sabia que ficaria feliz. Da outra vez que ele esteve aqui, pedi que autografasse "O Evangelho segundo Jesus Cristo" - minha paixão, junto com Grande Sertão (...)”
Rosane, TVF


O livro:



Abaixo, coloquei um carinhoso bilhete que recebi com o livro e escaneei.
A Rosane consegue fazer literatura em um simples bilhete
Colei-o na primeira página do livro.

“Desta feita, inicia-se no Rio de Janeiro a longa viagem de um Salomão de papel. Salomão que, como o de mais carne do que osso, percorrerá um grande trajeto até alcançar-te em Curitiba desincumbindo-se então da tarefa de dizer o meu carinho. Rosane, TVF
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(antes que alguém pergunte, eu e a Rosane usamos TVF, após o nosso nome, quando escrevemos uma para outra, em homenagem e identificação com o filme “Tomates Verdes Fritos”, um belíssimo filme sobre a amizade).





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O autógrafo:

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JOSÉ SARAMAGO


José Saramago (1922-) foi o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel da Literatura (1998 ).
A Academia Sueca justificou o prêmio "devido às parábolas apoiadas na imaginação, na compaixão e na ironia".
Nascido na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, em Portugal.
Filho e neto de camponeses, mudou-se para Lisboa antes de completar dois anos.
As dificuldades financeiras impediram-no de terminar o curso secundário.
Foi serralheiro mecânico, desenhista, funcionário da saúde e da previdência social. Autodidata, chegou a editor, tradutor e jornalista.
Em 1947, publicou seu primeiro livro, "Terra do pecado".
Foi como autor de romances que José Saramago mais se notabilizou.
Em 1991, lançou seu livro mais polêmico: "O evangelho segundo Jesus Cristo". Em seguida "O Ensaio sobre a cegueira". Sendo estes, os mais conhecidos pelos leitores brasileiros.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

BRASIL X EQUADOR

Rafael Correa, Presidente do Equador

O ministro Celso Amorim é um dos mais brilhantes diplomatas da história do Itamaraty. Sério, inteligente, lúcido e íntegro. Um dos pontos altos (dentre os poucos) do governo Lula. Chamar o embaixador do Brasil junto ao governo do Equador diante da negativa do presidente daquele país, Rafael Corrêa, em aceitar como dívida equatoriana um empréstimo feito à empreiteira Norberto Odebretch é uma atitude que acredito reflita muito mais a posição de setores outros do governo que propriamente do Ministério das Relações Exteriores.
Os governos brasileiros estão acostumados a lidar com presidentes de países sul americanos que sejam compráveis. Ou seja, as empresas brasileiras ganham concorrências em acordos fraudulentos, fazem obras abaixo das especificações contratadas e o pagamento fica por conta desses governos não importa quanto, pela simples razão que um presidente padrão Álvaro Uribe, por exemplo, leva no mínimo 20% de cada obra contratada.
No governo corrupto de Fernando Henrique foram feitos vários contratos assim com presidentes da Bolívia (anteriores a Evo Morales) na questão do gás.

À época da ditadura militar um contrato nesses moldes foi celebrado com o general Alfredo Stroessner, do Paraguai, sobre o preço da energia de Itaipu (a parte comprada pelo Brasil).
Preços abaixo dos de mercado e comissão para ambos os lados. Propina mesmo. E bem mais além da América do Sul.
A diplomacia estabelecida pela ditadura em relação a países árabes, como o Iraque e a Líbia, implicavam nesse tipo de contrato e foi por lá, no Iraque, que se estrepou a Mendes Júnior. A própria Odebretch andou por lá.
Empreiteiras como essas não são empresas, são quadrilhas.

No caso do Equador a Noberto Odebretch (envolvida em várias falcatruas no Brasil, inclusive com o governo de José Serra no caso do metrô de São Paulo) ganhou a concorrência para a construção da usina hidrelétrica San Francisco.
O governo equatoriano contraiu um empréstimo de 243 milhões de dólares junto ao BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) para o empreendimento e nunca viu a cor do dinheiro. Foi passado diretamente à empresa.
A Odebretch, acostumada a lidar com presidentes/corruptos, venais, ganhou força com a ditadura, foi beneficiada por todos os presidentes desde Sarney, construiu uma usina aquém do contratado, sem respeito ao pré-estabelecido e por essa razão o contrato foi rompido e o pagamento, lógico, não vai ser feito ao BNDES pela simples razão que devedora é a empresa que não cumpriu os termos do contrato. Nessa vocação imperialista de governos brasileiros junto a países sul americanos, o governo do Equador, agora com um presidente responsável, sério e voltado para os interesses de seu país, resolveu questionar o contrato, e o que fez a Norberto Odebretch, junto a organismos internacionais encarregados de dirimir dúvidas e julgar fatos dessa natureza.
No caso o Equador está recorrendo à Câmara de Comércio Internacional, em Paris. Quer a anulação do contrato por violações legais e constitucionais. Jorge Glass, presidente do Fundo de Solidariedade ao Equador é claro em dizer que o contrato "tem vícios de ilegalidade".
Vale dizer propina embutida em cláusulas daquelas que costumam vir em letrinhas pequenas e que enganam desde o consumidor comum do dia a dia, até um governo.
A medida faz parte da auditoria da dívida externa do Equador, um levantamento feito exatamente para apurar esse tipo de delito comum e freqüente entre os governos brasileiros e governos corruptos com os quais o Brasil negocia. O Brasil emprestou um dinheiro a Norberto Odebretch e lançou o governo do Equador como o devedor. O governo do presidente Corrêa denuncia falhas na obra da hidrelétrica de Toachi-Pilató e afirma que a empreiteira (quadrilha) desviou recursos que deveriam ser aplicados ali para outros fins (devem estar no fundo de campanha de José Serra em 2010).
Por coincidência ou não, para o Equador foi o engenheiro da empresa responsável pelas obras do metrô de São Paulo e indiciado no inquérito do chamado buraco do metrô, que resultou em mortes.
A decisão do Equador tem duas frentes. A primeira delas suspender a vigência dos contratos, não reconhecer a dívida e estender esse não reconhecimento a dívidas outras negociadas com ingerência do FMI (Fundo Monetário Internacional), o que eleva o percentual e os custos das propinas, pois tem que pagar os caras do Fundo.
Corrêa não vai pagar a dívida enquanto não houver decisão de instâncias internacionais sobre o assunto, expulsou a empreiteira/quadrilha de seu país (não vai passar fome, têm várias obras em vários pontos do Brasil) e noutra ponta, determinou que sejam levantados os nomes dos funcionários equatorianos responsáveis pelas negociações dessa dívida e de outras junto ao Brasil, para que sejam punidos.
É claro que a Norberto Odebretch, uma das grandes acionistas do Estado brasileiro desde a privatização de tudo feita pelo venal Fernando Henrique Cardoso, vai chiar e chiar muito, está chiando. E não quer nem reconhecer que não fez a obra como especificado no contrato, muito menos assumir que desviou dinheiro para outros fins ou assumir as responsabilidades pela dívida.
A Mendes Júnior fez a mesma coisa no caso do Iraque. Foi para o brejo, mas os donos não. Vivem como marajás em Minas e no circuito, como dizem.
São "geradores de progresso", amigos de Aécio.
Há uma realidade diferente em vários países latino americanos, caso do Equador, da Bolívia, da Venezuela, do Paraguai, da Nicarágua e de Cuba. Seus presidentes não são compráveis como o da Colômbia ou a do Chile. E aí tem sempre um general desses cheios de medalhas por tantos paus de arara, tantos choques elétricos, tantos estupros, tantas mortes, disposto a uma nova guerra na defesa do Brasil, leia-se, das empresas privadas e evidente, do "pão nosso de cada dia".
E é lamentável que um fato como esse ocorra num governo supostamente integrado ao resto dos países latino-americanos, ou ainda, um governo supostamente forte para enfrentar os bandidos/empreiteiros e não de capitular e fazer o jogo dessas quadrilhas.
O pessoal da Norberto Odebretch, como o da OAS, da Queiroz Galvão, essa turma toda, tem lugar certo em qualquer cadeia de qualquer país onde as leis sejam respeitadas e o desrespeito seja crime.
O presidente do Equador não tomou a atitude que tomou como hostilidade ao Brasil, mas a criminosos brasileiros que ludibriaram seu país, assim causaram prejuízo a seu povo.
O governo brasileiro deveria, sendo Lula, tomar as decisões corretas e punir empresários brasileiros que mundo afora vão fazendo trapaças e mais trapaças, caso dessa empreiteira e outros. Se assim não o fizer fica difícil acreditar que exista um mínimo de resquício de qualquer coisa que valha no governo Lula. Se o nosso complexo militar/empresarial queima no golpe porque diminuem os ganhos, azar deles.
Já imagino o escarcéu que William Bonner vai fazer com um tipo de notícia assim. Deve convocar os brasileiros à guerra contra o Equador. A empresa faz parte do elenco que tem parte da GLOBO, falo da consciência (se isso existe por lá) da turma que mente a mentira nossa de cada dia na mídia comprável e a venda, sempre pronta a uma "gorjeta". E Lula deve aprender a lidar com presidentes sérios, do contrário se desmoraliza nos achegos e arreglos com gente do tipo Bachelet, o tal "primeiro o nosso, depois o resto".

Recebi este artigo, por e-mail, de seu autor LAERTE BRAGA.
Gostaria de tê-lo escrito.
Nédier


Ele também pode ser lido no endereço abaixo:

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A nova Geopolítica da Fome

Foto de Sebastião Salgado
A CRISE, A FOME E A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS.


Na década de 60 havia no mundo 80 milhões de pessoas que passavam fome todos os dias...

Estávamos no auge do capitalismo industrial e do avanço das empresas transnacionais que se expandiam por toda parte para dominar mercado, controlar matérias-primas e explorar a mão-de-obra barata nos países periféricos.

Nesse contexto, propuseram a “revolução verde”.

Prometeram acabar com a fome.

E até deram o prêmio Nobel da Paz a seu maior propagandista.

Seu verdadeiro objetivo era, no entanto, introduzir uma nova matriz produtiva na agricultura, baseada no uso intensivo de insumos industriais, como maquinas, fertilizantes químicos e agrotóxicos.

A produtividade por hectare se multiplicou. A produção total aumentou quatro vezes no mundo.
Mas a fome não acabou!

E os famintos passaram de 80 para 800 milhões de pessoas.

Agora, cerca de 70 países dependem das importações para alimentar seu povo.
Na verdade, esse modelo serviu apenas para concentrar o controle da produção e do comércio agrícola mundial em torno de não mais de 30 grandes empresas transnacionais, como a Bungue, Cargill, ADM, Dreyfuss, Monsanto, Syngenta, Bayer, Basf, Nestlé, etc.


Durante a década de 90, com o domínio do capital financeiro, essas empresas cresceram ainda mais, porque o capital financeiro sobrante injetou nelas muito dinheiro de fora da agricultura.
E assim, elas compraram outras empresas, dominaram mais os mercados, e se concentraram em numero ainda menor.

Mais recentemente, o mundo foi avisado de outras noticias ruins.
O petróleo como fonte de energia dominante no século XX, estava com os dias contados. Suas reservas finitas e não devem alcançar a 30 anos.
E os cientistas alertaram de que estava em curso um processo de aquecimento global, fruto da forma consumista e irresponsável do uso dos bens naturais, que colocava em risco a sobrevivência da humanidade.

Diante dessas denuncias, o grande capital internacional moveu-se.
Formou-se uma aliança diabólica entre as empresas petroleiras, automobilísticas e as transnacionais do agro, para irem aos países do hemisfério sul, com abundancia de terra, sol e água, para propor a produção dos agro-combustíveis. Que eles chamam enganadoramente de bio-combustíveis.
Assim, nos últimos cinco anos, milhões de hectares antes cultivados para alimentos ou controlados por camponeses, passaram para as mãos de grandes fazendeiros e empresas para implantar monocultivos de cana, soja, milho, palma africana, girassol. Tudo para produzir etanol ou óleo vegetal.

Repete-se a manipulação da revolução verde. As melhores terras e mais próximas dos portos deixaram de ter alimentos, para produzir energia para os automóveis da classe média dos Estados Unidos, China e Japão.
Como o preço do etanol tem como parâmetro os elevados preços do petróleo, a taxa media de lucro na agricultura subiu de patamar e puxou consigo o preço médio de todos os produtos alimentícios. Ou seja, a população em geral consumidora de alimentos, teve que ajudar a pagar a taxa média de lucro que os capitalistas e fazendeiros impuseram em função da produção do etanol.
E mesmo assim, não será resolvido o problema do petróleo nem do aquecimento global. Os cientistas nos advertem de que o problema do aquecimento e da poluição está diretamente relacionado com o grande número de veículos utilizados no transporte individual. E que para substituir apenas 20% de todo petróleo ora consumido, teríamos que utilizar todas as terras férteis do planeta.

Já estávamos vivendo uma situação anôma-la na produção e preços dos alimentos, quando eclodiu a crise do capital financeiro.
Muitos desses capitalistas, detentores de volumosas somas de capital financeiro, na forma de dinheiro, ou na forma de capital fictício (títulos do tesouro, debêntures, cartas de hipotecas...) com medo de perderem tudo, correram para aplicá-lo nas bolsas de mercadorias a futuro. E para os países periféricos comprar bens de natureza, terra, energia, água, etc.

As conseqüências em todo mundo, desse movimento do capital é que hoje os preços dos produtos agrícolas não estão mais relacionados com os custos de produção, nem com os volumes de oferta e demanda.
Agora, os preços dos alimentos oscilam rapidamente para cima ou para baixo, sob a força exclusiva da especulação praticada pelos capitalistas nas bolsas de mercadorias.
Ou pela força do controle oligopólico que as empresas transnacionais exercem sobre o mercado mundial de produtos agrícolas.
Ou seja, a humanidade está nas mãos de meia dúzia de empresas transnacionais e de grandes especuladores.
Resultado: segundo a FAO, os famintos passaram de 800 para 925 milhões em apenas dois anos!
E milhões de camponeses da Ásia, África e América Latina, estão perdendo suas terras, e migrando.
Diante disso a Via Campesina, que reúne dezenas de organizações camponesas de todo mundo, propõem uma mudança radical na ordem econômica da produção e comércio dos alimentos.
Defendemos a tese da soberania alimentar.
Ou seja, que em cada região, país, os governos apliquem políticas públicas que estimulem e garantam a produção de todos os alimentos necessários pela população que ali vive. Não há nenhuma região do mundo, impossibilitada de produzir seus próprios alimentos por condições climáticas. Como já explicou o saudoso Josué de Castro na década de 50, a fome e a falta de alimentos não é uma condição geográfica ou climática, mas sim resultante de relações sociais de produção.

Defendemos de que a humanidade precisa encarar os alimentos como um direito de todo ser humano.
- E deixar de tratá-los como mercadoria, para dar lucro às empresas transnacionais.
- E estimular em todos os paises o fortalecimento da produção camponesa, única forma de fixas as pessoas no interior, e produzir alimentos sadios sem agrotóxicos.

Podemos pregar governantes surdos. Mas sem as mudanças radicais, as contradições e os problemas sociais só aumentarão e, algum dia, explodirão.

João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST e da Via campesina Brasil.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Viajo - Rosane Coelho

VIAJO
.
clandestina
no meu ser
desde menina...

Rosane Coelho

O campo vazio da desesperança/escrevi hoje ao acordar

Eu, aos 5 anos

O estado de inconsciência entre o pesadelo e a vigília é um campo de batalha vazio onde ainda permaneço como expectadora e co-participante de uma luta que se trava dentro de mim.

Sou uma criança desamparada e muda e, ao mesmo tempo, uma mulher irritada que ainda tem que se preocupar com seu próprio desamparo infantil.

Sou uma mulher que tenta sair de um sonho ruim que lhe trouxe sensações insuportáveis e que não sabe onde está, tem apenas a vaga impressão de que está em sua cama.
- Qual cama?
Sente uma insegurança dos que não têm onde ficar, mas aos poucos percebe que está em casa.
- Qual casa?
Seria a casa dos pais onde acordava siderada de medo?
Medo de um nada ameaçador, feito do silêncio e da escuridão da madrugada.

Quando a criança que fui conseguia gritar: - Mãe! – eu me libertava.

O vulto materno surgido das sombras deitava-se ao meu lado e me acalmava com suas orações.
Minha mãe me libertava do medo pela sonora repetição das orações conhecidas.

O longo Credo, o Salve Maria, mãe de Misericórdia - me traziam o sono e a paz.

Minha mãe não era religiosa, era apenas uma mulher que queria fazer a filha dormir para também descansar. Sábia e intuitivamente, ela utilizava o reconhecido poder dos mantras.

No campo aberto das lutas inconscientes, sou a mãe sem nenhuma paciência com a criança que se recusa a crescer e me contamina com seu desamparo.
Esta criança não pede: - Cuide-me!
E nem grita de medo por se sentir tão incapaz, mas permanece ali, um estorvo de quem quero e não consigo me desvencilhar.

A sua insegurança é o próprio campo de guerra onde não se travam mais lutas. As lutas já terminaram há muito tempo.
A minha insegurança é um desespero de quem lutou e, mesmo quando venceu, não conseguiu a paz.

O ar fica escasso, a respiração difícil. Esta dificuldade de viver me faz acordar na cama sólida e real onde, no fim de mais um dia, eu fui à busca do sono e do descanso.

Esta noite consegui ouvir a minha voz de co-participante:
- Esta criança é muito chata, não quero mais saber dela.

Ao mesmo tempo em que eu conseguia verbalizar o desconforto, eu sentia pena daquela menininha que sempre me acompanha em silêncio, sem nada me pedir, me olhando lá do fundo da minha alma com seus grandes olhos tristes e escuros.
Como ela nada me pede, sei que tudo quer: colo, carinho, atenção. Tudo que eu não posso dar porque também preciso.

Ao meu lado sinto a presença de alguém que não sei bem quem é e compreendo que consegui me desvencilhar de mais um pesadelo.
Durante os primeiros anos de vida conjugal, eu tinha certeza que era minha mãe quem ali estava. Eu me recostava no homem que dormia ao meu lado, pedia sua benção e me sentia reconfortada pelo bicho-mãe como um filhote.
Minha mãe era como uma leoa que sem me fazer nenhum afago me protegia dos perigos da selva.
O homem ao meu lado dormia um sono pesado sem tomar conhecimento da criança que se agarrava em sua mãe.
Hoje ele sabe e continua sem se perturbar. É um leão e não sou sua cria e mesmo que fosse, não é dele a função de me proteger da escuridão silenciosa da madrugada.

Durante esta noite tentei me esconder em abrigos provisórios e decadentes, perdi objetos preciosos, fui ignorada por toda uma cidade, me embrenhei em uma mata na direção do mar. O pavor infantil da rejeição e das perdas me torna uma adulta vulnerável.
- Afinal quem sou?

Esta noite, meio perdida no campo da desesperança que se situa entre o sono e a vigília, consegui verbalizar a sensação de inconformismo, de irritação e de cansaço:
- Esta menininha é muito chata.
O homem que dormia ao meu lado não acordou completamente, mas permitiu que eu segurasse sua mão, então me ouvi dizendo para mim mesma estas palavras duras que ainda ecoam dentro de mim:
- Você não em obrigação de cuidar dela, por favor, coloque-a em uma creche...rs...

Finalizando esta espécie de catarse públics que faço - tenho que reconhecer que a curiosidade e a espontaneidade desta criança, de quem tanto reclamo, continuam intactas dentro de mim e que talvez sejam os melhores aspectos de minha personalidade.

Nédier

sábado, 1 de novembro de 2008

Opinião - Paul Valéry por Rosane Coelho

OPINIÃO

Sou mutante. Não anseio a majestades cristalizadas em palavras que não voltam atrás. Eu volto palavras, gestos e sentimentos. Mudam tempos, momentos, situações, mundo... Por que não mudo eu? Livrai-me do engessamento burro da prepotência! Peço desculpas e me sinto aliviada. Se o outro vai desculpar ou não depende do grau de irredutibilidade dele. Aí já não é comigo. Repensar é consertar. "Eu não sou sempre da minha opinião." Considero a sua e, se for o caso, reconsidero a minha.

Rosane Coelho

http://www.rosanecoelho.prosaeverso.net/blog.php?&pag=4

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Beliscão de Defunto - Sobre crianças agredidas

Eu, aos 5 meses.
I

O jornal da manhã da TV Record é mais um programa policial do que um jornal. Nunca assisto para não começar o meu dia impregnada de tragédias urbanas.

Hoje a televisão estava ligada e acabei vendo a primeira matéria. Era sobre agressões feitas por uma empregada e por uma babá. A primeira em um excepcional e a segunda em duas crianças pequenas.
As agressões foram documentadas por câmeras colocadas em um ponto estratégico das casas e filmaram cenas deprimentes.
Desliguei a televisão.

II

Minha mãe lecionava e como eu nasci seis anos depois de minha irmã mais velha, devo tê-la sobrecarregado de serviço e alterado a sua rotina doméstica.

Não existiam empregadas domésticas, nem babás no Ahu: o bairro pobre onde nasci e cresci e onde moravam apenas operários italianos e suas famílias.

Minha mãe não tinha muitas opções, precisava trabalhar e não tinha com quem me deixar.
Quando eu tinha menos de um ano ela ficou sem nenhum parente pra me atender e foi impedida - por uns tempos - pela direção, de me levar junto para escola, onde eu, praticamente, me criei. Ela então deve ter recorrido a alguém que mal conhecia para me cuidar.

Minha mãe costumava contar esta história da qual não tenho lembranças conscientes. Não contava para provocar auto piedade ou para que eu me sentisse uma pobre criança vítima de agressão, ela contava apenas para exaltar o poder e a força de suas palavras.

Segundo a mãe, a tal babá se chamava Anita e era uma jovem morena de belíssimos dentes.

Minha mãe percebeu que depois de ter sido entregue aos cuidados da Anita, eu comecei apresentar edemas e manchas roxas, improváveis em uma criança que ainda não andava.
Questionada, a babá respondeu que eram:
- Dio mio! “Beliscões de defunto”!

Beliscões de defunto era uma expressão muito usada no Ahu para nomear estas manchas que aparecem em nosso corpo, pelo rompimento de pequenas veias, causado pelo estresse ou por alguma crise emocional.

III

Parênteses:
Eu continuo tendo estas nódoas escuras na cabeça, tronco e membros, mas não são “beliscões de defunto”, elas são causadas pela minha forma desatenta de me conduzir pela vida.
Estou sempre sendo atingida pelas quinas de móveis que estão há anos parados no mesmo lugar, mas que parecem estar sempre vindo em minha direção causando topadas, joelhadas, cabeçadas... Trombadas de modo geral.
IV

Fecho o parênteses e volto à pequena Nédier e à sua babá, que, conforme enfatizava minha mãe, tinha bons dentes, o que era raro no Ahu daquela época.

Em uma tarde, de volta da escola, minha mãe percebeu a marca inconfundível dos lindos dentes de minha babá nos meus braços.
A moça não podia alegar “mordida de defunto” porque no Ahu os defuntos beliscavam, mas não mordiam.
Impotente diante do fato, sem câmeras para flagrar os maus tratos, sem testemunhas para comprová-los, minha mãe fez o que costumava fazer quando não tinha uma solução ao seu alcance: - rogou uma praga.

Contava a minha mãe que no dia seguinte a pobre apareceu com um pano que passava por baixo do queixo e era amarrado por um nó no alto da cabeça, e só apareceu para dizer que não ia mais.

A mãe terminava este relato - poderosa - contando que a moça estava com o rosto deformado pelo inchaço provocado por uma repentina infecção dentária.

V
Eu também, como a personagem Juma Marruá, da re-lançada novela "Pantanal", só viro onça quando estou com raiva. Nunca mordi, mas como minha mãe, eu rogava pragas e as “pragas” rogadas por mim “pegavam” de forma assustadora causando danos, muitas vezes, irreparáveis no seu alvo. Por esta razão passei a ter muito critério e muito cuidado antes de lançá-las no ar e depois não poder recolhê-las novamente.

Hoje, tendo absoluta confiança na lei do retorno, em vez de rogar pragas e arcar com o retorno delas, só fico esperando pra ver o que acontece com quem tentou me prejudicar ou prejudicar os meus filhos.

Nédier

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Mamãe.com - Ricardo Freire

MAMÃE .COM

RICARDO FREIRE

1º Convenção Familiar

Temporada 2008


“Queridos filhos :
Em primeiro lugar, Mamãe gostaria de agradecer a presença de todos nesta Primeira Convenção Familiar .
Mamãe sabe como foi difícil abrir um espaço nas agendas de cada um de vocês :
Papai tinha uma lavagem de carro, praticamente inadiável. Júnior já tinha marcado de se trancar no quarto . Carol estava para receber pelo menos três telefonemas importantíssimos de uma hora e meia cada um.
Mamãe está comovida .
Muito obrigada.
Bem , conforme Mamãe já tinha mais ou menos antecipado , esta convenção é para comunicar ao público interno – Papai, Júnior e Carol - todas as modificações e serviços na linha Mamãe .
Como vocês sabem , a última vez que Mamãe passou por reformulações foi há 14 anos , com o nascimento do Júnior .
De lá para cá , os hábitos e costumes, o panorama cultural ,a economia e o mercado passaram por transformações radicais .
Mamãe precisa acompanhar a evolução dos tempos , sob pena de ver sua marca desvalorizada.
Para começar, Mamãe vai mudar a embalagem. Mamãe sabe que esta é uma decisão polêmica, mas, acreditem, é o que deve ser feito.
Mamãe sai desta convenção direto para um spa , e de lá para uma clínica de cirurgia plástica.
Nada assim tão radical.
Haverá pouquíssimas alterações de rótulo, vocês vão ver.
Mamãe vai continuar com praticamente mesmo formato , só que com linhas mais retas em alguns lugares e linhas curvas em outros.
Calma, Papai !
Mamãe já captou recursos no mercado.

Mamãe vai ser patrocinada por uma nova marca de comida congelada.
Lei Rouanet , porque Mamãe também é cultura.
Junto com o lançamento da nova embalagem de Mamãe, no entanto, acontecerá o movimento mais arriscado deste plano de reposicionamento .
Sinto informar, mas Mamãe vai tirar do mercado o produto
Supermãe.
Não, não, não adianta reclamar.
Supermãe já deu o que tinha de dar.
Trata-se de um produto anacrônico e superado, antieconômico e difícil de fabricar.
Mamãe sabe que o fim da Supermãe vai aumentar a demanda pela linha Vovó , que disputa o mesmo segmento.
Paciência.
Você não pode atender todos os públicos o tempo todo.
No lugar da Supermãe, Mamãe vai lançar (queriam que
eu dissesse “vai estar lançando”, mas eu me recuso) novas linhas de produtos mais adequados à realidade de mercado .
Vocês vão poder consumir Mamãe nas versões :
Active (executiva e profissional),
Light (com baixos teores de pegação no pé) ,
Classic (rígida e orientadora),
Italian (superprotetora) e
Do-It-Yourself (virem-se, fui passear no Shopping ) .
Mas uma de cada vez, sem misturar .
Ah , sim , Mamãe detesta esses nomes em inglês , mas me disseram que , se não for assim, não vende .
Mamãe gostaria de aproveitar a oportunidade para lançar seus novos canais de comunicação.
De hoje em diante , em vez de sair gritando pela casa ,
vocês vão poder ligar para SAC- Mamãe, um 0300 que dá direto no meu celular (apenas 27 centavos por minuto, mais impostos).

Mamãe também aceita sugestões e críticas no endereço:
mamae@mamae.net
Mais uma vez, Mamãe agradece a presença e a atenção de todos .”

- Este artigo do Ricardo Freire, foi mais uma colaboração da Marisa Giglio, praticamente sócia deste blog. Recebi, formatado em um belíssimo pps. e não resisti em colocá-lo aqui.

Obrigada Marisa!!

domingo, 19 de outubro de 2008

Eloá e Nayara - Réquiem para as mulheres

Requiem para as mulheres
Sônia van Dijck

Não tive filha.
Durante a semana, acompanhei, em minha imaginação, graças ao noticiário, a angústia das famílias de Eloá, de Nayara e de Lindemberg.
Pensei sempre nas mães impotentes diante da tragédia.
Em relação à mãe de Eloá, pensei que via sua filha transformada em objeto de posse de um macho monstruoso, incapaz de aceitar não ser amado, mas sentindo-se com direito de vida e morte sobre a mulher desejada que o rejeitou.
Em relação à mãe de Nayara, pensei que essa mulher tem uma filha que é um ser superior, capaz de enfrentar o absurdo para ficar perto da amiga e com ela ser solidária - se eu tivesse tido filha, queria que fosse como Nayara.
Pensei na mãe de Lindemberg em seu pasmo ao descobrir que pariu um monstro e que criou, cuidou e alimentou um macho estúpido, possessivo, frio, perverso, que não sabe ouvir um "não" de uma mulher - dela, tive profunda piedade e gostaria de poder consolá-la em seu desespero, em sua desilusão de tão vítima do machismo quanto a menina Eloá - consola-me a certeza de que sua família irá confortá-la em sua profunda decepção diante do macho que trouxe ao mundo.
Mas, espanta-me o viés vicioso da sociedade brasileira, cuja voz se traduz na imprensa e nas emissoras de TV.
Desde que, no fim do dia 17, o desfecho trágico previsível foi conhecido, toda a imprensa (apesar de noticiar o estado das meninas vítimas do macho-monstro), passou a dedicar tempo para acusar e discutir se a polícia podia ou não permitir que a menina Nayara voltasse ao apartamento, se a polícia invadiu na hora certa o apartamento, se os disparos aconteceram ou não antes de a polícia explodir a porta e invadir o apartamento, se a polícia deveria ou não ter colocado drogas capazes de dopar o criminoso, se a polícia deveria ou não ter alvejado o criminoso.
E é possível que a imprensa e as TVs estejam apenas sendo fiéis à voz das ruas (opinião pública). Como sempre, não se discute o ato criminoso e nem a culpa do bandido - apesar de ser obrigação de todos o andar conforme a Lei.
A discussão foi, comodamente, desviada para a periferia do crime publicamente praticado: um macho que não aceitou ser rejeitado pela namorada, resolveu impor seu direito de vida e morte sobre a mulher que lhe disse "não" - os episódios havidos não estavam no scripit do bandido (colegas rapazes no apartamento, a melhor amiga de Eloá no apartamento, na hora de sua imposição de macho imbecil e obcecado pela posse de sua presa Eloá).
No Brasil não se discute e não se apura o crime.
A regra é discutir e instaurar inquérito para apurar se o delegado agiu certo, se os policiais abusaram do poder. Por isso, Dantas e outros criminosos estão impunes. Somos especialistas em investigar operações policiais; jamais nos interessam o crime cometido e os criminosos.
Nayara vai se recuperar do tiro recebido - não esquecerá o que viveu. Eloá está morta - melhor do que ter uma vida vegetativa. E ninguém parece interessado em discutir o direito do macho, imbecil e violento em sua impotência de conquistar uma mulher, usar o direito de vida e morte sobre seu objeto de pretensa posse.
É mais cômodo para a sociedade machista ficar discutindo, via imprensa e TVs, se a polícia errou ou acertou nessa ou naquela decisão, do que tratar da questão central: tem o macho direito de ser proprietário da vida da fêmea desejada, em se tratando da sociedade dos seres humanos e não de um bando de aves ou manada de bùfalos? - aliás, aves, búfalos e outros animais têm respeito pelas fêmeas (não podem ser eliminadas, pois delas depende a garantia da sobrevivência da espécie).
A amiga solidária Nayara sobreviveu. Eloá, a namorada que disse "não" a Lindemberg está morta.
Que direito tinha/tem Lindemberg sobre a vida de Eloá ou de outra mulher que o recuse?
Por que o macho se sente dono da vontade da mulher que ele deseja?
Lindemberg teve cerca de 100 horas para refletir e decidir - e o macho recusado decidiu matar a mulher que não o queria.
Ou a sociedade (via imprensa e TVs) discute o direito de vida e morte do macho sobre a mulher ou continuaremos a ter casos de ex-namoradas, ex-noivas, ex-amantes, ex-esposas assasinadas por machos que não sabem ser Homens.
Maria da Penha sobreviveu, na cadeira de rodas, para ser testemunha e símbolo da violência da sociedade machista.
Jamais educaremos nossos meninos para respeitar a vontade das meninas, se continuarmos a discutir que a polícia agiu certo ou errado ao tentar conter um monstro - o criminoso terá, diante da sociedade dos machos, sua responsabilidade dividida com os erros e acertos da polícia. Isso é fugir do problema central por comodismo de machos.
No caso em foco, Lindemberg premeditou mesmo eliminar Eloá porque ela jamais seria sua presa - ele invadiu o apartamento disposto a se apropriar de sua caça, seu objeto de desejo, seu troféu de macho - saiu no lucro: atirou em duas fêmeas - para invadir, levou 2 armas e munição.
Não sou politicamente correta e nem pretendo ser tal coisa. Sou mulher e não tive filha. Mas, posso supor a dor da mãe de Eloá e a angústia da mãe de Nayara. Quase que consigo sentir o desespero da mãe do criminoso Lindemberg - perdeu o filho duas vezes:
1) será julgado, condenado e ficará preso;
2) descobriu que faz 22 anos que pariu um monstro sem saber.
Lembra-me o filme "O bebê de Rosemary" - é um monstro e, ainda assim, pode ser amado pela mãe...
A mãe de Nayara terá o orgulho da coragem e da solidariedade da filha.
A mãe de Eloá terá o consolo do pranto.
A mãe de Lindemberg terá o desespero de ser sua mãe.
Nossa sociedade vai continuar discutindo a periferia do crime e jamais dirá que o macho não tem direito de vida e morte sobre a mulher, apesar de a Lei dizer, FORMALMENTE, o contrário.
Nossa sociedade, jamais dirá que corrupto é criminoso. Que macho violento é crimnoso. Seguirá a tradição de investigar como o crime foi resolvido, a periferia do crime.
Antecipo minhas condolências às mães das próximas vítimas.
Quem discordar de mim, faça o exercício de se imaginar no lugar da mãe de Eloá - a menina-mulher que disse "não" a um macho que queria ser seu dono e senhor. Se for pai, pense na dor do pai da menina-mulher Eloá e na dor do pai do monstro - ele pensou que fez amor com sua esposa e que tinha gerado um filho Homem.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Equador radicaliza a democracia


Após vitória esmagadora do “sim”
Equador radicaliza a democracia
por
Michelle Amaral da Silva
De acordo com Rafael Correa, o objetivo será dar mais voz aos pobres, às comunidades indígenas e às mulheres, assegurando que a elite econômica e política que sempre comandou o país tenha seu poder e sua influência reduzidos
30/09/2008

Vinicius Mansur,
de São Paulo (
Radioagência NP)


Correa comemora 'vitória esmagadora' em referendo


No referendo realizado no Equador, no último domingo (28), a proposta de formar uma Assembléia Constituinte para reescrever a Constituição ganhou o apoio de 78% dos eleitores, segundo resultados extra-oficiais, com mais de 90% dos votos apurados. O próximo passo agora será a convocação de uma nova eleição para escolher representantes para a assembléia, da qual se espera uma reforma profunda nas instituições políticas e no poder Judiciário do país.

De acordo com o presidente equatoriano Rafael Correa, o objetivo será dar mais voz aos pobres, às comunidades indígenas e às mulheres, assegurando que a elite econômica e política que sempre comandou o país tenha seu poder e sua influência reduzidos.

Os últimos dez anos foram de extrema instabilidade política no país: passaram por lá oito presidentes, sendo três destituídos do poder por multidões furiosas. Economicamente, o Equador também não anda bem, apesar de ser o maior produtor mundial de bananas, de ter vastas reservas de petróleo e um setor de turismo florescendo. A riqueza está concentrada nas mãos de poucas famílias e cerca de 40% da população vive abaixo da linha de pobreza. Uma das políticas anunciadas por Correa para combater a situação é a reestruturação do pagamento da dívida externa.

De acordo com a emissora inglesa BBC, este processo de radicalização da democracia tem desagradado a elite opositora e rondam boatos de que milhares de dólares estão sendo retirados do país rumo a contas bancárias no exterior.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Não me omito, vou de Gleisi e Adenival

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Gleisi Hoffmann

Gleisi participa de mobilização no Uberaba e é recebida pelos moradores do bairro

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Adenival Gomes

Meus amigos,

Eu sempre votei no Partido dos Trabalhadores, mas, por razões pessoais, não tenho participado da atual campanha política em Curitiba.
Como já escrevi neste blog, fiquei injuriada por ocasião do pedido de cassação do senador Renan Calheiros, acusado de quebra de decoro parlamentar.
Em razão da omissão do senador Aluizio Mercadante e de sua influência, fazendo com que outros senadores do PT também se omitissem, Renan Calheiros permaneceu no Senado apesar de tantas e tamanhas provas de corrupção que estavam ligadas ao seu mandato. Se ele tivesse votado a favor do tal Renan, eu não teria ficado tão afrontada.

Em anos de militância nunca me omiti, nunca fiquei - como dizem - “em cima do muro” porque aprendi com o Partido dos Trabalhadores que devemos nos posicionar e mantermos a nossa ética acima de tudo e jamais nos aliarmos aos ladrões do dinheiro público.

Apesar de estar mais ligada aos trabalhadores rurais sem terra e à sua luta pela Reforma Agrária, não vou ficar “em cima do muro” nestas eleições municipais.

Eu voto em Gleisi para prefeita
porque conheço sua competência e sua postura. Admiro sua forma de ser, sua simplicidade e a sua conduta ética.
Tenho certeza que ela será - se eleita - uma prefeita que administrará a minha cidade de forma a também beneficiar a população mais carente.
Em Gleisi - prefeita de Curitiba - residem as minhas esperanças de Justiça Social na administração desta cidade.
Curitiba precisa deixar de ser apenas motivo de belos cartões postais que não retratam a vida difícil da periferia.
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Por motivos igualmente sociais vou votar para o Adenival Gomes para vereador, ele será na Câmara Municipal de Curitiba a voz em defesa do povo simples de minha cidade.
Nédier
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foto de Gleisi: Elias Dias
foto de Adenival Gomes: crédito para Carlos Ruggi

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Cresce trabalho infantil no Paraná - Fábio Campana

O trabalho infantil cresceu no Paraná de 2006 para 2007. Enquanto em 2006 10,2% das pessoas na faixa etária dos 10 aos 14 anos estavam ocupadas, no ano passado este índice subiu para 12%.
O dado paranaense supera os índices nacionais, pois em todo o País, a quantidade de crianças trabalhando diminuiu de um ano para o outro. Em 2006, a taxa de ocupação de pessoas na faixa etária entre os 10 e 14 anos era de 10,8%, já em 2007, o índice caiu para 10,1%.
Em contrapartida, enquanto a quantidade de crianças trabalhando aumenta, o número de estudantes no Paraná também cresce, ao contrário do que ocorre no Brasil inteiro.
Enquanto no País a redução de estudantes ficou na ordem de 0,5%, no Paraná houve um acréscimo de 1,76% (pelo menos 176 mil estudantes). Já a taxa de escolarização é desanimadora.
Em 2006 a taxa na faixa etária entre 7 e 14 anos era de 98%, no ano passado caiu para 97,5%. Na faixa etária de 25 anos ou mais, houve queda no número de pessoas que estavam estudando, passando de 5,2% em 2006 para 4,9% em 2007.

Fábio Campana

http://www.fabiocampana.com.br/?p=13735

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Alma - Rubem Alves/ presente da Marisa Giglio

ALMA
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“ Espeleologia é a ciência das cavernas.
Eu estudei uma espeleologia que se dedica a explorar as cavernas da alma. A alma é um emaranhado de cavernas iluminadas por uma luz que se insinua por frestas estreitas , cavernas que vão ficando cada vez mais fundas e escuras.

Lá fora é o mundo ensolarado, “uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos ” ( Fernando Pessoa) , muita gente , falatório, gritaria, tagarelice, risadas, todos falam , ninguém escuta, os participantes trocam palavras conhecidas e todos usam máscaras sorridentes .

A entrada da caverna está escondida pela vegetação.
São poucos os que têm coragem de entrar. Lá dentro tudo é diferente .

As vozes se transformam em sussurros. Mas os olhos crescem .
E assim vamos descendo cada vez mais fundo, até que nos
descobrimos sozinhos. Há solidão e silêncio.
A verdade da alma está além das palavras, não pode ser dita .
Os espaços modelados pelos milênios pedem poucas palavras .


Depois de muito descer chega-se ao fundo da
caverna: lá está, faz milênios, um lago de água
absolutamente azul.
O fundo da alma é um lago.
Lago encantado.”

Rubem Alves
de “ Concerto para corpo e alma ”

domingo, 14 de setembro de 2008

Rosane Coelho, a poesia


SOBRE O DESEJO
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o desejo não cabe na palavra:
transborda-a
.
escorre
.
transcende o objeto
.
evapora, insaciado
.
retorna sobre si mesmo
à morada do inominado...
.
Rosane Coelho
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Imagem: bola de cristal (david duarte)
Publicado em 14/09/2008 às 13h13
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Leiam o que há de mais lindo na atual poesia brasileiro no endereçoco abaixo:

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Bolívia II - Presidente do Parlasul apóia expulsão de embaixador dos EUA na Bolívia

Dr. Rosinha cumprimenta o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera
Dr. Rosinha (c), Carlos Chacho Álvarez, ex-vice-presidente da Argentina e deputado Roberto Conde, do Uruguai

O presidente do Parlamento do Mercosul (Parlasul), deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR), declarou nesta quinta-feira (11/9) que o presidente boliviano Evo Morales agiu de forma acertada ao decretar a expulsão do embaixador norte-americano no país, Philip Goldberg.

"Evo Morales tem informações seguras quanto à participação do governo dos Estados Unidos nas ações separatistas promovidas por setores de oposição a seu governo", afirma Dr. Rosinha. "E Bush já tem uma série de antecedentes intervencionistas, militares ou não. O fracassado golpe de 2002 na Venezuela é um exemplo de caso ocorrido na América do Sul."

Conforme o parlamentar brasileiro, a sessão da próxima semana do Parlamento do Mercosul, que começa na segunda-feira (15/9), deve discutir a situação na Bolívia após as explosões em gasodutos que levam gás natural ao Brasil. "Em princípio, o tema não está na pauta, mas sua discussão pode ser proposta por qualquer um dos parlamentares do bloco."

Na noite da última quarta-feira (10/9), ao declarar o embaixador dos EUA "persona non grata", Evo Morales afirmou que Philip Goldberg conspira contra a democracia e promove a divisão da Bolívia. "Não queremos gente separatista, nem divisionista, nem que conspire contra a unidade do país, não queremos pessoas que atentem contra a democracia", discursou Morales, em La Paz.

No passado recente, Goldberg já atuou em ações de estímulo a ações separatistas na região dos Bálcãs, mais precisamente em Kosovo.

"Derrotada no referendo nacional de agosto, a direita boliviana mostra-se cada vez mais isolada ao praticar verdadeiros atentados terroristas", avalia Dr. Rosinha. "Felizmente, Morales tem agido com moderação e evitado o confronto nas ruas, mesmo depois de emissoras de TV terem flagrado agressões covardes contra soldados do exército."


Oligarquias e preconceito

Em agosto, o presidente do Parlamento do Mercosul coordenou em território boliviano uma delegação de 40 observadores do Mercosul, durante o referendo que confirmou Morales no cargo de presidente, com 67,4% dos votos —13,7 pontos percentuais a mais do que o presidente obteve na eleição de 2005.

Para o presidente do Parlamento do Mercosul, o movimento separatista observado hoje na Bolívia é movido pelo preconceito de oligarquias contra um presidente de origem indígena. "Estive pessoalmente na Bolívia por diversas vezes e presenciei cenas de preconceito explícito contra o presidente Evo Morales", revela Dr. Rosinha. "Em pichações nos muros ou mesmo em conversas pelas ruas, setores da elite branca dizem querer colocar 'aquele índio de volta em seu devido lugar'."

O Parlamento do Mercosul já aprovou seu apoio às instituições bolivianas, posicionando-se contra qualquer divisão de território. No início desta semana, a presidência do órgão divulgou uma nota em que prega o diálogo entre as diferentes forças políticas do país. "É do interesse de todos os países do Mercosul que a Bolívia se encontre, cada vez mais, com seu destino de nação economicamente próspera, socialmente justa, politicamente estável e democrática", diz trecho da nota assinada por Dr. Rosinha.
A sessão plenária do Parlasul terá, na próxima terça-feira (16/9), a participação do ministro brasileiro Nelson Jobim (Defesa). Um dos temas da sessão, que acontece em Montevidéu, é a criação do Conselho de Defesa da América do Sul