quinta-feira, 24 de maio de 2007

23 de maio - Dia Nacional de Lutas

Manifestantes tomam a Avenida Paulista no dia 23 de maio (Foto: Mateus Alves)

Jornada de lutas dá início ao fortalecimento da esquerda brasileira
Escrito por Mateus Alves
24-Mai-2007

Sob a incessante chuva que castigava a região da Avenida Paulista, centro financeiro da capital paulistana, milhares de militantes de diversos setores e entidades se aglomeravam ao redor do carro de som na tarde do dia 23 de maio. A demonstração, organizada por um conjunto de entidades, sindicatos e movimentos sociais, deverá se tornar um marco histórico na reaglutinação de forças da esquerda brasileira, que lentamente se dispersaram durante o primeiro mandato do presidente Lula.
Centrados no combate à reforma da previdência, à emenda 3, à política econômica vigente, à criminalização dos movimentos sociais e em defesa do direito de greve que vem sendo atacado pelo governo federal - além de outras bandeiras históricas da esquerda no Brasil -, as manifestações atraíram cerca de 1,5 milhão de pessoas em todo o país e foram, segundo avaliação das próprias entidades organizadores, um imenso sucesso.
“Foi uma vitória importante, de todos os que participaram”, diz Dirceu Travesso, da central sindical Conlutas e ex-candidato ao governo de São Paulo pelo PSTU. As principais manifestações no estado de São Paulo tomaram lugar, além da capital, em Santos, em Campinas e no Vale do Paraíba.
José Batista, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) - outra entidade de expressão na esquerda brasileira que teve papel de grande importância nas movimentações do dia 23 -, concorda com a avaliação de sucesso total.
“Essa jornada foi importante para dar auto-estima para a militância e para dar a confiança para as bases das categorias de que é possível fazer a luta conjunta”, diz.
Além da Emenda 3
A CUT (Central Única dos Trabalhadores), principal central sindical do país, também estava entre as entidades que participaram dos eventos. Apesar de posições outrora em sintonia com os ditames do governo Lula, seu propósito no dia 23 foi engrossar o coro pela manutenção do veto à Emenda 3, cuja eventual aprovação tornaria possível que empresas contratassem trabalhadores através de contratos com PJs (pessoas jurídicas) – ou seja, uma flexibilização profunda das leis trabalhistas em vigor no Brasil.
No entanto, Dirceu Travesso acredita que o problema é mais grave e que os embates não podem se limitar apenas à questão da Emenda 3. “Não há forma coerente de se defender os direitos dos trabalhadores do país que não a organização dos movimentos e a ida à luta com a meta de derrotar tanto o governo federal como os governos estaduais que promovem políticas de retrocesso nas relações trabalhistas”, diz o sindicalista.
Outros grupos que estiveram presentes na jornada de lutas, como o MST, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), trouxeram a público novamente suas tradicionais reivindicações.
No caso das entidades estudantis, a grande quantidade de militantes presentes às atividades do dia 23 – no evento da Avenida Paulista, cerca de metade dos participantes eram estudantes do ensino público médio e superior – serviu como nova prova do descontentamento com as políticas para o setor praticadas pelo governo de José Serra e como forma de apoiar os estudantes que, até o dia 24, ainda ocupavam a reitoria da USP (Universidade de São Paulo) com o intuito de lutar pela manutenção da autonomia da universidade e por melhorias na infra-estrutura universitária.
Para o futuro
Com o primeiro passo rumo à reaglutinação da esquerda brasileira dado, as entidades deverão, em breve, analisar qual o futuro para os setores combativos no país. A luta conjunta, no entanto, deverá seguramente ser a tônica de quaisquer novas empreitadas contra atentados aos direitos sociais.
“O mais importante é a unidade e continuar com essa aglutinação, até porque, para combater os pontos que elencamos, é preciso muito mais luta”, diz o militante sem-terra José Batista.
Para ele, a continuidade do processo envolverá a formação da consciência da militância e das bases de todas as categorias para que “seja possível reacender o movimento de massas no Brasil”.
“A nossa capacidade de procurar algo mais contundente e mudanças mais profundas será por meio da garantia da unidade e pela mobilização de muita gente”, conclui Batista, demonstrando entusiasmo na recuperação da força de outrora pela esquerda brasileira.

Mateus Alves é jornalista.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Para a Clara

Clara

Clara é a cor

da água cristalina,

da luz das estrelas,

das manhãs de sol.

Clara é a força

na cara dos justos

e a esperança

num mundo de paz.

Clara é a alegria

que nasceu na Espanha

e encheu de luz

meu coração de avó.

Nédier

Escrito em 17/10/97, na Maternidade de Valência, Espanha.

domingo, 13 de maio de 2007

Minha Mãe

Minha Mãe
Voltávamos da casa de minha avó materna que morava no alto da rua XV.
Era noite alta e o caminho longo. Eu vinha sonolenta segurando a mão de minha mãe.
A minha irmã mais velha e uma prima de sua idade, já adolescentes, iam conversando animadas em nossa frente. Era uma noite transparente.
A luminosidade de um esplêndido luar projetava as nossas sombras no caminho.
Meu pai foi em nossa frente para abrir a casa, acender os lampiões e tirar água do poço.
Os pinheiros e os cedros à beira do caminho pareciam grandes monstros escuros invadindo o meu sono e o meu cansaço.
As casas eram poucas e esparsas e a estrada fora aberta pelos passos dos caminhantes habituais. Era uma trilha na vegetação rasteira.
Fazia frio, mas estávamos aquecidas pela caminhada. Minha mãe vestia um casaco de lã quadriculado miudinho, as abas, no lugar de bolsos e a gola eram de veludo bordô. Ela pendurara nos ombros a minha lancheira de papelão marrom e me puxava pela mão. Eu tinha entre quatro e cinco anos de idade.

A mãe era professora primária e naquela tarde dispensara os seus alunos mais cedo para ir na Secretaria de Educação receber o seu salário. Mais tarde iríamos todos no aniversário de minha avó Aline.

A história foi certamente repassada pelos alunos quando chegaram em casa um pouco antes da hora habitual:
- Hoje é o dia de pagamento da professora.

Distingui, ao longe, um vulto virado de costas perto de um pinheiro e mostrei pra minha mãe:
- O homem está fazendo xixi - disse ela tranqüila.
Andávamos em silêncio, olhando para frente. Já avistávamos, não muito longe, a nossa casa, aberta e iluminada.

Quando eu me sentia insegura eu olhava no rosto da minha mãe para captar a sua segurança e ela segurava a minha mão bem firme e me mandava fechar os olhos. De olhos fechados eu atravessava as ruas do centro da cidade, também de olhos fechados e segurando a sua mão eu enfrentava as ondas maiores, em direção às águas mais fundas, na praia de Matinhos.
- Pode fechar os olhos! - estas palavras me traziam a escuridão abençoada que apagava o medo e o perigo.

Depois de tentar explicar um pouco a magia transmitida pela minha mãe, volto àquela noite iluminada pelas estrelas e caminho sonolenta, sentindo a grama úmida sob os pés e o calor das mãos de minha mãe nas minhas.

Senti um medo repentino (ou teria sido um vento frio?) e procurei o rosto da minha mãe pra me sentir segura e poder fechar meus olhos. Foi quando vi o homem atrás dela. Percebi então que tinha que manter meus olhos bem abertos, pois, desta vez, o perigo era real e minha mãe não percebera .
O homem era magro, estatura mediana, usava um paletó marrom de risquinhas e um chapéu escuro enterrado na cabeça. Um lenço tenebroso escondia o seu rosto, como nos melhores filmes de cow-boy.
Com uma das mãos ele tapou a boca de minha mãe e com a outra procurou os bolsos inexistentes no casaco. Quando tentou arrancar a lancheira do seu braço, ela caiu pra trás bem em cima dele e ficaram, por instantes, disputando a minha lancheira vazia.
Desesperadas, minha irmã e a minha prima correram aos gritos em direção da nossa casa.
Minha mãe se levantou rapidamente e tentou agarrar o ladrão, mas ele fugiu. Ela correu em seu encalço, mas ele se embrenhou entre uns pés de macaqueiro e sumiu dentro da noite.
Os gritos acordaram os poucos vizinhos. Alertados, apareceram também uns guardas da Penitenciária Provisória que era próxima. Dentro deste tumulto, esqueceram de mim...
Eu não me lembro como cheguei até em casa. Só me vejo já sentada num degrau da escada e percebendo que não podia falar. Todas as palavras tinham fugido de minha cabeça, eu não conseguia articular nenhum som e nem pensar em nada, apenas percebi que não sabia mais falar. Como ninguém notou, eu fui dormir.

Dias mais tarde, encolhida embaixo da mesa da sala, escutei a minha mãe comentar com as suas irmãs, no meio de uma conversa:
- Depois daquele susto esta menina não falou mais!
Foi um comentário tão calmo e corriqueiro que me fez concluir que não devia ser grave e que, dia mais dia a menos, eu ia me lembrar como é que eu fazia pra falar.
Eram tempos de um copo de água com açúcar!
Estado de choque, só mesmo se a gente colocasse o dedo da tomada ou num fio de luz descoberto. Trauma, afasia eram palavras desconhecidas e por isso não podiam nos atingir com suas definições e conceitos.
E, depois, se a nossa própria mãe achava que não era nada, o que é que haveria de ser?
Hoje eu sei que jamais serão criadas palavras que possam exprimir uma ameaça objetiva à integridade da pessoa mais importante na vida de uma criança.
Cada vez que vejo este homem sem rosto em minhas costas, de onde ele nunca mais saiu, eu não consigo gritar por socorro, mas pouco importa, porque eu sei que a Mãe, com sua coragem, também está presente e vai pô-lo pra correr. Aprendi que as palavras, apesar de estarem sempre disponíveis, muitas vezes não têm nenhuma importância, porém ao ignorá-las poderemos sentir sensações pessoais, profundas e inenarráveis como tais como o pânico ou a felicidade

sábado, 12 de maio de 2007

Histórias da D. Delma, minha mãe.

Carnaval de 1932
Minha mãe aos 17 anos
La Bella Donna

Cresci ouvindo meu pai dizer:
- Eu tive quatro filhas bonitas, mas nenhuma chegou aos pés da mãe.

I
Quando saíamos juntas, eu achava que minha mãe era luminosa, o foco de todas as atenções. Eu tinha certeza que todos os homens do mundo estavam apaixonados por ela.
Certa vez minha mãe me levou a um programa de auditório na Rádio Guairacá, eu devia ter uns cinco anos e quando ouvi o cantor cantando com uma voz potente de tenor: - “Eu gosto daquela mulher... o nome dela eu não digo, não quero ter inimigos... “ - subi na poltrona e gritei bem alto:
- O nome dela é Delmarine!
Para aquela menininha a sua mãe era uma mulher irresistível.

Às vezes tento visualizá-la como deveria ser “de verdade”: uma professora primária pobre, vestida com roupas simples e discretas. Não consigo. Então, tenho vontade de perguntar para mim mesma, como Cristo perguntou para Pilatos: - Mas o que é a Verdade?

II
Eu sentava ao seu lado no banco do bonde que nos levava até o bairro do Portão, aonde íamos todos os meses visitar suas tias e primos que eram muito pobres. Levávamos roupas e comida.
Hoje ainda eu me pergunto:
- Como é que ela conseguia sendo tão pobre, ajudar os ainda mais
pobres?
- Como é que existia comida suficiente para repartir todos os dias o nosso almoço e com qualquer pessoa que viesse pedir ajuda?
O invariável:
- Pergunte se ele já almoçou? - fazia parte efetiva do nosso vocabulário.
Há algum tempo, o meu filho mais novo, já um homem, ao ouvir a campainha que interrompia a nossa refeição, ficou irritado. Abriu a porta e perguntou:
- O senhor já almoçou?
Sorri intimamente ao ouvir, como um eco do passado, as palavras de minha mãe.

III

Morávamos em um bairro de italianos e quando eu ia visitar os parentes do Portão observava que eles não tinham a pele branca e pontilhada de sardas como a minha e a, de minhas amigas.
Eu os amava. Eram alegres e simples. Posso ainda sentir o cheiro da fumaça do fogão e os aromas deliciosos do café sendo passado e do feijão fervendo numa panela de ferro.
As primas de minha mãe me deixavam correr descalça pelos campos e brincar nas poças de água feitas pela chuva. Da Nhá Tide, tia de minha mãe ficou a lembrança morna e doce de bondade.
Eu já era adulta quando, ao olhar uma foto antiga, percebi que a Nhá Tide era negra. Esta é uma das muitas razões que me impedem entender as distinções feitas entre raças e classes sociais e me dão a convicção de que qualquer tipo de preconceito não passa de uma atitude indigna.

IV

Volto ao bonde que me levava ao Portão e lembro de minha ansiedade porque as manobras na troca de trilhos faziam o bonde andar para trás.
- Mãe, a gente está voltando!
Ela me sorria divertida e dizia que era apenas uma manobra do motorneiro para o bonde chegar certinho onde devia ir.
Hoje, quando começo ficar apreensiva porque certos acontecimentos de minha vida me obrigam a andar para trás, uma menininha dentro de mim me tranqüiliza. Ela aprendeu com sua mãe que tudo não passa de manobras feitas pelo Motorneiro para que eu chegue tranqüila ao meu destino.

V

Todos os meses, lá íamos nós, minha mãe e eu, enfrentar uma longa fila dentro da Secretaria de Educação para receber o pagamento de seu salário de professora primária.
Era nosso dia de extravagâncias!
Com o dinheiro recebido socado no fundo da sua bolsa minha mãe me levava à Confeitaria Schaffer, onde cometíamos a mais terrível e deliciosa extravagância: fazíamos um lanche!
Eu nunca mais me senti tão rica e tão feliz como fui: sentada, com os pés mal tocando no chão, diante de uma mesa com tampo de mármore onde um garçom nos servia café com leite e dois sanduíches mistos.

VI

Foi a D. Delma quem fez, com ripas de madeira que pintou de cor de rosa, a primeira cama que eu tive.
À noite ela revirava o colchão de palha e fazia um pequeno ninho para eu deitar. Quando ela me cobria, o meu corpo ficava escondido no meio das palhas do colchão e ela me garantia que era assim que dormiam as artistas de cinema em Hollywood.
Até hoje acho que eu acredito nisso, pois não consigo deixar de me sentir famosa, quando me afundo em alguma cama fofa e macia que ainda existem em alguns hotéis.

VII

A mãe sempre acreditou que tudo foi feito para dar certo. Não tinha dúvidas.
- Se eu tiver mesmo que ir para Curitiba amanhã, alguém me traz a passagem aqui em casa.
Ela fora até a rodoviária de Matinhos, depois de um recado que deveria voltar urgente no dia seguinte para Curitiba. Não encontrara mais passagem.
No finzinho da tarde de domingo, um casal bateu palmas em frente de nossa casa e perguntou se era lá que morava uma tal de D. Delma, diretora de uma escola que precisava ir para Curitiba no dia seguinte. A gente já sabia, lá estava a sua passagem. Ela foi entregue no portão por um casal muito feliz. Um deles desistira da viagem porque resolvera ficar mais um pouco na companhia do outro.

VIII

Este fato me fez lembrar do meu pai - paralítico e senil - um pouco antes de morrer.
Minha mãe o colocava sentado na cadeira de rodas na área em frente de casa para ele ver o movimento e puxar conversas, às vezes surpreendentemente lúcidas, com os passantes.
Certa vez quando minha mãe ia entrar em casa percebeu que ele não a reconhecera. Ela não fez nada para se identificar. Ficaram conversando como se ela fosse uma estranha.
Para manter esta ilusão, ao entrar em casa, ela deu a volta pelos fundos. Quando meu pai a viu em suas costas confessou:
- Sabe Delma, eu fiquei conversando um pouco com uma mulher que passou aqui em frente, mas não se preocupe, você é bem mais bonita do que ela!
Esta beldade, na ocasião tinha quase oitenta anos, oitocentas rugas, cabelos despenteados e enormes joanetes que deformavam o seu pé.

domingo, 6 de maio de 2007

22ª Romaria da Terra - Francisco Beltrão/PR

XIXª Romaria da Terra

22ª ROMARIA DA TERRA

SERÁ REALIZADA NA REGIÃO SUDOESTE DO PARANÁ EVENTO QUER CELEBRAR A RESISTÊNCIA E A MOBILIZAÇÃO SOCIAL DO CAMPO



Animada pela fidelidade de Deus aos pobres da terra e pela força da aliança renovada com o povo do campo, a Comissão Pastoral da Terra tem a grande alegria de informar a todas as comunidades e organizações que a 22ª Romaria da Terra do Paraná já tem data e local confirmados: a Diocese de Palmas/Francisco Beltrão, no dia 19 de agosto de 2007.
No próximo ano comemoram-se os 50 anos da Revolta dos Colonos realizada na região Sudoeste do Paraná no ano de 1957. Contrários à política de ocupação da região, que privilegiava as grandes empresas colonizadoras em detrimento do direito de posse das terras ocupadas historicamente por caboclos e pelos imigrantes de origem européia (em sua maioria vinda do Rio Grande do Sul e Santa Catarina), os posseiros da região organizaram um LEVANTE POPULAR que culminou com a expulsão das companhias colonizadoras e garantiu a posse da terra aos pequenos proprietários que ocuparam a região.
Na lembrança desta data, a CPT convida todas as comunidades, organizações e movimentos sociais a celebrar na próxima romaria a resistência e a mobilização social do povo do campo no Paraná. A partir da memória dos 50 anos da Revolta dos Colonos queremos celebrar as diversas lutas dos camponeses paranaenses, começando com a pergunta: por que os posseiros de 50 anos atrás de organizaram, por que se levantaram? E com isso pensar a mobilização social nos dias de hoje – a força dos movimentos sociais e organizações do campo e suas diversas ações no sentido de construir um modelo agrícola/agrário pautado pelo respeito ao meio ambiente e pela valorização da pessoa humana.
A região Sudoeste do Paraná é historicamente marcada pela presença dos agricultores/as na dinamização da economia local. Segundo dados do IBGE, 40% (189.582) dos habitantes do sudoeste residem no campo. A presença da pequena propriedade é um outro que nos mostra a vitalidade e importância da agricultura familiar/camponesa na região. Conforme dados do Censo Agropecuário (1995/96), no sudoeste, existe um total de 47.276 estabelecimentos rurais, 43,7% dos quais (20.658) são áreas com menos de 10 ha; 53,7% (25.283) são áreas que totalizam de 10 a 100 há. Ou seja, somando os estabelecimentos entre 10 e 100 hectares, temos 97,4%!
É esta realidade que queremos celebrar na 22ª Romaria da Terra do Paraná. Queremos fazer memória das lutas dos camponeses em defesa da terra, da água e da vida. Juntamente com o Deus da Aliança, fiel ao seu povo e animador da sua resistência, queremos celebrar as inúmeras experiências desenvolvidas pelas comunidades, movimentos e organizações na linha da educação, produção, comercialização, organização, cuidado ambiental e conquista de direitos sociais.


Organize desde já a sua caravana! Maiores informações na página da CPT na internet (www.cpt.org.br), pelo email cpt@cpt.org.br ou pelo telefone 41-3224-7433.

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA DO PARANÁ

sábado, 5 de maio de 2007

Abraço, uma proposta

Emir Sader no ENAFIT - Encontro Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho

Manifesto contra a ditadura da mídia

Por Abraço RS

(Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária)



Proposta de programa de democratização da mídia brasileira.


14/11/2006 - Após ataque do MST à planta da Aracruz Celulose, somando-se a ocupação da família Guerra, em Coqueiros do Sul, a mídia gaúcha expôs-se de forma induvidável.

Quando se afirma a ligação corporativa e umbilical entre a mídia e a oligarquia local, imagina-se um estado nordestino ansiando verbas estatais. Mas, no Rio Grande do Sul, os discursos são mais sofisticados, embora não menos virulentos. Não se trata de defender ou atacar a ação do MST. A frieza da análise nos faz buscar a precisão das palavras.

A busca de resposta, da atuação da mídia de ser porta-voz do latifúndio e do agronegócio, é inequívoca.

As pressões buscam forçar uma situação de fato, onde se criminaliza ou contêm o movimento popular.Há mais de uma semana, pouco ou nada ouvindo os dois lados, a mídia local se enerva e clama por punição através do braço repressor da lei. O que não se fala é que as terras atacadas em Barra do Ribeiro, eram destinadas a reforma agrária e depois mudou-se a orientação. Tampouco se toca no tema do fato da Riocel, concessionária da Aracruz, ser uma das maiores poluidoras do Lago Guaíba. Menos ainda uma cobertura nacional como os ataques aos territórios ancestrais guaranis no litoral capixaba.
A cobertura da grande mídia, deputados da direita agrária e de "especialistas" afirmam o óbvio: A necessidade de gerar meios de comunicação que não vivam de verbas oficiais, nem publicidade de grandes grupos econômicos. No momento a "holding" do BNDES, Votorantim e Aracruz, fabricante de desertos verdes, ganha de lavada em cobertura midiática. O que foi feito é tipificado como ludismo agrário, tática bicentenária de protesto das classes despossuídas.

A mídia nacional

O tratamento dado pelos meios de comunicação tradicionais à luta dos sem-terra contra o deserto verde e a seca nordestina gerado pelo latifúndio do eucalipto no Rio Grande do Sul e outros estados é apenas um dos inúmeros fatos análogos que ocorrem dentro de um processo de luta de classes, fruto da voracidade do capitalismo pelo lucro a qualquer custo, hoje em sua versão neoliberal. Condenamos esta e qualquer tentativa de criminalização dos movimentos sociais por parte da grande mídia, a qual também se tornou porta-voz de determinados candidatos na última eleição, culminando com a boca-de-urna televisiva. O clamor público decorrente vem aumentando e mostra a necessidade do governo Lula, em seu segundo mandato, pagar sua dívida com a Sociedade, nos seguintes termos:
(1) chamando a Conferência Nacional de Comunicação para o primeiro semestre de 2007;
(2) dissolvendo o inconstitucional oligopólio existente no setor (constatado pelo Conselho de Comunicação Social do Congresso);
(3) apoiando a criação de uma CPI sobre a Anatel - Agência Nacional de Telecomunicações, de tal forma a obrigá-la a cumprir seu dever de fiscalizar e punir a concentração econômica no setor, e as emissoras e transmissoras sem autorização (e não apenas as comunitárias), conforme lei de sua criação, bem como exigindo o mesmo para seu inoperante Ouvidor;
(4) considerando que "O melhor do Brasil é o brasileiro", e voltar atrás em sua decisão precipitada (gol contra promovido por Hélio Costa) e sem a necessária participação da Sociedade sobre o Sistema Globo de TV Digital, importado do Japão, em detrimento do nacional, no qual o Estado investiu R$ 60 milhões e apresenta resultados superiores;
(5) suspendendo os testes com o padrão IBOC de rádio digital, permitindo ampla discussão na Sociedade, desenvolvendo pesquisa nacional a respeito antes de qualquer definição;
(6) anistiando as rádios comunitárias que sofrem processo por incompetência do Ministério das Comunicações na análise das solicitações dentro do prazo legal;
(7) destinar 20 % da verba publicitária do governo para aplicação nas rádios e TV comunitárias, bem como em jornais de menor circulação;
(8) contribuir para que os parlamentares que são proprietários de emissoras de rádio e TV sejam punidos exemplarmente por desrespeitarem a Constituição Federal;
(9) promover a proibição de qualquer publicidade destinado à criança e ao adolescente.
Em contra-partida dialética, cumpre aos movimentos sociais, não somente apoiar formal, material e politicamente tais propostas, como também pressionar os Três Poderes da República com a energia suficiente para que eles se sintam obrigados a cumprir o dever de fazer o que for melhor para a maioria e não apenas uma elite privileciada economicamente.
É imprescindível que o movimento social radicalize em construir a unidade, de tal forma a viabilizar seu combate efetivo às arbitrariedades do Estado e dos governos, construindo uma rede nacional de comunicação popular e oferecer aos trabalhadores e trabalhadoras algo além do pensamento único, da invisibilidade ou perseguição promovida pelos meios de comunicação de grande porte. Sem que o movimento social considere o movimento pela democratização da comunicação como parceiro estratégico de suas lutas contra a exploração do operariado do campo e da cidade, dos afro-brasileiros, das mulheres, da criança, dos anciãos, da baixaria na TV, do erotismo e do machismo, nosso sonho de um novo Brasil e de um novo mundo ser possível permanecerá além do horizonte desta geração. Devemos nos conscientizar diuturnamente e deixar nítido aos que ainda não tem noção da realidade, sobre o crime organizado, que há 500 anos se perpetua no poder de um Estado totalitário, conservador, concentrador de riqueza e promotor de uma das maiores injustiças sociais do planeta.
Hoje, em sua versão mais sutil e quase invisível, porém mais nociva à Sociedade, por dispor de um cabresto eletrônico que hipnotiza a maioria da população.
Nas palavras de João Pedro Stédile e Dom Mauro Morelli, o Presidente da República do Brasil, seja ele qual for, é apenas o motorista da elite econômica.
Emir Sader sofre processo por um fato isolado que serve de subterfúgio a uma reação dos senhores do Estado à sua tese de que "a ditadura da mídia monopolista privada é e continúa a ser obstáculo a que o Brasil seja uma democracia".
Marilena Chauí insiste na urgência necessidade de que o Estado brasileiro seja democratizado.A Fenaj - Federação Nacional dos Jornalistas, através de seu presidente Sérgio Murilo, reafirmou enfaticamente na XIII Plenária do FNDC - Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, mes passado em Florianópolis-SC, que sua entidade permanece na defesa de seu documento de 1990 de que "Sem democratizar a comunicação, não haverá democracia no Brasil".
Osny Duarte Pereira em seu testamento político, foi taxativo: "É certo que não basta eliminar as doações, quando o controle dos meios de comunicação permanece em poder de poderosos grupos privados e estes podem recorrer a todos os expedientes para assustar e enganar o eleitor, sem dar espaço de contestação aos adversários. ... Tudo isto revela quão distante nos encontramos de um regime verdadeiramente democrático."

[ www.plutocracia.fr.fm/pluto.html ]

Cumpre à esquerda reconhecer que precisa combater a informação deturpada dos opressores com a contra-informação nas mãos dos oprimidos

Para aderir ao manifesto, escreva para redeabracors@yahoo.com.br


quarta-feira, 2 de maio de 2007

Assim anda a terceirização no Brasil, vamos comemorar??


28 de abril
Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho
Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho.

1º de maio
Dia do Trabalho

Esta é uma das formas de "comemorar" todos os dias a terceirização do trabalho no Brasil.

Novo equipamento de proteção facial.

Vantagens:
1) Baixíssimo custo;
2) Descartável;
3) Levíssimo;
4) Tamanho único e facilmente adaptável a qualquer rosto;
5) De fácil fabricação;
6) Visualização com praticamente 100% do campo visão normal...etc...

terça-feira, 1 de maio de 2007

Tempos Modernos - uma homenagem ao Ramirez

Neste dia 1º de Maio de 2007 quero homenagear o Antonio, o João, o Fancisco, o Ramirez e todos os demais "homens de roupa rasgada" que fazem movimentar as engrenagens do progresso com seu trabalho insano. Com a sua própria vida. Estes homens são tratados como peças descartáveis e facilmente repostas neste capitalismo desumano em que vivemos, onde o lucro de poucos, determina a miséria de muitos.


Canto Geral

Pablo Neruda

As flores de Punitaqui


XIII - A Greve



Era estranha a fábrica inativa


Um silêncio em todas as seções,
uma distância
entre as máquinas e o homem,
como um fio cortado
entre planetas,
um vazio das mãos dos homens
que passam o tempo construindo,
e os recintos sem ninguém.
sem trabalho e sem um som.



Quando o homem deixou
o esconderijo da turbina,
quando desligou
seus braços da fogueira
as entranhas do forno diminuíram,

quando tirou os olhos da roda
a luz vertiginosa se deteve
em seu círculo invisível,
de todos os poderes poderosos
dos círculos puros da potência
da energia surpreendedora

e ficou um montão de inúteis aços
nas salas sem homem, um ar viúvo
o solitário aroma do azeite.


Nada existia
sem aquele fragmento batido,
sem Ramirez,
sem o homem de roupa rasgada.
Lá estava a superfície dos motores,
acumulada em morto poderio
como negros cetáceos
no fundo pestilento
dum mar sem ondulação,
ou como montanhas escondidas
de repente sob a solidão
dos planetas.