terça-feira, 1 de maio de 2007

Tempos Modernos - uma homenagem ao Ramirez

Neste dia 1º de Maio de 2007 quero homenagear o Antonio, o João, o Fancisco, o Ramirez e todos os demais "homens de roupa rasgada" que fazem movimentar as engrenagens do progresso com seu trabalho insano. Com a sua própria vida. Estes homens são tratados como peças descartáveis e facilmente repostas neste capitalismo desumano em que vivemos, onde o lucro de poucos, determina a miséria de muitos.


Canto Geral

Pablo Neruda

As flores de Punitaqui


XIII - A Greve



Era estranha a fábrica inativa


Um silêncio em todas as seções,
uma distância
entre as máquinas e o homem,
como um fio cortado
entre planetas,
um vazio das mãos dos homens
que passam o tempo construindo,
e os recintos sem ninguém.
sem trabalho e sem um som.



Quando o homem deixou
o esconderijo da turbina,
quando desligou
seus braços da fogueira
as entranhas do forno diminuíram,

quando tirou os olhos da roda
a luz vertiginosa se deteve
em seu círculo invisível,
de todos os poderes poderosos
dos círculos puros da potência
da energia surpreendedora

e ficou um montão de inúteis aços
nas salas sem homem, um ar viúvo
o solitário aroma do azeite.


Nada existia
sem aquele fragmento batido,
sem Ramirez,
sem o homem de roupa rasgada.
Lá estava a superfície dos motores,
acumulada em morto poderio
como negros cetáceos
no fundo pestilento
dum mar sem ondulação,
ou como montanhas escondidas
de repente sob a solidão
dos planetas.