Pablo Neruda
As flores de Punitaqui
XIII - A Greve
Era estranha a fábrica inativa
Um silêncio em todas as seções,
uma distância
entre as máquinas e o homem,
como um fio cortado
entre planetas,
um vazio das mãos dos homens
que passam o tempo construindo,
e os recintos sem ninguém.
sem trabalho e sem um som.
Quando o homem deixou
o esconderijo da turbina,
quando desligou
seus braços da fogueira
as entranhas do forno diminuíram,
quando tirou os olhos da roda
a luz vertiginosa se deteve
em seu círculo invisível,
de todos os poderes poderosos
dos círculos puros da potência
da energia surpreendedora
e ficou um montão de inúteis aços
nas salas sem homem, um ar viúvo
o solitário aroma do azeite.
Nada existia
sem aquele fragmento batido,
sem Ramirez,
sem o homem de roupa rasgada.
Lá estava a superfície dos motores,
acumulada em morto poderio
como negros cetáceos
no fundo pestilento
dum mar sem ondulação,
ou como montanhas escondidas
de repente sob a solidão
dos planetas.