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“ Espeleologia é a ciência das cavernas.
Eu estudei uma espeleologia que se dedica a explorar as cavernas da alma. A alma é um emaranhado de cavernas iluminadas por uma luz que se insinua por frestas estreitas , cavernas que vão ficando cada vez mais fundas e escuras.
Lá fora é o mundo ensolarado, “uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos ” ( Fernando Pessoa) , muita gente , falatório, gritaria, tagarelice, risadas, todos falam , ninguém escuta, os participantes trocam palavras conhecidas e todos usam máscaras sorridentes .
Eu estudei uma espeleologia que se dedica a explorar as cavernas da alma. A alma é um emaranhado de cavernas iluminadas por uma luz que se insinua por frestas estreitas , cavernas que vão ficando cada vez mais fundas e escuras.
Lá fora é o mundo ensolarado, “uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos ” ( Fernando Pessoa) , muita gente , falatório, gritaria, tagarelice, risadas, todos falam , ninguém escuta, os participantes trocam palavras conhecidas e todos usam máscaras sorridentes .
A entrada da caverna está escondida pela vegetação.
São poucos os que têm coragem de entrar. Lá dentro tudo é diferente .
As vozes se transformam em sussurros. Mas os olhos crescem .
E assim vamos descendo cada vez mais fundo, até que nos
descobrimos sozinhos. Há solidão e silêncio.
A verdade da alma está além das palavras, não pode ser dita .
Os espaços modelados pelos milênios pedem poucas palavras .
Depois de muito descer chega-se ao fundo da
caverna: lá está, faz milênios, um lago de água
absolutamente azul.
O fundo da alma é um lago.
Lago encantado.”
Rubem Alves
de “ Concerto para corpo e alma ”