quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Desventuras de uma atropeladora de moto-boy



http://fotos.br101.org/gallery/flagrantes/motoboy-pobre_001.JPG.html



A Ana, minha filha, me mandou a frase abaixo para me consolar.


Foi para ela que liguei quinta-feira à tarde, quando chegava ao litoral e abalroei, ou fui abalroada, por um moto-boy.

“Moto-boy é como pênis: Tem cabeça e não pensa, vai e vem o tempo todo, quer passar onde não cabe, às vezes se esfola, geralmente anda duro e, de quebra, ainda f.... os outros!”


Sabem quando a gente levanta com um dia de sol por dentro e olha pra fora e lá está ele, exatamente como nos sentimos?


Andei por uma fase meio nublada, mas boas notícias, vindas de longe, trouxeram esperança em novas alegrias e afastaram as nuvens.


-Vou pra praia - pensei animada


Peguei minhas tralhas e as da Tonica e viemos as duas. Eu ouvindo a Elis e ela miando indignada por estar presa na sua malinha de tela.

Passei o pedágio e quando comecei a descer a Serra do Mar, uma neblina baixou sobre o mundo, fiquei dentro de nuvens carregadas, mas o sol dentro de mim continuava a brilhar.


Quando cheguei ao balneário de Matinhos, errei a entrada para Caiobá e me vi voltando para Curitiba. Estacionei.

O lindo e raro dia de sol curitibano ficara em Curitiba, aqui, em nosso minúsculo litoral, chovia e fazia frio.

Estacionei para pensar como iria voltar, olhei pelo retrovisor e quando não vi nenhum carro, arranquei. Vindo, não sei de onde, um moto-boy abalroou meu carro. A moto, ele, um monte de rolos de papel e outros bichos deslizaram em minha frente no asfalto molhado.

Estacionei. Fiquei muda e comecei a chorar.

O moto-boy veio ao meu encontro e começou a me consolar:
- Eu não me machuquei, estou acostumado - e foi recolher as entregas e tirar a moto do meio da rua.


Surgiram comerciantes de todos os lados e outros motos-boy para me consolar.
Um copo de água com açúcar foi colocado em minha mão
- A senhora é diabética? - Não sou.
Outros cuidados.
- Fique calma. A sua pressão pode subir! - Tenho pressão baixa.
Parecia que eu tinha sido a vítima.


- Vejam, ela está gelada - disse uma senhora. (com um frio daqueles e pouca roupa, era bem normal)

- Acalme-se, não foi nada. Diziam vozes.

Consegui falar:
- A Tonica está no carro.
- Sua filhinha?
- Não, a minha gata.


Voltei para o carro e a cretina da gata que miara a viagem inteira estava dormindo.


Na minha caminhonete só tinha um risquinho na pintura e um amassado quase imperceptível.

O moço da moto pediu os meus dados porque tinha que comunicar a empresa e fazer um B.O., senão perdia o emprego.
Não sei quem tinha razão, acho que ele. Mesmo se não tivesse, eu costumo me sentir culpada de tudo.


Ficamos esperando o retorno da ligação que ele fizera para o dono da empresa.

Demorou.
Fui ficando enraivecida, com frio, querendo chegar ao meu destino (?!).

Quando o tal patrão telefonou eu pedi pra falar. Disse que ia embora, assumia os danos, mas não ia fazer naquelas alturas, (já tinha anoitecido) p.... nenhuma de B.O.
O moto-boy disse para o chefe que eu estava muito nervosa (não esta, estava p. da cara) e ele já tinha meus dados e, felizmente, desligou.

- Gente boa estes moto-boys, quando não nos abalroam...

Perguntei se a moto tinha quebrado muito. Ele disse que não. Só o espelho retrovisor e um "pezinho". Mandei-o fazer um orçamento, se não fosse muito caro eu pagava, com recibo e declaração da empresa, etc. e tal.


Na volta errei o caminho de novo.

Quando enfim, cheguei ao edifício onde tenho um apartamento, ao ver o caseiro - que é um homem enorme - abracei-me nele e recomecei a chorar (acho que fiz uma ceninha boba e dei um susto no coitado).

Ele me consolou, mandou-me ir para o apartamento com a Tonica e prometeu que providenciaria tudo.


Estacionou o carro e levou todas as minhas várias mochilas (de livros, de cremes, de remédios, da câmera fotográfica e acessórios, de óculos, lentes e acessórios, do note book e de algumas poucas roupas) e as mochilas da Tonica (sua caminha, seu banheiro, ou seja: - areia e caixa para areia, ração, potes para colocar ração e água).



Seu Valmir, o caseiro, mandou a mulher - que estava muito atarefada
- me ajudar. Sem saber da Tonica, ela deixou as portas abertas e a minha gata fugiu. Fiquei berrando pela gata, até que ela apareceu toda dengosa e ficou se enrolando entre as minhas pernas.

Eu não tinha acabado de arrumar meus "pertences" quando escutei um estrondo na rua. A luz apagou. E da cidade inteira.
No apartamento não tinham velas e usei o celular para ligar para Curitiba e pedir pro Ode, meu marido, ligar para o caseiro (não sei o número) para que ele me trouxesse velas.
Se descesse quatro andares pelas escadas no escuro, sabe-se lá o que iria acontecer.
O Ode retornou a ligação dizendo que o telefone do caseiro não atendia e que eu ficasse calminha que a luz logo ia chegar.

Não chegou. Fiquei duas horas e meia no escuro.

Durante o tempo de escuridão...tocou o telefone:
- Aqui é da oficina mecânica, fiz o orçamento do conserto da moto e queria saber se a senhora autoriza.
- Meu filho, eu vim pra cá pra relaxar. O dia em Curitiba estava lindo. Cheguei aqui com chuva e frio, derrubei o moço da moto e estamos em uma escuridão total. O que é que você quer? O que mais me falta acontecer?
- Que dia, hein! Foi a senhora que trouxe a chuva – e ainda deu uma risadinha.
- Quanto?
Ele disse o dobro do que o moto-boy imaginara. Protestei.
- As peças têm que ser originais, meu serviço é barato.
- Quanto?
Repetiu.
- Nem morta que eu pago, amanhã faço o B.O. A menos que haja um desconto.
- 10%
- Nada feito.
- 20%.
Chegamos aos 25%.
Autorizei.
A luz voltou.
O melhor de tudo foi que o meu dia de sol interior, não sofreu nenhum abalo. Estou luminosa e feliz, quem é que vai entender as mulheres. Eu - nem me atrevo.
Beijo,
Nédier