sábado, 24 de julho de 2010

Desconsolo - para a Regina e o Lindomar

Eu e a Regina na chácara.
Entrando em campo nos primeiros minutos de um janeiro do século passado
.
Venho repetindo há anos a poesia do Drumonnd “Consolo de Praia”. http://meunomeenedier.blogspot.com/2010/07/consolo-de-praia-carlos-drummond-de.html
Quando a li pela primeira vez - e me encantei - eu vivia tempos de consolar os infelizes e não sentia este friozinho de desconsolo gelando meu peito, meu coração, minha alma e tudo mais que represente calor humano.
Hoje, relendo-a vejo que mudei e a poesia permanece a mesma. Resolvi então adaptá-la. Para cair na real.


Desconsolo

Chore...
a infância e a mocidade estão perdidas

e a vida se perdeu no meio da perda:
dos amores, dos amigos e de muitas ilusões


O primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto,
sei lá quantos amores passaram,

mas o coração continua...

... como um objeto estranho,
cheio de agulhas colocado no meio do peito
no lugar do original.
Um transplante diariamente rejeitado
Dói.


Perdi muitos amigos, os melhores amigos.

(...) Mas tenho um cão.
Que não senta no botequim comigo,
não joga conversa fora, não enche a cara,
não dedilha um violão, nem inventa modas,
não entra em rolos e não pede nada
e ajuda,

sem perguntar nada, quando você precisa
enterrar os teus cadáveres.
mas também ensina a perdoar e a reagir.


E quando você não tem coragem,
ele te dá coragem
para enfiar a mão na cara
de alguém que merece apanhar

e fica sentado ao teu lado na delegacia,
dividindo o último cigarro.

O cão te obedece, te ama à sua forma,
é um companheiro,

perdi muitos, sofri.

Mas os amigos que partiram
levaram junto com eles
pedaços de mim,
o meu melhor sorriso,
as mais lindas lágrimas
e o amor por eles que era meu.

Era meu. Era só meu e não é mais.
Falta o abraço, a voz, a cumplicidade,

a certeza absoluta
De que eu nunca estaria só.

De que eu podia ser feliz na hora que quisesse,
era só chamá-los, e tê-los ao meu lado

Como é dolorida esta certeza
desta felicidade que não voltará

(...)

A injustiça não se resolve
à sombra de um mundo errado.


(- Qual seria o mundo certo?
Não me venham com paz, ecologia
e outras utopias enganosas.
O negócio é vender armas, é cortar árvores,
Poluir os rios.
É acabar com o oxigênio.
É faturar muito e ficar rico e famoso.)

Murmurei protestos tímidos,
tão tímidos que ninguém ouviu.
Não virá mais ninguém. Melhor assim.

Tudo somado, eu devia

me atirar de vez, nas águas...
mas penso que é melhor chorar.

- principalmente porque eu sei nadar.

Nédier