terça-feira, 15 de novembro de 2011

Os Mares





Dizem que na Palestina, existem dois mares bem distintos.
O primeiro deles é fresco e cheio de peixes. Possui margens adornadas com bonitas plantas e muitas árvores as rodeiam, debruçando seus galhos em suas águas, enquanto deitam as raízes nas águas saudáveis para se dessedentarem. Suas praias são acolhedoras e as crianças brincam felizes e tranquilas. Esse mar de borbulhantes águas é constituído pelo rio Jordão. Ao redor dele, tudo é felicidade. As aves constroem os seus ninhos, enchendo com seus cantos a paisagem de paz e de risos. Os homens edificam suas casas nas redondezas para usufruírem dessa classe de vida. Mas, o rio Jordão prossegue para além, em direção ao sul, em direção a outro mar.
Ali tudo parece tristeza. Não há canto de pássaros, nem risos de crianças. Não há traços de vida, nem murmúrio de folhas. Os viajantes escolhem outras rotas, desviando-se desse mar de águas não buscadas por homens, nem cavalgaduras, nem ave alguma. Se ambos os mares recebem as águas do mesmo rio, o generoso Jordão, por que haverá entre ambos tanta diferença?
Num, tudo canta a vida, noutro parece pairar a morte.
Não é o rio Jordão o culpado, nem causa é o solo sobre o qual estão, ou os campos que os rodeiam.
A diferença está em que o Mar da Galiléia recebe o rio, mas não detém as suas águas, permitindo que toda gota que entre, também saia, adiante. Nele, o dar e receber são iguais.
O outro é um mar avarento. Guarda com zelo todas as gotas que nele ingressam. A gota chega e ali fica. Nele não há nenhum impulso generoso.
O Mar da Galiléia dá de forma incessante e vive de maneira abundante.
O outro nada dá e é chamado de Mar Morto.
* * *
Tecendo um paralelo entre o coração humano e os dois mares descritos, podemos logo reconhecer se temos uma alma generosa igual ao Mar da Galiléia ou avarenta e ciosa qual o Mar Morto.
Os que estamos habituados a distribuir os dons e talentos que a Divindade nos concede, somos os seres agraciados com a alegria de viver, farto círculo de amigos, flores de carinho e folhagens de ternura.
Se nos habituamos a viver sós, sem nada repartir, dividir ou partilhar, estamos semeando solidão à nossa volta, tristeza e desamparo, porque a vida é qual imensa seara que retribui a sementeira, de acordo com os grãos cultivados.


Recebi este texto belíssimo, digno de reflexão, de minha filha Ana Paula.

Não sei o autor.

sábado, 5 de novembro de 2011

Tio Alceu










Eu penso que todos acham que estou exagerando quando falo dos meus Brusamolin, mas na verdade eu até disfarço...não pega bem descrever nossas insanidades familiares. .




Nem o Gabriel Garcia Marques criaria um personagem como o tio Alceu, um hipocondríaco dos bons. Ele passou a vida enchendo os armários da casa com remédios, quando a gente ia visitá-lo ele mostrava com orgulho os ditos armários abarrotados.
O Dr. Milano foi durante anos o médico de toda família. Ele era clínico geral e obstetra e o meu tio ia diariamente em seu consultório.





Minha nora Cláudia estava uma vez na sala de espera quando ele chegou: um italiano enorme, de olhos muito azuis com uma peruquinha acaju presa com grampos pela minha prima Cléia. Como sempre fazia chegou esbaforido e ficou encostado na porta esperando a enfermeira abrir para a primeira consulta:
- As senhoras me desculpem,mas meu caso é urgente, vou demorar só um pouquinho – disse ele para a mulherada na sala de espera antes de se enfiar consultório a dentro.
Quando ficou viúvo não voltou para sua casa mas para antiga casa da mama, onde morava parte da família.
Viúvo, meu tio que era um exímio violonista não quis mais tocar violão, uma vez lhe pedi que tocasse e ele me respondeu:
- Depois que aquela abençoada morrreu, eu nunca mais peguei no instrumento.
Um mês antes de sua morte, eu e ele promovemos, segundo a Ana, um típico espetáculo Brusamolin, no local da votação em dia da eleição.




Ela descreve bem.




Diz que quando chegou para votar viu sua mãezinha vestida de petista com crachá de delegado e tudo, na ponta dos pés pingando colírio nos olhos do tio Alceu. Não seria anormal se nós dois não estivéssemos bloqueando o corredor de acesso às urnas.

Estes dias encontrei o Jalmir, seu filho e meu querido primo. Ele tem um filho com o nome do avô. Perguntei como ia o menino.
- O Alceuzinho?? Vai bem...de três em três horas uma dose.


PS.: Este texto é dedicado aos meus queridos primos e amigos do Clube da Macaca



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