segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Do profundo e desconhecido oceano de minha mente



                                                                                         foto: Joka Madruga
 
 
Do profundo e desconhecido oceano de minha mente emergem fatos, expressões, situações que são subitamente iluminadas pela luz de minha consciência.

Quando tento entender a súbita aparição, consigo apenas reviver uma emoção antiga.

Das mais antigas sensações  existe uma, que me faz sentir embalada por braços fortes. Fui uma criancinha chorona e insone. Estes braços deviam ser ou do meu pai ou de um dos meus tios, meu rosto se encosta no peito deste homem e minhas pequenas mãos buscam a pele de seu pescoço. Depois disso o nada.

Outro acontecimento emerge com uma força considerável. Hoje ele me explica o aparentemente inexplicável.

Era domingo. O cenário é o pátio de um hospital onde minha mãe, minha irmã mais velha com a perna engessada apoiada em um banco, médicos, enfermeiros apanham sol em torno de um pequeno rádio. Eu estou fora da roda, rodeando-a sem entender um ar pesado de repirar,

Então o silêncio. Absoluto. Total. Denso como uma nuvem carregada baixando sobre o mundo... Uma tristeza insuportável. A figura do meu pai surge no cenário. Ele fora escutar “o” jogo de futebol na casa da mama, rodeado dos irmãos. A expressão em seu rosto lívido até hoje para mim representa “A Derrota”.

Só bem mais tarde conclui que o Brasil tinha perdido, em casa, uma Copa do Mundo cuja vitória era tida como certa. Seríamos e não fomos campeões do mundo.

- Que força é esta que consegue irmanar um país inteiro em uma só dor, em um silêncio mórbido?

Esta memória eventual me faz entender a força do futebol em nossas vidas. Ele nos dá grandes alegrias, grandes decepções, indignações que nos levam às lágrimas.

É irracional? E quem disse que somos apenas seres racionais quando  a memória afetiva permanece?

Este fato emerge para em seguida submergir. Neste átimo de tempo iluminado pela consciência tudo se torna silencioso e triste.

O futebol me torna ora vencedora, ora humilhada e rebaixada, ora frustrada por um gol perdido ou anulado.

- E não é assim a vida?

Um time de futebol tinge com suas cores as nossas almas, se incorpora em nossas vidas.
Minha alma é rubro-negra!

Eu sou atleticana paranaense, assim como sou mulher, mãe, profissional.

As pessoas se identificam:

- Sou corintiano!

- Sou Flamengo!

- Torço pelo Grêmio! Etc. e tal.

A nossa paixão pelo futebol não é um fenômeno sem explicação.  É a própria vida com suas bandeiras coloridas flanando pelos ares.

É o alívio após um sufoco. São palavrões após um passe mal dado ou um erro de arbitragem. É a profunda tristeza de uma derrota, mas é enfim a alegria insuperável de um gol.

Um gol que nos pertence.
 
 
foto:Heuler Andrey
 
Nédier

Este texto é dedicado ao meu querido Luiz Ricardo Brusamolin.

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