quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Almeida Lima, o boneca.

Quando eu nasci o Ahu, onde ainda moro, era um bairro de imigrantes italianos.
Os homens trabalhavam na construção civil, em metalúrgicas ou por conta própria: encanadores, pintores, sapateiros... As mulheres eram donas de casa, escutavam novelas nas rádios e controlavam as despesas da casa. Eu me criei no meio desta gente simples e alegre.
Os homens se reuniam no bar no fim da tarde para bater papo e aos domingos, em torno do campo de futebol do Operário do Ahu para assistir os jogos. Quando bebiam demais às vezes brigavam entre eles, trocavam uns sopapos, mas eram coisas passageiras que não resistiam a uma segunda-feira de ressaca.
Os homens eram homens e os poucos homossexuais eram chamados de veados (a palavra gay é usada há pouco tempo e nem chegou no meu Ahu).
Os veados eram folclóricos e bem aceitos em todos os lugares. Desde criança eu sabia, por exemplo, que o Bepi da Maria era veado e eu nunca achei que ele fosse uma pessoa indigna. Ninguém de nós achava que era errado ser veado.

Mas Homem não tinha chilique!!
Homem não tinha ataques de raiva!!

Não existia uma classe intermediária.


As mulheres e os veados podiam ter chiliques e os homens não.
Ponto final.

Eu penso que vou ter um chilique quando assisto na televisão o senador Almeida Lima - tão desavergonhado - nos afrontando com seu descaramento.

Para me animar um pouco, eu fico imaginando aquele senhor histérico e cheio de trejeitos vivendo aqui no Ahu dos tempos de minha infância.

Chego a escutar um dos meus tios, embora já não tenha nenhum vivo, a me dizer com a voz carregada de espanto:

- Dio mio!! tem mesmo é que enfiar a mão na cara deste veado pra ele se acalmar!!

Mas nem meu tio - além-túmulo e revoltado - alivia a minha indignação de ser tratada como se eu fosse uma retardada. Nem suaviza a minha angústia em ver a população inteira do meu país sendo tratada como se todos nós - cidadãos brasileiros - fôssemos idiotas.

Eu conheço muitos sergipanos e pelo que conheço devem sentir vergonha de ver um dos seus conterrâneos se comportando como um palhaço, perdendo a linha, falando asneiras. Tendo chiliques. Sendo chamado de Boneca.

Tudo é muito patético, não sei de quem cobrar esta grande depressão em que me encontro por ver o meu país sendo tão desrespeitado. Mas, além das patifarias explícitas, existe algo que eu não entendo:

- Como pode um homem público não ter senso de ridículo??

- Será que o senador Almeida Lima assiste as retransmissões dos seus "pronunciamentos" na Comissão de Ética do Senado e acha que aquilo que ele diz e faz é coisa de Homem?

- Será que ele não pensa em sua família? Na vergonha de seus filhos ao ver um pai histérico desmunhecando? Puxando o saco e defendendo um indefensável coronel das Alagoas?

- Será que qualquer poder, que possa resultar desta postura histriônica, deste espetáculo deprimente, vai compensar a sua desmoralização política?

- Será que ganhar um pequeno prestígio dentro do seu partido vai compensar todo o ódio que ele vem amealhando em um país de proporções continentais?

- Já que nós SÓ podemos desprezá-lo - por enquanto - será que ele não tem nenhum amigo, nenhum membro de sua família que tente fazê-lo parar de se comportar como um bufão??

Eu me sinto envergonhada cada vez que assisto um pronunciamento deste senador. Os espanhóis chamam de verguenza ajena este tipo de constrangimento, esta vergonha que o comportamento vergonhoso de outra pessoa nos produz.

- Senador Almeida Lima, será que V. Excia. não tem um pingo de vergonha na sua cara?

Nédier