segunda-feira, 5 de maio de 2008

O gesto afável do oleiro contra o poder abusivo do Capital

“Como barro nas mãos do oleiro” (Jr 18, 6)

O GESTO AFÁVEL DO OLEIRO CONTRA
O PODER ABUSIVO DO CAPITAL
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CARTA ABERTA AOS AGENTES DE PASTORAL E LIDERANÇAS POPULARES


“Como barro nas mãos do oleiro” (Jr 18, 6) a Comissão Pastoral da Terra do Paraná se reuniu em sua 18ª Assembléia Regional, sob a bênção do Espírito, para afagar a argila, moldar e remoldar os vasos que conduzem o nosso maior tesouro:
a fidelidade à terra e ao Deus da terra, e o serviço de trinta e três anos aos pobres da terra.

Ao contrário do que ocorre com o barro nas mãos do oleiro, a realidade atual testemunha a violência de um modelo de desenvolvimento regulado pelo lucro e administrado pelo capital transnacional que exclui, destrói e mata gentes, animais, plantas, águas e terras.
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Sua ação se espalha na perversão de nossos valores, renomeando e colonizando nossas expressões culturais e nossa identidade como povo, desagregando e cooptando movimentos sociais, espalhando marasmo, dispersão e desunião que, infelizmente, contagiam também as nossas lideranças e agentes. Trata-se, pois, da ameaça ao nosso maior tesouro.
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O Paraná continua terra de violência e de violação dos direitos do povo e da natureza.
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Os números dos conflitos no campo nos colocam entre os Estados mais violentos do Brasil: a expansão do agro e do hidronegócio, apoiado pelos governos e assegurado pela ação violenta das milícias paramilitares, continua matando, expulsando e perseguindo os pobres do campo.
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O governo estadual realiza um despejo a cada dez dias, o pior índice nacional e o mais perverso da história do Paraná, acobertado por um discurso de “boas aparências”.
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Pequenos agricultores continuam sendo expulsos do campo; negros e indígenas continuam sem acesso às suas terras; atingidos por barragens continuam ameaçados por projetos hidrelétricos; assalariados rurais permanecem explorados e violados em seus direitos... o poder abusivo do capital e suas marcas, elegem governos e exploram os pobres, criam leis e as modificam ao bel prazer, criam um Estado para si mesmos e o batizam de Estado de direito.
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Mesmo Lula, que poderia ser uma exceção, virou regra.

Como serviço à causa dos camponeses e camponesas, denunciamos a violência e anunciamos a esperança que vem das iniciativas de resistência na agroecologia, no resgate das sementes crioulas, na educação do campo, na organização das mulheres e da juventude, na luta pela terra e pela preservação das águas como patrimônio da humanidade.
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Repudiamos toda ação dos poderes instalados que violam a legislação a favor do lucro desmedido, aprovando leis e medidas provisórias que colocam em risco o bem comum, maculando a memória das lutas milenares de nosso povo – esse que é, sem dúvida, o nosso maior tesouro, guardado sim, em vasos de barro, fabricados também, pelas mãos da CPT.

Renovamos nosso compromisso de fidelidade, e acreditamos ser fundamental mantermos nossa liberdade profética frente ao Estado, às empresas e projetos públicos que esmorecem e matam valores éticos e sagrados.
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Reiteramos a importância do estudo e da formação, do diálogo e das ações conjuntas com as organizações populares, do trabalho de base e da articulação das forças do povo, promovendo o protagonismo e a emancipação dos trabalhadores e trabalhadoras.

Retomamos com novo vigor e convocamos todas as organizações e toda a sociedade a se empenhar na Campanha por uma emenda constitucional que limite o tamanho da propriedade da terra, acentuando a importância da Reforma Agrária, mais do que nunca urgente e necessária, ampla e integral; à luta contra as barragens e pela preservação dos rios; à defesa radical dos direitos dos assalariados rurais.

Renovados pela força que vem do Deus da terra, da terra de Deus e dos pobres da terra, esperamos continuar fiéis ao serviço pastoral, guiados por Javé que nos garantirá fartura até mesmo em terra deserta, conosco reerguerá ruínas antigas e levantará novas paredes em cima dos alicerces de tempos passados, para que nos chamem reparadores de brechas e restauradoras de ruínas (Is 58, 11-12).


COMISSÃO PASTORAL DA TERRA DO PARANÁ
Curitiba-Paraná-Brasil, 03 de maio de 2008.