Sabe como conseguiu ser feito?
Estamos assistindo, perplexos, à enorme conspiração contra a verdade, a história e a memória.
O Ministério da Defesa, o Ministério das Relações Exteriores, dois ex-presidentes da República, políticos de diferentes matizes, se unem para que o Brasil não conheça a sua verdade.
Já é difícil fazer filmes, livros e peças de teatro sobre personagens reais -- mesmo os de vida pública --, sem autorização do próprio ou de familiares e herdeiros. Agora, a pá de cal chega com a intenção de trancafiar documentos para que a verdadeira História não se revele.
E quem orquestra essa trama contra o futuro do Brasil? Sim, porque povo sem memória é povo sem futuro e estaremos sujeitos eternamente a sermos alimentados por contos da carochinha.
Mas, afinal, o que querem esconder de nós?
- Quem bateu, torturou, mandou prender e arrebentar?
- Quem negou passaportes, quem expedia os tenebrosos atestados ideológicos, que impediam o acesso à escola ou ao emprego?
Mas, afinal, o que querem esconder de nós?
- Quem bateu, torturou, mandou prender e arrebentar?
- Quem negou passaportes, quem expedia os tenebrosos atestados ideológicos, que impediam o acesso à escola ou ao emprego?
Estive duas vezas no Smithsonian Institute em Washington. Na primeira, percorri uma exposição que retratava às condições de vida dos negros nos Estados Unidos e as lutas pela conquista dos seus direitos civicos.
Estavam ali expostas todas as mazelas de uma sociedade que destinava banheiros públicos e bebedouros diferentes para negros e brancos. Escolas diferentes, lugares separados nos transportes públicos, os mais confortáveis e em maior quantidade sempre destinados aos brancos. E se faltasse lugar, o negro sentado deveria ceder o lugar ao branco.
Uma sociedade que queimava jovens por razões de cor se expunha ali como um ato de superação do passado, de construção do novo.
A segunda vez, assisti a exposição que tratava das condições de vida dos imigrantes japoneses e seus descendentes nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
A segunda vez, assisti a exposição que tratava das condições de vida dos imigrantes japoneses e seus descendentes nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
Vi coisas que nem os livros escolares nem o cinema americano me contaram.
Vi fotos de lojas de japoneses atacadas por norte-americanos enfurecidos com os araques japoneses a Pearl Harbor, imagens de familias sendo recolhidas aos campos de concentração nos Estados Unidos para isolar o perigo amarelo e imagens de batalhões de jovens soldados nipo-americanos para guerrear diretamento com o exército japonês como um afirmação do patriotismo norte-americano!
A exposição termina com uma carta do então Presidente Ronald Reagan pedindo desculpas à comunidade japonesa pelas humilhações impostas.
Querem nos impedir de saber a verdade sobre a guerra do Paraguai, ao que parece, uma verdadeira carnificina praticada para atender interesses de poderoso banqueiro inglês.
Querem nos impedir de saber a verdade sobre a guerra do Paraguai, ao que parece, uma verdadeira carnificina praticada para atender interesses de poderoso banqueiro inglês.
Nós não podemos saber o que os paraguaios sabem e contam a seus filhos, por que?
- Resistirão almirantes, generais e marechais à lupa da História?
-Suas biografias corresponderão às narrativas descritas nas pinturas das grandes batalhas?
O silêncio que nos impõem deve ser a razão porque não cultivamos nossos heróis e não preservamos sua memória, a total falta de identificação de identidade com eles.
Os que nos negam conhecer a verdadeira História do país são cúmplices das carnificinas, dos torturadores, dos alcaguetes a soldo do Estado; dos que ordenaram censurar jornais, revistas, peças de teatro e músicas.
Não podemos nos calar e aceitar como fato consumado essa violência da censura que tentam nos impor.
Construir um país livre representa lutar para conhecer a história.
Não queremos cultivar falsos heróis e, a partir de hoje, personagens da história oficial estarão sob suspeita, enquanto não nos deixarem conhecer os documentos que abrigam verdades, que, mesmo dolorosas, devem ser reveladas.
Silvio Tendler - cineasta