terça-feira, 27 de março de 2012

Sobre notas promissórias/ Uma explicação para meus filhos.




Meus filhos,



Adorei a metáfora de voar com asas alheias feita pela Ana, pois é o que temo para o nosso país.



O Brasil está sendo levado a acreditar que está imune à crise mundial como se estivesse situado em outro planeta.



Parece um Ícaro querendo chegar ao sol com asas de cera.



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Tudo é muito conveniente para os tais "submergentes" que cobrarão toda esta ilusão que nos parece que estar sendo incutida de graça.



Toda esta história de minha infância foi só para justificar este trauma de saber intuitivamente que as coisas não iam tão bem como pareciam, por uma falta absoluta de administração, até pela ignorância das regras do mercado



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-Quem pagará por este clima de euforia injustificada, uma vez que as diferenças sociais em nosso país aumentam dia a dia?



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Estive, Ana, por tua causa, na Espanha dos tempos áureos. A mídia a alçava aos tais píncaros não sei do que. Deu no que deu. O turismo não segurou as pontas.
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Pela primeira vez não estou escrevendo sobre política, mas sobre sentimentos, já que confesso não entender de economia política, mas apenas de sentí-la. E atualmente ela esta sensação de alguma coisa errada paira como nuvens escuras sobre minha cabeça.



Muitos e muitos leitores não entenderam. O Ricardo, meu filho, citou até a China, aquela horrorosa ditadura que explora o trabalho infantil. Não é um bom exemplo. Crescer não respeitando regras básicas do mercado e dos direitos humanos, terá seu retorno, espero. Citou as diferenças da época de minha infância com as da atual. Nada a ver.



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Desculpem-me ser assim. Minha amiga Joana Kalinovski, ao comentar o texto, lembrou do tempo que estudávamos no ginásio: "-você,de rabo de cavalo,ilustrando bem e prometendo muito ser a mulher de agora, sempre atraindo pessoas curiosas por ouvir o que tua descontração absurda tem a dizer".



Descontração absurda!! achei o máximo! Ah! e ela ainda disse que se orgulha de mim, linda Joana!



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Não dá pra ignorar os possíveis efeitos da Copa do Mundo, das Olimpíadas (como eu desejo estar enganada) em nossas vidas: o desvio de dinheiro público, as licitações fraudulentas, a construção de inúteis elefantes brancos, o caótico transporte aéreo e terrestre, toda esta corrupção jogada em nossas caras todos os dias. Eu me sinto constrangida só em pensar o que pode acontecer.



De uma coisa tenho certeza: os ricos ficarão mais ricos e os pobres igualmente pobres.



Um Judiciário falido e desmoralizado (desculpe Ana). Um Executivo e todos os seus "compromissos" e "alianças" dados a uma mulher séria, mas impotente. Um Legislativo cômico se não fosse trágico. E é o povo, somos nós que damos poder aos ridículos políticos. Ridículos somos nós, eles são mesmo meliantes (existem exceções como o Dr. Rosinha, por exemplo).



É a metafórica nota promissória disso tudo que me assusta, como a real nota promissória me assustava.



Eu era muito pequena pra entender, mas sentia.


Os entendimentos mudam, passam, mas os sentimentos indecifráveis ficam, não importa a época em que os vivenciamos.



Beijo,



mãe



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