quarta-feira, 10 de abril de 2013

Cecília para o meu amigo Jorge.

                                                                           
Interlúdio

As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.

Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente - claro muro
Sem coisas escritas.

Deixe o presente. Não fales.
Não me expliques o presente
pois é tudo demasiado.

Em águas de eternamente
o cometa dos meus males
afunda desarvorado.

Fico ao teu lado.


Cecília Meireles - Vaga Música (1942)

Um comentário:

Jorge Queiroz dos Reis disse...

Não me interessa o passado, dele não falo.
O meu, vivi, portanto lembro, embora apenas dos instantes de sobriedade.
O teu, adivinho das coisas que dissestes - sóbria ou não.
O futuro é o instante seguinte, não há como adivinha-lo.
No presente, pedes que me cale.
Então, fale! Sou todo ouvidos!
O poeta pode escrever a palavra para pedir que a palavra não seja escrita.
No mundo dos seres de carne, não há poema, não há rima,
Só essa dor, maldita!