31 de março de 2008
Sem Terra é executado dentro de casa
O extermínio dos membros da União Patriótica chama a atenção para uma das causas que explicam a duração e a crueldade do interminável conflito armado colombiano: uma democracia formal que camufla técnicas sofisticadas de eliminação dos opositores.
Iván Cepeda Castro e Claudia Girón Ortiz
Os acordos definiam ainda que, um ano após o início das negociações de paz, seria preciso fornecer as condições que permitissem ao grupo guerrilheiro "organizar-se politica, econômica e socialmente".
Desse acordo nasceu, em maio de 1985, um partido político: a União Patriótica.
Fora da Colômbia, sabe-se muito pouco sobre a repressão sistemática que, tanto ontem como hoje, golpeia no país os movimentos de oposição.
Uma perseguição permanente é ali exercida, abertamente ou de maneira dissimulada, por setores do poder do Estado, por meio das forças militares, de corpos de segurança ou com a cumplicidade dos grupos paramilitares.
De onde vem a violência
Há 50 anos, o Estado combina mecanismos legais e dispositivos ilegais que permitem o emprego arbitrário e excessivo da força.
Devido a estratégias de impunidade particularmente eficazes, e à imagem confusa que os meios de comunicação social oferecem do conflito colombiano, é difícil identificar quem são os autores dos atos de violência.
- Os gruposilegais (guerrilhas, paramilitares)?
- Os narcotraficantes?
Em todos os casos, o Estado parece de fora.
Ora, há 50 anos, o próprio Estado combina os mecanismos legais e os dispositivos ilegais que permitem um emprego arbitrário e excessivo da força.
Assim, leis (sob pretexto de estado de exceção) permitem delegar às forças armadas funções da polícia judicial.
A face escondida dessa política é constituída pelos dispositivos da "guerra suja": grupos paramilitares, atuações ilegais do exército nacional por meio de operações secretas das"brigadas de informações", ações de "guerra psicológica" etc.
Em 1985, setores que têm como objetivo comum o estudo da reconciliaçãonacional pelo viés de transformações estruturais da sociedade participam na criação da UP.
Em sua qualidade de formação pluralista de oposição, estaemite propostas inovadoras após décadas de hegemonia liberal e conservadora no país.
O seu programa propõe uma abertura para formas de democracia mais reais e profundas, incluindo mudanças sociais que visam ultrapassar a falta de eqüidade característica da sociedade. Considera igualmente a elaboração de uma nova carta constitucional (a proposta se tornaria realidade em 1991, por meio da convocação da Assembléia Nacional Constituinte que redigiria a nova Constituição).
Política de eliminação
O método do "desaparecimento" forçado é utilizado para eliminar, sem deixar vestígios, centenas de membros da União Patriótica.
Contudo, alguns meses após a apresentação pública do novo movimento, várias violações dos acordos conduziram ao malogro da negociação.
A guerrilha concentrou-se nas suas zonas de influência e a União Patriótica manteve-se no espaço público.
Embora o Estado tenha se comprometido a favorecer sua ação política, os primeiros homicídios atingiram o movimento a partir de meados de 1985.
Desde então, uma intenção criminosa se manifesta, visando destruir a UP: uma combinação de atos criminosos e de perseguição e de esfacelamento que tendem a provocar a eliminação total ou parcial do grupo opositor.
Centenas dos seus membros e simpatizantes foram assassinados em massacres.
Em 11 de novembro de 1988, por exemplo, quarenta militantes foram executados publicamente na praça central de Segóvia, departamento de Antioquia.
Produzindo-se de maneira simultânea, estes homicídios coletivos prolongam-se no tempo por meio de crimes individuais que visam destruir comunidades determinadas.
Famílias inteiras são perseguidas, à imagem dos Cañon-Trujillo - que, devido a sua militância, viram, desde 1986, quatro dos seus familiares assassinados.
O método do "desaparecimento" forçado é utilizado igualmente para eliminar, sem deixar vestígios, centenas de membros do movimento.
Silêncio imposto
As testemunhas são forçadas ao silêncio, assim como os sobreviventes ou os pais das vítimas que reclamam justiça. Contra os eleitos e os líderes do grupo, é empregado o método do assassinato seletivo.
Dois candidatos às eleições presidenciais, Jaime Pardo Leal e Bernardo Jaramillo Ossa, foram assim eliminados, respectivamente, em 1987 e 1990.
Em 1994, a UP perde o seu último membro do Parlamento, com o assassinato do senador Manuel Cepeda Vargas.
Anteriormente, oito parlamentares foram vítimas de atentados mortais, quase sempre em seu domicílio.
Centenas de prefeitos e representantes dos poderes locais foram mortos.
Por vezes, assistiu-se ao assassinato sucessivo de quatro prefeitos integrantes do movimento numa mesma localidade. As sedes da UP sofreram mais de trinta atentados à bomba.
Quanto às testemunhas, são forçadas ao silêncio, assim como os sobreviventes ou os pais das vítimas que reclamam justiça.
O resultado desta estratégia multiforme de perseguição foi a morte violenta de mais de 3 mil pessoas e o deslocamento ou o exílio forçados de um número indeterminado - a base social desta coletividade política.
Tais números têm um caráter provisório. Ainda hoje multiplicam-se perseguições, ameaças e execuções.
A grande maioria dos casos permanece coberta por uma impunidade total.
Num relatório especial, o Escritório do Ombudsman assinalou que dos numerosos atos de violência cometidos contra a UP entre 1985 e 1992, a Justiça ordenou sentenças condenatórias em apenas quatro casos.
O Estado colombiano sempre se recusou a reconhecer sua responsabilidadenesta eliminação sistemática.
Eximiu-se de adotar qualquer medida que tendesse a admitir que os autores de tais atos são membros da força pública que agem freqüentemente em companhia de paramilitares, e deu a entender que o que aconteceu com a UP seria o resultado de "fatos individuais e sem relações" cometidas por narcotraficantes durante vinganças locais ou por delinqüentes comuns.
Legitimação da violência
Tenta-se justificar os massacres no contexto da violência generalizada, cuja explicação seria a reação natural às atrocidades cometidas pela guerrilha.
Legitimando a violência exercida, certos funcionários do Estado sustentaramque, em última instância, o destino sofrido pela UP era "previsível", por se tratar de um movimento nascido de acordos com a guerrilha.
Do mesmo modo, procuraram minimizar os massacres cometidos, "feitos entre tanto outros", no contexto da violência generalizada, cuja explicação seria a reação natural às atrocidades cometidas pela guerrilha.
Mesmo o atual presidente da república, Álvaro Uribe Vélez, afirmou, quando de sua campanha eleitoral, que "o erro" cometido com a UP era compreensível, porque não se pode "combinar a política com os fuzis".
O silêncio de influentes setores da sociedade colombiana - como a alta hierarquia da Igreja Católica - perante a legitimação pública desta onda de criminalidade contribuiu para a consolidação de um ambiente de permissividade generalizada diante da cadeia ininterrupta de atos de violência.
A campanha de extermínio foi selada por uma medida administrativa que privou o grupo de oposição de qualquer estatuto legal, quando o Conselho Nacional Eleitoral afirmou que a UP "não reúne o número de sufrágios eleitorais necessários" para a renovação da sua personalidade jurídica.
Esta medida não somente constitui um obstáculo legal à ação pública dos sobreviventes do movimento, mas tem também um evidente significado simbólico: após a destruição física do grupo político pelo poder de Estado, este legaliza o seu "falecimento" através de uma decisão oficial.
Genocídio político
As vítimas e os sobreviventes da UP exigiram que os fatos fossem reconhecidos como tendo caráter de "genocídio" com motivos políticos.
A destruição desta corrente de oposição provém da tradição de exclusão e sectarismo político historicamente enraizada na Colômbia.
Durante a segunda metade do século passado, a violência política custou a vida de opositoresde diversas tendências e origens.
Nos anos 1940 e 1950, milhares de partidários e simpatizantes do movimento de Jorge Eliécer Gaitán - líder do liberalismo popular, assassinado em 1948 - foram vítimas de atentados ou de massacres executados por grupos paramilitares promovidos pelos governos conservadores.
Do mesmo modo, os opositores à hegemonia dos partidos liberal e conservador, ou seus dissidentes, se viram tradicionalmente confrontados com perseguições sistemáticas. Tais crimes ocorreram não somente em situação de conflito armado, mas também no âmbito da negociação ou da aplicação de acordos de paz. Em cada um desses processos, a norma foi
o assassinato do porta-voz dos grupos armados de oposição, seja durante os períodos de negociação ou quando da sua reintegração à vida legal.
Confrontados com a ausência de garantias para obter justiça, as vítimas e os sobreviventes da UP recorreram a instâncias internacionais e, em especial, aos mecanismos propostos para esse efeito pela Organização dos EstadosAmericanos (OEA).
Neste quadro, a Comissão Interamericana dos Direitos do Homem (CIDH) admitiu o caso "11.227" no qual é examinada a exterminação da UP, a pedido da associação "Reiniciar" e da Comissão Colombiana dos Juristas.
As vítimas e os sobreviventes da UP exigiram que os fatos fossem reconhecidos como tendo um caráter de "genocídio" com motivos políticos.
A Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio (1948) estipula que se pode falar em genocídio apenas quando a ação de destruição é dirigida contra grupos de caráter nacional, étnico, racial ou religioso.
Contudo, o debate contemporâneo sobre a doutrina do direito internacional e as ciências sociais responsáveis pelo estudo desta forma de violência extrema tende a reforçar a convicção de que é necessário alargar o âmbito da aplicação deste conceito aos massacres globais cometidos contra coletividades que se identificam pelos ideais políticos.
Sob o comando do Estado
Os sobreviventes do grupo político trouxeram provas sobre a existência de pelo menos cinco planos desenvolvidos desde as altas esferas do Estado.
Em 1985, Benjamin Whitaker, relator especial da ONU sobre questões de genocídio, reconhecia no seu relatório a necessidade de incluir outros grupos (sociais, sexuais, políticos) na definição da Convenção contra o genocídio. Em novembro de 1998, o Tribunal Nacional Espanhol reviu suas competências para julgar os membros da junta militar argentina.
Numa decisão unânime, declarou-se habilitado a convocar por delito de genocídio os militares que, entre 1976 e 1983, tentaram eliminar um grupo devido às suas convicções políticas.
A sentença assinala: "o que caracteriza o genocídio é o extermínio de um grupo por razões raciais, religiosas, políticas ououtras". E o Tribunal acrescenta que, no caso em questão, houve tentativa de"depuração ideológica" dos que "não tinham lugar no projeto de reorganização nacional".
No âmbito do sistema regional de proteção dos direitos humanos, os conselheiros jurídicos do Estado colombiano têm entendido inicialmente que o caso da UP não podia ser recebido pela Comissão Interamericana, pois se trata de fatos de violência "não ligados entre si".
Do seu lado, a CIDH assinala no relatório 5/97 sobre a admissibilidade deste caso que "os requerentes apresentaram argumentos que visam estabelecer uma prática de assassinatos políticos de massa e a perseguição extrema dos membros da União Patriótica com a intenção de eliminar fisicamente o partido e de diluir a sua força política".
Neste mesmo relatório, a instância internacional pronuncia-se em prol da análise do caso com base na existência de elementos suficientes para determinar "uma norma de perseguição".
A colocação em evidência das ações sistemáticas permitiria demonstrar que os casos da UP, aparentemente isolados, corresponderiam a um esquema de extermínio dirigido de maneira orquestrada.
Os sobreviventes do grupo político trouxeram provas sobre a existência de pelo menos cinco planos desenvolvidos desde as altas esferas do Estado. Os planos de extermínio regional "Esmeralda" (1988) e "Retorno" (1993) teria tido como objetivo fazer desaparecer várias seções regionais da UP.
De amplitude nacional, a"Operação Condor" (1985) e os planos "Baíle Rojo" (1986) e "Golpe de Gracia"(1992) teriam visado minar as estruturas de direção do movimento e assassinar ou seqüestrar seus líderes eleitos das estruturas de Estado.
Em busca de um acordo
No âmbito do processo perante a CIDH, atualmente é discutida uma solução amigável entre o governo colombiano e as vítimas da UP.
Conseqüência da pressão das vítimas e dos sobreviventes, o código penal colombiano atualmente em vigor reconheceu a figura do genocídio por motivos políticos crime atroz, que este sumário normativo define como fato "de destruir total ou parcialmente um grupo por razões políticas" e provocar a morte dos seus membros "por pertencer a este último".
No âmbito do processo levado a efeito perante a CIDH, atualmente são discutidos os termos de uma solução amigável entre o governo colombiano e as vítimas da UP.
Esta diligência deve conduzir a um eventual acordo que considera o direito à verdade e à justiça. Caso contrário, induziria a continuação do processo, levando a uma possível condenação do Estado colombiano.
Em 9 de fevereiro de 2004, por meio de uma declaração do vice-presidente da República, Francisco Santos, o governo anunciou que estava disposto a avançar na busca de uma solução amigável.
Nesta declaração pública foi afirmado que os crimes maciços cometidos contra a UP constituem-se em "uma página vergonhosa da história do nosso país". Contudo, algumas horas após este anúncio oficial, Santos recomeçava a eximir a responsabilidade do Estado.
Diante dos meios de comunicação, e utilizando os militantes do movimento como bodes expiatórios, o vice-presidente afirmou que os crimes seriam obra dos narcotraficantes que, num contexto de polarização, teriam realizado "acertos de contas" com guerrilhas.
O pretexto antiterrorista
Sob pretexto de ação antiterrorista, militantes são presos e exibidos diante das câmaras de TV, apresentados como membros de organizações armadas subversivas
Como não duvidar da sinceridade do poder?
Sem obstáculos nem reações, atrocidades continuam a ser cometidas contra a UP.
Elementos da política de "segurança democrática" instaurada pelo presidente Álvaro Uribe Vélez incentivam o extermínio e a perseguição judicial dos sobreviventes do movimento.
Sob pretexto de ação antiterrorista, muitos de seus militantes foram presos em batidas maciças e exibidos diante das câmaras de televisão, apresentados como membros das organizações armadas subversivas.
Sob o atual governo, mais de 150 militantes da UP foram vítimas de homicídios ou de "desaparecimentos" em várias regiões do país.
Constatou-se igualmente deslocamentos maciços em zonas onde a oposição política aindaexerce influência.
Após desarticular as estruturas do movimento, entra-se numa fase que se propõe incontestavelmente eliminar os sobreviventes.
Estas novas denúncias não provocaram nenhuma ação notável do Estado para prender e julgar os organizadores das ações criminosas. Em contrapartida, assiste-se a novos procedimentos vexatórios contra as vítimas.
Assim, o corpo sem vida de Alirio Silva - líder regional da UP assassinado em 1 demarço de 2004, na região do Putumayo - foi submetido a uma cadeia de"procedimentos administrativos" que tornaram impossível o seu transporte para Bogotá antes que fosse feita uma autópsia com o objetivo de verificarse não se tratava de um "cadáver-armadilha" preparado pela guerrilha para um atentado.
Obstáculo à democracia
O ceticismo em relação à viabilidade de uma ação política de forma cidadã reforça a crença na via da violência para resolver os problemas do país
Por outro lado, desde 27 de novembro de 2002, o governo do presidente Uribe iniciou uma "reintegração à sociedade" dos grupos paramilitares.
Uma parte desta política de reintegração parece querer apoiar-se em medidas legislativas e administrativas capazes de garantir a impunidade e o perdão incondicional dos paramilitares. Isso significaria que vários dos principais autores do genocídio contra a UP seriam isentos automaticamente de qualquer responsabilidade, e que o processo de esclarecimento e reparação das vítimasseria assim seriamente prejudicado.
O conjunto dos atos de terror e de violência perpetrados contra a UP constituiu um obstáculo na perspectiva de democratização da sociedade colombiana.
E não é a única conseqüência.
Reforçando o medo de exprimir livremente a sua oposição, provocando um profundo ceticismo em relação à viabilidade de levar a cabo uma ação política de maneira cidadã, reforçaram a convicção dos que crêem apenas na via da violência para resolver os problemas do país.
(Trad.: Marcelo de Valécio)
Bill Clinton, ex-presidente dos EUA, é um dos investidores da empresa, que tem entre seus fundadores Stephen Case, fundador da AOL, James Wolfensohn, ex-presidente do Banco Mundial, e Vinod Khosla, indiano radicado nos EUA e fundador da Sun Microsystems.
A empresa, que planeja ter dez usinas no país, produz álcool combustível. Ela chegou ao Brasil há um ano.
A operação dos fiscais passou por três cidades para apurar as denúncias contra a Brenco: Campo Alegre de Goiás, Mineiros (GO) e Alto Taquari (MT).
No primeiro município, eles foram até uma casa alugada por um "gato" (aliciador de mão-de-obra) que trabalhava para a empresa, segundo o Ministério Público do Trabalho.
Ali, os 17 trabalhadores que foram resgatados comiam o que o aliciador lhes dava e reclamaram de fome, segundo o procurador do trabalho Antônio Carlos Cavalcante, que participou da ação.
Devido à chuva e à precariedade do local, dormiam em colchões molhados.
Campo Alegre de Goiás não tem nenhuma propriedade da Brenco, mas era, de acordo com o procurador, um "entreposto" para os trabalhadores que iam a Mineiros.
Nesta cidade, a empresa colocou em um hotel no centro 116 homens que iam participar do plantio da cana-de-açúcar. Lá, a infra-estrutura também era precária.
O maior problema era a superlotação, segundo o Ministério Público do Trabalho.
Depois, os fiscais foram para o alojamento da empresa, chamado de Urtigão 1.
Feito de lona, ele tinha condições aceitáveis, mas quem estava nele tinha dificuldades de sair à noite, de acordo com Cavalcante.
"Os "gatos" não deixavam o pessoal sair nem beber cachaça, para aumentar a produtividade", disse ele.
Interdição
Ainda em Mineiros, o grupo encontrou diversas irregularidades em uma das frentes de trabalho, na fazenda Laranjeiras, arrendada pela empresa.De acordo com a coordenadora do grupo móvel, Jacqueline Carrijo, foi feita a interdição do plantio da cana. "Havia falta de abrigo para as refeições e de instalações sanitárias. Não tinha também papel higiênico e sabão para que eles pudessem lavar as mãos", disse ela.
Em Alto Taquari, cerca de 1.400 trabalhadores, divididos em dois alojamentos, foram encontrados em situação precária.
"A fiação estava exposta e havia fezes boiando no banheiro", afirma Cavalcante. Os banheiros dos dois locais foram interditados por não apresentar nenhuma condição de uso.
Sem ter para onde levar os trabalhadores, o resgate não foi efetuado, mas os próprios trabalhadores cobraram a rescisão do contrato -a maioria de Maranhão, Piauí e Ceará.
Segundo Carrijo, cerca de 250 já haviam conseguido, além de acertar o término do contrato, receber as passagens de volta para as cidades de origem pagas pela Brenco.
"Eles tiveram a promessa de ficar bem alojados, ganhar muito pelo metro da cana, mas cansaram de esperar naquelas condições. Houve precipitação da empresa", disse ela.
Carrijo afirmou que os alojamentos estavam inacabados e espera que a empresa realoque as pessoas.
O procurador disse que vai ajuizar três ações civis públicas, cada uma no valor de R$ 5 milhões, por danos morais coletivos contra a empresa. Segundo ele, o objetivo é que o dinheiro seja destinado às comunidades das três cidades
O ataque do Exército colombiano que deixou 19 guerrilheiros mortos em território equatoriano vai radicalizar o cenário político na América Latina.
De um lado, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, o principal defensor das políticas dos Estados Unidos no continente. E de outro, os governos que rejeitaram a ação militar que violou as fronteiras de um país e se contrapõem – em diversos níveis – à influência estadunidense no continente.
Os antecedentes deste conflito estão na aliança político-militar entre Estados Unidos e Colômbia.
Sob o comando de Uribe, o país sul-americano iniciou uma corrida armamentista e montou o maior aparato de guerra da região, como afirma o cientista político Moniz Bandeira.
“Com população de 44 milhões de habitantes, a Colômbia possui um contingente militar de cerca de 208.600 efetivos, enquanto o Brasil, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados e mais de 190 milhões de habitantes tem um contingente de somente 287.870, a Venezuela, 82.600 e o Equador, 56.500. E relativamente ao PIB, os gastos militares da Colômbia somam mais que o dobro dos gastos do Brasil e somente se comparam aos do Chile, que é também um país militarizado”, relata o professor autor do clássico Presença dos Estados Unidos no Brasil.
O guarda-chuva desta aliança, o Plano Colômbia, nasceu ainda em 2000, quando a o país era governado por Andrés Pastrana (
Por meio desta parceria, os Estados Unidos repassam à Colômbia tecnologia militar, apoio logístico, treinamento de tropas e cerca de US$ 1,3 bilhões anuais para diversas finalidades, inclusive o financiamento da compra de equipamentos militares.
E é a própria indústria bélica dos Estados Unidos o principal fornecedor do exército colombiano.
A saída negociada
Uribe fortaleceu-se politicamente e alcançou sua reeleição com a plataforma do discurso da “tolerância zero” e da eliminação militar das guerrilhas para por fim a um conflito na Colômbia que já ultrapassa seis décadas de violência, sobretudo contra a população civil.
O presidente recebeu, no entanto, dois golpes em sua estratégia. Além de não cumprir com a promessa de exterminar os guerrilheiros, Uribe foi envolvido no escândalo da chamada “pára-política” – denúncias de ligações de seu governo com os grupos paramilitares (Leia texto).
Em outra frente, as Farc abriram uma série de diálogos com governos da América Latina e da Europa, principalmente a Venezuela e a França, com o objetivo de negociar um acordo humanitário. Nele, a guerrilha oferece a libertação de cerca de 60 reféns em troca de prisioneiros do Estado colombiano.
Chávez se empenhou no processo e conseguiu obter sucesso. Seis presos políticos deixaram o cativeiro, em uma demonstração unilateral da guerrilha de que estava disposta a trabalhar por uma saída negociada para o conflito. Uribe e Bush reagiram.
A ação militar da Colômbia matou o principal interlocutor da guerrilha nessas negociações, Raúl Reyes – porta-voz e número dois no comando das Farc.
“Uribe sabia perfeitamente, e há muito tempo, onde estava Raúl Reyes. Como também tinha conhecimento que o presidente Rafael Correa (Equador) mantinha relações estritamente humanitárias com Reyes para tratar de solucionar o problema dos reféns”,
afirmou o francês Fabrice Delloye, ex-marido e pai dos dois filhos da ex-senadora Ingrid Betancourt, seqüestrada desde 2002. Segundo ele, Uribe sabotou o processo de libertação dos reféns (Veja declarações).
Para o geógrafo André Martin, a ação foi planejada.
“É óbvio que foi uma ação calculada com os Estados Unidos, com a CIA, que vislumbram até onde podem ir as reações equatoriana e venezuelana. Isso começa a crispar todo o continente sul-americano, existem outros focos de tensão que não se podem subestimar. Para onde vai se levar isso? O que se quer, dividir o continente entre pró e antiamericanos?”, questiona (leia mais).
Em sua estratégia, o presidente colombiano não hesitou em ferir os acordos internacionais e violou a fronteira do Equador para atacar os guerrilheiros, invadir território alheio e buscar corpos e equipamentos.
“Tanto sangue correu, tantas guerras foram feitas para se erigir como princípio a inviolabilidade das fronteiras, o respeito às fronteiras, estabelecidas na ONU, consenso entre as partes. Agora, viola-se isso impunemente, não tem mais ordem mundial nenhuma, é o império da selva”, enfatiza o geógrafo.
Ofensiva
A resposta dos governos do Equador e da Venezuela foi imediata. Chávez e Correa determinaram a seus exército que se movessem para a fronteira com a Colômbia. Uribe ensaiou um pedido de desculpas, alegando que o exército respondia a um ataque dos guerrilheiros (
veja texto).Foi prontamente respondido por Correa:
“Os cadáveres estavam de pijama, isto é, não houve nenhuma recepção quente. Foram bombardeados e massacrados enquanto dormiam, com uso de tecnologia de ponta, que os localizou na selva, seguramente com a colaboração de potências estrangeiras”.
“O que está por trás dessa discussão é a hegemonia no Norte da América do Sul e da relação com os EUA. Esse é o maior impasse de origem militar que os países já enfrentaram”,
afirma Júlio Pimentel, historiador da USP. Moniz Bandeira não crê que o conflito possa desencadear em uma guerra, de fato.
“A desproporção de forças militares é muito grande, embora a Colômbia tivesse de lutar em duas frentes”, considera.
Já o brigadeiro da reserva Sérgio Ferolla, ex-presidente da Escola Superior de Guerra, não descarta a ocorrência de um conflito militar.
“As posições estão muito radicalizadas. O governo da Colômbia acusa os países de patrocinarem as guerrilhas. Uribe disse que vai denunciar Chávez na Corte de Haia. Esse conflito pode desencadear uma questão bastante séria e o Brasil tem responsabilidade grande, porque sempre foi mediador pacífico entre desavenças e conflitos de fronteiras. Como o país tem uma atuação neutra e bom relacionamento, talvez consiga atenuar o conflito”, avalia.