Foto: Sebastião Salgado
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- Até quando??
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- Quantas Roselis, quantos Eli precisarão dar suas vidas por uma Terra que é nossa?
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*“A terra deve ser de todos, não do capitalista. Não é uma propriedade absoluta. A Constituição brasileira estabelece que pesa sobre a terra uma função social, que é a produção de alimentos, a garantia de trabalho, o respeito ao meio ambiente. Ninguém pode fazer o que quiser com a terra - porque ela pertence à sociedade.”
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“A terra é um bem da natureza. Não é fruto do trabalho de ninguém. Eu duvido que algum fazendeiro com mais de mil hectares prove que comprou aquela terra pelo seu trabalho, porque isso é impossível. Todas as grandes propriedades do Brasil não foram originárias do trabalho. Ou são apropriação de terra pública, ou grilagem, ou compra fajuta ou expulsão de posseiro.”
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-Quando será implantada a prometida e necessária Reforma Agrária?
*"(...) Porque reforma agrária acontece quando são tomadas medidas de Estado que democratizem a propriedade da terra. Temos dados que mostram o contrário: nos últimos seis anos aumentou a concentração da propriedade agrária. O que está em curso no Brasil é uma contra-reforma.”
VINTE ANOS DEPOIS A HISTÓRIA CONTINUA
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31 de março de 1987
21 anos sem Roseli Nunes
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Há vinte e um anos o primeiro acampamento do MST perdia uma de suas grandes lutadoras.
No dia 31 de março de 1987, Roseli Nunes e outros três trabalhadores Sem Terra foram mortos em uma manifestação na BR 386, em Sarandi, no Rio Grande do Sul.
Ela e outras cinco agricultores protestavam por melhores condições para os agricultores e uma política agrária voltada para os camponeses.
Não existia, naquela época, política de crédito para a pequena agricultura.Naquele dia um caminhão passou por cima da barreira humana que estava formada na estrada ferindo 14 agricultores e matando três: Iari Grosseli, de 23 anos; Vitalino Antonio Mori, de 32 anos, e Roseli Nunes, com 33 anos e mãe de três filhos.
Roseli Nunes foi a mãe da primeira criança a nascer no acampamento Sepé Tiaraju, na fazenda Anonni.
Sua história inspirou dois filmes, “Terra para Rose” e “O Sonho de Rose”, de Tetê Moraes.
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Vinte um anos depois.
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31 de março de 2008
31 de março de 2008
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Sem Terra é executado dentro de casa
Sem Terra é executado dentro de casa
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Trabalhador do MST, Eli Dallemole, 42 anos, foi assassinado dentro da sua casa, no assentamento Libertação Camponesa, em Ortigueira, no Paraná, onde morava com a mulher e três filhos.
Por volta das 19h30 de domingo (30/03), dois homens encapuzados invadiram a casa de Eli e executaram o trabalhador, na frente da família.
O trabalhador vinha sendo ameaçado de morte há mais de dois anos, mas as ameaças aumentaram após o ataque de um grupo de milícias armadas ao acampamento Terra Livre, na fazenda Copramil, em Ortigueira (proximo ao pedágio da BR 376), no dia 8/3.
As famílias Sem Terra já vinham denunciando a atuação dessas milícias na região há algum tempo.
Segundo os trabalhadores, esse grupo de pistoleiros é comandado por um homem conhecido como “Zezinho”, que é pago por fazendeiros da região.
Suspeita-se que o assassinato tenha sido comandado ou mesmo praticado por este “Zezinho”. Segundo o Cope (Centro de Operações Policiais Especiais), o pistoleiro está com prisão preventiva decretada.
Essas denúncias também haviam sido encaminhadas para a Secretaria Especial de Direitos Humanos do Governo Federal e para Polícia.
O MST cobra a punição dos responsáveis por mais um assassinato de trabalhador Sem Terra e a extinção imediata das milícias armadas, que já estão se tornando corriqueiras no Paraná.
Contexto
Em outro ataque promovido pelo mesmo grupo armado ao acampamento Terra Livre, aproximadamente 15 pistoleros aterrorrizaram as 35 famílias do MST acampadas na área e queimaram todos os pertences dos trabalhadores.
Os trabalhadores ficaram apenas com a roupa do corpo. Muitos não conseguiram salvar nem seus próprios documentos.
Crianças foram ameaçadas e arrastadas pelo chão.
Mulheres e homens foram espancados.
Após o ataque sete pistoleiros foram presos em flagrante pela polícia e levados à delegacia de Ortigueira.
Foi instaurado um inquérito polícial para investigação de formação de milícia armada pelo Cope, em Curitiba.
As famílias do Terra Livre estão acampadas no local desde de 2003.
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*João Pedro Stédile