sábado, 31 de janeiro de 2009

Aroldo Correa

Foto tirada em 1972
..........??????

Graças a um abençoado Rivotril eu dormi a noite toda, não lembro de ter sonhado.
Todas as dores físicas que se concentram em meu peito machucado de
ram uma trégua e eu mergulhei no nada como se neste mar que vejo pela porta que se abre para a sacada do meu quarto.
Acordei mais cedo que o normal.

A covarde tentação de mergulhar de novo num sono artificial me espia na mesinha de cabeceira dentro de um pacotinho pequeno com suas mágicas cápsulas que me instigam:
- Vamos, sua boba, durma mais um pouco. Talvez se você acordar em pleno dia e ouvir o burburinho dos banhistas, dos vendedores de jornal, da vida, você consiga imaginar que ela continua a mesma.
Mas não continua.
Não vai continuar.
Amanhece. O céu aos poucos vai esmaecendo suas vibrantes cores alvorais (alvorais?) e se tornando acinzentado com pálidas listas amarelas.Tenho do Aroldo apenas uma única foto, tirada em 1972, ao lado de seus amigos músicos em frente a uma velha kombi. Foto típica dos medonhos anos 70.

Vou ter que abandonar a esperança de sentar ao seu lado num boteco, para beber, rir e "filosofar - pois não mais tem como.
Abandonar uma esperança é deixar um pouco de viver. Isso bem sei, já abandonei muitas.

Reli muitas vezes a mensagem que ele me mandou domingo. Foi a última mensagem que ele mandou para o grupo Conversa de Botequim. Com as palavras sempre delicadas, mas incisivas, ele me confortou pelo acidente que sofri.
- Porque nos abandonou no dia seguinte?- Como e porque não nos escreverá mais?

Passei o dia de ontem me iludindo que não era ele, que era um outro com o mesmo nome o, que tinha nos deixado.
Apesar de estar com meu peito machucado e respirando com dificuldade, esta dúvida foi o que mais me perturbou.
Troquei telefonemas com duas amigas:
- Claro que não foi o Aroldo, o nosso é Correa.
Então tá.
O mar agora claro e cheio de luzes continua com seu mesmo ritmo monótono e com seu cheiro úmido de sal..O dia amanheceu como outro qualquer e isso me parece injusto.

Há pouco tempo lendo um conto que ele escreveu sobre um homem que um dia desaparece deixando apenas o seu pijama vazio no sofá onde sentava todas as noites, tive um pequeno insight. Afastei rapidamente o pensamento mórbido que passou como um vento e agitou os meus neurônios.

Não mais escreverei para ele, não lerei suas novas notícias, não mais trocarei com ele mensagens feitas com rimas e nem brincarei de disputá-lo com a Tania, sem circunflexo...
Porque dói tanto este dia que amanhece.
Ele me agride pela sua naturalidade e pela sua força irredutível .

- Se ao menos estivesse chovendo um pouco, se ao menos uma pequena garoa nublasse a paisagem, se ao menos...

Nédier

- Acabei de acender outro cigarro e sem perceber atirei o fósforo aceso sobre o lençol. Um grande chama de luz e de fogo ergueu-se ao meu lado. Furou o lençol novo e tostou o colchão.Este fogo inesperado me mobilizou:
- Vou ter que colocar um remendo nesta porra de lençol e ainda ter que explicar porque fumava na cama tão cedo enquanto teclava este texto.
Não vou explicar nada e nem remendar este lençol azul. Vou manter o vazio formado pela chama. Há um vazio no meu peito onde parece que foi arrancado um pedaço.
(Não quero imaginar o sofrimento de sua família a quem ele tanto amava e da qual tanto se orgulhava, nem de seus amigos, como o Haroldo, o com H. Dores são imensuráveis)


Para o Aroldo Correa, sem pieguice.
Por uma necessidade que senti.

Seu chato!!
Quase taquei fogo em minha cama por tua causa.
Você sempre soube do quanto amei e respeitei você, o fato de ter verbalizado o meu carinho me consola.

Depois que escrevi sobre você e mandei para o Boteco, senti sua presença bem forte dentro de mim.
Amigos virtuais são amigos sem barreiras de tempo, de presença, de convívio pessoal. São amigos para os quais se pode contar o incontável, como muitas, que contei pra você.
Não sou espiritualista, tenho uma fé inexplicável no inexplicável, acredito em sinais, nas dicas que a vida nos dá e nem sempre percebemos.
Ontem sai, andando com dificuldade e fui até uma feirinha que vende inutilidades.
Não sou consumista, não compro nada por comprar. Conversei com alguns vendedores sobre o acidente, não é todo o dia que uma mulher entra em uma Câmara Municipal com uma caminhonete e faz um enorme rombo em sua parede. Vejo-me explicando que foi falha mecânica e sinto que as pessoas duvidam (você acreditou).
Meus hematomas e meu manquejar chama a atenção e por esta razão não saio de casa.
Ontem sai e sem nenhum motivo comprei uma enorme camiseta preta básica. Cheguei em casa e a vesti,me senti meio boba, gosto da cor preta mas aquela camiseta era a personalização de um luto. Então liguei o laptop e recebi a mensagem do Haroldo que você foi, sei lá pra onde. Antes de mim.
Fui até um espelho e me vi vestida de preto.
Então a tal camiseta aquiriu sentido para mim, comprei-a por você, para você e agora escrevendo sinto que você me lê e me compreende, mesmo sendo eu tão ridícula, tão absurda que nem eu mesmo tenho justificativas para ser assim.
É só. Sou só, como todo mundo, limitada neste corpo envelhecente que caminha em tua direção.
Beijo,
Nédier.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Com o patrocínio da Mitsubishi uma caminhonete invade a Câmara Municipal de Matinhos/PR.



Caso aparecesse um OVNI e abduzisse a mim e à minha caminhonete às 12h30min do dia 22/01/2009, no início do calçadão do balneário de Matinhos - PR, a minha surpresa não seria maior.
Eu já tinha estacionado a minha lenta Pajero TR4, (ano 2005, placa AMVW 2843, cor verde) e saído do carro com os meus netos Clara de 11 anos e Pedro de 7.
Achei que tinha deixado o veículo muito próximo a outro que já estava estacionado e retornei para fazer uma pequena manobra para deixá-lo em melhor posição.
Dei uma pequena ré coloquei o carro, que tem câmbio automático, na posição “D” e vagarosamente voltei até sentir as rodas dianteiras encostarem no meio-fio.
Foi então quando aconteceu o inexplicável.

O veículo corcoveou como um boi brabo. Subiu no meio fio em uma velocidade inusitada e absurda, uma vez que eu sempre me queixo do lento arranque da minha Pajero. Mesmo tirando o pé do acelerador e tentando puxar o freio de mão, mesmo tendo abalroado a lateral um quiosque de sorvetes que estava próximo, o carro atravessou uns 50 metros e somente parou ao investir contra a Câmara Municipal de Matinhos.
Segundo os peritos do seguro, o carro sofreu perda total.
Eu quero apenas e tão somente uma explicação plausível para o ocorrido.
Nada jamais irá apagar da minha memória a imagem dos meus netos, a expressão de pavor deles me esperando do lado de fora do carro, sendo espectadores de toda cena. Caso eles estivessem em frente ao carro teriam sido atropelados. A fatalidade seria irreversível e eu, com absoluta certeza, não teria como suportar. Penso que não sobreviveria a uma tragédia como essa.
O Pedro, de sete anos, estava quase em frente ao carro. Jamais esquecerei os seus olhos apavorados olhando os meus. Por puro reflexo ele atirou-se para trás. A Clara foi atingida por parte dos escombros do quiosque que abalroei logo de saída.
A direção travou e o TR4 atravessou como um bólido o calçadão e só parou com o último choque.
O calçadão - local do acidente - é muito movimentado: lojas, turistas, moradores que transitam livremente por ali.
Não sei como agradecer à Vida, à Deus, aos anjos, a sorte - como queiram chamar - o fato de não ter atingido ninguém, de não ter ocorrido uma tragédia sem precedentes.
(eu agradeço à Nossa Senhora Aparecida de quem eu e minha família somos devotos) Pelo tamanho do absurdo, os jornais e toda mídia falada e televisionada noticiou o fato da caminhonete desgovernada e em alta velocidade, ter adentrado à Câmara de Vereadores.
Tenho guardadas todas as matérias, inclusive à que a foto do acidente ocupa quase toda a primeira página (Jornal O Estado do Paraná, edição 23/01/2009).
Quando o TR4 enfim parou, eu percebi que sangrava muito. O air bag arranhou, queimou e contundiu meu colo e meus seios. Meu pé esquerdo ficou imediatamente inchado e escuro. Meu desespero por causa de meus netos neutralizou todas as dores naquele momento. Todos os jornais enfatizaram a atitude desta avó desesperada gritando pelos netos. Eu queria vê-los. Não tinha certeza de não tê-los atingido. Em segundos uma grande multidão se juntara em volta deles e em minha volta. Quando enfim consegui vê-los assustados, chorando e vivos, consegui chorar.
O Siate (pessoas maravilhosas), a imprensa, a polícia, me pareceram ter brotado do chão, tamanha a rapidez com que me cercaram.
A imprensa noticiou que errei ao acelerar o carro em vez de dar ré. Eu já tinha dado uma pequena ré para em seguida ter ido para frente e encostado os pneus no meio fio. Ao colocar o carro em ponto morto, ele corcoveou, subiu na calçada e ocorreu o descrito.
É impossível entender.
Na perícia feita pela seguradora, o mecânico não pode dar uma opinião bem fundamentada, uma vez a que toda a caixa de câmbio estava destruída, porém deu uma explicação razoável: como a troca de marcha é automática, logo abaixo existe o comando de arranque, o qual nunca usei. Ele comentou que já conhecia casos em que o botão muda a marcha, por ser um pouco frouxo, sai do lugar e, nesse caso, deve ter engatado uma posição diferente da correta.
Eu preciso que a Mitsubishi me explique o que sucedeu e que poderia ter causado uma grande tragédia.
Eu dirijo a mais de 30 anos e nunca provoquei nenhum acidente. Tive uma multa por estar dirigindo em um longo declive à 65 km/h quando o limite de é de 60 km/h. Manobro diariamente o meu carro e às vezes até reclamo de sua lentidão.
Nem na estrada eu consigo passar dos 100 km/h, sendo até motivo de ironia pelos meus familiares.
- Como pode um carro praticamente parado sair em uma velocidade incontrolável, bater em um obstáculo e só parar de encontro a um prédio público, felizmente vazio???
Nem eu, nem meus netos tivemos fraturas, mas estou tão contundida e tão cheia de hematomas que mal posso me mover.
O grande número de testemunhas não conseguiu entender e justificar o fato.
Ao sermos socorridos pela ambulância, exigi que fosse realizada a prova do bafômetro ou o exame de sangue para que comprovassem a minha sobriedade e fosse descartada qualquer tipo de influência química no meu comportamento. Infelizmente a polícia local não possui estes recursos.
O seguro contra terceiros cobriu todos os danos materiais.
O seguro do carro vai me ressarcir do prejuízo pela perda do veículo.
Mas o que me desespera e me mobiliza a escrever este depoimento é o fato de que este “acidente” pode ocorrer com outras pessoas e que elas possam não ter a sorte que tive.
Fui informada que na Pajero TR4 a ativação do Botão da Marcha Drive, a partir da posição neutra ocorre sem que haja necessidade de acionamento de um botão de segurança.

Exijo uma explicação técnica da Mitsubishi para este acidente, uma vez que já mandei este relato à sua filial no Brasil. Caso não hajam explicações, acionarei os meios legais para obtê-las.

Nédier Brusamolin Müller
Auditora Fiscal do Trabalho
CPF 167.786.189-49
Endereço: Rua Afonso Celso 47 Ahu
Curitiba – Paraná - Brasil
CEP 80.540270
Telefones: (041) 32525917 - 99730488

* Este texto foi feito com a colaboração de minha filha Ana Paula que foi responsável pelo Centro de Atenção à Clientes da Ford na Espanha e é mãe da Clara que foi envolvida neste "acidente".

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Entrando em 2009 ou Desventuras de uma veranista

Saindo do mar, entrando em 2009
Eu e meus netos João e Pedro

Aos primeiros minutos de 2009 eu entrei no mar vestida de cetim branco. Perdi um brinco e ganhei uma conjuntivite.
Estava só começando...
O vestido ficou um pouco transparente da cintura pra baixo o que me obrigou a cortar todas as minhas fotos, nesta altura.
É claro que, como a maioria do povo brasileiro, eu tinha bebido demais, mas no reveillon, mergulhar nas águas escuras do mar, já faz parte do meu folclore.
Houve um ano que as roupas debaixo também ficaram transparentes. Meu filho Ricardo me tirou - aos trancos – do mar e da festa. Teria me batido, não fosse ele meu filho mais novo, embora já tenha dois filhos e 1,80 m.

Dia primeiro não conta, passou meio em branco. Dor de cabeça e olhos inflamados.

Dia 2. Meu marido, minha filha Ana, sua filha, seu marido e a família dele que veio da Espanha, foram para Guaraqueçaba. Não tinha lugar pra mim. Fiquei só no apartamento da praia.
Com os olhos irritados fui a pé até Matinhos consultar o infalível Geraldo da Farmácia que há anos me atende em minhas desventuras de verão. Cheguei à farmácia, ele me olhou e foi até o estoque nos fundos. Voltou com um colírio nas mãos, colocou-o nas minhas e disse:
- Sete reais. Use quatro vezes por dia, durante três dias e tire já esta lente, só coloque terminado o tratamento.

Enxergo muito mal sem minhas lentes de contato. Meus óculos de nada me adiantam depois que me acostumei às ditas cujas.
Voltei à pé os três quilômetros até Caiobá debaixo de uma chuva de doer na pele. Protegi o meu lindo chapéu de palha - novo em folha - dentro de um saco plástico para não deformá-lo.
Lembrei a velhinha que em um cruzeiro, sentada no convés, agüentava a maior ventania segurando com as duas mãos seu chapeuzinho enterrado na cabeça. Um marinheiro chegou até ela e lhe disse baixinho:
- Minha senhora, o vento está erguendo o seu vestido e a senhora está com “as partes” expostas.
Ela respondeu:
- Não faz mal, meu filho, isso ai tem mais de 80 anos, mas o chapéu, eu comprei ontem.

Cheguei em casa tão encharcada que dava pra torcer.
Protegi o chapéu, mas não, o celular que aparentemente morreu. Mesmo depois de sido submetido a uma “secagem” com meu secador de cabelos não deu sinal de vida.
Resolvi ligar para Guaraqueçaba para comunicar que estava sem o celular e percebi que o telefone fixo tinha sido desligado por falta de pagamento. Eu não tinha notado porque continuava recebendo ligações, mas estava impedida de fazê-las.
O chapéu ficou impecável, mas o meu talão de cheques teve o mesmo destino do celular: desintegrou.
Resignadamente, me dispus a enfrentar a fila quilométrica do caixa eletrônico para tirar o extrato de minha conta, um dinheirinho e umas folhas de cheque. Quando chegou minha vez, depois de ter recebido duas mensagens de que a minha senha estava incorreta (que saudades das minhas lentes...) eu pedi para que um velhinho que estava atrás de mim na fila
que a digitasse. Como ele não escutava bem eu acabei gritando a minha senha para todos ouvirem, pelo que fui repreendida por algumas pessoas, tipo:
- A senhora não devia fazer isso, é perigoso.
O velhinho digitou e ficamos todos, eu, o velhinho e a platéia aguardando o resultado. Surgiram, então, duas palavrinhas na tela do caixa:
Senha Bloqueada.
Incomunicável, sem dinheiro e sem enxergar direito, acho que sobrevivi apenas para contar o ocorrido.

- Um feliz ano novo para todos.
Nédier

Eu e a Cláudia, mulher do Ricardo


domingo, 4 de janeiro de 2009

Revolução Cubana

Foto de Raul Corrales *

REVOLUÇÃO CUBANA

Laerte Braga


Qualquer que seja o ponto de partida que se vá usar para escrever ou falar, o que seja, sobre a revolução cubana, é preciso levar em conta um aspecto fundamental. Desde a independência dos Estados Unidos e até a célebre frase do presidente James Monroe “a América para os americanos”, que eles, os donos, entendem e enxergam a América Latina como um grande quintal onde podem despejar seus dejetos e onde podem escravizar povos inteiros a partir de governos títeres.
Foi assim quando invadiram o México conquistaram e anexaram o Texas e a Califórnia.
Nas muitas invasões “libertadoras” de países da América Central e nos governos que compravam ou impunham através das ditaduras militares, caso inclusive do Brasil na década de 60 no século XX. “América Latrina” como se costumava dizer nos anos 50 e 60.

Fulgêncio Batista não diferia de qualquer ditador em qualquer lugar do mundo.
Chame-se ele
Marcos nas Filipinas,
Videla na Argentina,
Pinochet no Chile ou
Médice no Brasil.

A ilha de Cuba era um cassino bordel das grandes máfias norte-americanas e entre essas máfias pode-se incluir tranquilamente qualquer empresa dos EUA que operava no país.
Não há diferença entre empresa privada e máfias.
Como em toda a América Central o governo de Washington sustentava ditaduras.
Somoza na Nicarágua. Trujillo na República Dominicana, ou sucessivos generais em Honduras, El Salvador, Duvivier no Haiti e vai por aí afora.
Foi numa dessas “ocupações libertadoras e democráticas” que Theodore Sorensen Roosewelt, presidente dos EUA, pronunciou a célebre frase – “big stick” (grande porrete) – com que desmanchavam ou eliminavam governos ou situações hostis aos interesses daquele país, à época a poderosa United Fruits. Ou as companhias que exploravam serviços de energia elétrica e telefonia.
Ditadores eram bem vindos à Casa Branca.
O Panamá foi um pedaço arrancado da Colômbia (hoje principal colônia dos EUA na América Latina) para que pudessem construir o canal e sobre ele manter controle absoluto.
Desde Lázaro Cardenas o México não elege um presidente identificado com o povo mexicano. As eleições são mero jogo de cena no espetáculo da democracia farsa comandada por Washington.
E foi assim na América do Sul com Perez Jimenez (Venezuela). Rojas Pinilla (Colômbia), os militares no Brasil. Pinochet no Chile e sempre que necessário havia um general e militares dispostos a cair de quatro pelo “patriotismo democrático”.
A Bolívia chegou a virar chacota entre jornalistas com a média de quatro cinco golpes de estado por mês num determinado período de sua história.
Quando um general de esquerda, Juan José Torres assumiu o governo, foi deposto, exilado e assassinado pela Operação Condor em território do Uruguai.

A revolução cubana foi a primeira grande reação popular a esse modo de ser de governos ditatoriais comandados de fora e ao sabor de interesses de mafiosos do chamado crime organizado, ou do crime legalizado (bancos, latifúndio, empresas privadas padrão General Motors). Em primeiro de janeiro de 1959 Fidel Castro e seus companheiros, dentre eles Ernesto Che Guevara, entraram em Havana.
Eram trezentos como os espartanos de Leônidas. Derrubaram Batista e com apoio popular iniciaram a construção de uma outra etapa do processo revolucionário.
A ruptura com Washington é simples de entender. Os norte-americanos acreditavam que podiam comprar Fidel Castro como costumavam fazer com “libertadores”.
Não conseguiram.
Os interesses norte-americanos não coincidiam como não coincidem com os interesses do povo cubano.
De nenhum povo em nenhum lugar do mundo.
Há cinqüenta anos a revolução sobrevive a toda a sorte de pressões, ameaças, bloqueio, tentativa de invasão (Baía dos Porcos, 1961), crise dos mísseis (1962).
Há cinqüenta anos Cuba é o ponto de partida revolucionário de latinos e hoje se espraia na revolução bolivariana em curso na Venezuela, na Bolívia, no Equador, na luta das FARCs e do ELN (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas e Exército de Libertação Nacional – última guerrilha criada por Guevara) na Colômbia.
No governo de Lugo no Paraguai.
Ortega na Nicarágua.
Nos movimentos sociais como a Via Campesina, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra).
Não se pode analisar a revolução cubana pelo que ela foi capaz de proporcionar aos cubanos tomando como medida índices e modelos do capitalismo, por uma simples razão.
O capitalismo desumaniza o ser.
O que chamam de “progresso” é privilégio de criminosos como Ermírio de Moraes – no Brasil – porque não é comum a todos, pelo contrário. Existe algo no recôndito de cada cidadão cubano que tentam apagar em cada latino. A identidade cubana, livre, indômita, digna. Não existe REDE GLOBO em Cuba e nem as pessoas andam de quatro como William Bonner por exemplo. Muito menos “heróis” são integrantes de um bordel em casa chamado Big Brother.
A dignidade de um povo não se mede por determinada marca de tênis, ou refrigerante.
Não importa que as sandálias tenham o charme de uma “havaiana”. As de Ho Chi Min, que libertou o Vietnã e derrotou os norte-americanos eram feitas de couro cru e solado de borracha de pneus usados. Importa, como lembrou Fidel Castro ao papa e funcionário norte-americano João Paulo II, que das milhões de crianças que dormiriam nas ruas do mundo naquela noite, nenhuma delas era cubana.
Cuba cumpriu um papel decisivo na libertação de Angola, impedindo que forças do deus mercado conquistassem o recém libertado país africano.
Permitiu-lhe a dignidade e se rumos outros foram tomados não é um problema de Cuba.
Cuba é a liberdade sonhada e desejada da classe trabalhadora, mesmo com laivos e vestígios de classe média, num mundo em decomposição.
Desde a depredação ambiental à desumanização do ser e sua transformação em bola de sinuca a ser encaçapada no modelo GENERAL MOTORS/MORTOS. A percepção dessa importância está menos nos erros que possam ter sido cometidos e mais no significado, na perspectiva viva que outro mundo é possível.
Como é fácil entender em nossos dias que a queda da União Soviética foi pelos acertos e não pelos erros.
O que incomoda o capitalismo, os donos do mundo, os pastinhas que pululam em todos os cantos e têm várias dimensões, é a possibilidade que o exercício da cidadania se dê de forma democrática e popular sem a farsa que vivemos em países como o Brasil.
Na educação absoluta pública, de boa qualidade, assegurada a todos.
Na saúde.
Na propriedade coletiva dos bens indispensáveis à vida.
Os prenúncios que a revolução se desintegrará com a morte de Fidel Castro, hoje fora do governo em mãos de Raul, não têm nem de longe o peso da revolução cubana e sua importância para toda a América Latina.
A revolução foi parte do processo histórico.
Sandino, Marti, Zapata...
O resgate da dignidade de um povo.
Da soberania de um país.
Uma pequena ilha que não se curvou à Coca Cola. Ou à Pepsi. Onde os carros por conta do bloqueio são velhos e amarrados com arames. Mas são carros. Não substituem o ser como a criação principal em todo o universo. A pequena ilha que sobrevive ao gigante norte-americano. A menos de um tiro de canhão de Miami, paraíso do crime organizado e do legalizado. Mas livre. Independente.
Senhora do seu nariz.
E a certeza que a liberdade e a independência não serão conquistadas sem luta como lutaram os cubanos.
É só olhar o que o nazi/sionismo impõe aos palestinos.
Ou as tentativas de golpes contra Chávez. Contra Evo Morales.
O que Cuba deixa exposto é que a luta real é de classes. Opressores e oprimidos. A História é algo vivo. “Não é carroça abandonada à beira da estrada”.

A belíssima foto foi tirada do endereço abaixo
http://www.pco.org.br/conoticias/cultura_2006/19jul_expo_cuba.htm
“A Épica Revolução Cubana”