Foto que tirei durante a Marcha Nacional de Goiânia até Brasília.
Andamos mais de 250 km, muita alegria e nenhum incidente
A foto é apenas ilustrativa não tem relação com o conto, a não ser a da maternidade consciente.
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"Sede assim – qualquer coisa serena, isenta, fiel. Flor que se cumpre sem pergunta."
Cecília Meireles
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Cecília Meireles
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.Sede assim...
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Sentada num banco da praça Osório, no colo uma sacola. O colo era para o filho e a sacola quase vazia era para ser carregada no braço. O filho ela carregara no braço até o hospital público.
Ele tinha os lábios sem cor e a respiração ofegante, ela chegou a colocar seus lábios nos dele que queimavam de febre tentando ajudá-lo respirar.
Foi atendida por uma enfermeira que, com uma inusitada piedade, tirou a criança dos seus braços e sumiu nos corredores em busca do médico de plantão. Ele chegou. Ela achou-o limpo. Bonito. Tinha uma expressão desolada.
- Onde está meu filho? - ela perguntou aflita.
- Sendo atendido. Há quanto tempo ele está assim?
- Começou hoje, ontem estava um pouco cansado e nem foi jogar bola com os amigos. Não quis jantar, fiz um mingau de aveia e lhe dei uma aspirina. Dorme comigo. Bateu-se um pouco, tirei a temperatura e vim para o ponto do ônibus correndo com dificuldade, apesar de ter apenas 4 anos, ele é pesado. Depois de duas baldeações cheguei aqui. Tão bem atendida. Depois falam mal do SUS.
- Seu nome?
- Maria.
- O do menino?
- João.
- Sente-se.
Ela se sentou obediente, estava em boas mãos.
- Nem sei como lhe dizer...
- Por favor, não diga, me devolva o menino.
- Não há mais o que fazer.
- Claro que há o que fazer. Não estou falando em enterrá-lo. Me dá o menino.
Sentada num banco da praça Osório, no colo uma sacola. O colo era para o filho e a sacola quase vazia era para ser carregada no braço. O filho ela carregara no braço até o hospital público.
Ele tinha os lábios sem cor e a respiração ofegante, ela chegou a colocar seus lábios nos dele que queimavam de febre tentando ajudá-lo respirar.
Foi atendida por uma enfermeira que, com uma inusitada piedade, tirou a criança dos seus braços e sumiu nos corredores em busca do médico de plantão. Ele chegou. Ela achou-o limpo. Bonito. Tinha uma expressão desolada.
- Onde está meu filho? - ela perguntou aflita.
- Sendo atendido. Há quanto tempo ele está assim?
- Começou hoje, ontem estava um pouco cansado e nem foi jogar bola com os amigos. Não quis jantar, fiz um mingau de aveia e lhe dei uma aspirina. Dorme comigo. Bateu-se um pouco, tirei a temperatura e vim para o ponto do ônibus correndo com dificuldade, apesar de ter apenas 4 anos, ele é pesado. Depois de duas baldeações cheguei aqui. Tão bem atendida. Depois falam mal do SUS.
- Seu nome?
- Maria.
- O do menino?
- João.
- Sente-se.
Ela se sentou obediente, estava em boas mãos.
- Nem sei como lhe dizer...
- Por favor, não diga, me devolva o menino.
- Não há mais o que fazer.
- Claro que há o que fazer. Não estou falando em enterrá-lo. Me dá o menino.
Sentada na ante sala do hospital o menino envolto em lençóis foi colocado em seus braços.
O médico afastou com um piscar de olhos a imagem da Pietá que vira no Vaticano há bem pouco tempo.
- D. Maria, acho que ele está morto.
- Não está – gritou Maria – sem nenhum respeito à autoridade médica.
- D. Maria, acho que ele está morto.
- Não está – gritou Maria – sem nenhum respeito à autoridade médica.
Saiu pelas ruas com a criança envolta em panos. Sem ter nenhum rumo entrou na Igreja Matriz, silenciosa, quase escura.
Não sabia rezar, não sabia pedir, não sabia nem o que estava fazendo ali. Não olhava o rosto do filho, mas sentia o calor muito forte vindo de seu corpo. Não queria saber se ainda respirava. Não tinha fé, não acreditava em milagres, mas tinha uma intuição que seguia - sem se auto contestar.
Perto da porta de entrada tinha uma grande pia batismal cheia de água, possivelmente cheia de germes talvez com óvulos da dengue.
Foi até lá devagar, tirou os panos do menino e afundou-o naquela água. Fria. Sentiu que ele estremeceu. Deixou-o ali até que os olhinhos do menino se abriram. Enrolou-o de novo nos panos e voltou para o hospital.
O plantonista estava logo na entrada.
- Doutor, a febre cedeu, agora cuide dele, por favor.
- D. Maria, foi um milagre!!
- Não foi, doutor foi apenas um banho frio.
O médico colocou o menino com cuidado em uma maca e desapareceu no corredor.
Ela foi para o banco da praça. "Serena, isenta, fiel, flor que se cumpre sem pergunta".
A noite caia e ela ficaria ali para levar de volta o menino saudável para casa. Ninguém iria assaltá-la. Tinha certeza.
Nédier