domingo, 14 de novembro de 2010

Sobre a dor, em um intervalo.

Desenho feito por mim, com uma caneta esferográfica, tentando transferir a dor para o papel...
O desenho é tão feio como a dor



No meu corpo saudável a energia fluía como um rio de planície. Eu chegava a sentir o prazer das correntes levando vida à flor da pele.
Era normal ser feliz comi
go mesma, as pequenas dores eram como desvios rapidamente superados.

Então foi como se uma barreira fosse colocada no percurso e minha energia fosse estancada de forma violenta. Uma fisgada na perna, outra mais forte.
A esta energia que não consegue fluir é que chamamos dor.

A pressão da água em um cano entupido pode rebentá-lo. Penso assim sobre a minha dor: um encanamento prestes a rebentar.
O bloqueio pode ser mecânico, patológico, pode ser provocado por um ferimento, uma fratura, inflamação, distensão, por tantas grandes ou pequenas coisas.

É um aviso do corpo de que algo não está como devia estar, é uma defesa é um mecanismo de preservação da vida. É um alerta. E daí? Não podíamos receber este alerta por e-mail...?

As dores são emocionais. Não dá pra pensar direito. É difícil amar o próximo quando odiamos a nós mesmos, porque a dor e as suas conseqüentes limitações tornam o corpo um fardo indesejado e incompreendido.
A dor também pode ser produto de emoções negativas que somatizamos.
Ela é pessoal, intransferível e imesurável.
A dor que sentimos é a pior de todas, não nos alivia, nem consola saber que milhares de pessoas sofrem dores terríveis, ininterruptas, mais poderosas que todos os analgésicos do mundo.

De repente a dor dá uma trégua, não sei de felicidade maior, aquele restinho de dor que vai se esvaindo é puro prazer. Não importa que ela vá voltar, importa é sentir o corpo livre dela. A falta da dor faz valorizarmos algo nunca valorizado o suficiente. A ventura quotidiana de estarmos vivos e saudáveis. Uma ventura elementar
como disse Helena Kolody de “estar ao sol, viva e sem dor”
Nédier