segunda-feira, 30 de maio de 2011

Até quando???




José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria Espírito Santo da Silva

Quatro militantes assassinados em cinco dias na Amazônia
30 de maio de 2011




O trabalhador rural Herenilton Pereira foi encontrado morto no sábado (28) no município de Nova Ipixuna. Ele estava desaparecido desde quinta-feira (26) e vivia no mesmo assentamento do casal de líderes extrativistas assassinados na terça-feira (24).


No dia do assassinato do casal, Herenilton e seu cunhado trabalhavam às margens de uma estrada a cerca de cinco quilômetros do local onde ocorreu o crime. Momentos depois, ambos presenciaram a passagem, a poucos metros deles, de dois homens em uma moto, vestidos de jaqueta e portando capacetes. Um deles carregava uma bolsa comprida no colo. As descrições coincidem com informações prestadas à polícia por testemunhas que presenciaram a entrada, no assentamento, de dois pistoleiros horas antes do crime naquela manhã.
Ainda segundo o relato do trabalhador que estava ao lado de Herenilton, uns 100 metros à frente, os supostos pistoleiros pararam a moto e um deles abordou um trabalhador e pediu informações de como chegar ao porto do Barroso, uma das saídas do assentamento em direção ao município de Itupiranga.


Na quinta feira, Herenilton saiu de casa para ir ao mesmo porto comprar peixe e não retornou. O corpo dele foi encontrado dentro do mato, antes de chegar ao porto. O agricultor tinha 25 anos, era pai de 4 filhos e vivia no assentamento desde criança.
Violência rural
Herenilton foi o quarto trabalhador rural assinassinado só nesta semana. Na terça-feira (24), os líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva, conhecido como Zé Castanha, e sua esposa Maria do Espírito Santo da Silva foram emboscados por pistoleiros em uma estrada em Nova Ipixuna, no Pará. O casal era líder dos assentados do Projeto Agroextrativista Praia Alta da Piranheira e vinham sendo ameaçados de morte por madeireiros e carvoeiros há anos.


Na sexta-feira (27), Adelino Ramos, conhecido como Dinho, sobrevivente do Massacre de Corumbiara, ocorrido em agosto de 1995, foi assassinado no município de Porto Velho (RO), enquanto vendia verduras no acampamento onde vivia. Ele foi morto por um motoqueiro, próximo ao carro da família onde estavam sua esposa e duas filhas. Dinho denunciava a ação de madeireiros na região da fronteira entre os estados de Acre, Amazônia e Rondônia e já alertava para ameaças contra sua vida.
Em nota, a CPT critica as investigações feitas até o momento.


"Até o momento não podemos afirmar que o caso tenha relação com a morte de José Cláudio e Maria, mas também não podemos descartar essa hipótese. A polícia precisa esclarecer as causas do crime. O assassinato é prova de que a polícia, depois de 5 dias das mortes dos extrativistas, sequer tinha investigado as principais rotas de fugas do assentamento que os pistoleiros possam ter usado para fugirem após cometerem os crimes. Como explicar que um assassinato, com características de pistolagem, ocorra dois dias depois e nas proximidades do local onde os extrativistas foram mortos com todo o aparato das polícias civil e federal, 'vasculhando a região' conforme anunciam?".


Tentativa de assassinato
Além das mortes, foi registrada na sexta-feira (27), uma tentativa de assassinato contra o sindicalista Almirandi Pereira, de 41 anos, vice-presidente da Associação Quilombola do Charco, de São Vicente Ferrer, no Maranhão.
Almirandi luta pela titulação do território quilombola do Charco em conflito com o empresário Gentil Gomes, pai de Manoel de Jesus Martins Gomes e Antônio Martins Gomes, recentemente beneficiados por um salvo-conduto concedido pelo TJ-MA. Os dois estão denunciados pelo Ministério Público Estadual sob a acusação de serem os mandantes do assassinato de Flaviano Pinto Neto, líder do mesmo quilombo, no dia 30 de outubro de 2010.
A tentativa ocorreu por volta das 21h30min, depois de Almirandi ter voltado de uma reunião no quilombo Charco. De acordo com seu relato, ele estava na sala de sua casa com as portas fechadas quando ouviu parar em frente um carro modelo celta, de cor preta, de onde foram feitos três disparos. Segundo a polícia civil de São Vicente Ferrer, trata-se de uma pistola calibre 380 – igual à arma utilizada para matar Flaviano. Os projéteis atingiram paredes e telhado da casa.


(Com informações da CPT)
Direitos Humanos


Do Brasil de Fato

quinta-feira, 12 de maio de 2011

"Minha reação ante a morte de Osama" - Noam Chomsky




Do Vermelho - 9 de Maio de 2011 - 15h20

"Poderiamos perguntar a nós mesmo como reagiríamos se um comando iraquiano pousasse de surpresa na mansão de George W. Bush, o assassinasse e, em seguida, atirasse seu corpo no Oceano Atlântico".

Por Noam Chomsky* , no Guernica Magazine

















Fica cada vez fica mais evidente que a operação foi um assassinato planejado, violando de múltiplas maneiras normas elementares de direito internacional.Aparentemente não fizeram nenhuma tentativa de aprisionar a vítima desarmada, o que presumivelmente 80 soldados poderiam ter feito sem trabalho, já que virtualmente não enfrentaram nenhuma oposição, exceto, como afirmara, a da esposa de Osama bin Laden, que se atirou contra eles.

Em sociedades que professam um certo respeito pela lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. Sublinho a palavra "suspeitos". Em abril de 2002, o chefe do FBI, Robert Mueller, informou à mídia que, depois da investigação mais intensiva da história, o FBI só podia dizer que "acreditava" que a conspiração foi tramada no Afeganistão, embora tenha sido implementada nos Emirados Árabes Unidos e na Alemanha.

O que apenas acreditavam em abril de 2002, obviamente sabiam 8 meses antes, quando Washington desdenhou ofertas tentadoras dos talibãs (não sabemos a que ponto eram sérias, pois foram descartadas instantâneamente) de extraditar a Bin Laden se lhes mostrassem alguma prova, que, como logo soubemos, Washington não tinha. Por tanto, Obama simplesmente mentiu quando disse sua declaração da Casa Branca, que "rapidamente soubemos que os ataques de 11 de setembro de 2001 foram realizados pela al-Qaida.

Desde então não revelaram mais nada sério. Falaram muito da "confissão" de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Bosto. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória.

Também há muita discussão sobre a cólera de Washington contra o Paquistão, por este não ter entregado Bin Laden, embora seguramente elementos das forças militares e de segurança estavam informados de sua presença em Abbottabad. Fala-se menos da cólera do Paquistão por ter tido seu território invadido pelos Estados Unidos para realizarem um assassinato político.

O fervor antiestadunidense já é muito forte no Paquistão, e esse evento certamente o exarcebaria. A decisão de lançar o corpo ao mar já provoca, previsivelmente, cólera e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.

Poderiamos perguntar como reagiriamos se uns comandos iraquianos aterrizassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem seu corpo no Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um "suspeito", mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que "tomou as decisões", quem deu as ordens de cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto" (citando o Tribunal de Nuremberg), pelo qual foram enforcados os criminosos nazistas: os centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, destruição de grande parte do país, o encarniçado conflito sectário que agora se propagou pelo resto da região.

Há também mais coisas a dizer sobre Bosch (Orlando Bosch, o terrorista que explodiu um avião cubano), que acaba de morrer pacificamente na Flórica, e sobre a "doutrina Bush", de que as sociedades que recebem e protegem terroristas são tão culpadas como os próprios terroristas, e que é preciso tratá-las da mesma maneira. Parece que ninguém se deu conta de que Bush estava, ao pronunciar aquilo, conclamando a invadirem, destruirem os Estados Unidos e assassinarem seu presidente criminoso.

O mesmo passa com o nome: Operação Gerônimo. A mentalidade imperial está tão arraigada, em toda a sociedade ocidental, que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência frente aos invasores genocidas.

É como batizar nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk (nomes de tribos indígenas dos Estados Unidos). Seria algo parecido à Luftwaffe dar nomes a seus caças como "Judeu", ou "Cigano".

Há muito mais a dizer, mas os fatos mais óbvios e elementares, inclusive, deveriam nos dar mais o que pensar.

*Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofía del MIT. É autor de numerosas obras políticas. Seus últimos livros são uma nova edição de "Power and Terror", "The Essential Chomsky" (editado por Anthony Arnove), uma coletânea de seus trabalhos sobre política e linguagem, desde os anos 1950 até hoje, "Gaza in Crisis", com Ilan Pappé, e "Hopes and Prospects", também disponível em áudio.

Fonte: Cubadebate
Postado por celvio





segunda-feira, 9 de maio de 2011

Carta a Obama, de Pérez Esquivel, Nobel de la Paz 1980





Foto:Aaron Jackson/AP


Estimado Barack
Al dirigirte esta carta lo hago fraternalmente y a la vez para expresarte la preocupación e indignación de ver como la destrucción y muerte sembrada en varios países, en nombre de la “libertad y la democracia”, dos palabras prostituidas y vaciadas de contenido, termina justificando el asesinato y es festejada como si se tratase de un acontecimiento deportivo.



Indignación por la actitud de sectores de la población de los EEUU, de jefes de Estado europeos y de otros países que salieron a apoyar el asesinato de Ben Laden, ordenado por tu gobierno y tu complacencia en nombre de una supuesta justicia
No buscaron detenerlo y juzgarlo por los crímenes supuestamente cometidos, lo que genera mayor duda, el objetivo fue asesinarlo.



Los muertos no hablan y el miedo al ajusticiado que, podría decir cosas no convenientes para los EEUU; fue el asesinato y asegurar que “muerto el perro se terminó la rabia”, sin tener en cuenta que no hacen otra cosa que incrementarla
Cuando te otorgaron el Premio Nóbel de la Paz, del cual somos depositarios, te envié una carta que decía:



"Barack me sorprendió mucho que te hayan otorgado el Nóbel de la Paz, pero ahora que lo tienes debes ponerlo al servicio de la Paz entre los pueblos, tienes toda la posibilidad de hacerlo, de terminar las guerras y comenzar a revertir la grave situación que vive tu país y el mundo".



Sin embargo has incrementado el odio y traicionado los principios asumidos en la campaña electoral ante tu pueblo, como poner fin a las guerras en Afganistán e Irak y cerrar las cárceles en Guantánamo y Abu Graib en Irak , nada de eso haz logrado hacer, por el contrario, decides comenzar otra guerra contra Libia, apoyada por la NATO y la vergonzosa resolución de las Naciones Unidas de apoyarla; cuando ese alto organismo, empequeñecido y sin pensamiento propio, ha perdido el rumbo y esta sometido a las veleidades e intereses de las potencias dominantes.
La base fundacional de la ONU es la defensa y promoción de la Paz y dignidad de entre los pueblos. Su preámbulo dice “Nosotros los pueblos del mundo…”hoy ausentes de ese alto organismo.



Quiero recordar a un místico y maestro que tiene en mi vida una gran influencia, el monje trapense de la Abadía de Getsemaní en Kentucky, Tomás Merton que dice



" La mayor necesidad de nuestro tiempo es limpiar la enorme masa de basura mental y emocional que atasca nuestras mentes y convierte toda vida política y social en una enfermedad de masas. Sin esa limpieza doméstica no podemos comenzar a ver. Si no vemos no podemos pensar.”



Eras muy joven Barack durante la guerra de Vietnam, tal vez no recuerdes la lucha del pueblo norteamericano por oponerse a la guerra
Los muertos, heridos y mutilados en Vietnam hasta el día de hoy sufren sus consecuencias.
Tomás Merton decía, frente a un matasellos del correo que acababa de llegar “The U.S. Army, key to peace”,


“El ejercito U.S., clave de la paz”.



"Ningún ejército es clave de la paz.


Ninguna nación tiene la clave de nada que no sea la guerra.


El poder no tiene nada que ver con la paz.


Cuando más aumentan los hombre el poder militar, más violan la paz y la destruyen”



He compartido y acompañado a los veteranos de guerra de Vietnam, en particular a Brian Wilson y sus compañeros quienes fueron víctimas de esa guerra y de todas las guerras.
La vida tiene ese no se que, de lo imprevisto y sorprendente de fragancia y belleza que Dios nos dio para toda la humanidad y que debemos proteger para dejar a las generaciones futuras una vida más justa y fraterna, restablecer el equilibrio con la Madre Tierra


Si no reaccionamos para cambiar la situación actual de la soberbia suicida a que están arrastrando a los pueblos a recovecos profundos donde muere la esperanza, será difícil salir y ver la luz; la humanidad merece un destino mejor.
Sabes que la esperanza es como el loto que crece en el fango y florece en todo su esplendor mostrando su belleza.
Leopoldo Marechal, ese gran escritor argentino decía que: “del laberinto se sale por arriba”.


Y creo Barack que después de seguir tu ruta equivocando caminos, te encuentras en un laberinto sin poder encontrar la salida y te entierras más y más en la violencia, en la incertidumbre, devorado por el poder dominación, arrastrado por las grandes corporaciones, el complejo industrial militar y crees tener el poder que todo lo puede y que el mundo está a los píes de los EEUU porque impone la fuerza de las armas e invades países con total impunidad.

Es una realidad dolorosa, pero también existe la resistencia de los pueblos que no claudican frente a los poderosos.
Son tan largas las atrocidades cometidas por tu país en el mundo que daría tema para largo, es un desafío para los historiadores que tendrán que investigar y saber de los comportamientos, política, grandeza y pequeñeces que ha llevado a EEUU al monocultivo de las mentes que no le permite ver otras realidades.
A Ben Laden, supuesto autor ideológico del ataque a las torres gemelas, lo identifican como el Satán encarnado que aterrorizaba al mundo y la propaganda de tu gobierno lo señalaba como el “eje del mal”, y eso les ha servido para declarar las guerras deseadas que el complejo industrial militar necesita para colocar su productos de muerte.
Sabes que investigadores del trágico 11 de septiembre, señalan que el atentado tiene mucho de “autogolpe”, como el avión contra el Pentágono y el vaciamiento anterior de las oficinas de las torres; atentado que dio motivo para desatar la guerra contra Irak y Afganistán y ahora contra Libia; argumentando en la mentira y la soberbia del poder que todo lo hacen para salvar al pueblo, en nombre de “la libertad y defensa de la democracia”, como el cinismo de decir que la muerte de mujeres y niños son “daños colaterales”. Eso lo viví en Irak, en Bagdad con los bombardeos en la ciudad y el hospital pediátrico y en el refugio de niños que fueron víctimas de esos “daños colaterales”


La palabra vaciada de valores y contenido, donde al asesinato, lo llamas muerte y que por fin EEUU ha “muerto” a Bin Laden. No trato de justificarlo bajo ningún concepto, estoy en contra de todo terrorismo tanto de esos grupos armados, como del terrorismo de Estado que tu país ejerce en diversas partes del mundo apoyando a dictadores, imponiendo bases militares e intervención armada, ejerciendo la violencia para mantenerse por el terror en el eje del poder mundial. ¿Hay un solo “eje del mal”?. ¿cómo lo llamarías?
Será por ese motivo que el pueblo de los EEUU vive con tanto miedo a las represalias de quienes llaman el “eje del mal”? El simplismo e hipocresía de justificar lo injustificable.
La Paz, es una dinámica de vida en las relaciones entre las personas y los pueblos; es un desafío a la conciencia de la humanidad, su camino es trabajoso, cotidiano y esperanzador, donde los pueblos son constructores de su propia vida y de su propia historia. La Paz no se regala, se construye y eso es lo que te falta muchacho, coraje para asumir la responsabilidad histórica con tu pueblo y la humanidad.
No puedes vivir en el laberinto del miedo y la dominación de quienes gobiernan los EEUU, desconociendo los Tratados Internacionales, los Pactos y Protocolos, de gobiernos que firman pero no ratifica nada y no cumplen ninguno de los acuerdos, pero hablan en nombre de la libertad y el derecho.


¿Cómo puedes hablar de la Paz si no quieres cumplir con nada, salvo los intereses de tu país?


¿Cómo puedes hablar de la libertad cuando tienes en las cárceles a prisioneros inocentes en Guantánamo, en los EEUU, en las cárceles de Irak, como la de Abu Graib y en Afganistán?


¿Cómo puedes hablar de los derechos humanos y la dignidad de los pueblos cuando los violas permanentemente y bloqueas a quienes no comparten tu ideología y deben soportar tus abusos?


¿Cómo puedes enviar fuerzas militares a Haití después del devastador terremoto y no ayuda humanitaria a ese sufrido pueblo?


¿Cómo puedes hablar de libertad cuando masacras a los pueblos del Oriente Medio y propagas guerras y torturas, en conflictos interminables que desangra a los palestinos e israelitas?


Barack mira para arriba de tu laberinto, puedes encontrar la estrella que te guíe, aunque sepas que nunca podrás alcanzarla, como bien lo dice Eduardo Galeano
Busca ser coherente entre lo que dices y haces, es la única forma de no perder el rumbo. Es un desafío de la vida.


El Nóbel de la Paz es un instrumento al servicio de los pueblos, nunca para la vanidad personal
Te deseo mucha fuerza y esperanza y esperamos que tengas el coraje de corregir el camino y encontrar la sabiduría de la Paz.


Adolfo Pérez Esquivel


Nobel de la Paz 1980




Buenos Aires, 5 de mayo del 2011

Terra





Durante o dia inteiro a neblina transformou a baía em uma visão difusa.
Dava pra ver a Serra do Mar como uma muralha verdolenga limitando as águas silenciosas. Poucos barcos, as pessoas que passavam na rua eram sombrias como tudo mais.
A janela parecia uma moldura de um quadro de Manet. Mas nada era impressionismo, embora parecesse etéreo, era real.Então o escurão, como um inesperado golpe de Estado, engoliu todas as visões. O silêncio absorveu os sons. Era a noite mais negra que já vira e a ausência de qualquer luz entrou fininha e insidiosa no seu peito. Não era uma antevisão da Morte, aquela escuridão era uma Vida sem luz.



A brisa fresca que tocava suave em sua pele não penetrava em seus pulmões.
Um suspiro inesperado demonstrou que era ela quem retinha o ar.



A escuridão invasiva onde gostaria de se diluir era uma sensação próxima da dor. De todas as dores físicas e emocionais que vinha dedilhando dia a dia como a um terço. Mas não era dor o que sentia, nem saudade, remorso ou expectativa.



Pensou em acender uma vela, mas a idéia de uma luz de vela revelando seu corpo pareceu inútil.



Deixou-se então mergulhar na noite. Peixe, ave, um ser noturno e sem rumo.



Quando sentiu que ia afundar numa dissolução bendita, começou chover macio.Seu corpo molhou e tomou forma. Pés na lama.



Ela era apenas Terra numa noite escura.




Guaraqueçaba, 25 de abril de 2011





Foto: Erosão de solos nus, cultivados com amendoeiras (foto de F. López Bermúdez

sábado, 7 de maio de 2011

A Vitória do Terror



A vitória do terror




Escrito por Léo Lince sociologo,
Rio de Janeiro.06-Mai-2011



A morte, na sua condição de mistério profundo, transporta qualquer cadáver para o território do sagrado. Não se trata, apenas, do sentimento de familiares, entes queridos, adeptos, mas do espanto geral diante do destino comum da condição humana. Todos haveremos de morrer e, pelo menos para o santo de cada qual, ninguém é "qualquer um". Por isso mesmo, tripudiar, comemorar, sapatear sobre os restos mortais até do pior inimigo é uma atitude infamante.



Obama mandou matar Osama e, depois do anúncio oficial do sucesso da empreitada, o espírito de vingança que habita o senso comum produziu aquilo que Zuenir Ventura chamou de "celebrações com um toque de necrofilia". Pegou muito mal. Tanto assim que houve uma mudança de eixo na cobertura jornalística do segundo dia. A euforia laudatória começou a ceder espaço para a cautela na avaliação do sentido e das múltiplas implicações do acontecido. Onde se afirmavam certezas, agora proliferam dúvidas.



Informações oriundas dos serviços secretos serão sempre interessadas e duvidosas. Mas, para o caso, não se dispõe por enquanto de outras fontes. Logo, tão cedo não se saberá o que realmente aconteceu, a não ser o que já se sabe. Tropas especiais americanas, treinadas para fazer o que fizeram, invadiram sem prévio aviso um país aliado, atacaram na calada da noite a residência onde supostamente vivia o fundador da Al-Qaeda.



Desarmado, ele foi morto e teve o seu corpo lançado em algum lugar do mar sem fim.



Local secreto para evitar romarias. Fotografias e filmes dizem ter feito, mas não mostraram. O diretor da CIA, Leon Panetta, afirmou que são imagens "horrendas", agridem sensibilidades, rosto "desfigurado" por tiros de grosso calibre, peças potencialmente "incendiárias". Os executores são sempre mais grosseiros do que os mandantes.



Retalhos de informações recolhidos nos jornais dão a entender que o serviço secreto americano já conhecia, pelo menos deste o fim do ano passado, a localização do mais procurado "inimigo da América". Os militares aliados paquistaneses, que recebem dos americanos bilhões de dólares para a "luta contra o terror", na certa, não podiam desconhecer aquele confinamento entre quartéis. Podiam ter agido antes e de outra forma. A escolha da data e o formato da operação espetacular, que superou em mídia o casamento real e a beatificação do Papa Pop, talvez encontrem explicação nos meandros trevosos da política interna americana.




As primeiras pesquisas atestam o crescimento exponencial da popularidade do postulante à reeleição. A oposição republicana ultra-reacionária que antes acuava o presidente, cobrando dele provas de sua nacionalidade, agora o elogia. O atestado de óbito de Osama substituiu com vantagem a certidão de nascimento de Obama. A história política americana, tão farta em armações e assassinatos, produz um novo giro. Nele, Osama e Obama são, na verdade, agregados de projeções simbólicas que se acumulam sobre o pêndulo enigmático da história.



Na grafia do nome, apenas uma letra os separa. Além da sonoridade comum, carregam no restante da assinatura marcas de famílias estranhas ao ocidente saxão. Barack Hussein e Bin Laden, nomes estrangeiros, são as duas personalidades de maior destaque na história recente do Império americano. Sobre o corpo agora estraçalhado de Bin Laden, o "eixo do mal" foi construído. O estrangeiro como inimigo absoluto, que está em toda parte e deve ser caçado sem dó nem piedade. O outro "estrangeiro", aquele que teria vindo para redimir os pecados do Império, fornece feição nova na qual se restaura o antes tão execrado "eixo do Bush".


Ao contrário do que se alardeia, a operação americana no Paquistão não foi uma vitória contra terrorismo. Quando um Estado se concede licença para matar, se vangloria do uso da tortura para obter resultados, viola a legislação internacional, atropela a soberania alheia, sem dúvida, pratica uma fieira de crimes que alimenta o ciclo do terror. A execução sumária de inimigos, a profanação e o desaparecimento de cadáveres nunca foram marcos positivos do processo civilizatório. É doloroso constatar, mas o que aconteceu no Paquistão foi, por todos os títulos, um exemplo modelar do pior e mais perigoso tipo de terrorismo: o terrorismo de Estado.



Léo Lince é sociólogo.

A sedução literária dos Ratos






A Sedução Literária dos Ratos




Nunca duvidei da grandeza literária dos ratos, tampouco do potencial político-simbólico na vida social destes roedores por sina e imperativo existencial. Quando Albert Camus publicou o romance “A Peste”, o mundo vivia a ressaca escabrosa da II Guerra Mundial.A narrativa da “A Peste” é ambientada na cinzenta Oran, cidade da Argélia, onde a população consome seus dias em função do trabalho e do acúmulo de riquezas. Então os ratos, misteriosamente, vão tomando a cidade. As pessoas se desesperam em vão. Outro importante livro que apresenta o rato como causa da corrosiva insônia do protagonista Naziazeno – no limite do tormento e da angústia – é “Os Ratos” de Dyonélio Machado.A literatura bem elaborada, no decorrer da história, tem registrado com fino olhar, senso crítico, humor e certa dose de ironia, o comportamento político-cultural, ilusões e desilusões do ser humano nas mais diversas sociedades, às vezes, até se dá o direito de soprar – na forma e na mensagem – um facho de luz, em tempos de dor e de obscurantismo (aqui estivemos, assim somos e vivemos ou teimamos viver)

Vale citar, por exemplo o que nos legou um Franz Kafka, José Saramago, Gabriel Garcia Marques, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto, dentre tantos e tantas.Neste tempo de banalização da vida e da morte, em que quase nada mais causa estranhamento e indignação, certamente, e de igual forma, a beleza da literatura e das relações humanas está condenada a pouca audiência. Mas a metáfora dos ratos de Camus e Dyonélio Machado ganha perenidade na medida em que refletimos principalmente sobre as atuais questões políticas.
Por ventura ou por azar, como cantaria o músico Belchior, a imagem dos ratos assaltam nosso campo de visão sempre que nos engasgamos e ficamos constrangidos, ou felizes, com intermináveis escândalos de corrupção no governo federal, estaduais e municipais, o salário exorbitante dos parlamentares (muitos deles reeleitos sucessivas vezes com nosso voto de sacrossanta miopia), desvios absurdos de verbas de saúde e de educação para o bolso de políticos mascaradamente “inocentes”, obras públicas astronomicamente superfaturadas, a estúpida especulação imobiliária num país de geografia continental, o agronegócio voraz e predador do meio ambiente, e por ai segue o elástico interminável de situações horripilantes onde a impunidade grassa como uma atroz peste bubônica a glorificar a indiferença humana.
Agora que releio o livro de Camus e penso nessas coisas todas, e sobretudo, penso na relevância da literatura na cultura de um povo, e também na importância do rato de laboratório nos estudos da biologia molecular, me vejo a balbuciar versos da canção “Ode aos Ratos” de Chico Buarque:“Saqueador da metrópole/Tenaz roedor/ De toda a esperança/ Estuporador da ilusão/ Ó meu semelhante/ filho de Deus, meu irmão.”Eis a arrebatadora sedução literária dos ratos!




Paulo Ayres Marinho, escritor