Naqueles tempos de ditadura militar, era muito difícil encontrar pessoas corajosas, que se dispusessem a defender os interesses da comunidade. Desde o início o admirei por sua sensibilidade social, por sua coerência, e franqueza. Nos encontros, costumava colocar em versos singelos, as idéias que matutava e as avaliações que fazia da política.
Por sua liderança e dedicarão, foi eleito presidente do sindicato dos trabalhadores rurais do município de Miraguai, naqueles finais da década de setenta, na onda das oposições sindicais, que renovaram nosso movimento sindical.
No sindicato, dedicou-se a organizar os pequenos agricultores na luta por preços melhores, e também, com tantos sem-terra na sua base, passou a organizar o Movimento dos Sem Terra.
Logo, transformou-se numa referência política em toda região.
Lembro dele, também, da Romaria da Terra que realizamos em 1981, na encruzilhada Natalino, com nosso primeiro grande acampamento.
Adão Pretto declamou, com um filho pequeno, uma trova gauchesca denunciando as formas capitalistas de exploração dos pequenos agricultores e a necessidade da luta. Impactou a todos os mais de 25 mil participantes.
O tempo foi passando, e em 1986 organizamos a maior ocupação de terras no Rio Grande do Sul, que foi a então fazenda Annoni. Com mais de 2,5 mil famílias. E lá estava o Adão Pretto.
Naquele mesmo ano, elegeu-se deputado estadual. Seria o primeiro deputado estadual camponês a tomar posse na Assembléia Legislativa. Uma grande vitória do movimento camponês do Rio Grande do Sul.
No início muitos colunistas da imprensa burguesa riam de seu pouco estudo, afinal tinha apenas a terceira série do primário. A resposta veio numa atuação exemplar em defesa dos pequenos agricultores e sem-terra que impactou a toda sociedade gaúcha, e lhe deu o Prêmio Springer de melhor deputado.
Depois elegeu-se deputado federal, defendendo com a mesma garra e coerência na Câmara dos Deputados e no dia-a-dia os interesses da classe trabalhadora.
Adão Pretto não era o parlamentar padrão que conhecemos. Não gostava da tribuna. Mas estava presente em todas as lutas sociais que se realizaram nesses últimos vinte anos. E as fazia repercutir no parlamento, na forma de leis ou de denúncia.
Sempre o mesmo. Simples. Com uma coerência impressionante. Nunca titubeou. O critério básico que usava em sua vida e na participação política, era se perguntar: o que interessa aos trabalhadores?
E independente de tudo, os defendia.
Também deu exemplo na sua forma de fazer campanha política. Nunca aceitou receber nenhum centavo de ajuda financeira de nenhuma empresa. Por mais que seus colegas o debochavam de perder oportunidades de receber polpudas ajudas das aracruzes, Vales, e outros corruptores. Todas as campanhas foram realizadas pela militância, e em debates das idéias e de projetos.
Os trabalhadores, o povo gaúcho perde um de seus grandes lutadores sociais.
O MST e a Via Campesina perdem um de seus líderes mais coerentes e dedicados.
Todos nós perdemos.
Mas fica seu exemplo.Que certamente o imortalizará.
Grande Adão Pretto, nos deixará saudades a todos."
João Pedro Stedile - membro da coordenação nacional do MST.
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MENSAGEM DE COMPROMISSO LIDA NA DESPEDIDA NA TUMBA.
COMPANHEIRO ADÃO PRETTO
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Como soldados em terras perseguidas, trilhamos as mesmas serras e campos. sem estradas.
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Você, como o mais experiente, foi na frente abrindo as picadas e foi nos alertando dos cuidados.
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Crescemos, com o mesmo espírito, revoltado, buscando com as massas todas as soluções.
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Vencemos, tempestades e furacões, sem nunca perder de vista a utopia pendurada no horizonte.
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Bebemos, a água límpida das fontes, de nossos formadores que plantaram nas montanhas o otimismo.
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Defendemos com eles o socialismo, e todas as conquistas verdadeiramente humanitárias.
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Cerzimos as costuras da reforma agrária, em todos os recantos das belas terras brasileiras.
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Plantamos, esperanças em todas as trincheiras, sem nunca rejeitar sequer uma missão.
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Cantamos a revolução, em versos, trovas e poesias, sem nunca tropeçar na métrica das rimas.
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Cultivamos os valores e a auto-estima, procurando pôr em ordem o comportamento e a coerência.
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E, juramos com a força da consciência, de jamais se render, vender ou se deixar cooptar.
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Agora, nesta hora, no momento da partida, não queremos que seja uma despedida, mas uma continuidade.
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Continuarás presente em todos os momentos, principalmente em nossos movimentos, que se orgulham de tê-lo conhecido, como um dos filhos mais queridos, que até hoje fez nascer, a humanidade.
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(Nosso companheiro Adão Pretto foi enterrado com a cópia desse poema de Ademar Bogo, e depois cada militante depositou um um punhado de terra do assentamento SEPE TIARAJU, QUE ELE ajudou a conquistar).
Cemitério Parque da Paz, Porto Alegre, 6 de janeiro de 2009.