Naná Vasconcelos, ao lado de Caetano Veloso, comanda orquestra de batuqueiros
Fotos: Luka Santos
Fotos: Luka Santos
José Alberto Costa
O tempo ajudou. Uma chuva torrencial deixava escapar a emoção de mais um carnaval. Parecia chorar maravilhado com o brilho multicor do Marco Zero. As luzes luziam com imensa intensidade. Os olhos, que eram cada janela do casario antigo do Bairro do Recife, permaneceram abertos e atentos aos milhares de movimentos lá em baixo. A sacada queria descer para dar uma sacada de perto nos arredores do centro antigo. Milhares de fantasias penetravam a noite molhada. Voluptuosas ganharam a noite, afora, adentro. Os relógios se apertavam para controlar os segundos que fugiam e saíam do seu controle. Os postes desejavam se aproximar ainda mais daquele encontro de maracatus. Dezesseis nações de maracatus rompiam a noite com seus ensurdecedores batuques. As alfaias tremiam ao roçar das baquetas pesadas. Abês e agogôs cantavam sons de África, sons de um Brasil multirracial. Amalgamados, os conjuntos dissipavam a noite chuvosa. Atento, o grande obelisco se esticava para participar do evento. O velho porto sorria com a posição privilegiada que tinha naquele evento monumental. Espalhava-se pelos lados, derretido de amores pelo carnaval. Microfones, instrumentos musicais, cobriam o palco, amarrados de paixão por centenas de fios eletrizados. O conjunto de luzes substituía as estrelas que choravam por cima de densas nuvens que tapavam suas visões. Os personagens: tubarão, porco, fantasias, dançavam aos sons da pesada percussão. Alfaias, agogôs, caixas, abês, fizeram a abertura do Carnaval Multicultural do Recife. Os fogos de artifício aplaudiram o marco inicial de uma festa sem par. Festa que se explica por si só, onde as lágrimas de alegria importam mais do que o simples relato de um observador apaixonado.