terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Nuvens passageiras






Encontrei esta foto.





As lembranças deste tempo distante foram surgindo como pedaços de nuvens soltas no céu da minha insônia.





Eu e meus três filhos.
Eles dormiam na minha cama, onde estamos nesta foto, até o pai chegar tarde da noite do trabalho.
Na foto, o Ricardo que está no meu colo com cara de choro, deitava entre as minhas pernas com a cabeça apoiada na minha barriga e de um lado a Ana e de outro, o Fabrício. Eu lia histórias que criava durante a tarde no meu trabalho e datilografava na minha Olympia.Os personagens tinham vida e permaneceram no meu imaginário e no deles como se fossem seres reais. Às vezes fazíamos histórias coletivas cada um criando um pedaço. Mais tarde, os alfabetizados iam pra minha cama com seus livrinhos e líamos em silêncio, até que pouco a pouco eles fechavam os olhos como se fossem pequenas janelinhas que assim cerradas pareciam protegê-los da visão da realidade permitindo-os viver seus sonhos de criança.
Na foto, visto uma camisola verde de malha vagabunda que eu chamava de "Nuvens Passageiras", em homenagem à sua estampa horrorosa.
Bons momentos perenizados em uma fotografia. Nuvens que passaram.
Eu era jovem, tive meus filhos antes dos trinta anos e aprendi com eles a ser mãe.
A felicidade era esse deitar juntos, tomar banho juntos numa grande banheira. A glória era ir aos domingos no Passeio Público ver os macaquinhos e comer mini-pastéis (na época, eu bebia Campari), brincar nos disputados balanços. Íamos também andar de pedalinho no lago do Parque Barigui onde uma vez ficamos encalhados.
Tudo era tão bom e eu tinha tanta energia que só de pensar fico cansada: trabalho, pediatra, ortopedista para as pernas do Fabrício, oftalmologista para os olhos da Ana Paula com exercícios de ortótica quase diários, ballet da Ana, Alliance do Fabrício,dentistas, dentistas, pediatras, comprar e comprar roupas (como eles cresciam!), encapar cadernos, ir nas reuniões na escola...etc, etc e tal.
Quando o pai chegava, tarde da noite, era sempre o mesmo ritual. Ele tirava o livro aberto do meu peito e o óculos pendurado no nariz e depois colocava um a um em sua cama. Era um dos poucos contatos que tinha com os filhos.Nesta época, por causa do trabalho, ele era um pai ausente, mas eu tive a presença de minha sogra que morava conosco e me ajudou a criá-los.

Nesta foto, a não ser pela cara de sono e de choro do Ricardo (eu também pareço cansada) os outros dois me parecem tranquilos e felizes.
Nuvens passageiras.
Hoje todos eles têm seus filhos.



Meus três filhos são como ramos de minha árvore, ora cheio de flores ou de frutos, ora secos como galhos no inverno que parece que nunca mais vão florescer.
Fiz tudo para criá-los bem, mas sempre me senti em falta, sabe-se lá do quê. As mães sempre se sentem culpadas.

Hoje o Fabrício é um senhor engenheiro que trabalha com hidrelétricas em seus projetos de viablidade e diz frases surpreendentes. O pequeno chorão, também engenheiro, ficou prematuramente grisalho e é coordenador de um órgão importante relacionado ao governo. Possui um humor negro arrepiante...rs...A Ana trabalha no Tribunal de Justiça e embora já seja formada em psicologia está estudando Direito com muita seriedade, Ela é engraçada, espirituosa, uma imitadora nata. Alegra qualquer ambiente.
Todos tem sua família, seu emprego, seus amigos, seu lazer...
Não tem lugar pra mim na cama deles, ainda bem!! Assim é a vida.
Nuvens passageiras.
Nédier

Um Ano Novo...Pandora e a Esperança

A Esperança faz parte do espírito humano. É uma virtude, um mal ou quem sabe, uma mistura destes dois atributos.



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Pandora, foi a primeira mulher que existiu na mitologia grega. Ela foi criada por Hefesto e Atena, auxiliados por todos os deuses sob as ordens de Zeus. Cada um lhe deu uma qualidade. Recebeu de um, a graça, de outro, a beleza, de outros, a persuasão, a inteligência, a paciência, a meiguice, a habilidade na dança e nos trabalhos manuais.
Hermes, porém, pôs no seu coração a traição e a mentira. Como coloca em cada um dos mortais....
Pandora foi enviada a Epimeteu. Prometeu recomendou a ela que não recebesse nenhum presente dos deuses. Epimeteu vendo sua radiante beleza, esqueceu o que lhe fora dito pelo irmão e a tomou como esposa.




Epimeteu tinha em seu poder uma caixa dada pelos deuses que continha todos os males do mundo. Avisou a mulher que não a abrisse. - E adianta avisar uma mulher que não abra uma caixa, que não coma uma maçã, que não gaste além da conta??
Pandora não resistiu à curiosidade. Abriu-a e os males escaparam. Por mais depressa tentasse fechá-la, somente conservou um único bem: - A ESPERANÇA. (E a Esperança não tendo escapado da caixa, permanece na caixa dos nossos corações).




Aberta a caixa todos os homens foram afligidos pelos males contidos nela. Os politeístas vêem Pandora como aquela que deu ao homem a possibilidade de se aperfeiçoar através das provas e da adversidade. Porém a Esperança dá ao homem força para enfrentar estas mesmas provas e adversidades.




Na filosofia pagã, Pandora não é a fonte do mal; ela é a fonte da força, da dignidade e da beleza, pois, sem adversidade o ser humano não poderia melhorar.



...
Cada fim de um ano cristão, eu lembro de Pandora. Da caixa que ela abriu, deixando escapar todos os males que afligem a humanidade, mas não esqueço:
...a esperança ficou.
E é com a ESPERANÇA que conseguimos levar a vida em frente. E, no fim de mais um ano, nos sentimos como uma criança sorridente movida apenas pela a esperança de dias melhores.



...



Desejo que todos, nesta passagem de ano cultivem muita ESPERANÇA em um mundo melhor e mais justo. Quando pensamos em conjunto o pensamento ganha muita força. E esta força pode promover a paz, eliminar as guerras e promover a Justiça Social.



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Um abraço,



Nédier




-foto: eu com 5 meses.
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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Rio e o Oceano

Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo.

Olha para trás, para toda a jornada,os cumes, as montanhas,o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre.

Mas não há outra maneira.

O rio não pode voltar.

Ninguém pode voltar.

Voltar é impossível na existência.

Você pode apenas ir em frente.

O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.

E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece.

Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.

Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento.

Assim somos nós.

Só podemos ir em frente e arriscar.

Coragem !!

Avance firme e torne-se Oceano!!!

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Para minha querida Joana K. que me apresentou Osho.

domingo, 11 de dezembro de 2011

A grande viagem do espírito.

Reflexões



Vale a Pena Viver... e Aprender!
A vida não espera.


Por onde você for, o tempo não pára.


O que ficou, ficou...


O que se foi, passou...
É a vida em movimento.


Somos viajantes eternos em suas trilhas.
Parece que somos passageiros na eternidade, mas a verdade é que somos eternos dentro do temporário.


Ou seja, somos o eterno no movimento da vida que segue.

Na natureza, tudo passa!


O traço característico da existência é a impermanência.
As coisas mudam...


Pessoas e situações vão e vêm em nossas vidas, entram e saem na esfera de ação do nosso viver.


A vida é assim!
Há um tempo para tudo:


o amanhecer, o meio-dia e o anoitecer.


Da mesma forma, há um tempo para


semear e colher; nascer, viver, partir, renascer e seguir...


Tudo passa!


O que marca é a experiência adquirida

As culpas e as mágoas também passam!
No rio da vida, as águas do tempo curam tudo,
pois diluem no eterno as coisas passageiras.
As coisas estranhas que aconteceram,


os dramas e as palavras que feriram, também passam...


se você permitir.


Sim, se você se permitir notar que o tempo leva tudo,


e que a vida segue...
Aquele ressentimento antigo ou aquelas emoções apagadas


que, vez por outra, bloqueiam a sua alegria


fazem parte do que é temporário, mas você é eterno.
Essas emoções passam por você,


mas que tal superá-las?
Que tal passar por elas, sem se deter,
apenas ficando a experiência
e seguindo a vida?
Sim, tudo passa mesmo!


As estações se sucedem no tempo certo:


primavera, verão, outono e inverno.


Isso é natural!


Como é natural o espírito imperecível


entrar e sair dos corpos perecíveis.


Como é natural seguir em frente,


pois o tempo não pára e a vida segue...
E, do centro da Consciência Cósmica,


o Grande Arquiteto do Universo,


o Supremo Comandante de todas as vidas


e de todos os tempos nos abençoa sempre.
As experiências vão, mas o aprendizado fica.


A evolução é inevitável!
Todos estão destinados à Consciência Cósmica,


mesmo que não entendam isso agora.


Porém, se o desentendimento é passageiro,


a felicidade advinda do processo de evoluir continuamente


será imperecível.
Tudo a seu tempo!


Enquanto evoluem e aprendem a arte de viver,


sejam felizes...


E não se detenham até alcançar a meta!
O que vale é o Amor !
Que a luz do discernimento e dos sentimentos mais elevados possa iluminar nossos corações!


Que cada dia leve consigo a maravilha do momento, que sempre passa...
Existir é um privilégio.
E viver é maravilhoso!
Paz e LUZ!


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Recebi de minha amiga Márcia Maria Campos Bortoleto este texto formatado em pps. por ameliasoares-55@hotmail.com e resolvi postá-lo aqui no blog para meus amigos.


Beijo,


Nédier



* autor desconhecido



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Diploma




Uma vida de vitória quando concluímos no


ano de 1961, no Instituto de Educação e


curso de Escola Normal.


Parabéns pelos nossos 50 anos de Formatura.







Dom




Deus dá a todos uma estrela


Uns fazem da estrela um sol


Outros nem conseguem vê-la




Profa. Helena Kolody


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A todas as minhas joviais normalistas que tanta alegria e tanto vigor me transmitiram, carinhosamente, nestes dias em que nos reencontramos, todo o meu amor e agradecimento,

Nédier

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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Curso Normal do Instituto de Educação do Paraná 50 anos de Formatura





Há 50 anos



Eu, olhem que lindinha...rs...(eu me achava horrorosa como toda a adolescente) recebendo o diploma de professora primária das mãos do Diretor Professor Flávio Molleta Maurer .




Euzinha, 50 anos depois, na reunião das normalistas dia 18 de novembro de 2011, realizada em minha casa.

A tatuagem no braço é permanente. (para o desgosto dos meus filhos tenho umas 11 tatuagens) Esta, por sinal representa o Fênix, a ave que renasce das cinzas e que considero meu símbolo...
...


Dia 18 de novembro de 2011 houve uma divertida reunião em minha casa para preparação do evento comemorativo do cinquentenário de nossa formatura que será realizado dia 10 de dezembro, sábado (amanhã) em um restaurante da cidade.
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Uma parte do grupo das "joviais normalistas" cinqüentenárias, na festa em minha casa. Eu estou no canto esquerdo, fingindo que estou fumando
um cabo de faca branca...rs... Foi mesmo uma festa!!!
..
....

...,,...


Confesso que levei um grande susto quando soube que as minhas antigas companheiras da Escola Normal estavam organizando a comemoração dos 50 anos de nossa formatura de professoras primárias do Instituto de Educação do Paraná.



Elas estavam se encontrando em uma casa de lanches e eu não pude comparecer aos dois encontros anteriores por que estava sem condições físicas.



No terceiro convite, sugeri que a reunião fosse em minha casa, elas aceitaram, vieram e me fizeram muito bem com seu vigor, alegria e descontração.



Quando minha mãe, professora, fez 50 anos de formada eu tive que levá-la à festa de comemoração. Eram umas senhoras tão bem comportadas, antiguinhas, dependentes.



Já não se fazem "velhinhas" como antigamente!!



As minhas queridas amigas, muitas das quais eu não via há 50 anos vieram dirigindo, estacionaram seus carros em minha rua como, segundo minha filha, a rua fosse delas...rs...( eu também estaciono mal...rs...).

Mas neste dia, rua ERA delas!!



A Marília Passos que toca violão e conta piadas como ninguém não pode vir, porque estaria, tocando e cantando violão em um casamento.



Aos poucos fomos nos reconhecendo e relembrando histórias divertidas da época, juro que eu não lembrava das minhas "aprontações" contadas por elas...rs...



Nenhuma delas falou da vida pessoal. Soube que umas se divorciaram, outras ficaram viúvas e outras, como eu, permaneceram casadas.



Não falamos em noras, netos, acho que esta fase foi superada...rs...



Parecíamos as adolescentes de saia azul-marinho, blusa branca e gravata com um I.E. bordado. Meias brancas e sapatos pretos. Usávamos rabo de cavalo e éramos, pensando nos dias de hoje, muito inocentes.



Namorávamos, íamos assistir filmes no meio da semana, adorávamos a nossa professora, a poeta, Helena Kolody. Tínhamos ídolos na música e no cinema, como as jovens desta idade continuam tendo.A televisão estava apenas começando a sua carreira interminável.



Minhas normalistas continuam ótimas! penso que a maioria está aposentada.



Uma grande parte continuou estudando: Direito (eu e a Rocio), Medicina ( a Tami), Pedagogia e outras áreas relacionadas ao ensino.



Há muito não me sentia tão jovem e animada!!



Eu me senti participando de um milagre!!



Beijo,



Nédier
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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Para meu marido, meus filhos e toda esta querida famiglia de amigos.

Eu, em torno de 3 anos.


As aparências não enganam, nós nos enganamos e enganamos os outros, projetando uma imagem que pensamos ser a nossa e não é.


Porque sou extrovertida, falo rápido e sou sincera os meus Brusamolin se referem a mim como a "louca da Nédier". Acho engraçado.


Ontem eu e o Odenir rimos juntos. É raro.


Porque hoje tenho duas consultas e duas sessões de fisioterapia resolvi colocar em ordem meus laudos médicos, ressonâncias, RX, exames. Neste último ano e meio eu tenho 8 laudos que além de recentes são graves. Fiz uma pilha com eles, é enorme. Meu marido riu e disse que eu devia usá-la para dar umas laudadas com força na cabeça de quem diz que minhas doenças são emocionais e que eu deveria ser internada em um hospício. Vou pensar...rs...Não tenho nenhum laudo que deponha contra a minha saúde mental.


Tudo que tenho de extremamente dolorido é do meu lado esquerdo. Sou esquerdista.


Uma enorme prótese no fêmur e quadril, que quase me matou de dor, já não dói, mas limitou meus movimentos.


Meu ombro esquerdo assustou o ortopedista (tenho três ortopedistas, um do quadril, um do ombro e outro do tornozelo).


Além de ter uma lesão de impacto séria (quebrei a ponta do ombro) uma imensa infecção na região me obriga a tomar antibióticos, analgésicos e, além da fisioterapia pulmonar, fazer outra para o ombro.


A culpa foi de eu ter insistido em nadar muito todo o dia e não ligar para a dor, até que meu braço esquerdo não pode mais dar braçadas. O médico acha que vou poder nadar de novo depois de um looongo tratamento.


Uma virose atingiu meus brônquios e nos 3 últimos meses a fio me fez tossir de forma horrorosa e eu era obrigada a andar com forro nas minhas calcinhas.


Eu tinha dificuldade de engolir, me engasgava e mudei o timbre de voz, o que levou à suspeita de um câncer, como o do Lula.


Fiz uma laringoscopia e não tenho câncer na laringe (já tive um, no seio esquerdo). Tenho laringite, faringite e descobri que a minha laringe posterior não tem uma mucosa como deveria, mas uma pele grossa e enrugada...paquidérmica...rs...


Com a tosse tudo ficou muito irritado, a comida engatava na laringe, eu engasgava e tinha mais tosse e mais dor.


Meu ginecologista que é em quem mais confio riu porque não se conformou que nenhum dos médicos me deu um xarope para aliviar a minha tosse. Ele receitou um, e parei de tossir e de fazer xixi nas calças que era o que de mais humilhante eu sentia pois não tenho nenhum problemas nem na bexiga nem nos órgãos genitais.


Sinto muita falta da natação e da musculação que sempre me mantiveram de pé e com menos dores.


Possuo três vértebras grudadas na região lombar. Duas, no pescoço que me causam terríveis dores de cabeça.


Tenho dores ainda dores causadas por um acidente de carro, onde quebrei o pé, duas raízes de dentes, queimei meu colo e tive uma lesão no meu estômago, provocada pelo impacto do air bag, que foi confundida com gastrite, mas que a endoscopia revelou um estômago em carne viva. Dor de parto.


Rompi o ligamento interno e quebrei o menisco do meu joelho esquerdo em uma queda de bicicleta em Guaraqueçaba. Um ano e meio de dor e fisioterapia diária. Há alguns anos meu tornozelo...esquerdo...sofreu uma ruptura total nos ligamentos em uma queda de 3 metros na chácara. Gesso e seis meses de fisioterapia.


Na verdade eu convivo bem com a dor. Só desmonto quando se torna insuportável e o excesso de analgésicos piora tudo. Minha família não me dá créditos nestas fases:


- A Nédier é assim mesmo.


- A mãe é assim...


- O que será que sou? Mentirosa, exagerada, criativa??


A história de usar a pilha de laudos que confirmam doenças graves, inclusive angiomas, benignos, espero, para agredir os incrédulos não deixa de ser divertida.


Nunca tive insônia quando era solteira. Há duas noites inteiras que não durmo.


A musculação, a ginástica, a dança, a natação me mantiveram em forma e fizeram eu parecer mais nova que sou, valeram a pena e vão continuar valendo quando eu puder reiniciar.


Meu marido disse que se, nestes últimos 2 anos, eu pretendesse arranjar um amante, um namorado, um gigolô, ele teria que ser, no mínimo, um enfermeiro, destes que troca fraldas, dá banho, calça sapatos, ajuda a vestir e se mantém longe de um corpo que dói.


Nédier


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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Para a minha querida Tanha, um pouco do Fernando Pessoa/Álvaro de Campos











" Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo, porque também é vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelo no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato"
Fernando Pessoa/Álvaro de Campos
.
Minha amada Tanha, que me escuta mesmo com dificuldade por causa da minha dicção "paquidérmica" e porque falo rápido demais, o que além de genético, se eu parar, esqueço o que estava falando. Sou repetitiva e você sempre me ouve e me diz calmamente palavras cheias de sabedoria. Não sei o que seria sem você.

Queria escrever palavras lindas pra te dar, busquei o Fernando Pessoa, mas discordo um pouco:



Eu apago a luz, fecho a porta e deixo de fazer barulhos de chinelo pelo corredor.
Fico sempre só em meu quarto, mas..
- Onde está o sossego de mim mesma?
- Onde está este universo barato?

.
"Insônia
Não durmo, nem espero dormir.



Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insônia da largura dos astros,



e um bocejo inútil do comprimento do mundo.
Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,



não posso escrever quando acordo de noite,



não posso pensar quando acordo de noite
—Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!
Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!
Não durmo, jazo, cadáver acordado,



sentindo,e o meu sentimento é um pensamento vazio.



Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam



- Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.
Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.

Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.
Estou escrevendo versos realmente simpáticos

—Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos…Tantos versos…
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!
Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.

Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê…
Não durmo. Não durmo. Não durmo.

Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo excepto no poder dormir!
Ó madrugada, tardas tanto…

Vem…Vem, inutilmente,trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta…
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,segundo a velha literatura das sensações.
Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.

O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
Vem, madrugada, chega!
Que horas são?

Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada…
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.

Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exactamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exactamente.
Mas não durmo.
.
Álvaro de Campos, in “Poemas”Heterónimo de Fernando Pessoa
.



Por último, um pedacinho da



Partida:



"...Não tive talvez missão alguma na terra,



Desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados



O esplendor do sentido nenhum da vida...



Toquem num arraial a marcha fúnebre minha!



Quero cessar sem consequências...



Quero ir para a morte como para uma festa ao crepúsculo"
.....



Espero que você tenha gostado, eu amo o Álvaro de Campos!



Beijo,



Nédia



...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

"É apenas uma foto na parede, mas como dói" Carlos Drummond de Andrade

Vou escrever um texto sobre a sociedade onde vivi toda uma vida. Onde vivi os momentos mais felizes dela e onde hoje foi construído um supermercado.

Vou dar poucos detalhes de como os imigrantes vindos da região do Vêneto se reuniram neste bairro que hoje se chama Ahu e construíram com muita dificuldade uma sociedade. Deram a ela o nome do rei da Itália na época. Durante a guerra mundial o nome teve que ser alterado por ser estrangeiro.

Eu me criei nesta sociedade. Lembro os meus primeiros carnavais carregada nos braços de meu pai...não sei se posso continuar, estou muito sensível e chorona .
Como nasci em novembro, minha mãe acha que fui concebida por ali, num carnaval.

Esta linda foto da Sociedade Operária do Ahu (Vitor Emanuelle II) foi tirada em 19-9-1939. Existem muitas outras, mais antigas. Foi esta sede, praticamente igual depois de tanto tempo, que foi demolida
Preciso escrever sobre a minha societá, doa a quem doer.

Esta foto parece a foto de Itabira, terra natal de Drummond. Ele nunca mais voltou à Itabira, porque dela só restou a foto e sobre ela ele escreveu " é apenas um retrato na parede, mas como dói".
Dói.

Um povo que não cultua suas raízes, não respeita seus antepassados, é um povo ignorante e sem futuro.Um país sem passado, nem país é.
Destruir o que fizeram os colonizadores deste lugar que moramos é destruir os nossos antepassados de vez.
Eu lutei o que pude, estava conseguindo o tombamento, mas o dinheiro, a ambição financeira e politiqueira, passam sempre de roldão por cima de tudo, nos deixam órfãos de nós mesmos, nos deixam sem parâmetros.
Permitiram que uma pessoa vaidosa e que não tem raízes em parte nenhuma ajudasse a destruir o que era nosso de pleno direito. Vai ser, talvez o mais rico do cemitério, com um dinheiro que herdou do filho de um italiano da região de Vêneto, um açougueiro a quem muito amei. O sem terra, sem pátria, sem dinheiro, sem cultura, sem nada, casou com a filha do açougueiro italiano. Não construiu nada. Ganhou uma herança dos nossos italianos e destruiu o que não tinha direito de destruir. Desculpem minha raiva, mas um dia eu conto o quanto esta questão foi pessoal. Escutei muitas vezes quando estava só e dito em voz baixa (Meu Deus! Por quê?)
" - Nédier, vou derrubar isso que você tanto ama". É uma promessa!
Ele não fez isso sozinho, mas com a ajuda de gente do meu sangue.
Dói.
Não acreditei, lutei contra tudo, com membros da minha família, menti para minha tia Marica, irmã de meu pai, mulher que mais amei e amo, que não iriam destruir o nosso patrimônio. Era nosso, fora feito com muito trabalho e sacrifício pelo seu pai, tios, primos, parentes e italianos que vieram na mesma época.
Ela entendeu que eu não conseguiria falar a verdade e ela, a minha amada tia Marica, quase mãe, aceitava minha mentira.
A cada boato de que a sede do clube já fora vendida, ela corria aqui em casa e eu mentia de novo e ela fingia que acreditava.
Dói.

Nédier,
filha do Berto e sobrinha-filha da Marica, que aliás tinha o belo nome de Cecília.

"Sem dúvida, o povo brasileiro tem direito à memória. Logo, ela deve ser recuperada e conservada. Assim, poder-se-á reconstituir nosso verdadeiro passado. Nossa identidade está calcada, pois, em uma interpretação duvidosa do que aconteceu ao longo desses quase 500 anos."