domingo, 17 de agosto de 2008

Contratempo - Da tristeza de perder a 23ª Romaria da Terra


18ª Romaria da Terra em Guaíra/agosto/ 2003
Tema: o circo

Meus queridos,
Eu passei uma semana difícil.
Já não sou uma pessoa com muito senso de direção, mas durante esta semana me perdi completamente, inclusive a noção dos dias e das horas.

Liguei o piloto automático e fiz o que precisava ser feito, para voltar correndo para minha cama com a Tonica, minha gata, que fica deprimida comigo e se aninha ao meu lado quietinha, coisa rara, pois ela não tem sossego.
Só hoje pela manhã, depois de uma noite mal dormida é que percebi abrindo o jornal, (que não li durante a semana) que hoje era dia 17 de agosto e que eu tinha perdido a minha Romaria da Terra - comemoração à terra e aos que a respeitam e cultivam. Esta comemoração festiva me faz feliz, como quase nada neste mundo.


Ontem à noite postei a matéria sobre esta Romaria pensando que seria no domingo que vem. Eu tinha ainda de encontrar um jeito de ir, porque foi feita em um lugar muito longe, mas eu ia.

Hoje chorei como há muito tempo não chorava e apesar desta tristeza, sei que vou superá-la aprender alguma coisa com ela, mas no momento só sinto uma grande frustração por não ter ido ao encontro dos meus queridos agricultores rurais paranaenses que tanto amo e respeito.


Sem saber disso tudo a minha querida Rosane Coelho me mandou o texto abaixo, leiam, é belíssimo. Além de poeta, acho que ela é uma "bruxinha do bem" que sintoniza à distância com os meus sentimentos. Obrigada Rosane.

Desculpem-me este "ego confiteor", esta minha super exposição de sentimentos, mas eu sou assim mesmo, quando divido minhas alegrias ou tristezas com meus amigos - virtuais ou não - sempre me sinto melhor.
Um abraço,
Nédier
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VIVA A TRISTEZA!
Zélia Duncan

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Não, vou falar mal da tristeza, não seria justo. Eu devo a ela minhas profundidades, minha imaginação, minha volta por cima. Graças a ela vislumbrei coisas importantes pra mim. Músicas que várias pessoas conhecem. Cartas, textos, coisas que ninguém vai ler, mas que me serviram em algum momento. Mergulhei no pôr-do-sol, uivei pra lua, encostei a cabeça na janela naquele dia de chuva e ouvi a música mais linda do mundo.

Num dia triste, me sentindo fora do planeta, fui ao cinema e vi "Blade runner". Num dia soturno fui caminhar na praia e vi a onda mais azul, o céu mais infinito e o horizonte mais perfeito. Num dia triste li e reli Fernando Pessoa e não me senti só.

Num dia assim triste uma criança correu e abraçou as minhas pernas, cutucou minha esperança, me confundiu com alguém querido e me fez ligar pra alguém que eu amava.

Num dia cinza eu me senti viva e quis virar lápis de cor.

Num dia oco eu procurei motivos novos e antigos para me preencher de novo e foi até divertido.

Num dia assim-assim trouxe um cachorrinho pra casa, que virou meu maior menor companheiro.

Num dia tristíssimo procurei por você e sua voz me encheu de sorrisos o resto do dia.

No dia mais triste do mundo eu perdi um amigo. No dia seguinte, ainda triste, agradeci por ter tido um dia um amigo que me valesse tanto.

Num dia infinitamente triste eu cantei, minha voz era a voz da tristeza que percorria o meu corpo. E fiz um monte de gente feliz.

E também para que não percamos o poder de ação, precisamos olhar para a tristeza, precisamos nos indignar com ela, precisamos desejar a alegria genuinamente. Com essa mania de corrigir tudo no computador, acabamos facilitando nossa fragilidade diante de tudo. Ortografias, fotos, cores, sorrisos, a vida vai virando um show de Trumman de verdade!

Você ouve uma voz, mas não tem certeza se foi corrigida ou não, vê uma foto, mas não sabe se há silicone, injeções ou Photoshop, lê um texto e a autoria fica vagando pelos sites.

Um olhar positivo sobre a vida é sempre fundamental, mas, neste mundo em que vivemos, ter como exigência o riso é quase uma falta de respeito... Ou de consciência. Sei lá, vejo as pessoas querendo morrer de rir, muitas vão ao teatro só se for comédia, e isso me assusta um pouco. Se não entrarmos em contato com as consistências das coisas e suas eventuais tristezas, como podemos acreditar na alegria quando ela vem?
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- Dedico esta página à minha amiga Rosane Coelho, uma das melhores poetas brasileiras contemporâneas.