sábado, 23 de agosto de 2008

Com licença poética - Adélia Prado

Com licença poética


Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta,

anunciou:vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não sou feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos

— dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

.

Adélia Prado Prado

PS. Roubei a imagem e a idéia de um lindo pps. que a Marisa Giglio me enviou.