O primeiro presente que recebi foi uma poesia da Clarice Lispector, que a Didi
(Maria Nadir Miranda de Carvalho, arquiteta - comadre, amiga de sempre e do coração) leu para mim no telefone. Fiquei tão emocionada que resolvi dividir o presente com vocês.
MEU DEUS
Este dia luminoso e fresco, este céu azul-bebê, este mar calmo são também presentes para mim que sobrevivi a este ano que hoje encerra. Muito obrigada, Vida!
Inspirada na Didi eu vou colocar uma poesia da Clarice que me explica um pouco.
Nédier
.
A lucidez perigosa
.
Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeitodo qual, no entanto, não se precise.
.
Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.
..
Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.
.
Apagai, pois, minha flama,
Deus,porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.
.
.PS.: Meu marido e meus filhos já telefonaram me dando parabéns, cada um com seu estilo, mas todos disseram que me amavam muito. Não preciso mais que isso para viver.
Neste instante, a Edna, que me lembra a madrinha de Cinderela, e é a caseira do prédio onde moro, entrou aqui onde escrevo, me deu parabéns e uma xícara de café quente
- Não é uma delícia!!
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Apesar de ser o meu aniversário...rs...esta postagem é em homenagem à Maria Nadir Miranda de Carvalho.