segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Meu aniversário e Clarice Lispector.

“Não me entendo e ajo como se me entendesse.”

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Hoje, 23 de novembro, é dia do meu aniversário.
O primeiro presente que recebi foi uma poesia da Clarice Lispector, que a Didi
(Maria Nadir Miranda de Carvalho, arquiteta - comadre, amiga de sempre e do coração) leu para mim no telefone. Fiquei tão emocionada que resolvi dividir o presente com vocês.



MEU DEUS
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Meu Deus, me dê a coragem de viver
trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a tua amante humilde
entrelaçada a ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de te amar;
Sem odiar as tuas ofensas
à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão
me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem
de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
Meu pecado de pensar.
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Clarice Lispector

Quebra-cabeça é uma montagem feita com atenção, carinho e muita paciência. Quando conseguimos completá-la temos a sensação de termos vencido um obstáculo. Assim deve ser a vida - um quebra-cabeça que montamos, dia a dia, ano a ano. Completá-lo deve significar o fim da missão que a Vida nos deu. Nesta montagem que fiz com uma foto minha, estou me aplaudindo e me dando parabéns por ter conseguido, com dificuldades, encaixar algumas peças neste ano que passou.
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Este dia luminoso e fresco, este céu azul-bebê, este mar calmo são também presentes para mim que sobrevivi a este ano que hoje encerra. Muito obrigada, Vida!
Inspirada na Didi eu vou colocar uma poesia da Clarice que me explica um pouco.

Nédier

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A lucidez perigosa

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Estou sentindo uma clareza tão grande

que me anula como pessoa atual e comum:

é uma lucidez vazia, como explicar?

assim como um cálculo matemático perfeito

do qual, no entanto, não se precise.

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Estou por assim dizer

vendo claramente o vazio.

E nem entendo aquilo que entendo:

pois estou infinitamente maior que eu mesma,

e não me alcanço.

Além do que:

que faço dessa lucidez?

Sei também que esta minha lucidez

pode-se tornar o inferno humano

- já me aconteceu antes.

..

Pois sei que

- em termos de nossa diária

e permanente acomodação

resignada à irrealidade -

essa clareza de realidade

é um risco.

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Apagai, pois, minha flama,

Deus,porque ela não me serve

para viver os dias.

Ajudai-me a de novo consistir

dos modos possíveis.

Eu consisto,

eu consisto,

amém.
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.PS.: Meu marido e meus filhos já telefonaram me dando parabéns, cada um com seu estilo, mas todos disseram que me amavam muito. Não preciso mais que isso para viver.

Neste instante, a Edna, que me lembra a madrinha de Cinderela, e é a caseira do prédio onde moro, entrou aqui onde escrevo, me deu parabéns e uma xícara de café quente

- Não é uma delícia!!

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Apesar de ser o meu aniversário...rs...esta postagem é em homenagem à Maria Nadir Miranda de Carvalho.