O relógio feito um conta-gotas pinga os segundos no ar em um mono tom que vai se acumulando em minha insônia como a areia fina de uma ampulheta.
- Por que será que criaram medidas para o tempo se ele é imensurável?
Olho o relógio pendurado na parede, é bonitinho. Foi feito sobre um azulejo valenciano azul e branco...
- Mas por que o pendurei em frente à minha cama??
Meus olhos ardem e ardem muito. Sem chance de que um livro, o computador ou a TV possam me amparar nesta noite que pressinto vai ser longa.
O som das ondas que terminam na areia em franjas de espuma não me tranqüiliza como deveria. É que ele faz parte de minha vida como o ar que respiro.
Apesar do banho morno, da cama macia, da roupa confortável e até de um comprimido de Rivotril meu corpo não relaxa e as pálpebras não descem sobre meus olhos doloridos.
Resolvo pingar umas gotas de colírio umectante. Pingo. O ardor aumenta e minha visão fica embaçada. Pego uma lupa da cabeceira da cama e constato que mais uma vez troquei os frascos e pinguei gotas para cólicas nos meus pobres olhos. Corro lavá-los com soro fisiológico, lavo até não mais poder e o sono vai de vez.
Volto a enxergar e vejo que uma pequena claridade filtrada pela persiana desenha listras em meus lençóis.
Com grande alívio percebo que amanhece.Vou até a varanda conferir e lá estava o novo dia surgindo do mar em luzes e em cores. Uma beleza de tirar o fôlego.
Era este o espetáculo único e majestoso que a Vida queria me dar de presente.
- Como agradecer?
A minha Nikon estava sobre a mesa da sala e eu registrei este indescritível final feliz para minha noite de insônia.
Nédier