segunda-feira, 31 de março de 2008

31 de março de 1987 - 31 de março de 2008 - Até quando??

Massacre de Eldorado dos Carajás 1996
Foto: Sebastião Salgado
.
- Até quando??

.
- Quantas Roselis, quantos Eli precisarão dar suas vidas por uma Terra que é nossa?

.
*“A terra deve ser de todos, não do capitalista. Não é uma propriedade absoluta. A Constituição brasileira estabelece que pesa sobre a terra uma função social, que é a produção de alimentos, a garantia de trabalho, o respeito ao meio ambiente. Ninguém pode fazer o que quiser com a terra - porque ela pertence à sociedade.”

.

“A terra é um bem da natureza. Não é fruto do trabalho de ninguém. Eu duvido que algum fazendeiro com mais de mil hectares prove que comprou aquela terra pelo seu trabalho, porque isso é impossível. Todas as grandes propriedades do Brasil não foram originárias do trabalho. Ou são apropriação de terra pública, ou grilagem, ou compra fajuta ou expulsão de posseiro.”

.

-Quando será implantada a prometida e necessária Reforma Agrária?


*"(...) Porque reforma agrária acontece quando são tomadas medidas de Estado que democratizem a propriedade da terra. Temos dados que mostram o contrário: nos últimos seis anos aumentou a concentração da propriedade agrária. O que está em curso no Brasil é uma contra-reforma.”


VINTE ANOS DEPOIS A HISTÓRIA CONTINUA

.

31 de março de 1987


21 anos sem Roseli Nunes
.

Há vinte e um anos o primeiro acampamento do MST perdia uma de suas grandes lutadoras.
No dia 31 de março de 1987, Roseli Nunes e outros três trabalhadores Sem Terra foram mortos em uma manifestação na BR 386, em Sarandi, no Rio Grande do Sul.
Ela e outras cinco agricultores protestavam por melhores condições para os agricultores e uma política agrária voltada para os camponeses.
Não existia, naquela época, política de crédito para a pequena agricultura.Naquele dia um caminhão passou por cima da barreira humana que estava formada na estrada ferindo 14 agricultores e matando três: Iari Grosseli, de 23 anos; Vitalino Antonio Mori, de 32 anos, e Roseli Nunes, com 33 anos e mãe de três filhos.
Roseli Nunes foi a mãe da primeira criança a nascer no acampamento Sepé Tiaraju, na fazenda Anonni.
Sua história inspirou dois filmes, “Terra para Rose” e “O Sonho de Rose”, de Tetê Moraes.

.

Vinte um anos depois.

.

31 de março de 2008
.
Sem Terra é executado dentro de casa
.

Trabalhador do MST, Eli Dallemole, 42 anos, foi assassinado dentro da sua casa, no assentamento Libertação Camponesa, em Ortigueira, no Paraná, onde morava com a mulher e três filhos.

Por volta das 19h30 de domingo (30/03), dois homens encapuzados invadiram a casa de Eli e executaram o trabalhador, na frente da família.

O trabalhador vinha sendo ameaçado de morte há mais de dois anos, mas as ameaças aumentaram após o ataque de um grupo de milícias armadas ao acampamento Terra Livre, na fazenda Copramil, em Ortigueira (proximo ao pedágio da BR 376), no dia 8/3.

As famílias Sem Terra já vinham denunciando a atuação dessas milícias na região há algum tempo.

Segundo os trabalhadores, esse grupo de pistoleiros é comandado por um homem conhecido como “Zezinho”, que é pago por fazendeiros da região.

Suspeita-se que o assassinato tenha sido comandado ou mesmo praticado por este “Zezinho”. Segundo o Cope (Centro de Operações Policiais Especiais), o pistoleiro está com prisão preventiva decretada.

Essas denúncias também haviam sido encaminhadas para a Secretaria Especial de Direitos Humanos do Governo Federal e para Polícia.

O MST cobra a punição dos responsáveis por mais um assassinato de trabalhador Sem Terra e a extinção imediata das milícias armadas, que já estão se tornando corriqueiras no Paraná.


Contexto


Em outro ataque promovido pelo mesmo grupo armado ao acampamento Terra Livre, aproximadamente 15 pistoleros aterrorrizaram as 35 famílias do MST acampadas na área e queimaram todos os pertences dos trabalhadores.

Os trabalhadores ficaram apenas com a roupa do corpo. Muitos não conseguiram salvar nem seus próprios documentos.

Crianças foram ameaçadas e arrastadas pelo chão.

Mulheres e homens foram espancados.

Após o ataque sete pistoleiros foram presos em flagrante pela polícia e levados à delegacia de Ortigueira.

Foi instaurado um inquérito polícial para investigação de formação de milícia armada pelo Cope, em Curitiba.

As famílias do Terra Livre estão acampadas no local desde de 2003.
.
*João Pedro Stédile

segunda-feira, 24 de março de 2008

COLÔMBIA:- A HISTÓRIA DE UM MASSACRE

- Por que as FARC não abandonam a luta armada, fundam um partido e disputam eleições democráticas?
Guerrilheira das FARC
.
Porque elas já tentaram isso. Em 1984 firmaram uma trégua com o então presidente da Colômbia Belisario Betancourt. As FARC abandonaram as armas e se transformaram num partido político, União Patriótica (UP).
Resultado:
o governo da Colômbia se aproveitou do fato e matou três mil militantes, oito congressistas, dois candidatos presidenciais, 11 prefeitos e 13 deputados regionais.

Você, meu arguto leitor, minha sagaz leitora, havia lido essas informações na nossa “
grande imprensa democrática”?
.

Maio/2008

COLÔMBIA:A HISTÓRIA DE UM MASSACRE

O extermínio dos membros da União Patriótica chama a atenção para uma das causas que explicam a duração e a crueldade do interminável conflito armado colombiano: uma democracia formal que camufla técnicas sofisticadas de eliminação dos opositores.

Iván Cepeda Castro e Claudia Girón Ortiz


Fora da Colômbia, sabe-se muito pouco sobre a repressão sistemática que golpeia os movimentos de oposição.
No âmbito de um conflito armado que já se eternizava, em 28 de março de1984, durante o mandato do presidente Belisario Betancur, os representantesdo Estado e a direção das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) assinaram os Acordos do Uribe. Estes estipulavam o compromisso do governo na promoção de reformas políticas, sociais e econômicas, condenavam os seqüestros e o terrorismo imputáveis ao grupo guerrilheiro, com ambas as partes exprimindo sua vontade de pôr um fim a esse tipo de prática.

Os acordos definiam ainda que, um ano após o início das negociações de paz, seria preciso fornecer as condições que permitissem ao grupo guerrilheiro "organizar-se politica, econômica e socialmente".

Desse acordo nasceu, em maio de 1985, um partido político: a União Patriótica.

Fora da Colômbia, sabe-se muito pouco sobre a repressão sistemática que, tanto ontem como hoje, golpeia no país os movimentos de oposição.

Uma perseguição permanente é ali exercida, abertamente ou de maneira dissimulada, por setores do poder do Estado, por meio das forças militares, de corpos de segurança ou com a cumplicidade dos grupos paramilitares.

De onde vem a violência

Há 50 anos, o Estado combina mecanismos legais e dispositivos ilegais que permitem o emprego arbitrário e excessivo da força.

Devido a estratégias de impunidade particularmente eficazes, e à imagem confusa que os meios de comunicação social oferecem do conflito colombiano, é difícil identificar quem são os autores dos atos de violência.

- Os gruposilegais (guerrilhas, paramilitares)?

- Os narcotraficantes?

Em todos os casos, o Estado parece de fora.

Ora, há 50 anos, o próprio Estado combina os mecanismos legais e os dispositivos ilegais que permitem um emprego arbitrário e excessivo da força.

Assim, leis (sob pretexto de estado de exceção) permitem delegar às forças armadas funções da polícia judicial.

A face escondida dessa política é constituída pelos dispositivos da "guerra suja": grupos paramilitares, atuações ilegais do exército nacional por meio de operações secretas das"brigadas de informações", ações de "guerra psicológica" etc.

Em 1985, setores que têm como objetivo comum o estudo da reconciliaçãonacional pelo viés de transformações estruturais da sociedade participam na criação da UP.

Em sua qualidade de formação pluralista de oposição, estaemite propostas inovadoras após décadas de hegemonia liberal e conservadora no país.

O seu programa propõe uma abertura para formas de democracia mais reais e profundas, incluindo mudanças sociais que visam ultrapassar a falta de eqüidade característica da sociedade. Considera igualmente a elaboração de uma nova carta constitucional (a proposta se tornaria realidade em 1991, por meio da convocação da Assembléia Nacional Constituinte que redigiria a nova Constituição).

Política de eliminação
O método do "desaparecimento" forçado é utilizado para eliminar, sem deixar vestígios, centenas de membros da União Patriótica.

Contudo, alguns meses após a apresentação pública do novo movimento, várias violações dos acordos conduziram ao malogro da negociação.

A guerrilha concentrou-se nas suas zonas de influência e a União Patriótica manteve-se no espaço público.

Embora o Estado tenha se comprometido a favorecer sua ação política, os primeiros homicídios atingiram o movimento a partir de meados de 1985.

Desde então, uma intenção criminosa se manifesta, visando destruir a UP: uma combinação de atos criminosos e de perseguição e de esfacelamento que tendem a provocar a eliminação total ou parcial do grupo opositor.

Centenas dos seus membros e simpatizantes foram assassinados em massacres.

Em 11 de novembro de 1988, por exemplo, quarenta militantes foram executados publicamente na praça central de Segóvia, departamento de Antioquia.

Produzindo-se de maneira simultânea, estes homicídios coletivos prolongam-se no tempo por meio de crimes individuais que visam destruir comunidades determinadas.

Famílias inteiras são perseguidas, à imagem dos Cañon-Trujillo - que, devido a sua militância, viram, desde 1986, quatro dos seus familiares assassinados.

O método do "desaparecimento" forçado é utilizado igualmente para eliminar, sem deixar vestígios, centenas de membros do movimento.

Silêncio imposto

As testemunhas são forçadas ao silêncio, assim como os sobreviventes ou os pais das vítimas que reclamam justiça. Contra os eleitos e os líderes do grupo, é empregado o método do assassinato seletivo.

Dois candidatos às eleições presidenciais, Jaime Pardo Leal e Bernardo Jaramillo Ossa, foram assim eliminados, respectivamente, em 1987 e 1990.

Em 1994, a UP perde o seu último membro do Parlamento, com o assassinato do senador Manuel Cepeda Vargas.

Anteriormente, oito parlamentares foram vítimas de atentados mortais, quase sempre em seu domicílio.

Centenas de prefeitos e representantes dos poderes locais foram mortos.

Por vezes, assistiu-se ao assassinato sucessivo de quatro prefeitos integrantes do movimento numa mesma localidade. As sedes da UP sofreram mais de trinta atentados à bomba.

Quanto às testemunhas, são forçadas ao silêncio, assim como os sobreviventes ou os pais das vítimas que reclamam justiça.

O resultado desta estratégia multiforme de perseguição foi a morte violenta de mais de 3 mil pessoas e o deslocamento ou o exílio forçados de um número indeterminado - a base social desta coletividade política.

Tais números têm um caráter provisório. Ainda hoje multiplicam-se perseguições, ameaças e execuções.

A grande maioria dos casos permanece coberta por uma impunidade total.

Num relatório especial, o Escritório do Ombudsman assinalou que dos numerosos atos de violência cometidos contra a UP entre 1985 e 1992, a Justiça ordenou sentenças condenatórias em apenas quatro casos.

O Estado colombiano sempre se recusou a reconhecer sua responsabilidadenesta eliminação sistemática.

Eximiu-se de adotar qualquer medida que tendesse a admitir que os autores de tais atos são membros da força pública que agem freqüentemente em companhia de paramilitares, e deu a entender que o que aconteceu com a UP seria o resultado de "fatos individuais e sem relações" cometidas por narcotraficantes durante vinganças locais ou por delinqüentes comuns.

Legitimação da violência

Tenta-se justificar os massacres no contexto da violência generalizada, cuja explicação seria a reação natural às atrocidades cometidas pela guerrilha.

Legitimando a violência exercida, certos funcionários do Estado sustentaramque, em última instância, o destino sofrido pela UP era "previsível", por se tratar de um movimento nascido de acordos com a guerrilha.

Do mesmo modo, procuraram minimizar os massacres cometidos, "feitos entre tanto outros", no contexto da violência generalizada, cuja explicação seria a reação natural às atrocidades cometidas pela guerrilha.

Mesmo o atual presidente da república, Álvaro Uribe Vélez, afirmou, quando de sua campanha eleitoral, que "o erro" cometido com a UP era compreensível, porque não se pode "combinar a política com os fuzis".

O silêncio de influentes setores da sociedade colombiana - como a alta hierarquia da Igreja Católica - perante a legitimação pública desta onda de criminalidade contribuiu para a consolidação de um ambiente de permissividade generalizada diante da cadeia ininterrupta de atos de violência.

A campanha de extermínio foi selada por uma medida administrativa que privou o grupo de oposição de qualquer estatuto legal, quando o Conselho Nacional Eleitoral afirmou que a UP "não reúne o número de sufrágios eleitorais necessários" para a renovação da sua personalidade jurídica.

Esta medida não somente constitui um obstáculo legal à ação pública dos sobreviventes do movimento, mas tem também um evidente significado simbólico: após a destruição física do grupo político pelo poder de Estado, este legaliza o seu "falecimento" através de uma decisão oficial.

Genocídio político

As vítimas e os sobreviventes da UP exigiram que os fatos fossem reconhecidos como tendo caráter de "genocídio" com motivos políticos.

A destruição desta corrente de oposição provém da tradição de exclusão e sectarismo político historicamente enraizada na Colômbia.

Durante a segunda metade do século passado, a violência política custou a vida de opositoresde diversas tendências e origens.

Nos anos 1940 e 1950, milhares de partidários e simpatizantes do movimento de Jorge Eliécer Gaitán - líder do liberalismo popular, assassinado em 1948 - foram vítimas de atentados ou de massacres executados por grupos paramilitares promovidos pelos governos conservadores.

Do mesmo modo, os opositores à hegemonia dos partidos liberal e conservador, ou seus dissidentes, se viram tradicionalmente confrontados com perseguições sistemáticas. Tais crimes ocorreram não somente em situação de conflito armado, mas também no âmbito da negociação ou da aplicação de acordos de paz. Em cada um desses processos, a norma foi
o assassinato do porta-voz dos grupos armados de oposição, seja durante os períodos de negociação ou quando da sua reintegração à vida legal.

Confrontados com a ausência de garantias para obter justiça, as vítimas e os sobreviventes da UP recorreram a instâncias internacionais e, em especial, aos mecanismos propostos para esse efeito pela Organização dos EstadosAmericanos (OEA).

Neste quadro, a Comissão Interamericana dos Direitos do Homem (CIDH) admitiu o caso "11.227" no qual é examinada a exterminação da UP, a pedido da associação "Reiniciar" e da Comissão Colombiana dos Juristas.

As vítimas e os sobreviventes da UP exigiram que os fatos fossem reconhecidos como tendo um caráter de "genocídio" com motivos políticos.

A Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio (1948) estipula que se pode falar em genocídio apenas quando a ação de destruição é dirigida contra grupos de caráter nacional, étnico, racial ou religioso.

Contudo, o debate contemporâneo sobre a doutrina do direito internacional e as ciências sociais responsáveis pelo estudo desta forma de violência extrema tende a reforçar a convicção de que é necessário alargar o âmbito da aplicação deste conceito aos massacres globais cometidos contra coletividades que se identificam pelos ideais políticos.

Sob o comando do Estado
Os sobreviventes do grupo político trouxeram provas sobre a existência de pelo menos cinco planos desenvolvidos desde as altas esferas do Estado.

Em 1985, Benjamin Whitaker, relator especial da ONU sobre questões de genocídio, reconhecia no seu relatório a necessidade de incluir outros grupos (sociais, sexuais, políticos) na definição da Convenção contra o genocídio. Em novembro de 1998, o Tribunal Nacional Espanhol reviu suas competências para julgar os membros da junta militar argentina.

Numa decisão unânime, declarou-se habilitado a convocar por delito de genocídio os militares que, entre 1976 e 1983, tentaram eliminar um grupo devido às suas convicções políticas.

A sentença assinala: "o que caracteriza o genocídio é o extermínio de um grupo por razões raciais, religiosas, políticas ououtras". E o Tribunal acrescenta que, no caso em questão, houve tentativa de"depuração ideológica" dos que "não tinham lugar no projeto de reorganização nacional".

No âmbito do sistema regional de proteção dos direitos humanos, os conselheiros jurídicos do Estado colombiano têm entendido inicialmente que o caso da UP não podia ser recebido pela Comissão Interamericana, pois se trata de fatos de violência "não ligados entre si".

Do seu lado, a CIDH assinala no relatório 5/97 sobre a admissibilidade deste caso que "os requerentes apresentaram argumentos que visam estabelecer uma prática de assassinatos políticos de massa e a perseguição extrema dos membros da União Patriótica com a intenção de eliminar fisicamente o partido e de diluir a sua força política".

Neste mesmo relatório, a instância internacional pronuncia-se em prol da análise do caso com base na existência de elementos suficientes para determinar "uma norma de perseguição".

A colocação em evidência das ações sistemáticas permitiria demonstrar que os casos da UP, aparentemente isolados, corresponderiam a um esquema de extermínio dirigido de maneira orquestrada.

Os sobreviventes do grupo político trouxeram provas sobre a existência de pelo menos cinco planos desenvolvidos desde as altas esferas do Estado. Os planos de extermínio regional "Esmeralda" (1988) e "Retorno" (1993) teria tido como objetivo fazer desaparecer várias seções regionais da UP.

De amplitude nacional, a"Operação Condor" (1985) e os planos "Baíle Rojo" (1986) e "Golpe de Gracia"(1992) teriam visado minar as estruturas de direção do movimento e assassinar ou seqüestrar seus líderes eleitos das estruturas de Estado.

Em busca de um acordo

No âmbito do processo perante a CIDH, atualmente é discutida uma solução amigável entre o governo colombiano e as vítimas da UP.

Conseqüência da pressão das vítimas e dos sobreviventes, o código penal colombiano atualmente em vigor reconheceu a figura do genocídio por motivos políticos crime atroz, que este sumário normativo define como fato "de destruir total ou parcialmente um grupo por razões políticas" e provocar a morte dos seus membros "por pertencer a este último".

No âmbito do processo levado a efeito perante a CIDH, atualmente são discutidos os termos de uma solução amigável entre o governo colombiano e as vítimas da UP.

Esta diligência deve conduzir a um eventual acordo que considera o direito à verdade e à justiça. Caso contrário, induziria a continuação do processo, levando a uma possível condenação do Estado colombiano.

Em 9 de fevereiro de 2004, por meio de uma declaração do vice-presidente da República, Francisco Santos, o governo anunciou que estava disposto a avançar na busca de uma solução amigável.

Nesta declaração pública foi afirmado que os crimes maciços cometidos contra a UP constituem-se em "uma página vergonhosa da história do nosso país". Contudo, algumas horas após este anúncio oficial, Santos recomeçava a eximir a responsabilidade do Estado.

Diante dos meios de comunicação, e utilizando os militantes do movimento como bodes expiatórios, o vice-presidente afirmou que os crimes seriam obra dos narcotraficantes que, num contexto de polarização, teriam realizado "acertos de contas" com guerrilhas.

O pretexto antiterrorista

Sob pretexto de ação antiterrorista, militantes são presos e exibidos diante das câmaras de TV, apresentados como membros de organizações armadas subversivas

Como não duvidar da sinceridade do poder?

Sem obstáculos nem reações, atrocidades continuam a ser cometidas contra a UP.

Elementos da política de "segurança democrática" instaurada pelo presidente Álvaro Uribe Vélez incentivam o extermínio e a perseguição judicial dos sobreviventes do movimento.

Sob pretexto de ação antiterrorista, muitos de seus militantes foram presos em batidas maciças e exibidos diante das câmaras de televisão, apresentados como membros das organizações armadas subversivas.

Sob o atual governo, mais de 150 militantes da UP foram vítimas de homicídios ou de "desaparecimentos" em várias regiões do país.

Constatou-se igualmente deslocamentos maciços em zonas onde a oposição política aindaexerce influência.

Após desarticular as estruturas do movimento, entra-se numa fase que se propõe incontestavelmente eliminar os sobreviventes.

Estas novas denúncias não provocaram nenhuma ação notável do Estado para prender e julgar os organizadores das ações criminosas. Em contrapartida, assiste-se a novos procedimentos vexatórios contra as vítimas.

Assim, o corpo sem vida de Alirio Silva - líder regional da UP assassinado em 1 demarço de 2004, na região do Putumayo - foi submetido a uma cadeia de"procedimentos administrativos" que tornaram impossível o seu transporte para Bogotá antes que fosse feita uma autópsia com o objetivo de verificarse não se tratava de um "cadáver-armadilha" preparado pela guerrilha para um atentado.

Obstáculo à democracia
O ceticismo em relação à viabilidade de uma ação política de forma cidadã reforça a crença na via da violência para resolver os problemas do país

Por outro lado, desde 27 de novembro de 2002, o governo do presidente Uribe iniciou uma "reintegração à sociedade" dos grupos paramilitares.

Uma parte desta política de reintegração parece querer apoiar-se em medidas legislativas e administrativas capazes de garantir a impunidade e o perdão incondicional dos paramilitares. Isso significaria que vários dos principais autores do genocídio contra a UP seriam isentos automaticamente de qualquer responsabilidade, e que o processo de esclarecimento e reparação das vítimasseria assim seriamente prejudicado.

O conjunto dos atos de terror e de violência perpetrados contra a UP constituiu um obstáculo na perspectiva de democratização da sociedade colombiana.

E não é a única conseqüência.

Reforçando o medo de exprimir livremente a sua oposição, provocando um profundo ceticismo em relação à viabilidade de levar a cabo uma ação política de maneira cidadã, reforçaram a convicção dos que crêem apenas na via da violência para resolver os problemas do país.

(Trad.: Marcelo de Valécio)

quinta-feira, 13 de março de 2008

Para os meus filhos

Eu, aos cinco anos, num baile de Carnaval!
Foto restaurada com dificuldade...
.
Meus queridos,
Hoje eu lembrei de um fato de minha infância que me marcou pra sempre. Consegui escrever sobre ele. Foi uma catarse. É
muito pessoal e só estou colocando no meu blog porque existem muitas crianças desajustadas. Para lembrar a todos que crianças precisam de estímulo e carinho, que crianças sofrem e continuam sofrendo depois de adultos por causa de pequenos gestos de descaso que podemos evitar.
Eu demorei quase quarenta anos para voltar a escrever por causa de uma pequena injustiça que levei todo este tempo para superar.
Nédier.
.
Entrei muito cedo na escola só porque minha mãe era professora. Não era permitido o ingresso de crianças menores de sete anos no primeiro ano da escola.

Quando eu ainda não tinha completado 10 anos, embora já tivesse concluído a quarta-série primária, não podia fazer exame de admissão para o qual era exigido 11 anos completos.

Nesta mesma ocasião tive que me mudar do bairro do Ahu, útero/mãe dos imigrantes italianos do começo do século.
Lá nós éramos todos filhos de operários e, com exceção à minha mãe, as mulheres eram donas de casa semi-analfabetas. Não conhecíamos e nem sabíamos que existiam “os ricos”.
Estudávamos na mesma escola e vestíamos roupas herdadas dos irmãos mais velhos e só usávamos sapatos em algumas ocasiões. Sapatos duros, apertados que me rendem até hoje joanetes e dores nos pés.

Por causa de prejuízos com o botequim de meu pai, minha mãe resolveu vendê-lo e construir outra casa. Durante a construção, nós nos mudamos, os seis, meus pais e suas quatro filhas, para uma casa de duas peças nos fundos da casa de uma tia.

A casa era onde hoje é o Centro Cívico, na época chamava-se Campo do Paraná. Era uma região ribeirinha que vivia alagada pelo Rio Belém. Um paraíso de sapos. Passei a conviver com muita lama, destas de cobrir os pés.

Para eu não ficar em casa esperando ter idade para fazer o exame de admissão, minha mãe resolveu me matricular em uma escola no centro da cidade, era a única, que possuía quinta série.
Como se tratava de uma escola pública, os alunos deviam ser de classe média, mas para uma criança pobre, de dentes mal-cuidados, vestida com roupas velhas e não muito limpas, aquelas crianças eram todas príncipes e princesas. Vestiam aventais engomados, seus lanches eram embrulhados em guardanapos engomados, seus cabelos eram limpos e bem penteados e o principal: seus sapatos brilhavam de tão limpos.
Nunca me senti pior, mais desajustada e infeliz.
Conheci um outro mundo do qual eu não fazia parte.
Não fui discriminada, mas me senti assim. Olhando aquelas crianças tão diferentes das crianças que cresceram comigo me senti pobre, suja e inadequada, pela primeira vez na vida.
Dio mio!!! como eu me sentia inferior olhando os cabelos brilhantes e impecáveis da Débora, o sorriso do Renato, branco como seu avental (anos mais tarde ele foi odonto-pediátra dos meus filhos, e é claro que não lembrava de mim, nem me reconheceu).
Eu voltava para casa meio-dia, morrendo de fome, só com o dinheiro do ônibus que dava pra comprar um pastel. Quase sempre eu optava pelo pastel e como conseqüência tinha que caminhar 4 km, sol a pino, até aquele banhado onde morávamos – provisoriamente - enquanto meus pais construíam uma casa no Ahu.

Eu lia muito naquela fase. Minha tia tinha um armário cheio de livros. Romances de M.Delly, livros policiais, de tudo um pouco. Para fugir daquele desterro, daquela tristeza profunda, eu lia sem parar. Li todos os livros de minha tia e em função disso, eu devia ter um bom vocabulário.

Não lembro o tema da primeira redação que levei para fazer em casa, devo ter bloqueado, mas lembro quando entreguei para a professora.
No dia seguinte fui chamada em frente da sala, na frente de todas aquelas crianças que me faziam sentir constrangida e fui. Achei que iria receber um elogio, minha mãe me chamava de escritora da família.
A professora, que se chamava Angelina, perguntou quem é que tinha feito aquela redação, eu respondi que tinha sido eu, ela contestou:
- Essa redação foi feita com a mão do gato!
Eu não conhecia aquela expressão, então ela me disse com todas as palavras que eu não tinha capacidade para escrever o que estava escrito naquela folha de papel.

Lembro muito pouco do que seguiu. Segurei o choro até chegar em casa. Depois lembro de minha mãe juntando toda a minha “produção literária”: historinhas, poesias infantis e levando na escola para esfregar na cara da tal professora. Chegando lá minha mãe constatou que a minha professora tinha estudado com ela na escola normal. Tiveram uma conversa amigável, muito cordial, minha mãe deve ter explicado que eu gostava de escrever e a D. Angelina deve ter acreditado que a redação era de minha autoria.
Ninguém me pediu desculpas.

Nédier

segunda-feira, 10 de março de 2008

Empresa americana explora trabalhadores do Brasil - Bill Clinton, um acionista.

1.500 trabalhadores em situação precária numa empresa de biocombustíveis
.
O grupo móvel do Ministério do Trabalho encontrou em Goiás e Mato Grosso mais de 1.500 trabalhadores contratados pela Brenco, empresa do ramo de biocombustíveis, em moradias precárias. Dezessete deles foram resgatados, sob o argumento de estarem em condições degradantes.
.
A reportagem é de João Carlos Magalhães e Thiago Reis e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 08-03-2008.

Bill Clinton, ex-presidente dos EUA, é um dos investidores da empresa, que tem entre seus fundadores Stephen Case, fundador da AOL, James Wolfensohn, ex-presidente do Banco Mundial, e Vinod Khosla, indiano radicado nos EUA e fundador da Sun Microsystems.

A empresa, que planeja ter dez usinas no país, produz álcool combustível. Ela chegou ao Brasil há um ano.

A operação dos fiscais passou por três cidades para apurar as denúncias contra a Brenco: Campo Alegre de Goiás, Mineiros (GO) e Alto Taquari (MT).

No primeiro município, eles foram até uma casa alugada por um "gato" (aliciador de mão-de-obra) que trabalhava para a empresa, segundo o Ministério Público do Trabalho.

Ali, os 17 trabalhadores que foram resgatados comiam o que o aliciador lhes dava e reclamaram de fome, segundo o procurador do trabalho Antônio Carlos Cavalcante, que participou da ação.

Devido à chuva e à precariedade do local, dormiam em colchões molhados.

Campo Alegre de Goiás não tem nenhuma propriedade da Brenco, mas era, de acordo com o procurador, um "entreposto" para os trabalhadores que iam a Mineiros.

Nesta cidade, a empresa colocou em um hotel no centro 116 homens que iam participar do plantio da cana-de-açúcar. Lá, a infra-estrutura também era precária.

O maior problema era a superlotação, segundo o Ministério Público do Trabalho.
Depois, os fiscais foram para o alojamento da empresa, chamado de Urtigão 1.

Feito de lona, ele tinha condições aceitáveis, mas quem estava nele tinha dificuldades de sair à noite, de acordo com Cavalcante.

"Os "gatos" não deixavam o pessoal sair nem beber cachaça, para aumentar a produtividade", disse ele.

Interdição

Ainda em Mineiros, o grupo encontrou diversas irregularidades em uma das frentes de trabalho, na fazenda Laranjeiras, arrendada pela empresa.

De acordo com a coordenadora do grupo móvel, Jacqueline Carrijo, foi feita a interdição do plantio da cana. "Havia falta de abrigo para as refeições e de instalações sanitárias. Não tinha também papel higiênico e sabão para que eles pudessem lavar as mãos", disse ela.

Em Alto Taquari, cerca de 1.400 trabalhadores, divididos em dois alojamentos, foram encontrados em situação precária.

"A fiação estava exposta e havia fezes boiando no banheiro", afirma Cavalcante. Os banheiros dos dois locais foram interditados por não apresentar nenhuma condição de uso.

Sem ter para onde levar os trabalhadores, o resgate não foi efetuado, mas os próprios trabalhadores cobraram a rescisão do contrato -a maioria de Maranhão, Piauí e Ceará.

Segundo Carrijo, cerca de 250 já haviam conseguido, além de acertar o término do contrato, receber as passagens de volta para as cidades de origem pagas pela Brenco.

"Eles tiveram a promessa de ficar bem alojados, ganhar muito pelo metro da cana, mas cansaram de esperar naquelas condições. Houve precipitação da empresa", disse ela.
Carrijo afirmou que os alojamentos estavam inacabados e espera que a empresa realoque as pessoas.

O procurador disse que vai ajuizar três ações civis públicas, cada uma no valor de R$ 5 milhões, por danos morais coletivos contra a empresa. Segundo ele, o objetivo é que o dinheiro seja destinado às comunidades das três cidades

sexta-feira, 7 de março de 2008

Brasileiro barrado na Espanha, por que no te callas?

Uma grande parte dos meus amigos justificou a violação da soberania territorial do Equador como interesse das Colômbia e dos EUA em coibir o tráfico de drogas.
Então, tá.
O ataque ao Iraque foi para coibir a fabricação de armas químicas.

Eu estou sempre sendo colocada na contramão dos fatos quando me posiciono sobre conflitos internacionais que envolvem a América Latina.
Fui duramente criticada quando me indignei com desrespeito daquele reizinho arrogante, criado pelo sanguinário Franco, a quem os espanhóis, e não só os espanhóis, como minha brasileiríssima filha Ana, adora de paixão.
Na ocasião, Hugo Chaves, um presidente da república eleito democraticamente pelo povo, foi mandado calar a boca em uma assembléia internacional porque chamou de fascista um ex-primeiro ministro espanhol, reconhecidamente, fascista.

Em matéria postada, 15 de Novembro de 2007
Escrevi:
- Entonces, Juanito? Porque não manda calar a boca de alguns bascos?Faça o que bem entender dentro dos limites do seu poder, MAS, por FAVOR, como diria o Chico Buarque, com mais poesia e ELEGÂNCIA:
- Afasta de mim este Cale-se!!!
http://meunomeenedier.blogspot.com/2007/11/aprendi-desde-criana-que-mandar-algum.html


Mas a opinião pública brasileira, na ocasião, achou natural que um presidente da república de um país latino americano fosse tratado como um súdito.

Ultimamente os brasileiros têm sido humilhados no aeroporto de Madri (a Ana, minha filha passou há muitos anos por esta experiência).
Não dão sequer os motivos do tratamento indigno que submetem os brasileiros que são detidos e mandados de volta.
- Agora somos nós que somos mandados calar a boca e o povo brasileiro fica indignado?
Tenho até vontade de dizer: - Bem feito!
Não digo. Também estou indignada. Tanto quanto fiquei com a falta de respeito ao Presidente Hugo Chávez.

Será que precisamos explicar aos espanhóis que, apesar de ter sido através de golpe militar, somos uma República desde 1889 – e que já não existem monarquias na América Latina??

Nédier

Em tempo: tenho um genro e uma neta espanhóis. Amo-os assim como amo toda a família espanhola que mora em Valência, são das pessoas mais gentis e educadas que conheço. Mas não dá para generalizar, nem argumentar com exceções.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Ataque da Colômbia aprofunda disputa na América Latina

por jpereira
“O que está por trás dessa discussão é a hegemonia no Norte da América do Sul e da relação com os EUA. Esse é o maior impasse de origem militar que os países já enfrentaram”, afirma o historiador Júlio Pimentel
05/03/2008


Jorge Pereira Filho e Tatiana Merlino
da redação

O ataque do Exército colombiano que deixou 19 guerrilheiros mortos em território equatoriano vai radicalizar o cenário político na América Latina.

De um lado, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, o principal defensor das políticas dos Estados Unidos no continente. E de outro, os governos que rejeitaram a ação militar que violou as fronteiras de um país e se contrapõem – em diversos níveis – à influência estadunidense no continente.


Os antecedentes deste conflito estão na aliança político-militar entre Estados Unidos e Colômbia.

Sob o comando de Uribe, o país sul-americano iniciou uma corrida armamentista e montou o maior aparato de guerra da região, como afirma o cientista político Moniz Bandeira.

“Com população de 44 milhões de habitantes, a Colômbia possui um contingente militar de cerca de 208.600 efetivos, enquanto o Brasil, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados e mais de 190 milhões de habitantes tem um contingente de somente 287.870, a Venezuela, 82.600 e o Equador, 56.500. E relativamente ao PIB, os gastos militares da Colômbia somam mais que o dobro dos gastos do Brasil e somente se comparam aos do Chile, que é também um país militarizado”, relata o professor autor do clássico Presença dos Estados Unidos no Brasil.


O guarda-chuva desta aliança, o Plano Colômbia, nasceu ainda em 2000, quando a o país era governado por Andrés Pastrana (leia reportagem). Originalmente, a iniciativa tinha como justificativa pública combater os narcotraficantes. Na prática, visava as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN). Uma mudança no aspecto formal da empreitada ocorreu após o 11 de setembro. George W. Bush renovou a parceria, rebatizada de Plano Patriota em sua segunda fase, e colocou-a no âmbito de seu enfrentamento “ao terrorismo”.

Por meio desta parceria, os Estados Unidos repassam à Colômbia tecnologia militar, apoio logístico, treinamento de tropas e cerca de US$ 1,3 bilhões anuais para diversas finalidades, inclusive o financiamento da compra de equipamentos militares.

E é a própria indústria bélica dos Estados Unidos o principal fornecedor do exército colombiano.

A saída negociada

Uribe fortaleceu-se politicamente e alcançou sua reeleição com a plataforma do discurso da “tolerância zero” e da eliminação militar das guerrilhas para por fim a um conflito na Colômbia que já ultrapassa seis décadas de violência, sobretudo contra a população civil.

O presidente recebeu, no entanto, dois golpes em sua estratégia. Além de não cumprir com a promessa de exterminar os guerrilheiros, Uribe foi envolvido no escândalo da chamada “pára-política” – denúncias de ligações de seu governo com os grupos paramilitares (Leia texto).


Em outra frente, as Farc abriram uma série de diálogos com governos da América Latina e da Europa, principalmente a Venezuela e a França, com o objetivo de negociar um acordo humanitário. Nele, a guerrilha oferece a libertação de cerca de 60 reféns em troca de prisioneiros do Estado colombiano.

Chávez se empenhou no processo e conseguiu obter sucesso. Seis presos políticos deixaram o cativeiro, em uma demonstração unilateral da guerrilha de que estava disposta a trabalhar por uma saída negociada para o conflito. Uribe e Bush reagiram.

A ação militar da Colômbia matou o principal interlocutor da guerrilha nessas negociações, Raúl Reyes – porta-voz e número dois no comando das Farc.

“Uribe sabia perfeitamente, e há muito tempo, onde estava Raúl Reyes. Como também tinha conhecimento que o presidente Rafael Correa (Equador) mantinha relações estritamente humanitárias com Reyes para tratar de solucionar o problema dos reféns”,

afirmou o francês Fabrice Delloye, ex-marido e pai dos dois filhos da ex-senadora Ingrid Betancourt, seqüestrada desde 2002. Segundo ele, Uribe sabotou o processo de libertação dos reféns (Veja declarações).
Para o geógrafo André Martin, a ação foi planejada.

“É óbvio que foi uma ação calculada com os Estados Unidos, com a CIA, que vislumbram até onde podem ir as reações equatoriana e venezuelana. Isso começa a crispar todo o continente sul-americano, existem outros focos de tensão que não se podem subestimar. Para onde vai se levar isso? O que se quer, dividir o continente entre pró e antiamericanos?”, questiona (leia mais).


Em sua estratégia, o presidente colombiano não hesitou em ferir os acordos internacionais e violou a fronteira do Equador para atacar os guerrilheiros, invadir território alheio e buscar corpos e equipamentos.

“Tanto sangue correu, tantas guerras foram feitas para se erigir como princípio a inviolabilidade das fronteiras, o respeito às fronteiras, estabelecidas na ONU, consenso entre as partes. Agora, viola-se isso impunemente, não tem mais ordem mundial nenhuma, é o império da selva”, enfatiza o geógrafo.


Ofensiva

A resposta dos governos do Equador e da Venezuela foi imediata. Chávez e Correa determinaram a seus exército que se movessem para a fronteira com a Colômbia. Uribe ensaiou um pedido de desculpas, alegando que o exército respondia a um ataque dos guerrilheiros (veja texto).

Foi prontamente respondido por Correa:

“Os cadáveres estavam de pijama, isto é, não houve nenhuma recepção quente. Foram bombardeados e massacrados enquanto dormiam, com uso de tecnologia de ponta, que os localizou na selva, seguramente com a colaboração de potências estrangeiras”.


Uribe tentou contra-atacar. Acusou Chávez de repassar US$ 300 milhões às Farc, informação negada pelo governo venezuelano. Bush veio em seu socorro e convocou apoio dos governos sul-americanos à ação de seu aliado. Em vão, o colombiano se isolou ainda mais. Presidentes do continente condenaram a ação, inclusive Lula. E Correa lançou uma ofensiva diplomática e iniciou um giro pela região (Peru, Brasil, Venezuela, Panamá, República Dominicana).
Fato é que criou-se um conflito sem precedentes.

“O que está por trás dessa discussão é a hegemonia no Norte da América do Sul e da relação com os EUA. Esse é o maior impasse de origem militar que os países já enfrentaram”,

afirma Júlio Pimentel, historiador da USP. Moniz Bandeira não crê que o conflito possa desencadear em uma guerra, de fato.

“A desproporção de forças militares é muito grande, embora a Colômbia tivesse de lutar em duas frentes”, considera.

Já o brigadeiro da reserva Sérgio Ferolla, ex-presidente da Escola Superior de Guerra, não descarta a ocorrência de um conflito militar.

“As posições estão muito radicalizadas. O governo da Colômbia acusa os países de patrocinarem as guerrilhas. Uribe disse que vai denunciar Chávez na Corte de Haia. Esse conflito pode desencadear uma questão bastante séria e o Brasil tem responsabilidade grande, porque sempre foi mediador pacífico entre desavenças e conflitos de fronteiras. Como o país tem uma atuação neutra e bom relacionamento, talvez consiga atenuar o conflito”, avalia.

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/especiais/equador-colombia/ataque-da-colombia-aprofunda-disputa-na-america-latina

quarta-feira, 5 de março de 2008

Entenda o que está por trás de Colômbia x Equador.

Uribe, o narcotraficante

Entenda o que está por trás de
Colômbia x Equador.
Por Cláudio Tognolli, jornalista do Brasil,
5 de março de 2008.



Entenda o que está por trás da invasão do Equador pelo exército colombiano, liderado pelos norte-americanos e o serviço secreto de Israel o Mossad, que matou mais de vinte pessoas entre elas o porta-voz das Farc que negociava a libertação de reféns.
.
1 - Não é a primeira vez que O governo colombiano entra em conflito com as Farc.
.
2 - Não é a primeira vez que UM governo colombiano entra em conflito com as Farc.
.
3 - Não é a primeira vez que as Farc entram em território do Equador, Brasil e Venezuela para se proteger e/ou abastecer, sem o conhecimento e o consentimento de seus respectivos governos.
.
4 - MAS É a primeira vez que o governo colombiano invade território estrangeiro para eliminar tropas das Farc.
.
5 - Por que agora? Qual a urgência? Por que justamente o líder das Farc mais favorável ao diálogo e aquele que dialogava com a França e com Chávez para a libertação dos reféns?
.
6 - Até agora, quem mentiu foi o governo colombiano. Disse que havia entrado no Equador em perseguição a uma coluna das Farc em fuga e reagido a tiros daquela. O que se viu no sítio foram sinais de execução de guerrilheiros que dormiam (todos estavam usando pijamas) e foram surpreendidos por tropas bem equipadas, inclusive por ataque aéreo, e treinadas para tal.
.
7 - A operação foi ato pensado e refletido e com retaguarda política de peso. Não havia justificativa para este extremo. As Farc de longe não têm poder para desafiar o governo. O governo não fazia operação para libertar reféns ou ganhar território. Era para eliminar liderança.
.
8 - Uribe vinha sendo seguidamente colocado contra a parede com as negociações entre Chávez, as Farc e o governo francês. Tinha que engolir o que não queria fazer. Encontrou um meio de acabar com isto em alto estilo. E os EUA? Mantêm Uribe sob proteção.
.
9 - Além de acabar com sua principal fonte de preocupação ultimamente, as conversações entre as Farc e Chávez, Uribe consegue unir o país em torno de si em momento de crise e retoma sua principal plataforma política, que é a solução militar contra as Farc.
.
10 - De quebra, pode eliminar também uma futura concorrente política, Ingrid Betancourt, que poderia ser libertada e lhe fazer frente, com legitimidade para apresentar-se capaz de bancar um acordo político com as Farc, anulando a principal plataforma de campanha de Uribe.
.
11 - Os EUA têm na Colômbia de Uribe seu único porto seguro na América do Sul. Ver o aliado enfraquecido não é bom. Um acordo de paz com as Farc também não é bom. Retira dos EUA sua desculpa para permanecer na Colômbia...
.
12 - A crise política entre as nações é uma mão na roda para os EUA. Provoca instabilidade, torna Uribe ainda mais dependente dos americanos e é desculpa para reforçar sua presença no continente.
.
13 - O alvo principal dos americanos é a Venezuela. Os americanos não dão a mínima para a coca da Colômbia. Dependendo do desenrolar da crise, os americanos podem achar o que procuravam há muito para eliminar Chávez.
.
14 - Cabe ao governo brasileiro diagnosticar bem a situação e posicionar-se como mediador e tentar anular o passo americano. É uma grande oportunidade de exercer liderança. Nada de declarações apressadas. O momento é de conversa de bastidor...
.
Veja abaixo um trecho de texto de uma matéria da conceituada revista norte-americana Newsweek onde fala sobre um relatório da inteligência do Departamento de Defesa dos USA que diz que o Uribe, presidente da Colômbia, tinha e tem envolvimento com os narcotraficantes...continua...


As mídias do Brasil tentam fazer a gente aceitar que as Farc é que são ligadas aos traficantes da Colômbia.
(quem for alienado que acredite)
.
“Da lista negra para uma lista."
.
Uma vez julgado como mau garoto, Uribe é agora um aliado superior.
por Joseph Contreras e Steven Ambrus
NewsweekEdição de 9 de agosto de 2004
.
Um relatório da inteligência do Departamento de Defesa, datado setembro 1991, que era secreto, mas foi liberado para o público, indica quem é quem no comércio da cocaína da Colômbia.
A lista inclui o mestre do cartel de Medellin, Pablo Escobar, e mais de outros 100 entre assassinos, traficantes e advogados contratados pelo tráfico.
No documento na página 82 diz: “Alvaro Uribe Vélez - um político e senador colombiano se dedicou à colaboração com o cartel de Medellin em níveis elevados do governo.

Uribe foi ligado a um negócio envolvido em atividades do narcotráfico nos Estados Unidos.
Uribe trabalhou para o cartel de Medellin e é um amigo pessoal próximo de Pablo Escobar Gaviria.
Escobar morreu em uma invasão pela polícia em 1993 . Dois anos atrás nesta semana, Uribe se tornou presidente da Colômbia...
Washington o ama.
(The list was obtained by the National Security Archive, an independent U.S. research group.) (…)
.
"Os USA estão pouco se lixando para o narcotráfico e para as Farc. O objetivo deles é matar o Chávez para botar as mãos no petróleo venezuelano. As reservas de petróleo dos USA só duram por mais 8 anos.Os jornais O Globo, Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, revista Veja, TV Band, TV Globo, SBT rádio CBN, apóiam a invasão colombiana.Quase todas essas mídias que citei acima trazem hoje como manchete o " suposto" e inverossímil envio para as Farc pelo Chávez de U$ 300 milhões de dólares, (INVENCIONICE) TUDO NÃO PASSA DE uma tentativa de desviar o foco dos leitores da questão principal que é a invasão de um país por outro o que é gravíssimo.Tudo o que está escrito aqui, legitima tudo o que o Chávez vem fazendo para proteger a Venezuela, seu povo, se proteger e proteger a América do Sul dos USA...

Pergunto: Se a Venezuela não tivesse petróleo será que os USA estariam de briga com o Chávez?
NÃO.
Será que se o Afeganistão, Iraque e Irã não tivessem jazidas de petróleo e gás os USA, mesmo assim, teriam arrumado encrenca com esses países?
NÃO.
A Arábia Saudita, que tem a maior jazida de petróleo fino do mundo e que é um dos aliados dos USA, e que é uma ditadura deveria também ser invadida pelos USA?
Pela lógica acima = SIM.
Ultimamente os USA têm se relacionado como aliado ou inimigo de países que têm jazidas de petróleo e gás? Como aliado, lógico. Será coincidência?
Será que os interesses dos USA são os mesmos da Colômbia e da América do Sul?
Vejam abaixo, trecho do livro da biografia não autorizada do Uribe, feita pelo mesmo jornalista da Newsweek da matéria acima:
Uribe, o narcotraficante
O pai de Álvaro Uribe Velez, Alberto Uribe Sierra, foi narcotraficante detido com o objectivo de o extraditar para os Estados Unidos em 1982 mas, graças às manipulações de Álvaro Uribe filho, foi posto em liberdade, sendo depois, como o declara o mesmo Álvaro Uribe, morto pelas FARC-EP, assim o dizem, pelas suas acções narcoparamilitares.
O jornalista Joseph Contreras, no seu livro "O Senhor das Sombras", "Biografia de Álvaro Uribe", disse que é bem conhecido que o helicóptero que trasladou o cadáver de Alberto Uribe, pai do atual Presidente da oligarquia colombiana, da herdade familiar até Medellin era um aparelho que do Cartel de Medellin, de Pedro Escobar", especificamente.
Ao enterro do fazendeiro, segundo o jornalista Fábio Castillo, assistiu o então Presidente da Republica, Belisário Betancourt Cuartas e uma boa parte da nata da sociedade antioquenha, no meio de velados protestos dos que conheciam os vínculos de Uribe Sierra com a cocaína. Algum tempo depois o helicóptero Huges 500 de matrícula colombiana HK2704X, propriedade da família de Álvaro Uribe, foi encontrado no maior laboratório de cocaína descoberto na Colômbia, chamado "Traquilandia".
Ao ser interrogado sobre o assunto, Uribe, visivelmente acabrunhado, respondeu com a desculpa infantil, que tinham perdido o aparelhito e que se tinham esquecido de participar o desaparecimento.

O mais espantoso (e perigoso) para nós brasileiros é ver grande parte da mídia (GLOBO - SBT - BAND - ESTADÃO - VEJA - FOLHA) apoiarem essa invasão.
Prova de que essas "organizações midiáticas" estão atreladas de forma "UNDERSECRET" ao Governo dos Estados Unidos.Se quiser mais informação deste "narcotraficante e pelego do governo do Her Bush" leia a biografia não autorizada com 260 páginas, que é o resultado do trabalho de investigação de Joseph Contreras, correspondente da revista. Newsweek. Clicando

terça-feira, 4 de março de 2008

Quem viola a soberania territorial não é confiável


O vice-presidente do Parlamento do Mercosul, deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR), afirmou nesta segunda-feira (3/3) que a postura do presidente colombiano Álvaro Uribe compromete a integração da América do Sul.

"Quem invade o território de outros países e viola a sua soberania não é confiável para nenhum de seus vizinhos", declarou Dr. Rosinha.
"Esse tipo de postura [de Uribe] compromete a integração sul-americana."

Militares da Colômbia executaram na madrugada do último sábado (1º/3) em território equatoriano 17 guerrilheiros das Farc, entre eles Raúl Reyes, 59 anos, porta-voz e integrante do comando central da guerrilha. Conforme declarações do presidente do Equador, Rafael Correa, os membros das Farc usavam roupas de dormir e foram "massacrados enquanto dormiam".

"Esse ataque promovido pelo governo da Colômbia acontece num momento em que as Farc davam demonstrações concretas de diálogo e negociação", observa Dr. Rosinha. "Além disso, está prevista para daqui a poucas semanas a reunião de cúpula da União Sul-Americana de Nações."

A reunião da Unasul está prevista para este mês de março, na cidade colombiana de Cartagena das Índias.

No último dia 10 de janeiro, as Farc libertaram as reféns Clara Rojas e Consuelo González. Na semana passada, outros três ex-congressistas foram libertados pela guerrilha. Ambas as operações foram mediadas pelo governo de Hugo Chávez, presidente da Venezuela.

O vice-presidente do Parlamento do Mercosul lembra ainda o precedente de dezembro de 2004, quando agentes secretos colombianos seqüestraram em Caracas o chanceler informal das Farc, Rodrigo Granda, posteriormente levado à Colômbia. Granda participava de um fórum de partidos de esquerda na capital venezuelana.

Conforme o jornal equatoriano "
El Comercio", Raúl Reyes havia sido ferido em uma perna e estava fora de combate quando foi morto pelos militares colombianos.

"Foi um massacre. Os aviões colombianos entraram pelo menos 10 km em nosso território para realizar o ataque",
afirmou o presidente do Equador, que citou inclusive cadáveres com marcas de tiros pelas costas.

A operação militar colombiana contraria todas as normas do direito internacional. "Toda agressão de um Estado contra a integridade ou a inviolabilidade do território, ou contra a soberania, ou a independência política de um Estado americano, será considerada como um ato de agressão contra todos os demais Estados americanos", diz o artigo 28 da
Carta da OEA (Organização dos Estados Americanos).

Horas depois do episódio, a
imprensa colombiana já divulgava fotos "exclusivas" do corpo de Raúl Reyes, resgatado pelas tropas colombianas, sob o aviso de "material explícito".
..

CARTA DA ONU
Artigo 2 [...]
4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.
http://www.onu-brasil.org.br/doc1.php

CARTA DA OEA
SEGURANÇA COLETIVA
Artigo 28
Toda agressão de um Estado contra a integridade ou a inviolabilidade do território, ou contra a soberania, ou a independência política de um Estado americano, será considerada como um ato de agressão contra todos os demais Estados americanos.
.
Artigo 29
Se a inviolabilidade, ou a integridade do território, ou a soberania, ou a independência política de qualquer Estado americano forem atingidas por um ataque armado, ou por uma agressão que não seja ataque armado, ou por um conflito extracontinental, ou por um conflito entre dois ou mais Estados americanos, ou por qualquer outro fato ou situação que possa pôr em perigo a paz da América, os Estados americanos, em obediência aos princípios de solidariedade continental, ou de legítima defesa coletiva, aplicarão as medidas e processos estabelecidos nos tratados especiais existentes sobre a matéria.
http://www.oas.org/juridico/portuguese/carta.htm

"[...]Reyes fue herido en una pierna y trasladado a otro campamento subversivo. Técnicamente, Reyes era una persona fuera de combate, y por tanto debía ser protegido como persona herida. El Protocolo Adicional Dos a los Convenios de Ginebra y el Derecho Internacional Humanitario así lo señala.
.
[...]"http://www2.elcomercio.com/noticiaEC.asp?id_noticia=174331&id_seccion=4 “Fue una masacre. Los aviones colombianos ingresaron al menos 10 km a nuestro territorio para realizar el ataque desde el sur, luego llegaron tropas transportadas en helicópteros que culminaron la matanza, incluso se hallaron cadáveres con tiros en la espalda”, aseguró [Rafael Correa].

http://www.abn.info.ve/go_news5.php?articulo=122444&lee=16

Imágenes exclusivas de EL TIEMPO, momentos antes de que el cadáver de Raúl Reyes fuera trasladado desde Ecuador. 'Material explícito, pode ferir sua sensibilidade'
http://www.eltiempo.com/multimedia/galerias/ralreyesmuerto/GALERIAFOTOS-WEB-PLANTILLA_GALERIAFOTOS-3981892.html

Uma das últimas entrevistas de Raúl Reyes (a Jacques Gomes Filho)
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2649808-EI6580,00.html


Outras informações:
Fernando César de Oliveira, jornalista (reg. prof. 5651/PR)
(41) 9963.4996


http://www.drrosinha.com.br/