terça-feira, 30 de outubro de 2007

"O Filho Eterno" - Cristovão Tezza

"O Filho Eterno"/ Editora Record
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Cristovão Tezza
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Meus amigos,

Já há algum tempo vinha transferindo uma “obrigação”: - comprar o livro
“O filho Eterno” do Cristovão Tezza.
As críticas afirmavam que era um bom livro, mas na mesa de cabeceira de minha cama três livros comprados - e ainda não lidos - “olhavam” para mim com uma acusação:
- Você é uma leitora compulsiva!
E uma ordem:
- Vai nos ler ou não vai?

Acontece que eu ainda estava lendo outros dois bons livros e a compra de “O Filho Eterno” foi sendo adiada.
Em uma tarde dessas de “puro ócio puro”, liguei a televisão (não sei se na TV Câmara ou TV Senado) e lá estava o Tezza, falando sobre sua obra em frente a uma platéia atenta para, em seguida, responder a algumas perguntas.

De imediato me apaixonei por aquele homem.
Ele nem precisaria ser bonito, mas é.
A sua erudição ultrapassava tudo que eu poderia imaginar - principalmente vinda de alguém quase de minha geração (sou mais velha que ele) e que, ainda por cima, mora em Curitiba (quem não tem preconceito?).
Quanto mais eu ouvia, mais ficava fascinada.
Meu marido sempre diz que as minhas paixões e as minhas implicâncias são imediatas, irreversíveis e que perduram para sempre - ou melhor - é provável que perdurem enquanto eu viver.

Eu já tinha lido o “Trapo”, e gostado muito, mas nunca tinha tido a curiosidade de saber como e quem era o escritor.

Vivo entocada, não gosto de sair por sair. Vou só onde é necessário.
Terminado o programa, eu tive a “necessidade absoluta” de ir ao shopping Mueller e entrar em uma livraria - como faço como se fosse um robô teleguiado que obedece ao chamado dos livros (eles me chamam pelo nome).
Procurei “O Filho Eterno” nos livros expostos na vitrine e naqueles stands onde ficam os mais lidos, os melhores, e outros mais. Não encontrei.
Perguntei ao vendedor e ele me encaminhou até uma estante onde ele estava.
Fiquei irritada:
- Por que é que não está na vitrine? O Cristóvão Tezza é um grande escritor daqui (eu me referia à minha Curitiba, embora sabendo que o escritor nasceu em Lajes - SC).
Só quando vi que já era a segunda edição me acalmei. Fui eu quem demorara em comprar.

Um livro pequeno, de capa vermelha, que eu trouxe dentro de uma sacola de plástico como se fosse um troféu à minha indisciplina literária.
Antes de colocá-lo na pilha dos livros a ler resolvi dar uma lida no primeiro capítulo para perceber se o estilo tinha mesmo aquele jeitão irresistível do escritor. Só consegui largá-lo depois de lida a página final.

O escritor, na entrevista, citara uma expressão com a qual o Nelson Rodrigues aconselhava os jovens:
- Envelheçam.

Por analogia, eu gostaria de ter o dom de ser obedecida por todos, para - sem precisar escrever sobre este livro de indiscutível qualidade - apenas ordenar:
- Leiam!!!

Mas ainda falta uma informação. Se você chegou até aqui, deve ter percebido que sempre li, e muito – e, acrescento ainda, de todos os tipos, desde os francamente ruins até os clássicos indiscutíveis. Sei que este comentário, a esta altura, parece desnecessário - mas sua finalidade é apenas dar embasamento ao que acho de "O Filho Eterno":
- O melhor livro que já li!!
Nédier
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Leiam sobre o autor:
http://www.cristovaotezza.com.br/
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Outras críticas sobre o livro:
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Cristovão Tezza - O Filho Eterno: tinha tudo para dar errado. Assim que soube, acho que já há uns dois anos, que Cristovão Tezza estava escrevendo um romance sobre seu filho com Síndrome de Down, imaginei que viria ou algo inevitavelmente piegas ou uma pálida versão de Uma Questão Pessoal, do japonês Kenzaburo Oe. Enganei-me: O Filho Eterno é não só o melhor livro de Tezza, mas uma das melhores obras publicadas no Brasil nos últimos anos. Mais do que uma história sobre uma criança defeituosa, é a formação de um homem imaturo, patético até, tentando encontrar rumo para a sua carreira como escritor, como marido, como pai. Há semelhanças sim com o livro de Oe, sem soar como caricatura: Tezza parece mais influenciado por Thomas Bernhard, pela falação raivosa (uma espécie de primeira pessoa travestida em terceira) e pela estrutura circular, alternando narração e digressão - rápidos ensaios sobre arte, a sociedade e a situação do país, este último um tema pouco e mal explorado por nossos autores. Como o próprio Tezza admitiu, faltava a ele um equilíbrio maior entre os romances cerebrais (como O Fotógrafo e Breve Espaço Entre Cor e Sombra) e os emocionais (como Trapo). Agora não falta mais. (Jonas Lopes)
http://gymnopedies.blogspot.com/

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http://doidivana.wordpress.com/2007/09/16/o-filho-eterno/
http://diplo.uol.com.br/2007-10,a1972

domingo, 28 de outubro de 2007

A Bailarina

Nine Ricciardi
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Bailarina
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A cada pirueta que você dá
um tom de violeta
inunda o seu bailar
fico encantado ao vê-la voar
em seu grand-jeté
como eu queria ser o seu par
queria o meu destino junto ao seu dom
e o estilo manuelino
no que tem de bom
pra erigir um belo altar
na intenção de entronizá-la
no lugar de uma deusa
sou um barco navegando
alto-mar por você
a me desbravar sem medo
com um desejo incontido
invadindo a canção
crepuscular estação
do amor não correspondido
tal como o sol
no arrebol
eu morro com vida
plié aqui
jeté ali
socorro, querida
quero viver
só pra você
de hoje
pra sempre
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Djavan

Nine Ricciardi, uma bailarina

Escola do Teatro Bolshoi Brasil.
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"O Ballet é a representação cênica em que combina dança (bailado), música, pantomima, cenário e figurinos para dar a um enredo ou argumento (libreto) interpretação visual tão completa que dispensa a palavra.
A Dança é o centro do espetáculo.
Tudo o mais lhe é acessório."

Escola do Teatro Bolshoi Brasil.

Meus amigos,
Eu amo o ballet, mas não me sinto capaz de escrever sobre a beleza, a graça e principalmente sobre o talento de Stephanine Ricciardi, a Nine. Apenas afirmo, e com convicção, que esta é uma das jovens bailarinas mais promissoras do Ballet Brasileiro.
Vou deixar que Nine Ricciardi fale sobre ela mesma em um depoimento singelo, transcrito abaixo, que me emocionou.
Nédier


Nine Ricciardi


Graças a Deus sou uma pessoa que foi gerada e esperada com muito amor por meus pais. Amo a minha família e sou amada por ela.

Meus pais, meu mano e meus avós, nunca deixaram de me ajudar a sonhar.


Minha maior paixão é o BALLET!


Eu cedo descobri o que desejava ser na vida - uma bailarina!

E quando descobri não medi esforços para aprender a dançar, para solicitar ajuda a diversos professores que me ensinassem e ensaiassem muito para eu conseguir passar e entrar na Escola do Teatro Bolshoi Brasil.
A todos eu serei sempre grata.

Depois que passei nos testes e entrei na "minha casa" eu procurei e procuro aprender o máximo que me ensinam e levar comigo todo o aprendizado que eles me passam.

Por onde eu andei/ando, eu fiz/faço muitos amigos e a todos eu agradeço o apoio que sempre me deram/dão.

Eu acredito no poder do querer e do saber. Só ele, com muita dedicação e com muito trabalho, pode realizar o que se quer.

Tenho muita fé e oro sempre para que Deus me conceda o que sempre desejo e sonho na vida.

Agradeço à Deus as conquistas e as derrotas que até agora tive,através delas aprendi muito.

Aprendi não desistir nunca e sempre a continuar a buscar os sonhos.

Nine

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"Quando alguém encontra seu caminho,precisa ter coragem suficiente para dar passos errados.As decepções, as derrotas, o desânimo são ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada certa."
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sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Reginaldo Bessa e o Tempo.

“O tempo não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém "


Meus amigos,
Um dia destes um amigo me deu um sábio conselho:

“As vezes é preciso arrumar o sótão (ou o porão) e jogar muita coisa fora. Coisas que impedem ou, no mínimo, atrapalham o nosso caminhar na estrada do tempo.”
Ele me enviou, sem saber de minha admiração pelo compositor Reginaldo Bessa,a letra/poesia da música "O Tempo". Resolvi compartilhar com vocês.

"Reginaldo Bessa é um compositor de música e letra, violonista e cantor. Ele é um artista que sempre manteve acesa a chama de nossa cultura, um carioca da gema em todos os sentidos, raiz e fruto do Rio de todos nós."

Abaixo coloquei o endereço de seu site. Vale a pena acessá-lo e saber um pouco sobre este homem maravilhoso e sua obra.

Nédier

Reginaldo Bessa
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O Tempo

O tempo não é , minha amiga aquilo que você pensou
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As festas, as fotos antigas as coisas que você guardou


Os trastes, os móveis, as tranças, os vinhos, os velhos cristais


As doces canções de criança, lembranças , lembranças demais


O tempo não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém


Você vem deitar no meu ombro querendo de novo ficar


Eu olho e até me assombro como pode esse tempo passar


O tempo é areia que escapa até entre os dedos do amor


Depois é o vazio , é o nada, é areia que o vento levou


O tempo não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém


O medo correndo nas veias deixou tanta vida pra trás


E a gente ficou de mãos cheias com coisas que não valem mais


E fica um gosto de usado naquilo que nem se provou


A gente dormiu acordado e o tempo depressa passou


O tempo não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém




Ouça a música no site de no site de Beatriz Kauffmann clicando em O Tempo
http://www.beakauffmann.com/mpb_o.html

Enquanto a Bossa Nova, no início dos anos 60, a partir do eixo Rio- Nova York, ganhava os aplausos do mundo, um brasileiro solitário em Buenos Aires cumpria também o seu papel.
Em dezembro de 1962,REGINALDO BESSA iniciava, na CBS Argentina, a gravação do seu LP Amor em Bossa Nova.
Esse foi seguramente o primeiro disco de Bossa Nova gravado por um brasileiro no exterior, contando apenas com músicos locais, tendo que ensinar a eles a batida sincopada do samba, do balanço, do gingado verde-amarelo.
Não foi uma tarefa fácil.
Foi preciso até trocar de maestro depois de seis músicas já gravadas e começar tudo de novo. Afinal o disco saiu em março de 1963 e Bessa divulgou seu trabalho durante um ano inteiro em rádio, TVs e casas noturnas. Foi uma época de muitas realizações mas por razões pessoais ele teve que retornar ao Brasil em 1964.
Esse disco emblemático, em sua quase totalidade constituído com repertório próprio, não foi apoiado pela CBS brasileira, que fez Bessa gravar outro tipo de música em 1965.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Dalton Trevisan, eis o contista!!



Hoje de manhã fiquei emocionada ao ler, no Caderno G do jornal “Gazeta do Povo”, um texto de Dalton Trevisan, sobre a sua visão da literatura, escrito com frases retiradas de seus contos. Eu conhecia a maioria delas, porém, com sua genialidade incomparável, Dalton Trevisan conseguiu - com o que seria apenas uma “colcha de retalhos” - compor uma obra-prima. Nada mais lindo e emocionante do que este breve texto, onde o melhor contista contemporâneo, escreve sobre o contista!

Nédier
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Eis o Contista!


"Sua foto mais conhecida: a tirada por um repórter com teleobjetiva atrás de uma árvore em uma tarde de outono”

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Na quinta edição do prêmio Portugal Telecom, um dos vencedores estava ausente: o paranaense Dalton Trevisan premiado por seu livro de contos “Macho não ganha Flor”.
Ele foi representado pela editora de imprensa da Editora Record, Gabriela Máximo.
O “vampiro de Curitiba” não dá entrevistas tampouco comparece a eventos literários. Mas surpreendeu a platéia ao enviar um texto sobre a sua visão da literatura (na verdade, uma colagem de frases retiradas de seus contos):

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“Só a obra interessa. O autor não vale o personagem. O conto é sempre melhor que o contista. Vampiro sim, de almas. Espião de corações solitários, escorpião de bote armado. Eis o contista. Só invente o vampiro que exista. Com sorte, você adivinha o que não sabe. Para escrever mil novos contos a vida inteira é curta. Uma história nunca termina. Ela continua depois de você. Um escritor nunca se realiza. A obra é sempre inferior aos sonhos.Refazendo as contas percebe que que negou o sonho, traiu a obra, cambiou a vida por nada. O melhor conto só se escreve com a tua mão torta, teu avesso, teu coração danado. Todas as histórias, a mesma história, uma nova história. O conto não tem mais fim senão começo. Quem me dera o estilo do suicida em seu último bilhete.”
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Sobre o Dalton Trevisan

“As histórias de Dalton Trevisan, um dos melhores contistas brasileiros contemporâneos, reproduzem um cotidiano angustioso numa linguagem direta e popular.
Dalton Trevisan nasceu em Curitiba PR, em 14 de junho de 1925.
Formado pela Faculdade de Direito do Paraná, liderou em Curitiba o grupo literário que publicou, em 1946, a revista Joaquim (em homenagem a todos os Joaquins do Brasil).
A publicação, que circulou até dezembro de 1948, continha o material de seus primeiros livros de ficção, entre os quais “Sonata ao luar” (1945) e “Sete anos de pastor” (1948).
Em 1954, publicou
“Guia histórico de Curitiba”,
“Crônicas da província de Curitiba”,
“O dia de Marcos” e
“Os domingos ou Ao armazém do Lucas”,
edições populares à maneira dos folhetos de feira.
A partir da gente de sua cidade, chegou a uma galeria de personagens e situações de significado universal, em que as tramas psicológicas e os costumes são agudamente recriados por meio de uma linguagem precisa e de sabor genuinamente popular, que valoriza os mínimos incidentes de um dia-a-dia sofrido e angustioso.
Publicou também
“Novelas nada exemplares” (1959),
“Morte na praça” (1964),
“Cemitério de elefantes” (1964) e
“O vampiro de Curitiba” (1965).
Isolado dos meios intelectuais, Trevisan obteve, sob pseudônimo, o primeiro lugar do I Concurso Nacional de Contos do estado do Paraná, em 1968.
Escreveu depois
“A guerra conjugal” (1969),
“Crimes da paixão” (1978) e
“Lincha tarado” (1980).
Em 1994, publicou
“Ah é?”,
obra-prima de seu estilo minimalista.
Além de escrever, Trevisan exerce a advocacia e é proprietário de uma fábrica de vidros.”

http://www.brasilcultura.com.br/conteudo.php?id=722&menu=95&sub=747

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Trabalho escravo volta a ser fiscalizado

Trabalho escravo volta a ser fiscalizado
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O Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), encarregado de combater o trabalho escravo no Brasil, retomou suas atividades nesta segunda-feira (15).
Para que o grupo móvel voltasse a atuar, o MTE assinou um termo de cooperação técnica com a Advocacia-Geral da União (AGU), que dará suporte jurídico aos fiscais.
As operações estavam paradas desde o dia 21 de setembro, quando cinco senadores passaram a pressionar a atuação do grupo.
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Os senadores Romeu Tuma (DEM-SP), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Kátia Abreu (DEM-TO), Cícero Lucena (PSDB-PB) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) questionaram a libertação de 1.064 trabalhadores na fazenda de cana e usina Pagrisa, em Ulianópolis (PA).
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Eles acionaram a Polícia Federal para verificar os procedimentos adotados pelo grupo móvel durante a fiscalização.
Diante deste cenário e do histórico de violência por parte de fazendeiros, o MTE paralisou as atividades do grupo móvel por falta de segurança. Em 2004, três auditores e um motorista do MTE foram mortos, em Unaí (MG), durante uma fiscalização de rotina.
De acordo com o relatório produzido pelo grupo móvel, os trabalhadores da Pagrisa não ganhavam salários, porque a empresa fazia descontos ilegais. Além disso, a comida estava estragada e a água para beber era a mesma utilizada na irrigação da cana que, de tão suja, parecia caldo de feijão.
De São Paulo, da Radioagência NP, Vinicius Mansur.15/10/07

sábado, 13 de outubro de 2007

Paulo Autran, minha homenagem pessoal.

Fotos do Yahoo
A morte de Paulo Autran
"Eppur si mueve"
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Quanto à introdução de novidades.
"Quem poderia duvidar que leve às piores desordens quando mentes que Deus criou livres são compelidas à submissão escrava a uma vontade externa?
Quando nos dizem que devemos negar a evidência de nossos sentidos e sujeitá-las ao capricho de outros?
Quando pessoas sem qualquer competência são tomadas juízes de peritos e se lhes outorga autoridade para tratá-los como lhes aprouver?
São essas as novidades capazes de levar à ruína das comunidades e
à subversão do Estado."
Galileu Galilei
(Diálogos Sobre os dois Principais Sistemas do Mundo)
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Em agosto de 1989 tive o privilégio de assistir Paulo Autran no Teatro Guaíra, em Curitiba, na única montagem da peça “A Vida de Galileu Galilei” encenada por ele e dirigida por Celso Nunes.

"Paulo Autran insistiu em montar esta peça com alunos inexperientes, impedindo a realização de alçar maiores vôos.”

Galileu Galilei foi um dos primeiros a perceber que, ao contrário do que dizia a Igreja, a Terra não está no centro do mundo e o Universo obedece a outras leis que não as de Deus. Diz a lenda que quando foi julgado por heresia, em 1633, e forçado a abjurar a sua crença de que a Terra se movia à volta do Sol, Galileu teria murmurado:
"Eppur si muove" ("No entanto move-se").
341 anos (e tão inutilmente!) após a sua morte, em 1983, a mesma Igreja, revendo o processo, decidiu pela sua absolvição em 1999

Como Galileu, Paulo Autran tentou introduzir novidades, insistindo em montar esta peça com alunos inexperientes do Teatro de Comédia do Paraná e talvez o preconceito que tentou calar Galileu, tenha impedido que a peça “alçasse maiores vôos”.

Nédier

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Causos de crianças

Meu neto João e o presente que ganhou ontem e antecipado dos avós pelo Dia da Criança.
Gostou mais do presente que nós demos ao seu irmão Pedro, o qual também preferiu o presente do João,
como sempre.

Causos de crianças

Ouvi um causo de criança, que teria sido contado por Vinicius de Moraes. Diz que uma criança, passeando de mãos dadas com o pai, vê uma casa sendo demolida. Mais que depressa, afirma: "Pai, veja, estão construindo um terreno baldio."

Conto um outro, que ocorreu comigo. Não revelarei o nome da criança porque ela já é um adulto. A época era a do início das campanhas de prevenção à Aids. A todo instante, apareciam nas TVs e rádios orientações para a prática do sexo seguro e o uso da camisinha.

Era um domingo típico do inverno curitibano, com sol e frio. Um grupo de amigos resolvemos fazer um passeio e descer a Estrada da Graciosa. A certa altura da Serra do Mar, o sol estava mais quente, e alguns de nós não só tiramos as blusas, mas também as camisas.

Cheguei para o João (nome fictício, para evitar constrangimentos), que era meu cliente —na época eu exercia a pediatria. Perguntei se ele queria tirar a camisinha. João tinha 3 ou 4 anos de idade. Por isso, o diminutivo. A resposta foi rápida: "Não, pega Aids".

Dias atrás recebi uma mensagem eletrônica com algumas frases que teriam sido publicadas na página do jornal italiano "Corriere della Sera" na internet. Informam-me que são frases que as crianças mandam para "Gesù Bambino" (Jesus Criança), no final do ano, para pedir presentes. Por lá, o Papai Noel parece não ter o mesmo prestigio que tem pelas bandas de cá.

As frases foram tiradas do livro "Caro Gesù: la giraffa la volevi proprio così o è stato un incidente?" (Querido Jesus, a girafa você queria assim mesmo ou foi um acidente?), lançado pela editora Sonzogno. Como gostei delas, reproduzo algumas aqui:


"Querido Menino Jesus, todos os meus colegas da escola escrevem para o Papai Noel, mas eu não confio naquele lá. Prefiro você." (Sara)

"Querido Menino Jesus, obrigado pelo irmãozinho. Mas na verdade eu tinha rezado pra ganhar um cachorro." (Gianluca)


"Querido Jesus, por que você não está inventando nenhum animal novo nos últimos tempos? A gente vê sempre os mesmos." (Laura)

"Querido Jesus, por favor, ponha um pouco mais de férias entre o Natal e a Páscoa. No meio, agora está sem nada." (Marco)


"Querido Jesus, o padre Mário é seu amigo ou você conhece ele só do trabalho?" (Antonio)

"Querido Menino Jesus, por gentileza, mande-me um cachorrinho. Eu nunca pedi nada antes, pode conferir." (Bruno)


"Querido Jesus, talvez Caim e Abel não se matassem tanto se tivessem um quarto pra cada um. Com o meu irmão funciona." (Lorenzo)


"Querido Jesus, no Carnaval eu vou me fantasiar de diabo, você tem alguma coisa contra?" (Michela)


"Querido Jesus, eu gosto muito do padre-nosso. Você escreveu tudo de uma só vez, ou você teve que ficar apagando? Qualquer coisa que eu escrevo eu tenho que refazer um monte de vezes." (Franco)


"Querido Jesus, você é invisível mesmo ou é só um truque?" (Giovanni)


"Querido Jesus, na minha opinião, é impossível existir um Deus melhor do que você. Bom, eu só queria que você soubesse, mas estou te dizendo isso não é porque você é Deus." (Valerio)


"Querido Jesus, em vez de você fazer as pessoas morrerem e aí criar novas pessoas, por que você não fica com as que já tem?" (Marcello)


"Querido Jesus, se não tivesse acontecido a extinção dos dinossauros não ia ter lugar para nós, você fez muito bem." (Maurizio)


"Querido Menino Jesus, não compre os presentes na loja embaixo do prédio, a mamãe diz que eles são uns ladrões. Muito melhor no super." (Lucia)


"Querido Jesus, nós estudamos na escola que Thomas Edison inventou a luz. Mas no catecismo dizem que foi você. Pra mim ele roubou a sua idéia." (Daria)

Esta é minha homenagem às crianças pelo seu dia, comemorado hoje.


Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR)
e vice-presidente do Parlamento do Mercosul.
dr.rosinha@terra.com.br
http://www.drrosinha.com.br/

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

É a Doris!!!

Academia Sueca transforma Lessing na 11ª mulher a receber o prêmio Nobel

- Uau!!! Porque conheço e amo toda a sua obra, pela primeira vez na vida eu vibro com um prêmio Nobel da literatura.
Quando eu escutei a notícia, hoje bem cedo, comemorei como se tivesse ganho um prêmio. Fiquei gritando:

- A Doris Lessing!! A Doris Lessing!!
O meu marido que estava ao meu lado lendo o caderno esportivo da Gazeta do Povo me olhou com aquela expressão de quem - mais uma vez - tem a certeza de que é casado com uma mulher maluca.
Nédier
- Quem ainda não leu Doris Lessing não sabe o que perdeu.

Escritora britânica Doris Lessing ganha Nobel de Literatura

Estocolmo, 11 out (EFE).- A escritora britânica Doris Lessing,cuja obra contém influências africanas, feminismo e compromisso político, foi agraciada com o Prêmio Nobel de Literatura 2007,anunciou hoje a Academia Sueca.
A autora receberá o prêmio por transmitir a "experiência épica feminina", que descreveu "com ceticismo, paixão e força visionária" a divisão da civilização."
"Trata-se de uma das decisões mais meditadas que já tomamos",disse o diretor da Academia, Horace Engdahl, após divulgar o veredicto.
A autora estava entre os favoritos ao Nobel há décadas, embora
ultimamente seu nome tenha desaparecido das listas, exatamente devido ao longo tempo em que seu nome aparecia entre os candidatos.
Com esta decisão, a Academia Sueca transforma Lessing na 11ªmulher a receber o prêmio.
A última mulher a receber o Nobel de Literatura foi a austríaca Elfriede Jelinek, em 2004, e a primeira foi a sueca Selma Ottilia Lovisa Lagerlöf, em 1909.
Nascida em 22 de outubro de 1919 em Kermanshah (atual Irã), filha de britânicos, Lessing é uma escritora que levou boa parte de sua experiência autobiográfica africana a suas obras.
Assim fez em "The Grass is Singing", publicada em 1950, e em boa parte de suas obras posteriores, impregnadas pelas essências do continente africano, onde passou parte de sua vida.
Em 1962 Lessing publicou o romance que a tornou famosa, "TheGolden Notebook", e depois consolidou sua fama com uma série de títulos de temática africana.
Seu compromisso político a levou a criticar abertamente os Governos racistas de Rodésia (atual Zimbábue) e da África do Sul,sendo impedida de entrar nestes países.
Sua última obra, publicada este ano, é "The Cleft".
O Nobel de Literatura do ano passado foi para o turco Orhan Pamuk.
O Nobel de Literatura concede 10 milhões de coroas suecas (US$1,5 milhão) e será entregue junto aos outros prêmios em 10 de dezembro, aniversário da morte de seu fundador, Alfred Nobel.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Renan, os psicopatas e uma definição esquemática antiga

Cada vez que leio jornais e vejo a reação do Renan aos acontecimentos, mais me convenço de que estou diante de um psicopata.

Os psicopatas não precisam ser serial killers. Basta haver uma frieza anormal em relação ao comum dos mortais.

Isto foi provado cientificamente em um estudo que analisou o cérebro de vários psicopatas diante de imagens que provocam reações cerebrais na maioria das pessoas. O cérebro deles reagiu de forma igual diante de uma linda paisagem serena e de uma cena de horror, tortura, sangue, etc.
Para o cérebro deles as duas têm respostas negativas iguais.
O psicopata não tem reações normais. Ele é frio, sem culpa e se acha injustiçado pelo mundo. Sofre apenas pelas conseqüências para ele.

Lembro de um filme, baseado em fatos reais e num livro escrito pela própria assassina protagonista que me impressionou muito. Era um filmete destes comuns de TV, mas foi altamente revelador sobre como pensa e age um psicopata.

Esta mulher era casada tinha filhos e era um membro ativo da comunidade, inteligente e querida. Quando o marido resolveu se separar para viver com a amante, ela começou uma série de atos “atração fatal” contra os dois - tipo destruir o carro e tal, culminando com a invasão da casa e o assassinato de ambos na cama do casal. Mas o impressionante foram as justificativas dela.
Durante o processo, ela foi se afastando de todos os que tentavam mostrar que seus atos estavam errados e se sentia injustiçada, perseguida pela comunidade, perdeu todos os amigos, se isolou, mas não desistiu. Continuou achando que só ela estava certa e incompreendida.
No final do livro (e do filme) já na cadeia, ela escreve: acho estranho chamarem os dois (mortos) de vítimas. Neste caso só houve três vítimas: eu e meus dois filhos.

Não conseguia ver o assassinado brutal de duas pessoas como algo errado. Ela era a injustiçada por ter sido “traída” e estar presa.
O Renan me lembra esta mulher.
Lembra também um amigo da minha adolescência que ao ser flagrado pela namorada com outra fingiu que não viu. No dia seguinte, confrontado com a cena respondeu: - Não era eu. Por mais que ela se esgoelasse, afirmasse: fui eu que vi, ninguém me contou, ele sempre respondia que não era ele.
O que fazer diante de um muro deste?
Não lembro se ela terminou com ele. Mas mesmo que tenha feito isto, deve ter ficado com a impressão amarga de não ter podido assistir um mínimo de sentimento de culpa.
Eu matava. Depois ficava culpada...rs...

Na época eu classifiquei este amigo numa definição que estudava no colégio.
Eram muito esquemáticas e dividiam as pessoas por três características.
Vou lembrar aqui só de curiosidade:
emotivas não emotivas / ativas, não-ativas / primárias, secundárias emotivos reagem emocionalmente a tudo, não-emotivos são frios.

Ativos realizam o que pretendem e inativos sonham mais do que fazem.

Primários reagem por impulso enquanto secundários pensam antes de agir.

As emotivas, ativas, primárias são pessoas generosas, passionais, lutadoras, mas excessivamente impulsivas, acabam não realizando o que pretendem.

As emotivas, ativas, secundárias são os grandes líderes: têm todas as qualidades dos primeiros sem a impulsividade, com mais racionalidade.

As emotivas, não ativas primárias são “cão que ladra não morde”: esbravejam, se esgoelam, sofrem, têm impulsos terríveis mas não chegam a realizar.

As emotivas, não-ativas secundárias são, geralmente, artistas, colocam suas emoções num trabalho mental, emocional.

As não emotivas, ativas, primárias são perigosas - elas reagem rápido, são frias e ativas. Muitos líderes terríveis eram assim.

As não-emotivas, ativas, secundárias são mais perigosas ainda porque além de frias e ativas, são cerebrais, esperam o momento de atacar (Renan e a maioria dos psicopatas).

Mas há gente ótima nesta categoria também. E em todas, claro - o que varia é a maneira como cada um lida com seus defeitos e qualidades.

Há ainda:
Os não-emotivos, não-ativos, primários e os não emotivos, não-ativos, secundários - estes são aqueles que vivem uma vida totalmente mental e fria. Devem ser budistas.

É claro que esta classificação é esquemática porque existe uma gama de tonalidades entre estes tipos principais. Mas é interessante a gente tentar se enquadrar.

Maria Helena Bandeira, escritora


quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Menino de Rua: O Só.

Menino de Rua:
.
O Só...
.
encolhe-se,
enrosca-se,
abraça-se.
.
não dorme;
sonha
.
com a sorte.
que sorte?
por norte,
só a morte.



Minha homenagem ao "Meninos de Rua: O Sol"
e a José Alberto Costa, seu autor.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Almeida Lima, o boneca.

Quando eu nasci o Ahu, onde ainda moro, era um bairro de imigrantes italianos.
Os homens trabalhavam na construção civil, em metalúrgicas ou por conta própria: encanadores, pintores, sapateiros... As mulheres eram donas de casa, escutavam novelas nas rádios e controlavam as despesas da casa. Eu me criei no meio desta gente simples e alegre.
Os homens se reuniam no bar no fim da tarde para bater papo e aos domingos, em torno do campo de futebol do Operário do Ahu para assistir os jogos. Quando bebiam demais às vezes brigavam entre eles, trocavam uns sopapos, mas eram coisas passageiras que não resistiam a uma segunda-feira de ressaca.
Os homens eram homens e os poucos homossexuais eram chamados de veados (a palavra gay é usada há pouco tempo e nem chegou no meu Ahu).
Os veados eram folclóricos e bem aceitos em todos os lugares. Desde criança eu sabia, por exemplo, que o Bepi da Maria era veado e eu nunca achei que ele fosse uma pessoa indigna. Ninguém de nós achava que era errado ser veado.

Mas Homem não tinha chilique!!
Homem não tinha ataques de raiva!!

Não existia uma classe intermediária.


As mulheres e os veados podiam ter chiliques e os homens não.
Ponto final.

Eu penso que vou ter um chilique quando assisto na televisão o senador Almeida Lima - tão desavergonhado - nos afrontando com seu descaramento.

Para me animar um pouco, eu fico imaginando aquele senhor histérico e cheio de trejeitos vivendo aqui no Ahu dos tempos de minha infância.

Chego a escutar um dos meus tios, embora já não tenha nenhum vivo, a me dizer com a voz carregada de espanto:

- Dio mio!! tem mesmo é que enfiar a mão na cara deste veado pra ele se acalmar!!

Mas nem meu tio - além-túmulo e revoltado - alivia a minha indignação de ser tratada como se eu fosse uma retardada. Nem suaviza a minha angústia em ver a população inteira do meu país sendo tratada como se todos nós - cidadãos brasileiros - fôssemos idiotas.

Eu conheço muitos sergipanos e pelo que conheço devem sentir vergonha de ver um dos seus conterrâneos se comportando como um palhaço, perdendo a linha, falando asneiras. Tendo chiliques. Sendo chamado de Boneca.

Tudo é muito patético, não sei de quem cobrar esta grande depressão em que me encontro por ver o meu país sendo tão desrespeitado. Mas, além das patifarias explícitas, existe algo que eu não entendo:

- Como pode um homem público não ter senso de ridículo??

- Será que o senador Almeida Lima assiste as retransmissões dos seus "pronunciamentos" na Comissão de Ética do Senado e acha que aquilo que ele diz e faz é coisa de Homem?

- Será que ele não pensa em sua família? Na vergonha de seus filhos ao ver um pai histérico desmunhecando? Puxando o saco e defendendo um indefensável coronel das Alagoas?

- Será que qualquer poder, que possa resultar desta postura histriônica, deste espetáculo deprimente, vai compensar a sua desmoralização política?

- Será que ganhar um pequeno prestígio dentro do seu partido vai compensar todo o ódio que ele vem amealhando em um país de proporções continentais?

- Já que nós SÓ podemos desprezá-lo - por enquanto - será que ele não tem nenhum amigo, nenhum membro de sua família que tente fazê-lo parar de se comportar como um bufão??

Eu me sinto envergonhada cada vez que assisto um pronunciamento deste senador. Os espanhóis chamam de verguenza ajena este tipo de constrangimento, esta vergonha que o comportamento vergonhoso de outra pessoa nos produz.

- Senador Almeida Lima, será que V. Excia. não tem um pingo de vergonha na sua cara?

Nédier

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Meninos de Rua: o sol - José Alberto Costa*



Passava do meio-dia. Um corpo inerte permaneceu a noite inteira ali. A posição fetal fazia-o nascer todos os dias de sua vida. Os transeuntes quase esbarravam nele. Cinzento, pés pretos, olhos vermelhos, papo amarelo, multicor. A expressão era de um menino; o sonho, de adolescente; o humor de um adulto; a vida, sabe-se lá o quê.

Aos poucos acordava daquele pesadelo para outra vida de horror. Sentou-se e reparou a movimentação de carros e pessoas que passavam ao largo. Pôs a mão dentro do calção tamanho grande, que o deixava perdido na sua magreza e retirou o café da manhã, que fora o jantar e o almoço do dia anterior – cola. Enquanto cheirava, afagava os cabelos castanhos sujos, limpava as remelas da noite sombria e tornava a afagá-los.

Tomado o café, cruzou a rua larga, despreocupado com o vai e vem dos carros. Braços bem abertos, pernas em compassos diferente do resto do corpo, arrastava-se para o outro lado da cidade, o descampado da cidade. Ainda segurava no beiço a garrafa de cola. Parecia um magro ianomâmi pós-moderno, com sua boca esticada e pedaço de graveto enfiado no lábio inferior. Um verdadeiro curumim perdido na floresta de pedra e asfalto.

Parecia saber pra onde ir. Parecia procurar um deus. Mas que deus queria achá-lo. Passou a noite dando bobeira debaixo da velha marquise e ele não o encontrou. Mas parecia procurar um deus. Olhava para o lado, pros pés, pras mãos, pros outros, por entre os prédios, e nada, nadinha de nada. E continuava sua busca. Por certo não saberia explicar esse deus, essa fonte de inspiração para seu delírio de início de tarde. Mais a frente tentava equilibrar a garrafinha de cola na cabeça. Agora parecia uma indiazinha que havia chegado na aldeia depois de apanhar água no igarapé.

Continuava caminhando, olhando a tudo e a todos. Não falava, não balbuciava nada. Parecia tomar decisões certas, seguir os caminhos mais certos, os horizontes mais firmes. Transformara-se num grande cacique, sábio na chefia de si mesmo. Atento aos momentos de perigo, um guerreiro concreto, pronto para o infortúnio, pronto e senhor de si. E assim percorria cada ponto da cidade numa mutação veloz. Parecia crescer, e mais veloz. Parecia esticar, e cada vez mais veloz. Ficava branco de medo, azul de fome, vermelho de raiva e as mutações continuavam cada vez e mais veloz.

Olhando todo o percurso desenhado nas diversas ruas por onde passou, aquela pobre criança havia assimilado a vida dele e de todos os outros que passaram por ele em cada estágio de sua mutação. Seus índios, de diversas aldeias e de diversas raças, desaceleravam próximo ao ponto final. Tinha uma mutação a mais. Mais velha, mais sábia e curandeira. Nosso pequeno rebento havia se transformado em pajé e percorrera toda a cidade para abraçar o deus que descobriu nunca lhe abandonara – o sol. E como em ritual de pajelança abraçou-o amavelmente, elevou as mãos aos céus se cobrindo d'ouro dos raios do sol e tornou a dormir, feliz ao relento.


*José Alberto Costa é um professor e escritor pernambucano que escreve textos belíssimos e pungentes - como este - sobre os "seus" meninos de rua de Recife. A respeito deste "Meninos de Ruas" José Carlos Antonio, outro homem maravilhoso, meu amigo de "botequim" ** escreveu:

"Tem a crueldade da beleza, a ternura da dor que não passa e o cheirodoce da morte. Descansará no fundo do oceano de nossas angústias, junto com as outras pérolas que produzimos nesse Boteco."

**Botequim ou Boteco é um grupo que reúne loucos maravilhosos como os meus dois Josés.

Nédier

Conversa_de_Botequim@yahoogrupos.com.br