terça-feira, 31 de março de 2009

É amanhã!! - "A sabatina do ministro Gilmar" - artigo do jornalista Vitor Hugo Soares

Foto: Gterra
A sabatina do ministro Gilmar
Vitor Hugo Soares
Enquanto não chega o 1º de abril, data anunciada do esperado confronto em que deverá constituir-se o depoimento do delegado Protógenes Queiroz na chamada "CPI dos Grampos", o público das arquibancadas e gerais tem sido premiado com bons jogos "aperitivos". No jargão futebolístico tão em voga na era Lula, estes encontros até poderiam ser qualificados de "clássicos" do debate sobre política, justiça, imprensa e ética no Brasil pós-Operação Satiagraha.

Esta semana entraram em campo elementos novos e incandescentes, a partir da prisão de 10 pessoas vinculadas à construtora Camargo Corrêa. Entre elas quatro diretores da segunda maior empreiteira do País, acusados de crimes financeiros e desvios de dinheiro. Para culminar, a Justiça condenou Eliana Tranchesi, dona da butique Daslu, a 94 anos de prisão, por formação de quadrilha para praticar "crimes financeiros de forma habitual e recorrente, mesmo após a denúncia do Ministério Público Federal".
Beneficiada por um Habeas Corpus, ontem mesmo, à noite, a empresária dos granfinos deixava o Carandiru ao volante de um desses carros de cinema, impecalvelmente vestida e com um sorriso difícil de se ver em pessoa gravemente doente, como dizem que ela está.

Grana, política e poder misturados em jogo pesado, que promete lances sensacionais nos próximos dias. Ainda assim, merece destaque a atuação do ministro-presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, terça-feira (24/03), na sabatina organizada pelo jornal "Folha de S. Paulo", dois dias antes do presidente da República pedir o fim da pirotecnia retórica na PF, no Judiciário e no Ministério Público. O magistrado teve tratamento de "popstar" no Teatro Folha, e, em vários momentos da apresentação de duas horas de duração, mandou a moderação às favas.

O presidente do Supremo foi recebido com pompa e gala para ser entrevistado por profissionais do time principal do jornal (colunistas Mônica Bergamo, Eliane Cantanhêde, Fernando Rodrigues e Renata Lo Prete), além de felizes sorteados na platéia de 300 lugares, completamente lotada. Bem diferente do que se viu na sabatina do delegado Protógenes, feita por ouvintes ao telefone ou através de e-mails, além da dupla de apresentadores no estúdio modesto e precariamente iluminado da TV-UOL.

Que contraste, quando comparado com sabatina desta terça-feira! A cena mais emblemática do espetáculo de duas horas de duração foi, sem dúvida, a tumultuada saída do palco do presidente da Suprema Corte do País, transmitida igualmente pelas câmeras da TV-UOL. Vaias e aplausos explodiam do auditório dividido.

Mal (ou bem) comparando, parecia o choque das torcidas de Corinthians e São Paulo, Flamengo e Fluminense, ou Bahia e Vitória, em dias de clássicos no Morumbi, no Maracanã ou Estádio de Pituaçu, o novo xodó dos baianos.

Em cima do palco, o ministro assinava autógrafos pedidos por fãs localizados na platéia, de onde partiam palmas de aprovação, gritos de protestos e insultos pesados contra o presidente do Supremo. O professor de geografia Mauricio Costa, por exemplo, que se identificava como "cidadão brasileiro revoltado", gritava contra o silêncio do ministro nas questões relacionadas com o delegado Protógenes e o juiz De Sanctis. E, aos gritos, cobrava: "Porque o ministro concedeu os Habeas Corpus que deixaram em liberdade o banqueiro Daniel Dantas, e porque anda falando que o Movimento dos Sem-Terra no Brasil (MST ) recebe dinheiro público "para cometer ilegalidades?".

O ministro Mendes não renegou a notoriedade de amante da política e da polêmica. Respondeu que o segundo pedido de prisão do banqueiro foi uma tentativa de desmoralizar a corte que ele preside. As intensas reações da platéia, a favor e contra, geraram eletricidade em alta tensão. Mendes não conseguia esconder o nervosismo em alguns momentos - bebeu quase um litro e meio de água nas duas horas de sabatina -, mas jogou como craque da retórica jurídica e política, com a língua afiada e solta.

Quando a jornalista Mônica Bergamo tentou contra-argumentar em favor da prisão de Daniel Dantas, o presidente do STF com um sorriso enigmático, respondeu com uma insinuação, marca mais recente do ministro do Supremo no diálogo com jornalista. No ar e na boca um travo de ameaça mal-disfarçada na resposta: "Eu entendo a sua torcida, Mônica", disse o presidente do STF. Risos simpáticos de aprovação e aplausos da torcida a favor. Vaias sonoras da torcida adversária.

No final, a saída estratégica do ministro pela porta de trás, para evitar a manifestação de protesto de estudantes na rua em frente ao teatro da Folha.
Ótima preliminar para o 1º de abril.
Vitor Hugo Soares é jornalista.
Este artigo está também no Blog do Noblat:

terça-feira, 24 de março de 2009

Com o coração pesado como chumbo, faço uma declaração de amor a uma cidade

Cornélio Procópio é a cidade que amo, amo, amo...

Que o Cristo da cidade de Cornélio Procópio
Proteja-a!!

Nasci e sempre morei em Curitiba.
Cornélio para mim, desde criança, era a cidade onde morava minha tia mais amada, irmã de meu pai. Seu nome era Cecília, mas ela era mesmo a tia Marica, filha do velho Antonio Brusamolin e casada com um bancário do Banco do Brasil que iniciou sua carreira como contador em Cornélio Procópio em sua agência recém inaugurada... Lá vai mais de meio século.
Conheci Cornélio bem adulta...Eu era uma “jovem” senhora idosa...rs... que veio substituir um auditor fiscal que tinha uma ordem de serviço para fiscalizar os bancos da cidade e ficou doente nas vésperas de viajar.
Foi chegar e me apaixonar por Cornélio Procópio
Toda a minha família, todos os meus amigos sabem do amor que sinto por esta cidade e por sua gente.
Toda esta introdução é para contar que meu coração está pesado como o chumbo que contamina a minha Cornélio.
Fiz algumas pesquisas e fiquei horrorizada com o descaso de nossas autoridades com este problema trágico e letal que afeta a minha Cornélio. Estou transcrevendo apenas dois.

“O teste, realizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, apontou altíssimos índices de metais pesados no organismo dos peixes, principalmente cromo e chumbo. “O cromo encontrado nas vísceras dos cascudos, por exemplo, é 830 vezes superior à quantidade tolerada pela legislação sanitária brasileira, que é de 0,10 miligramas por quilo. Já a quantidade de chumbo detectada foi quase 29 vezes mais alta que os parâmetros legais tolerados”. Segundo a Secretaria, “estudos científicos relacionam os riscos causados à saúde humana por metais pesados como chumbo, cromo, cobre, zinco, cádmio e mercúrio. Ao contaminar o ambiente, estes metais atingem as cadeias alimentares (água, peixes, vegetais) e chegam ao homem. No organismo humano, podem causar problemas neurológicos, hepáticos, doenças como câncer, malformações congênitas e outras anomalias reprodutivas”. É amplamente sabido que o efeito desses elementos químicos metálicos, em concentrações elevadas é muito grave para a saúde humana e dos demais seres vivos. Os metais pesados são despejados nos rios pela indústria e pela agricultura.”

“...Cornélio Procópio é a cidade recordista em casos de intoxicação por agrotóxicos no Paraná. Além disso, o Paraná é recordista brasileiro em número de pessoas com câncer. Não é difícil imaginar que este é o preço pelo uso contínuo e indiscriminado de venenos nas nossas lavouras, poluindo a água e os alimentos que ingerimos.”

Jelson Oliveira, poeta, secretário executivo da CPT-PR, é autor de Calendário das Águas (SP: Musa Editora, 2003).
Gostaria que lessem a matéria toda: OS AGROTÓXICOS E A POLUIÇÃO DAS ÁGUAS: COANDO MOSQUITO E ENGOLINDO CAMELO no endereço abaixo:
http://www.cpt.org.br/?system=news&action=read&id=276&eid=136


Hoje recebi esta matéria do ex-delegado regional do trabalho em Curitiba, Geraldo Serathiuk e apesar de não receber a foto mencionada pela reportagem fiquei ainda mais preocupada.

O caso é chumbo grosso
Jornal Impacto
Infelizmente as coisas neste país são levadas com a barriga ou varridas pra debaixo do tapete da imoralidade e do descaso com o cidadão brasileiro.
A cidade de Cornélio Procópio, no norte do nosso Paraná está sofrendo com a contaminação de chumbo inorgânico, que vem sendo sistematicamente despejado no meio-ambiente pela indústria IPB Fundição de Chumbo, caso que estamos acompanhando desdo ano passado (anteriormente a empresa possuía outra razão social e era uma fábrica de placas).
Pois bem, publiquei fotos do óxido de chumbo sendo derramado no meio ambiente, publiquei as pesquisas da Universidade da Filadélfia e da USP mostrando que os efeitos do chumbo no organismo são devastadores, principalmente no tocante as funções neurológicas das crianças que comprovadamente aumenta os índices de delitivos graves estão intimamentes ligados com as altas contaminações por chumbo, do tipo encontrado e acumuladores e baterias desde tenra idade.
Cadê a Igreja Católica, a OAB a UNESCO, os Direitos Humanos que não enxergam os moradores do Bairro do Macuco em Cornélio Procópio?
A Campanha da Fraternidade da CNBB não é contra a violência urbana?
A contaminação por chumbo não aumenta os índices de violência?
Os deputados da Assembléia estão muito mais pra lá do que pra cá.
Os nossos Federais ocupados demais com jogos de poder e verbas parlamentares do quê com verduras contaminadas, gente contaminada, água contaminada, solo contaminado, alimento e leite contaminado. Todos esqueceram de Leópolis (PR), Assaí (PR), Adrianópolis (PR), Botucatu (SP) e por aí vai. Não é na casa deles, não é com a família deles, não existe.
Então pelo descaso de todos, que deixa que produtos agrícolas estejam dividindo espaço com fábrica recicladora de chumbo e permita que seres humanos consumissem os alimentos e até exportem para outros estados da federação brasileira; e porque também não o Ministério do Meio Ambiente na figura do IBAMA, o Ministério Público do Paraná, mesmo as Secretarias Municipal e Estadual de Saúde, estão condenando a morte dolorosa e lenta a todos os moradores do Bairro do MACUCO e as crianças inocentes que lá vivem e não tem com seus pais para onde ir, contaminadas e se re-contaminando cada vez mais a cada dia, sem tratamento e já sentindo os efeitos do chumbo no seus pequeninos organismos.
Esta cena chocante é de uma menina sorridente, acha que brinca de médico, reflete sim a ingenuidade de uma criança que está sendo ceifada no seu direito a saúde e a vida. Kawany nasceu saudável, normal, hoje está doente e não entende o porquê, apenas se sente cansada e triste. Tudo em nome de um progresso que só se ouve falar no discurso dos hipócritas e no bolso dos políticos e demais meia dúzia de canalhas que são os únicos a lucrarem com degradação da humanidade e do meio ambiente.
.........................

E então,minha gente?
Vamos deixar por isso mesmo?
Um abraço,
Nédier

domingo, 22 de março de 2009

2009 é o no da reforma ortográfica, uma delícia de texto

Foto de Sebastião Salgado
Escola para crianças do Movimento Sem-Terra no acampamento de Santa Clara - Sergipe, Brasil, 1996.


2009 é o ano da reforma ortográfica.

Em casos como *AUTOESTIMA*, o hífen cai.
A sua é que não pode cair.

Em algumas palavras, o acento desaparece, como em *FEIURA*.
Aliás, poderia desaparecer a palavra toda.

O acento também cai em *IDEIA*, só que dela a gente precisa.
E muito.

O trema sumiu em todas as palavras, como em *inconsequência*, que também poderia sumir do mapa. Assim, a gente ia viver com mais *TRANQUILIDADE.

Mas nem tudo vai mudar.
Abraço continua igual.
E quanto mais apertado, melhor.

*Amizade *ainda é com "z", como vizinho, futebolzinho, barzinho.

Expressões como *"Eu te amo".***continuam precisando de ponto.
Se for de exclamação, é *PAIXÃO*, que continua com x,
como *abacaxi*, que, gostando ou não, a gente vai ter alguns
para descascar.

*Solitário* ainda tem acento, como *Solidário*,
que só muda uma letra,
mas faz uma enorme diferença.

*CONSCIÊNCIA* ainda é com *SC*, como SANTA
CATARINA, que precisa tocar a vida pra frente.

E por falar em *VIDA*, bom, essa muda o tempo todo, e é por isso que
emociona tanto.



Recebi este delicioso texto de autor desconhecido (quem souber quem o escreveu me avise para eu colocar o crédito)
Recebi-o formatado em pps. por Fátima Murari em Jan/2009 e transcrevi-o fielmente. Quem me mandou foi minha amiga Fátima Tereza, baiana e enóloga, (olhem só que combinação!!).

Um abraço,

Nédier

“Nunca usamos dinheiro público para fazer ocupações”

Foto: fonte Agência Brasil



João Pedro Stedile, líder nacional do MST, contesta acusações de que o movimento desvia dinheiro público e ataca o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, a quem chama de "Berlusconi verde-amarelo".

Leandro Loyola

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) é acusado, entre outras coisas, de usar dinheiro público para bancar suas invasões de terra. Na semana passada, a Justiça federal e o Tribunal de Contas da União (TCU) bloquearam bens e pediram a devolução de dinheiro público dado a ONGs ligadas aos sem-terra. As entidades são acusadas de não prestar os serviços prometidos e entregar o dinheiro aos movimentos.
A cruzada contra os sem-terra começou no final de fevereiro, por causa de uma declaração do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Ele afirmou que o próprio governo estaria cometendo ilegalidades ao dar dinheiro às ONGs ligadas ao MST.Em entrevista concedida a ÉPOCA, o líder nacional do MST, João Pedro Stedile, nega que o movimento receba dinheiro público. Ele afirma que usar dinheiro público seria “o fim” do MST. Stedile critica o presidente do Supremo, ao afirmar que ele é latifundiário, defende banqueiros corruptos e também possuiria sua própria ONG. Por exigência de Stedile, a entrevista foi feita por e-mail.


ÉPOCA - O presidente do STF, Gilmar Mendes, afirmou no mês passado que o governo federal não pode repassar dinheiro público ao MST. O dinheiro a que ele se refere é repassado a ONGs. Afinal, o MST recebe ou não dinheiro de entidades como Anca, Concrab, Iterra etc?



João Pedro Stedile - As entidades citadas estão devidamente habilitadas nos órgãos públicos e são fiscalizadas com rigor. Desenvolvem projetos de assistência técnica, alfabetização de adultos, capacitação, educação e saúde em assentamentos rurais. Isso é feito por centenas de entidades em todo o país, sendo que algumas delas recebem verbas polpudas. Isso acontece por culpa do governo neoliberal do Fernando Henrique, que implementou a substuição do Estado por ONGs. O MST sempre defendeu que direitos como educação, saúde e assistência técnica rural têm que ser implementados pelo Estado, para garantir a sua universalização. O engraçado é que os neoliberais, como o senhor Gilmar Mendes, desmontaram o Estado e agora reclamam das ONGs. Até ele (Mendes) montou sua própria ONG para dar aulas de direito. Não seria melhor multiplicar faculdades públicas?

ÉPOCA - Como o MST banca os custos de suas invasões e protestos?



Stedile - As lutas dos trabalhadores só acontecem porque há problemas sociais e direitos negados. Então, parcelas mais conscientes se organizam, mobilizam suas forças e lutam. Nossa luta é fruto dessa consciência e, evidentemente, recebemos solidariedade dos trabalhadores, dos estudantes e professores, das igrejas e da sociedade brasileira. Existimos há 25 anos graças ao apoio político da sociedade brasileira e internacional e somos gratos pelas muitas homenagens recebidas. Nunca usamos um centavo de dinheiro público para fazer ocupações. Seria o fim de qualquer movimento. Isso é um absurdo e fere a inteligência do povo. Imagine que amanhã vão dizer que os sindicatos são financiados pelo dinheiro público para fazer greves.


ÉPOCA - Caso os repasses do governo sejam encerrados, em que medida isso poderia afetar o MST?



Stedile - Em nada afetaria o MST.
Apenas achamos engraçado como eles se preocupam com ONGs que atuam na reforma ágraria. Essa é a questão. Na verdade, o senhor (Gilmar) Mendes está defendendo seus interesses como latifundiário e os interesses da sua classe. Não quer reforma agrária nem quer ver a terra dividida. Muito menos lá no Mato Grosso, onde proibiu até pescaria em sua fazenda. Ele faz pose de moralista e não explica por que sua ONG recebe dinheiro público. Por quê?
Por que não investiga o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, entidade mantida por proprietários rurais), administrado pelos fazendeiros, que recebeu R$ 1 bilhão de verba pública? Há processos no Tribunal de Contas da União de dinheiro do Senar apropriado para enriquecimento pessoal de fazendeiros. Por que não pede investigação da ONG Alfabetização Solidária (ONG voltada para projetos de alfabetização, iniciada pela antropóloga Ruth Cardoso em 1997), que recebeu R$ 330 milhões para fazer alfabetização de adultos? Quantos parlamentares respondem por processos de improbidade? Mais uma pergunta: algum militante do MST ficou rico com dinheiro público? A Policia Federal sabe muito bem quem desvia dinheiro público no Brasil.


ÉPOCA - Na sua visão, em que medida as invasões de propriedades rurais podem ser consideradas legítimas?



Stedile - Há juristas, como o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça Luiz Vicente Cernicchiaro, que expôs em acórdão do tribunal que ocupação massiva para pressionar pela reforma agrária não só não é crime, mas um direito do povo de lutar. Portanto, não é questão de lei, mas questão de classe. As ocupações de terra são uma forma de o povo organizado pressionar o governo a fazer reforma agrária. A solução é simples: basta aplicar a Constituição e acelerar a reforma agrária, que acabariam as ocupações. Agora, todas as milhares de famílias já assentadas pela reforma agrária no Brasil tiveram que ocupar terra para conquistá-las. A culpa não é nossa, mas da omissão do Estado brasileiro. Claro que o senhor Gilmar Mendes deve também ser contra as greves, quilombolas, povos indigenas, ou seja, pobres em geral. No entanto, é a favor dos militares que implantaram uma ditadura militar, de banqueiros corruptos. Cada um defende a classe a que pertence.


ÉPOCA - A Advocacia Geral da União procura meios para voltar a aplicar uma medida que inibe invasões de terra. A medida, usada no governo Fernando Henrique, diz que propriedades invadidas ficam fora da reforma agrária por dois anos. Se essa regra voltar a valer, o que o MST pretende fazer?



Stedile - As ocupações de terra são uma forma histórica de os pobres do campo brasileiro lutarem - não foi o MST que inventou. Elas existem desde 1850, quando a Lei de Terras institucionalizou o latifúndio e a concentração da propriedade.
A luta pela reforma agrária vai existir enquanto tivermos na sociedade brasileira a contradição entre 30 mil fazendeiros e 4 milhões de famílias sem-terra e 11 milhões de familias que estão em programas assistenciais do governo. Menos de 1% dos proprietários controla 46% de todas as terras no Brasil. As nossas mobilizações e ocupações vão continuar. A sociedade brasileira precisa discutir como enfrentar a crise econômica que está aí. Precisamos discutir como produzir alimentos sem agrotóxicos, como ter uma agricultura sustentável, como preservar a terra, a água e a biodiversidade, que são bens da natureza, repartidas entre todos os brasileiros, e não apenas entre fazendeiros e empresários. Esse é o debate. O senhor Gilmar Mendes assumiu convictamente o papel de líder da direita no Brasil e, por isso, o chamamos de Berlusconi verde-amarelo (alusão ao primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi), embora ele seja mais parecido com o (Benito) Mussolini.



Revista "ÉPOCA"


sábado, 21 de março de 2009

Raposa Serra do Sol, símbolo da vitória de uma luta de mais de três décadas


STF confirma homologação da reserva Raposa Serra do Sol
20/03/2009


Com um placar de 10 votos a favor e apenas um contrário, foi concluído hoje o longo julgamento do processo que questionava a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol. O julgamento iniciado em agosto de 2008 foi interrompido por duas vezes em conseqüência de pedidos de vista.
O Conselho Indigenista Missionário congratula-se com todos os povos indígenas do Brasil, em especial da terra indígena Raposa Serra do Sol, por mais uma vitória histórica no processo de consolidação dos direitos territoriais indígena. O Cimi reconhece que tal êxito se deu pela luta incansável dos povos daquela terra, que por mais três décadas vêm lutando por seus direitos com o apoio de uma grande rede de aliados e simpatizantes da causa indígena. Para que finalmente a paz possa se reinstalar no meio das comunidades de Raposa Serra do Sol, o Cimi espera que a retirada dos invasores ocorra de forma imediata, conforme decidido unanimemente pelo STF.
Ao julgar improcedente a Petição nº. 3388, o STF, além de confirmar a homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol, nos limites e na forma determinada por atos do ministro da Justiça e do presidente da República, também consagrou o entendimento de que a demarcação de terras indígenas deve ser feita de forma contínua, que a demarcação de terras indígenas na faixa de fronteira não atenta contra a soberania do país e de que a demarcação de terras indígenas não compromete o desenvolvimento de qualquer unidade da federação.
Com o voto do ministro Carlos Alberto Menezes Direito, foram adotadas várias condições, referentes ao uso da terra pelos indígenas, sobre o ingresso de não índios naquelas terras, sobre atividades de defesa das Forças Armadas em territórios indígenas, sobre participação de entes federativos nos procedimentos demarcatórios, dentre outros.
No entendimento do Cimi, o STF extrapolou o que foi pedido pelos autores da ação popular julgada, na medida em que estabeleceu uma normatização para todos os procedimentos de demarcação de terras indígenas no país. Tal condição deve ser entendida num contexto de cerceamento de direitos dos povos indígenas, das populações tradicionais, do campesinato e outras, em favor da expansão do interesse do capital privado no campo.
Diante disso, o Cimi alerta sobre os riscos que a restrição de direitos pode acarretar, como o acirramento de conflitos em razão da legítima defesa da posse da terra pelos povos e comunidades indígenas.
Manifesta sua compreensão quanto ao respeito à autonomia dos povos indígenas sobre seus territórios; sobre seu legítimo direito de gestão, decisão e protagonismo nas matérias que lhes dizem respeito.
Por fim, reafirma seu compromisso e apoio ao fortalecimento da organização e da luta dos povos indígenas, na defesa de seus direitos originários às terras que tradicionalmente ocupam, independente de quaisquer limitações temporais.

Brasília, 19 de março de 2009.

Cimi – Conselho Indigenista Missionário

domingo, 15 de março de 2009

É ASSIM QUE ACONTECE A BONDADE



É ASSIM QUE ACONTECE A BONDADE
Rubem Alves
Trecho da crônica.


“A solidariedade, como a beleza, é inefável, está além das palavras.
O que pode ser ensinado são as coisas que moram no mundo de fora: astronomia, física, química, gramática, anatomia, números, letras, palavras.
Mas há coisas que não estão do lado de fora. Coisas que moram dentro do corpo.
Estão enterradas na carne, como se fossem.
sementes à espera...
Uma dessas sementes é a “solidariedade.”.
Solidariedade nem se ensina, nem se ordena, nem se produz.
A solidariedade tem de brotar e crescer como uma semente...
A solidariedade é como um ipê: nasce e floresce.
Mas não em decorrência de mandamentos éticos ou religiosos
Não se pode ordenar:
“Seja solidário!”
A solidariedade acontece como um simples transbordamento: as fontes transbordam...
Já disse que solidariedade é um sentimento.
É esse o sentimento que nos torna humanos.
A solidariedade me faz sentir sentimentos que não são meus, que são de um outro.
Acho que esse é o sentido do dito de Jesus de que temos de amar o próximo como amamos a nós mesmos
A solidariedade é a forma visível do amor.
Pela magia do sentimento de solidariedade, meu corpo passa a ser morada do outro.
É assim que acontece a bondade.”
.
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Recebi este texto belíssimamente formatado em pps. pela querida Marisa Giglio.
O bom gosto e a sensibilidade da Marisa sempre me deixa emocionada.
Nédier

quarta-feira, 11 de março de 2009

Mulheres protestam no STF. Mas a grande imprensa solidária ao seu lider Berlusconi vede-amarelo, não noticiou.


Mulheres do campo fazem manifestação contra presidente do STF



Pelo menos 400 militantes da Via Campesina participaram, na manhã desta terça-feira (10), de um protesto em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Segundo a coordenadora nacional da Via Campesina, Rosana Fernandes, o protesto foi promovido em repúdio às últimas declarações do presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, que cobrou ação do Ministério Público para apurar o repasse de recursos públicos ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Mulheres disseram que é direito do povo se organizar “Estamos no Supremo fazendo essa denúncia pública e dizendo não à criminalização dos movimentos sociais, porque é um direito do povo se organizar”, afirma a líder camponesa. Logo após a manifestação em frente ao STF, as mulheres fizeram um círculo ao redor da imagem da Justiça durante alguns minutos.

A coordenadora da Via Campesina, Maria José da Costa, disse que as invasões, como as que ocorreram ontem (9), no Ministério da Agricultura, em Brasília, e também em outras estados, continuarão enquanto o governo não se dispuser a discutir a reforma agrária e meio ambiente. “Estamos exercendo um direito constitucional. E vai continuar se essa modalidade que vem sendo defendida continuar vigorando”, afirmou a líder durante o lançamento da Aliança para Defesa da Reforma Agrária e do Meio Ambiente, no Senado.

No evento, foi divulgado um manifesto com uma plataforma mínima de assuntos para serem debatidos no parlamento e com a sociedade. Entre elas estão o cumprimento – e não a reforma – do Código Florestal, o resgate dos princípios da reforma agrária, como a não-concentração de terras, a punição de grileiros e ocupantes de má-fé e a observância das normas ambientais, o favorecimento da agricultura familiar e o fortalecimento da reforma agrária e do meio ambiente.

A aliança é formada por entidades como a Via Campesina, CNBB, Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Fboms).

A Comissão de Agricultura do Senado aprovou um requerimento convidando os ministros do Meio Ambiente, Carlos Minc, de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, e do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, para discutir a medida provisória que trata da regulamentação fundiária na Amazônia Legal.


De Brasília

Com agências


Texto: Portal do Vermelho / Postado em 10/03/2009 ás 21:43

terça-feira, 10 de março de 2009

A Foto.

© André Dusek

Esta foto de André Duzek ocasionou o artigo imperdível e necessário de Claudio Versiani que transcrevo abaixo.
A foto e o artigo podem ser lidos no site:
Fotografar é Preciso -
http://www.picturapixel.com:80/
http://www.picturapixel.com/?page_id=115


Sobre esta foto, o que eu posso dizer é que foi um encontro raro de quatro presidentes do Brasil numa solenidadde no supremo. Todos os fotógrafos queriam fazer a foto, mas no momento tão esperado do encontro dos presidentes , quando o presidente Lula foi cumprimentar os “ex”, todos os fotógrafos correram pro canto esquerdo do praticável reservado aos fotógrafos no fundo. Como eu estava acompanhado de outro colega do Estadão, o Dida Sampaio, que correu pra esquerda junto com os outros, eu pensei rápido… vou ficar no canto da direita e tentar outro ângulo. No momento do encontro, que foi super rápido, o ministro do supremo, o Eros Grau, que tem um físico avantajado, entrou na frente do grupo de fotógrafos da esquerda, e eu sozinho, na direita, consegui fazer a foto. Tive sorte e aproveitei.

André Dusek



Vinte e quatro anos em uma imagem perdida

*Claudio Versiani


Caro Padrinho, desde que vi essa imagem pela primeira vez, soube que um dia teria que escrever sobre ela. Chegou a hora de exorcizar alguns fantasmas…
Penso num monte de adjetivos para descrever o sentimento que os quatro últimos presidentes brasileiros (por onde andará Itamar Franco?) geram no meu cérebro. Talvez a palavra mais correta seja melancolia. Poderia ser tristeza ou ainda a expressão: Brasil, país do futuro! Só se for futuro mesmo, porque o passado e o presente nos maltratam e muito.


Eu nasci em 1954, há 54 anos. Meu pai gostava de Juscelino Kubitschek e eu também, sem saber porque. Depois Jânio da Silva Quadros. Eu achava ele engraçado. Não era! João Goulart, interessante. Eu começava a me interessar pelo Brasil. Vieram os militares, os milicos dizia meu pai e todo mundo. Mas eu só tinha 10 anos de idade. Se meu pai não gostava, eu também não gostava. Já estava mais do que interessado, queria entender e meu pai tentava explicar. O dia em que JK foi cassado pela ditadura foi um choque familiar na nossa casa. Meu pai e minha mãe perderam o rumo e o prumo.
1968, 14 anos, Beatles, Roberto Carlos, Chico e os novos baianos e a vida seguia um pouco vigiada. No Brasil dos milicos tudo era proibido, era esquisito. Mas para um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones nem tanto, a vida rolava quase tranquila.


Mas a ditadura apertava cada vez mais e aos poucos viver tranquilo foi impossível. A adolescência acabou, a universidade chegou em 1974 e durou até 1979. Não militei no movimento estudantil, porém a Faculdade de Comunicação da Universidade Católica de Minas Gerais era política pura. Em 1978 já estava na rua trabalhando como repórter fotográfico do jornal O Globo na sucursal de Belo Horizonte.


Fotografei Ernesto Geisel duas vezes e morri de medo do homem. Veio João Batista Figueiredo e a ditadura começou a espernear ou a se debater. Tinha os dias contados. João disse que prendia e arrebentava. O atentado do Riocentro arrebentou com ele e com o país, mas ninguém foi preso. Vieram as Diretas Já e todo mundo acreditou. Como éramos bobos.


Dr. Tancredo trabalhava nos palanques pelas Diretas e nos corredores para assegurar sua eleição no colégio eleitoral. Se não bastassem várias tragédias, todas uniformizadas, de Castelo a Figueiredo, mais uma se abateu sobre a nação brasileira. Morreu Dr. Tancredo. Lá vem José Ribamar.


Chegamos na sua foto. Não vou gastar muito tempo com José Sarney. Foram cinco anos muito complicados e que não deram em nada. Ou em quase nada, deram em Fernado Collor de Mello. Quase ganhamos com Luis Inácio Lula da Silva. Não fosse aquele segundo debate em que Lula se mostrou estranho e sem ação. Lembra da história da pasta que Collor teria na mão e que foi por isso que Lula ficou quieto e sei mais lá o que?
Fernando Collor de Mello dividiu o país ao meio, os bons e os maus, os honestos e os desonestos. Veio o impeachment, o povo na rua e agora o país vai. Mas vai de Fusca, chegou Itamar, o moderno e ficamos por aqui.


Fernando Henrique Cardoso. Agora vai de verdade, o homem é doutor de verdade. Mas FHC fumou e não tragou, disse que Deus não existe e depois desdisse e mandou todo mundo esquecer o que tinha escrito. Eu já esqueci faz tempo e olha que eu não fumei nada. Mas não esqueço que FHC vendeu meio Brasil ou Brasil e meio e…nada de novo. Se reelegeu por mais 4 anos e nada de novo. Claro, não me esqueço do Real. Agora todo brasileiro come yogurte todo dia e um frango no domingo. Que maravilha!


OK. Finalmente Luis Inácio Lula da Silva. Agora sim, o PT no poder. Até que enfim, estamos esperando desde de 1989. Chegou a revolução. Honestidade no poder, agora vai. Lula sabe o valor da educação. O Brasil vai mudar! Mudou sim. Mas não durou muito. Veio o mensalão e o governo do PT acabou. E Luis Inácio foi junto.


O Lula que desfila pelo Brasil e pelo mundo não é nem um arremedo de um sujeito que um dia disse que não tinha medo de ser feliz. Ele poderia ter sido uma das grandes personalidades do planeta. Hoje é só uma biografia manchada.


Padrinho, olho para sua foto e fico triste. São 24 anos perdidos. A foto é sensacional. História pura! Já a nossa história é a triste história da política brasileira.
Dias melhores virão.


* Claudio Versiani - Jornalista há 29 anos, foi editor de Fotografia do Correio Braziliense e repórter de Veja, IstoÉ e O Globo. Seu trabalho como fotógrafo já lhe rendeu vários prêmios nacionais e internacionais, como o Líbero Badaró, o Nikon Awards e o Abril de Fotojornalismo. Atualmente, é fotógrafo free lancer em Nova York, onde co-edita a revista eletrônica sobre fotografia www.picturapixel.com/blog.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Dia das Mulheres Agredidas

“Tina Turner, a selvagem que soube dar a volta por cima.”
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Hoje resolvi colocar em ordem um baú de vime onde guardo meus fios, minhas agulhas de tricô, tesouras e tudo o que preciso para me divertir criando bolsas, blusas e outras invencionices que me dão prazer.
Enquanto enleava um novelo de fios que fora desfeito, a nítida imagem dos únicos momentos de paz entre meus pais surgiu repentina.
Minha mãe era professora e também uma artesã, fazia “milagres” com fios e agulhas. Meu pai era um operário de mãos calejadas. Ambos desenrolavam e enrolavam juntos montanhas de fios. Ora meu pai ficava com os braços semi-abertos e minha mãe enrolava os fios em torno de suas mãos, ora meu pai enrolava os fios que minha mãe ia desembaraçando no encosto de uma cadeira.
Eles brigavam por hábito, não sabiam conversar, mas meu pai respeitava a minha mãe pelo que ela era... E ela era irritante... rs...
Nunca vi - porque nunca aconteceu - meu pai agredir minha mãe.
Ele era muito alto e forte e poderia com um gesto desalojá-la do trono de toda poderosa onde ela se instalara. Às vezes eu achava que ela merecia, principalmente quando ela atirava o que tivesse nas mãos em direção de quem a contrariasse.
Lembro de uma polenta (fria) que ela jogou em direção do meu pai e que grudou na parede. Eu mesma fui atingida com vasinhos onde ela plantava flores, com um quilo da carne do domingo, com ovos, chinelos, livros e sei lá mais o quê.
Desta imagem brotaram em minha mente outras, que eu gostaria de esquecer, mas não devo.

Por que as mulheres se deixam agredir pelos seus companheiros?
Não importa a classe social, o nível intelectual todas agem ou reagem da mesma forma.
Em minha militância política participei de muitas reuniões como espectadora, ouvinte, depoente, estudiosa do assunto e a conclusão sempre foi a mesma, embora não a mesma da maioria das participantes:
Uma mulher sem auto-estima, uma mulher que não se ama e não é amada sempre se sente culpada de tudo. Ela é tão usada, tão humilhada que acaba tendo certeza que não tem nenhum valor.
Ela tem vergonha de ser assim e tamanha é a sua vergonha que chega a pensar que merece a vida que tem, que as pessoas jamais iriam valorizá-las à ponto de ficarem ao seu lado e defendê-la.
Quando apanha não tem condições de analisar que as agressões são fruto de uma mente doentia, de um homem recalcado, alcoolizado, drogado, de um covarde que tem na mulher uma válvula de escape contra todas as injustiças sociais e familiares de que se acha vítima.
Uma mulher quando apanha se sente alguém que faz parte de um contexto e acaba achando que apanhar é melhor que ser ignorada.
- Como reverter este processo?
É difícil. Ou as mulheres, como minha mãe, já nascem se achando poderosas.
Ou, descobrindo que são "bruxas" e fazendo valer os seus poderes. A inquisição já acabou há séculos e as mulheres que exercem seus poderes inatos já não são mais queimadas em praça pública, ao contrário, tem o respeito da sociedade e adquirem o auto-respeito necessário para terem uma vida digna onde existe espaço para a felicidade.

Nédier

foto: divulgação
http://letras.terra.com.br/tina-turner/fotos/foto_24936.html
“Ike estava violento e viciado em drogas e culpava Tina pelo declínio da carreira. Tina chegou a ser agredida pelo marido diversas vezes. Mesmo assim, ela não desistiu. Em 75 cantou sozinha no filme Tommy, baseado na ópera rock do Who.
Em casa a situação só piorou e após uma briga violenta com Ike poucas horas antes de uma apresentação em Dallas, ela abandonou o marido levando consigo trinta e seis centavos no bolso e um cartão de crédito de um posto de gasolina, ficando escondida por meses na casa de alguns amigos próximos."
http://www.portalrockpress.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1350

terça-feira, 3 de março de 2009

Minha vida.


A VIDA
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é relativa.
absoluto,
só o sonho...
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Rosane Coelho/2006

segunda-feira, 2 de março de 2009

A barca dos insensatos

Foto divulgada por MST mostra seguranças antes de serem mortos.
"Se os trabalhadores não se defendessem iriam morrer. Muitos já foram mortos por pistoleiros", diz Jaime Amorim, membro da coordenação nacional do MST radicado em Pernambuco.



A barca dos insensatos


Mauro Santayana


Volta o presidente do Supremo Tribunal Federal a sair de seus limites constitucionais para atacar o Poder Executivo, no caso do MST. O apoio recebido pelo juiz demonstra a alienação de grande parcela da sociedade brasileira, que parece viver em outra galáxia. O mundo se mobiliza para restaurar o contrato entre a espécie e a natureza, o que significa reexaminar as estruturas sociais e o convívio político. Nos Estados Unidos, o presidente Obama propõe cobrar mais dos ricos para favorecer os pobres. No Brasil, o sistema continua baseado na injustiça.

Os interesses pessoais perturbam a inteligência, quando não a expulsam da mente. Quem examinar a História brasileira das últimas décadas verá que, ao contrário do que dizem, o MST serviu para amortecer a grande crise social contemporânea, ao transformar a revolta latente em esperança. Os que brandem as foices e enxadas estariam com outros instrumentos nas mãos se parcela da Igreja, com o senso histórico da conciliação, não os houvesse encaminhado para a ocupação de terras ociosas ou de titularidade duvidosa.

A propriedade da terra, por mais reduzida que seja, é mais do que promessa de subsistência. Ela é a necessária identidade com o mundo, com o cosmos. Quando o homem deixou de ser nômade, apartou-se dos azares da vida em bandos para situar-se junto a uma fonte e sob uma estrela, a fim de cultivar o solo e sobre ele construir sua posteridade. Ao edificar as cidades, os homens nelas mantiveram o sentimento telúrico de ligação com o universo. Quando a miséria torna intolerável a vida urbana, a memória ancestral lhes acena com o retorno ao campo. Eles não podem ser privados desse forte sentimento de continuidade da vida, que os distingue dos outros seres. O sonho de segurança e de felicidade de cada pai de família, de acordo com o católico radical Chesterton, pode ser resumido na propriedade de three acres and a cow. Ao traduzir a frase para o leitor brasileiro, Gustavo Corção teve o cuidado de aumentar a área, transformando os três acres de Chesterton (1,21 hectare) em três alqueires. O alqueire, em certas regiões brasileiras, corresponde a 4,84 hectares. Para as nossas dimensões, 14,52 hectares é ainda insuficiente minifúndio.

A chegada do capitalismo ao campo agravou a natureza dos conflitos rurais e transformou o pequeno lavrador em operário que maneja máquinas e não sente, nas mãos, a morna suavidade das sementes. No passado, pistoleiros, a soldo dos latifundiários, queimavam ranchos, espancavam os posseiros e chacinavam famílias humildes. Hoje atrevem-se a assassinar sacerdotes e líderes dos trabalhadores, não se contendo nem mesmo diante de religiosas estrangeiras, como Dorothy Stang. Com mais competência agem os grandes empresários do agronegócio. Muitos deles conhecem suas terras pelos mapas e as escrituras e rápidos sobrevoos. Não sujam as mãos com a terra, não conhecem seu gado, como não conhecem os pistoleiros que contratam de empresas terceirizadas para "desinfestar" de posseiros as áreas "adquiridas" mediante fraudes.
Os defensores do latifúndio argumentam com a violência dos "invasores" de terras ociosas, mas não se preocupam com os mortos do outro lado. A diferença é brutal. São milhares de trabalhadores de um lado, e meia dúzia de jagunços do outro. O ministro Gilmar Mendes talvez estivesse lendo Carl Schmitt no dia em que a Polícia Militar do Pará cometeu o massacre de Eldorado dos Carajás.

Os porta-vozes do MST estão corretos em sua advertência, embora lhes fosse melhor evitar o tom ameaçador. Se o Estado não intervier com decisão nas atividades econômicas, o crescente desemprego irá jogar nas ruas e nas estradas exércitos cada vez mais numerosos e desesperados de trabalhadores. Em lugar de empregar a justiça de classe (a dos ricos) e a violência policial contra os excluídos de seus empregos, de suas casas, de sua dignidade de chefes de família, o Estado terá, isso sim, que desapropriar mais terras ociosas e gastar o que puder para que eles possam ali acomodar suas esperanças. Do contrário, não só podemos esperar por uma jacquerie no campo – muito mais extensa do que a ocorrida na França do século 16, quando centenas de nobres foram empalados na frente de seus castelos – mas, também, pela explosão dos excluídos nas grandes cidades.

A classe média, tão afastada da realidade pela ficção do noticiário, deve pensar nisso.


Domingo, 01 de Março de 2009 -
no correio braziliense. Brasilia