segunda-feira, 9 de março de 2009

Dia das Mulheres Agredidas

“Tina Turner, a selvagem que soube dar a volta por cima.”
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Hoje resolvi colocar em ordem um baú de vime onde guardo meus fios, minhas agulhas de tricô, tesouras e tudo o que preciso para me divertir criando bolsas, blusas e outras invencionices que me dão prazer.
Enquanto enleava um novelo de fios que fora desfeito, a nítida imagem dos únicos momentos de paz entre meus pais surgiu repentina.
Minha mãe era professora e também uma artesã, fazia “milagres” com fios e agulhas. Meu pai era um operário de mãos calejadas. Ambos desenrolavam e enrolavam juntos montanhas de fios. Ora meu pai ficava com os braços semi-abertos e minha mãe enrolava os fios em torno de suas mãos, ora meu pai enrolava os fios que minha mãe ia desembaraçando no encosto de uma cadeira.
Eles brigavam por hábito, não sabiam conversar, mas meu pai respeitava a minha mãe pelo que ela era... E ela era irritante... rs...
Nunca vi - porque nunca aconteceu - meu pai agredir minha mãe.
Ele era muito alto e forte e poderia com um gesto desalojá-la do trono de toda poderosa onde ela se instalara. Às vezes eu achava que ela merecia, principalmente quando ela atirava o que tivesse nas mãos em direção de quem a contrariasse.
Lembro de uma polenta (fria) que ela jogou em direção do meu pai e que grudou na parede. Eu mesma fui atingida com vasinhos onde ela plantava flores, com um quilo da carne do domingo, com ovos, chinelos, livros e sei lá mais o quê.
Desta imagem brotaram em minha mente outras, que eu gostaria de esquecer, mas não devo.

Por que as mulheres se deixam agredir pelos seus companheiros?
Não importa a classe social, o nível intelectual todas agem ou reagem da mesma forma.
Em minha militância política participei de muitas reuniões como espectadora, ouvinte, depoente, estudiosa do assunto e a conclusão sempre foi a mesma, embora não a mesma da maioria das participantes:
Uma mulher sem auto-estima, uma mulher que não se ama e não é amada sempre se sente culpada de tudo. Ela é tão usada, tão humilhada que acaba tendo certeza que não tem nenhum valor.
Ela tem vergonha de ser assim e tamanha é a sua vergonha que chega a pensar que merece a vida que tem, que as pessoas jamais iriam valorizá-las à ponto de ficarem ao seu lado e defendê-la.
Quando apanha não tem condições de analisar que as agressões são fruto de uma mente doentia, de um homem recalcado, alcoolizado, drogado, de um covarde que tem na mulher uma válvula de escape contra todas as injustiças sociais e familiares de que se acha vítima.
Uma mulher quando apanha se sente alguém que faz parte de um contexto e acaba achando que apanhar é melhor que ser ignorada.
- Como reverter este processo?
É difícil. Ou as mulheres, como minha mãe, já nascem se achando poderosas.
Ou, descobrindo que são "bruxas" e fazendo valer os seus poderes. A inquisição já acabou há séculos e as mulheres que exercem seus poderes inatos já não são mais queimadas em praça pública, ao contrário, tem o respeito da sociedade e adquirem o auto-respeito necessário para terem uma vida digna onde existe espaço para a felicidade.

Nédier

foto: divulgação
http://letras.terra.com.br/tina-turner/fotos/foto_24936.html
“Ike estava violento e viciado em drogas e culpava Tina pelo declínio da carreira. Tina chegou a ser agredida pelo marido diversas vezes. Mesmo assim, ela não desistiu. Em 75 cantou sozinha no filme Tommy, baseado na ópera rock do Who.
Em casa a situação só piorou e após uma briga violenta com Ike poucas horas antes de uma apresentação em Dallas, ela abandonou o marido levando consigo trinta e seis centavos no bolso e um cartão de crédito de um posto de gasolina, ficando escondida por meses na casa de alguns amigos próximos."
http://www.portalrockpress.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1350