domingo, 13 de dezembro de 2009

- Quem é essa mulher, vó?



- Essa mulher é Zuzu Angel, Pedro...


A pergunta e a resposta aconteceram quando eu e o Pedro estávamos indo na aula de natação e ouvíamos a música "Angélica" do CD "Chico Buarque Político" que tocava no meu carro.

Neste CD estão as músicas que ele compôs na época da ditadura ou tendo ela como tema.

"Angélica" foi escrita como uma homenagem à Zuzu Angel.


Quando saio com o Pedro, meu neto de 8 anos que adora música e tem uma curiosidade saudável sobre temas não muito infantis, eu aproveito para lhe contar uma história do Brasil tão próxima quanto ignorada.
Sempre que posso explico o porquê desta ou daquela música.

- Meu Deus, é a história de um Brasil recente e a juventude desconhece e não tem interesse em conhecer. Quando percebo este fato não só fico triste e indignada, como muito preocupada.
Um país sem memória é uma árvore cujas raízes foram arrancadas, não tem de onde arrancar a seiva para sobreviver com dignidade. Não tem energia para lutar por direitos já conquistados, muitos, à custa de muita dor, muito sangue e tortura. À custa da própria vida de quem se dispôs a enfrentar os que se impuseram como donos de um país que é nosso.

Nédier

Ouçam a música no endereço abaixo, vale a pena:

http://www.youtube.com/watch?v=bxsix8bNfFE&feature=related



Angélica


Chico Buarque

Quem é essa mulher

Que canta sempre esse estribilho?

Só queria embalar meu filho

Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher

Que canta sempre esse lamento?

Só queria lembrar o tormento

Que fez meu filho suspirar

Quem é essa mulher

Que canta sempre o mesmo arranjo?

Só queria agasalhar meu anjo

E deixar seu corpo descansar

Quem é essa mulher

Que canta como dobra um sino?

Queria cantar por meu menino

Que ele já não pode mais cantar

Ouçam a música no endereço abaixo, vale a pena:

http://www.youtube.com/watch?v=bxsix8bNfFE&feature=related



ZUZU ANGEL


Zuzu Angel, foi uma pioneira da moda brasileira que fez sucesso em todo o mundo.

Seu filho Stuart, lutou contra a ditadura e foi preso, torturado e morto nas dependências do DOI-CODI e seu corpo nunca foi encontrado, desapareceu na escuridão daqueles tempos sombrios.


Zuzu entrou em guerra contra o regime pela recuperação do corpo de seu filho.
Passou a usar sua moda como forma de protesto fazendo - como ela mesma dizia - "a primeira coleção de moda política da história", usando ao lado dos anjos, as figuras de crucifixos, tanques de guerra, pássaros engaiolados, sol atrás das grades, jipes e quépis.

O uso dessas metáforas foi a solução que encontrou para simbolizar, em seu trabalho, a história de seu filho.

Essa luta só terminou com sua morte, ocorrida na madrugada de 14 de abril de
1976, quando foi assassinada, num acidente automobilístico simulado, na saída do túnel Dois Irmãos, hoje túnel Zuzu Angel.

O caso de Zuzu foi tratado pela
Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, no processo de número 237/96, o governo brasileiro assumindo, em 1998, a participação do Estado em sua morte.