Meus queridos,
Além de poeta e minha amiga, a Rosane Coelho é psicanalista.
Transcrevo na íntegra o e-mail que ela me mandou sobre a neurose que eu tratei no texto anterior. É uma colaboração tão valiosa que não posso deixar de compartilhar com vocês.
Nédier, TVF
Nédier do meu coração
Como sempre, fico feliz em falar com você.
Acho um espetáculo esse seu interesse pela neurose e, particularmente, pelo ciúme doentio.
A psicanálise define neurose como a conseqüência da dificuldade de um determinado ser humano lidar com alguns conflitos e traumas inconscientes.
Como todos nós temos essa dificuldade em graus diferentes e em diferentes áreas de nossas vidas e, levando em consideração que sua origem mora no inconsciente, concluímos que somos todos neuróticos.
O que varia é a intensidade, a origem e o grau de afetamento dessas neuroses na nossa vida diária.
O neurótico é incapaz de resolver determinados conflitos (cada um "elege" o seu) de forma satisfatória. O que pra você pode ser um acontecimento normal, pro outro parece o fim do mundo. O que pro outro é um acontecimento normal, pra você pode ser um problema sem solução, incapacitante.
Essa questão do ciúme patológico é uma forma de neurose.
A psicanálise estuda o "vazio inominado". Todo ser humano carrega esse buraco que não tem nome e do qual ele não tem consciência, embora passe sua vida inteira tentando preenchê-lo. Tentando suprir essa falta. E essa busca é vã. A solução talvez seja conviver com esse vazio.
O vazio nos move.
A falta nos move.
A busca nos move.
A crise nos move.
Já que você me instigou com o assunto, que tal tentar relacionar a busca de preencher o vazio com o ciúme doentio?
O ciumento, inconscientemente, vê o objeto de seu ciúme como o preenchedor do vazio inominado.
Ele não pode perder esse recheio de jeito nenhum.
Sem o recheio o buraco abre de novo e ele não consegue conviver com essa situação.
O ciúme doentio não é uma prova de amor ao outro.
Esse outro não é sentido como outro, mas sim como um complemento da integridade psíquica do próprio ciumento.
Esse ciúme uma forma de defesa da integridade do ciumento.
É uma forma de narcisismo secundário.
Não é uma relação de amor. É controle do outro para que a integridade do ego ciumento não se perca. Pensa nisso.
Depois a gente conversa mais sobre o ciumento obsessivo e sobre aquele que é o alvo de seus ciúmes. Afinal, eles se necessitam e se completam.
Beijo
Até a próxima
TVF
Obs.: TFV é o tratamento carinhoso usado entre eu e a Rosane. São as iniciais de um filme magistral que trata de uma linda amizade entre duas mulheres. O filme é "Tomates Verdes Fritos" e é belíssimo!!
Além de poeta e minha amiga, a Rosane Coelho é psicanalista.
Transcrevo na íntegra o e-mail que ela me mandou sobre a neurose que eu tratei no texto anterior. É uma colaboração tão valiosa que não posso deixar de compartilhar com vocês.
Nédier, TVF
Nédier do meu coração
Como sempre, fico feliz em falar com você.
Acho um espetáculo esse seu interesse pela neurose e, particularmente, pelo ciúme doentio.
A psicanálise define neurose como a conseqüência da dificuldade de um determinado ser humano lidar com alguns conflitos e traumas inconscientes.
Como todos nós temos essa dificuldade em graus diferentes e em diferentes áreas de nossas vidas e, levando em consideração que sua origem mora no inconsciente, concluímos que somos todos neuróticos.
O que varia é a intensidade, a origem e o grau de afetamento dessas neuroses na nossa vida diária.
O neurótico é incapaz de resolver determinados conflitos (cada um "elege" o seu) de forma satisfatória. O que pra você pode ser um acontecimento normal, pro outro parece o fim do mundo. O que pro outro é um acontecimento normal, pra você pode ser um problema sem solução, incapacitante.
Essa questão do ciúme patológico é uma forma de neurose.
A psicanálise estuda o "vazio inominado". Todo ser humano carrega esse buraco que não tem nome e do qual ele não tem consciência, embora passe sua vida inteira tentando preenchê-lo. Tentando suprir essa falta. E essa busca é vã. A solução talvez seja conviver com esse vazio.
O vazio nos move.
A falta nos move.
A busca nos move.
A crise nos move.
Já que você me instigou com o assunto, que tal tentar relacionar a busca de preencher o vazio com o ciúme doentio?
O ciumento, inconscientemente, vê o objeto de seu ciúme como o preenchedor do vazio inominado.
Ele não pode perder esse recheio de jeito nenhum.
Sem o recheio o buraco abre de novo e ele não consegue conviver com essa situação.
O ciúme doentio não é uma prova de amor ao outro.
Esse outro não é sentido como outro, mas sim como um complemento da integridade psíquica do próprio ciumento.
Esse ciúme uma forma de defesa da integridade do ciumento.
É uma forma de narcisismo secundário.
Não é uma relação de amor. É controle do outro para que a integridade do ego ciumento não se perca. Pensa nisso.
Depois a gente conversa mais sobre o ciumento obsessivo e sobre aquele que é o alvo de seus ciúmes. Afinal, eles se necessitam e se completam.
Beijo
Até a próxima
TVF
Obs.: TFV é o tratamento carinhoso usado entre eu e a Rosane. São as iniciais de um filme magistral que trata de uma linda amizade entre duas mulheres. O filme é "Tomates Verdes Fritos" e é belíssimo!!
2 comentários:
Oi, Nédier.
Belo texto da Rosane. Pra mim esse "vazio inominado" é o buraco que todo ser humano carrega consigo por estar dividido, incompleto. O homem/mulher é um ser gregário. A humanidade é um todo que encontra-se fragmentada em indívíduos incompletos e angustiados por causa disso. Se agarram a qualquer coisa para tapar esse buraco: a uma namorada, uma garrafa de álcool, uma religião, dinheiro, consumismo, etc. Erich Fromm trata disso.
Oi, Nédier.
Belo texto da Rosane. Pra mim esse "vazio inominado" é o buraco que todo ser humano carrega consigo por estar dividido, incompleto. O homem/mulher é um ser gregário. A humanidade é um todo que encontra-se fragmentada em indívíduos incompletos e angustiados por causa disso. Se agarram a qualquer coisa para tapar esse buraco: a uma namorada, uma garrafa de álcool, uma religião, dinheiro, consumismo, etc. Erich Fromm trata disso.
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