quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

" - Quantas vezes minha esperança será posta à prova?"

O texto se refere ao comportamento indecoroso de nossos parlamentares,
então preferi colocar uma foto de duas pessoas decentes.
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Meus amigos,
Hoje acordei com o "coração aos pulos" ainda custando a acreditar no espetáculo trágico que assisti ontem na TV Senado.
O plenário do Senado absolveu, pela segunda vez, aquele sujeitinho cínico e indecoroso, chamado Renan Calheiros, não cassando o seu mandato por quebra de decoro parlamentar.
Pensei que já tinha visto e ouvido tudo sobre a indecorosa conduta dos nossos parlamentares mas, não sei se por ingenuidade ou por manter ainda restos de esperança na Justiça, de novo me surpreendi.
Eu, que sempre me orgulhei do meu país, me senti envergonhada de ser brasileira e chorei. É muito triste se sentir tão impotente.
O "Só de Sacanagem", abaixo transcrito, é de autoria da Elisa Lucinda.
A cantora Ana Carolina leu-o em um show que fez com Seu Jorge há dois anos atrás.
A intensidade contida neste texto me deu um ilusório alento. Vou me refugiar nesta ilusão já que não estou conseguindo suportar a realidade.
Nédier

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Só de Sacanagem
Elisa Lucinda

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Meu coração está aos pulos!

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Quantas vezes minha esperança será posta à prova?

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Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

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Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?

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Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

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É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

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Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.

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Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.

Só de sacanagem!

Dirão:

"Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer:

"Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."

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Dirão:

"É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal".

Eu direi:

Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal!

Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!