domingo, 1 de abril de 2007

Aprendi com meus filhos

Estou lendo - "Aprendi com a minha mãe" - um livro singelo da Cristina Ramalho onde cinqüenta e duas personalidades contam a maior lição que receberam de suas mães.

Confesso que fiquei preocupada sobre qual seria o depoimento de meus filhos se um dia tivessem que falar sobre mim, esta mãe que nunca se comportou como tal.

Depois que eles aprenderam a cuidar da higiene pessoal - lá pelos cinco anos de idade - eu nunca mais exigi ou sequer mandei-os escovar os dentes, trocar de roupa ou tomar banho. Eu deixava-os à vontade e eles se cuidavam direitinho. (Soube pelas minhas noras que os meus dois filhos são "escovadores de dente compulsivos" - foi uma surpresa!).

O Fabrício ainda estava na pré-escola quando me corrigiu na mesa:
- Não coma de boca aberta!! - quando fui protestar alegando que eu tinha dificuldades para mastigar , ele me interrompeu:
- E não fale de boca cheia!!!

Eu não pedia para ver as lições que eles traziam para fazer em casa, nem mesmo exigia que as fizessem, ao contrário, nos fins de semana quando brincavam muito ou saíamos a passeio, eu proibia-os fazer a lição se estivessem cansados e com sono.
- Podem deixar, eu faço um bilhetinho pra professora , escrevo que a culpa é minha (era) e prometo que vocês levarão a lição prontinha amanhã.

Meus bilhetinhos eram famosos.
Fiquei muito frustrada quando não aceitaram um bilhetinho que mandei pelo Ricardo para justificá-lo, sei lá porque, quando ele estava fazendo o pré-vestibular... rs...

Eu só os auxiliava quando tinham algum trabalho maior e me pediam .
Quanto à vida escolar dos meus filhos, eu me limitava a comprar e encapar os livros e os cadernos no início do ano e dar razão para eles em todas circunstâncias, afinal eu conhecia meus filho e mal conhecia seus professores e orientadores.

Acordava-os nas manhãs de chuva sempre com a mesma pergunta:
- Vocês têm prova hoje?
Se a resposta fosse negativa eu lhes dizia que continuassem dormindo pois o tempo estava péssimo. Eles me olhavam com descaso e me davam a entender que não eram irresponsáveis.
Quando descobriram que a minha avó paterna fazia tudo para que seus filhos não fossem para a escola, chovesse ou fizesse sol, passaram a me chamar de Vó Itália (chamam até hoje quando eu quero poupá-los de qualquer tarefa)

Na adolescência eu os levava e trazia a todos os lugares que precisassem ir. Mais tarde, quando começaram a sair sozinhos e...motorizados, eu nunca proibia nada, eles iam onde quisessem, eu só pedia que se eles não fossem posar em casa, ou se fossem chegar bem mais tarde, que me ligassem, porque não era justo eles ficarem se divertindo e eu sem dormir, esperando-os chegar. Recomendava sempre:
- Telefonem - podem mentir à vontade - mas digam que estão vivos.
Sempre me telefonavam. Como não existiam celulares, andavam com os bolsos cheios de fichas telefônicas.

Meu apelido era Cuco, pois a cada movimento no portão que indicava que um dos três estava chegando, a qualquer hora da madrugada, eu punha a minha cabeça pra fora da janela para vê-los entrar em casa. Não tinha preguiça, levantava e ia fazer miojos, abrir latas de sardinha e ficava papeando com eles sobre a festa - enquanto eles comiam.

Se eles passassem muito da hora de chegar, sem avisar, eu começava a rezar um terço, dois terços, o rosário todo. Coincidência ou não, eles invariavelmente chegavam quando eu estava na Salve Rainha final.

Eu tive muita sorte em ter estes filhos tão maravilhosos, sem tê-los educado como as mães convencionais costumam e devem fazer e apesar disso eles sempre estiveram entre os melhores da turma. Mesmo estudando em escola pública, eles passaram na Federal no primeiro vestibular que fizeram.

Confesso que aprendi com os meus filhos quase tudo que sei.

Por eles e com eles eu aprendi a confiar na minha intuição de mãe e acreditar nos milagres que o amor materno faz acontecer.

Nédier


- Foto tirada em umas férias em Parati.