Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti .
Não indagues se nessas estradas, tempo e vento
desabam no abismo .
Que sabes tu do fim ?
Se temes que seu mistério seja uma noite ,
Se temes que seu mistério seja uma noite ,
enche-o de estrelas .
Conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre
Conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre
para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo ,
esgota como um pássaro as canções
No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo ,
esgota como um pássaro as canções
que tens na garganta .
Canta .
Canta para conservar uma ilusão de festa
Canta .
Canta para conservar uma ilusão de festa
e de vitória .
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro .
Desde que nasceste
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro .
Desde que nasceste
não és mais que um vôo no tempo .
Rumo ao céu ?
Que importa a rota ?
Voa e canta enquanto lhe resistirem as asas .
Rumo ao céu ?
Que importa a rota ?
Voa e canta enquanto lhe resistirem as asas .
Recebi este texto do Menotti del Picchia da Marisa Giglio, que faz pps.emocionantes.
Menotti del Picchia
Biografia
São Paulo, SP, Brasil 1892 (*) - 1961 (+)
Paulo Menotti del Picchia nasceu em São Paulo, em 1892. Fez seus estudos secundários em Pouso Alegre, Minhas Gerais, onde aos 13 anos de idade, editou o jornalzinho "Mandu", nele inserindo suas primeiras produções literárias. Viveu em Itapira, cidade do interior paulista, e aí editou "Juca Mulato", sua obra de maior repercussão, que já teve dezenas de edições.
É autor de romances, contos e crônicas, de novelas e ensaios, de peças de teatro, de estudos políticos e de obras da literatura infantil. Fundou jornais e revistas, foi fazendeiro, procurador geral do Estado de São Paulo, editor, diretor de banco e industrial. Fez pintura e escultura. Foi deputado estadual e federal. É tabelião e ocupou diversos e altos cargos administrativos. Pertence às Academias Paulistas e Brasileira de Letras.
Menotti del Picchia teve destacada atuação no movimento modernista. Preparou, com Oswald de Andrade, o advento da nova tendência literária e artística, sustentando a polêmica com os passadistas, antes e depois da Semana de Arte Moderna.
Menotti del Picchia teve destacada atuação no movimento modernista. Preparou, com Oswald de Andrade, o advento da nova tendência literária e artística, sustentando a polêmica com os passadistas, antes e depois da Semana de Arte Moderna.
Em seguida, foi aguerrido defensor da doutrinação "Verde e Amarelo", opondo-se ao Oswald de Andrade de "Pau Brasil" e "Antropofagia". Defendeu também os ideais do "Grupo da Anta", que superavam os propósitos verdeamarelistas. Participou da Semana de Arte Moderna, sendo mesmo o seu orador oficial, apresentando, na festividade, os poetas e prosadores que exibiam, então, as produções da literatura nova. Suas crônicas no "Correio Paulistano", de 1920 até 1930, como que constituem um "diário do modernismo", registando, quase que quotidianamente, os entusiasmos, as raivas, as lutas e as desavenças da sua geração.
A poesia da fase modernista de Menotti del Picchia é colorida e engenhosa, padecendo do excesso das imagens. Abusa dos elementos plásticos, dos efeitos pitorescos e verbais. Mas, como todos os seus defeitos, que decorrem da atitude polêmica assumida, fecundou de idéias o período histórico que viveu, e que ajudou a desenvolver, sacrificando até a realização de obra poética de maior ressonância que podia dar. Poetando agora de raro em raro, controla os seus modismos e as invenções audaciosas, do que resulta uma poesia comunicativa e emocionada. "Nenhum dos seus livros modernistas" – escreve Manuel Bandeira – "superou o êxito de "Juca Mulato", onde o poeta se apresenta em sua feição mais genuína"
A poesia da fase modernista de Menotti del Picchia é colorida e engenhosa, padecendo do excesso das imagens. Abusa dos elementos plásticos, dos efeitos pitorescos e verbais. Mas, como todos os seus defeitos, que decorrem da atitude polêmica assumida, fecundou de idéias o período histórico que viveu, e que ajudou a desenvolver, sacrificando até a realização de obra poética de maior ressonância que podia dar. Poetando agora de raro em raro, controla os seus modismos e as invenções audaciosas, do que resulta uma poesia comunicativa e emocionada. "Nenhum dos seus livros modernistas" – escreve Manuel Bandeira – "superou o êxito de "Juca Mulato", onde o poeta se apresenta em sua feição mais genuína"