segunda-feira, 16 de abril de 2007

Elogios a generais e torturadores...2














Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo
e coordenador do projeto Brasil: nunca mais
...e pau na Igreja
Arquivo/O Cruzeiro/EM

Do início ao fim do livro secreto do Exército, está presente o rancor da linha-dura da Força com a Igreja, que durante a ditadura (1964-85) se colocou na linha de frente do combate à tortura, à eliminação de presos políticos e à falta de liberdades coletivas e individuais. Já na introdução da obra, há uma menção indireta ao Brasil: nunca mais, livro lançado pela Arquidiocese de São Paulo, em maio de 1985, dois meses após o fim do regime militar, para denunciar tortura e morte de presos políticos. O Livro negro do terrorismo no Brasil foi de fato escrito como uma resposta ao Brasil: nunca mais. “Violência, nunca mais”, brada o livro do Exército ao descrever o atentado terrorista desferido por guerrilheiros de esquerda no aeroporto do Recife, em 1966, que visava a morte do então presidente Arthur da Costa e Silva. O general saiu ileso do atentado, que acabou, no entanto, matando o jornalista Edson Regis de Carvalho e o vice-almirante Nelson Gomes Fernandes. Ainda na introdução, o livro diz que as vítimas de ações de grupos armados de esquerda “não estão incluídas na categoria daquelas protegidas pelos ‘direitos humanos’ de certas sinecuras e nem partilham de uma ‘humanidade comum’ de certas igrejas”. Depois, conclui: “Nem parece que a imagem de Deus, estampada na pessoa humana, é sempre única”. A afirmação é uma menção velada a uma frase do então arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, escrita na abertura do Brasil: nunca mais (“A imagem de Deus, estampada na pessoa humana, é sempre única”). A obra do serviço secreto do Exército faz um alerta: “Essa Igreja está sabidamente infiltrada (…) por agentes dessa mesma ideologia (comunista), como ficará documentado ao longo deste livro”. Um capítulo inteiro — “O projeto do clero dito progressista” — é dedicado a críticas à Igreja e a religiosos que se destacaram na oposição ao regime militar. “Asneiras” Os frades dominicanos de São Paulo são um alvo especial do livro, pelo apoio que deram ao ícone da guerrilha urbana no país, o guerrilheiro Carlos Marighella, da Aliança Libertadora Nacional (ALN). A ligação entre Marighella e os dominicanos foi desbaratada pela repressão em 1966. Numa ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, o guerrilheiro foi morto depois que vários dominicanos foram presos e torturados. Uma versão do episódio é narrada no livro Batismo de Sangue, de Frei Betto, que em breve chegará aos cinemas. Citado no livro do Exército, o frei dominicano Osvaldo Resende Júnior rebate as críticas da obra. “Uma das missões da Igreja é defender a vida e a dignidade da pessoa humana, da qual eles (militares que escreveram o livro) fazem pouco caso. O que está ali é um amontoado de asneiras em relação à Igreja”, diz ele. “Esse grupo de oficias (que escreveu o livro), hoje aposentados, confunde o Brasil e o estado brasileiro com o grupo deles. É justamente contra isso que, durante a ditadura, se levantaram uma boa parte da opinião brasileira, da juventude e a Igreja. Com que direito os militares usaram as armas que lhe foram entregues para proteger a população para impedir essa mesma população de se manifestar? Nesse sentido, a Igreja fala muito mais em nome do Brasil que esses oficiais”, afirma frei Osvaldo. (LF)